“Hoje de novo sigo a senda
Para a vida, o varejo, a venda,
E guio as hostes da poesia
Contra a maré da mercancia.”
– Vielimir Khlébnikov [tradução Augusto de Campos].
A Rússia foi sempre um país privilegiado em matéria de cultura. Das danças, passando pela literatura, pelas artes plásticas, pela dramaturgia, pela música, até a política, este centro de revoluções históricas, com o conflito constante entre o proletariado e a burguesia, visível em versos que falam sobre o universo do operário. A Rússia possui alguns dos escritores mais importantes da literatura universal, aqui apresentamos 10 poetas de diferentes períodos: Aleksandr Blok – Alexandr Pushkin – Anna Akhmátova – Boris Pasternak – Joseph Brodsky – Marina Tsvetaeva – Osip Mandelstam – Serguei Iessienin – Velimir Khlébnikov -e- Vladimir Maiakovski. Abaixo uma pequena nota biográfica de cada autor com indicação de link para poemas (em edição bilíngue russo/português) e outras informações biobibliográficas:
Aleksandr Blok é um dos maiores poetas de língua russa. Dramaturgo e crítico literário, Blok tornou-se um dos reconhecidos gênios da Era de Prata. Nascido em São Petersburgo, a 28 de Novembro de 1880, o autor viveu e trabalhou na viragem de duas épocas históricas e foi o último grande poeta da Rússia pré-revolucionária, que concluiu na sua obra as buscas poéticas de todo o séc. XIX. *Leia a poesia do poeta e saiba mais sobre o autor (biobibliografia, obra, poesia traduzida e publicada no Brasil, fortuna crítica e poemas em edição bilíngue (russo/ português). acessando AQUI!
“Aleksandr Púchkin (1799-1837), nascido no mesmo ano que Garrett em Portugal, não é apenas, na sua curta vida atribulada e na sua criatividade assombrosa, a entrada triunfal do Romantismo na Rússia, após anos em que “antigos” e “modernos” lutavam pela supremacia: é não só, ainda hoje, o maior poeta da Rússia, como também a personalidade de quem decorre toda a literatura russa moderna, à qual abriu todos os caminhos que ela veio a trilhar, e de quem as artes vieram a inspirar-se profusamente na Rússia, para a magnificante floração estética da segunda metade do século XIX, que colocou o país na vanguarda da cultura ocidental.”
– Jorge de Sena, em “Contos de Aleksandr Púchkin”. [tradução e notas Nina Guerra e Filipe Guerra]. Lisboa: Relógio d’Água, 2003.
Aleksandr Serguéievitch Púchkin nasceu em 6 de Junho de 1799, foi um grande poeta russo. Desde há muito que o seu nome é um símbolo da língua e cultura russas. Na cultura mundial, ele simboliza a Rússia como Goethe simboliza a Alemanha, Shakespeare a Inglaterra, Camões Portugal, Dante a Itália ou Cervantes a Espanha.
Um poeta genial, mas também prosador e dramaturgo, Pushkin criou obras-primas como a novela em verso Evgueny Oneguin, a novela Dama de Espadas, ou a tragédia Boris Godunov. Inspiradas pelo seu gênio, as óperas dos célebres compositores russos Tchaikovsky e Mussorgsky foram apresentadas em teatros de todo o mundo.
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Anna Akhmátova nasceu em Odessa, Ucrânia, com o nome Anna Gorenko, em 23 de junho de 1889. Cedo se interessou pela poesia, paixão que o pai não apoiava e que a obrigou a adotar o pseudônimo Anna Akhmátova (apelido da bisavó materna). Em 1907, ingressou na escola de Direito em Kiev e, em 1910, casou-se com o poeta e crítico Nikolai Gumliev. Em 1912, nasceu Lev, filho do casal, mesma data em que Anna publicou o seu primeiro livro, o que lhe abriu as portas para a cena literária de São Petersburgo. Akhmátova tornou-se, em conjunto com Gumliev, líder do Acmeismo – movimento literário russo que, em oposição ao Simbolismo, defendia o verso lúcido e cuidadosamente construído. Em 1921, após o assassinato de Gumliev pelos bolcheviques, as oportunidades de publicação escassearam para Akhmátova (dada a ligação que mantinha com Gumliev), o que fez com que se dedicasse à crítica literária de autores como Púchkin e à tradução. A mudança da situação política permitiu a entrada de Akhmátova no Sindicato de Escritores. No entanto, o agravamento da 2ª Guerra Mundial levou à sua expulsão do Sindicato, bem como à banição oficial da sua poesia. Morreu em Leninegrado, cidade onde viveu grande parte da sua vida, em 1966. Entre os seus trabalhos mais aclamados encontra-se Réquiem, uma reação ao período de terror stalinista. Na área da tradução, Akhmátova trabalhou autores como Victor Hugo, Rabindranath Tagore e Giacomo Leopardi.
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Boris Pasternak foi um poeta e prosador russo, nascido em Moscou a 29 de janeiro de 1890. Filho do pinto Leonid Pasternak (1862 – 1945), fez parte da chamada Era de Prata da poesia russa, que vários críticos declaram começar com Alexander Blok e seguir com os companheiros de geração de Pasternak: Anna Akhmátova, Marina Tsvetáieva, Óssip Mandelshtam, Vladimir Maiakóvski, Vélimir Khlébnikov, e tantos outros. Foi um dos parcos a sobreviver aos expurgos estalinistas. Seu livro Minha Irmã, Vida (1922) foi uma das coletâneas de poemas mais influentes do século XX em seu país. Seu romance Doutor Zhivago rendeu-lhe o Prêmio Nobel em 1958, o qual foi obrigado a recusar.
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Joseph Brodsky (Иосиф Бродский), pseudônimo de Iosif Aleksandrovich Brodsky (Leningrado, 24 de maio de 1940 — Nova Iorque, 28 de janeiro de 1996) poeta, romancista, ensaísta, tradutor e dramaturgo russo naturalizado americano, que escrevia em russo e em inglês. Ganhador do Prêmio Nobel de Literatura em 1987. De família judaica, Joseph Brodsky, provavelmente o maior poeta russo do século 20, nasceu em 1940 em São Petersburgo, então Leningrado. Seu pai, Aleksándr Brodsky, um fotógrafo, trabalhou como correspondente de guerra. De 1942 a 1944, já durante o Cerco de Leningrado, Joseph esteve na evacuação com sua mãe, Maria Volpert. Brodsky largou o colégio aos 15 anos de idade – por um lado, para ajudar os pais e, por outro, por não adaptar-se aos ditames soviéticos – e então passou por diversos trabalhos, como o de torneiro mecânico e o de assistente numa expedição geológica. Começou a escrever aos 18, 19 anos de idade e educou-se sozinho (aprendeu polonês, inglês, filosofia clássica, mitologia e religião).
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Marina Tsvietáieva (Марина Цветаева) poeta e tradutora russa, nasceu em Moscou, em 1892, numa família que poderia ser considerada, hoje, de classe média alta; de pai viúvo, o professor universitário Ivan, casado em segundas núpcias com sua mãe, Maria, uma pianista frustrada, descendente de alemães e poloneses, morta pela tuberculose quando a filha tinha apenas 14 anos. Dela, a menina herdou sua musicalização, seu antimaterialismo e seu interesse pela língua e pelo romantismo germânicos.
Marina sempre levou uma vida extremamente liberal, em todos os sentidos. Casou-se cedo, criou três filhos, manteve dezenas de amantes, nunca escondeu sua bissexualidade e participou ativamente da vida cultural européia, em especial da checa e francesa. Mas as grandes guerras do século, auxiliadas pela Revolução Russa, acabaram por vencê-la. Entre outras tristezas menores, viu dissolver-se sua família, entre mortes, exílios e prisões. Em 1941, enforcou-se, deixando apenas um bilhete: “Não me enterrem viva: verifiquem bem!”. Ninguém compareceu ao funeral. Para Pignatari, seu Poema do fim, presente no livro Marina Tsvietáieva, é o “mais espantoso poema de amor do século” passado.
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Ossip Mandelstam, um dos maiores poetas russos, nasceu a 15 de Janeiro de 1891. A sua obra tornou-se um dos pináculos da literatura russa e o seu trágico destino foi símbolo de toda uma geração. Ele viveu durante 47 anos, travou amizade com Nikolai Gumiliov, Marina Tsvetáeva, Anna Akhmátova, Borís Pasternak, tornou-se inimigo de Estaline e morreu num campo de trânsito estalinista para prisioneiros, sem obituário ou sepultura. O escritor e crítico literário Viktor Chklovski falava assim de Mandelstam: “Foi um homem… estranho… difícil… comovente… e genial!”
[…] A estreia literária de Mandelstam deu-se em Agosto de 1910, quando foram publicados, na revista “Apollon”, cinco poemas seus. Durante esses anos, ele envolveu-se com as ideias e obra dos poetas simbolistas, tornou-se um visitante frequente de Viatcheslav Ivánov (teórico do simbolismo) em cuja casa se reuniam eruditos talentosos da área da literatura e artes. Em 1911, ingressou no departamento romano-germânico da Universidade de São Petersburgo, que não terminou, devido ao desgosto com os estudos sistemáticos. Foi também nesta altura que Mandelstam conheceu o poeta Nikolai Gumiliov (fundador do acmeísmo, um movimento literário que se opunha ao simbolismo) e Anna Akhmátova. A partir de 1912, o poeta começou a participar no círculo literário dos acmeístas “Corporação de Poetas” (“Цех поэтов”). Em 1913, foi publicada pela editora “Akme” a sua primeira colectânea poética A Pedra (Камень), que continha 23 poemas escritos entre 1908 e 1913. Nessa altura, o jovem poeta já tinha granjeado fama. Em Dezembro de 1915, saiu a segunda edição da colectânea A Pedra (editora “O Hiperbóreo”), à qual foram acrescentados textos de 1914-1915…
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Sierguéi Iessiênin (Konstaninovo, Riazán, 21 de setembro de 1895 — Leningrado, 28 de dezembro de 1925). Poeta, filho de camponeses da região de Riazan, foi criado pelo avô. Estudou em escola rural e frequentou o seminário. Mudou-se para Moscou em 1912, trabalhou como tipógrafo e participou de grupos literários. Em 1915, passou a viver em Petrogrado, tornando-se discípulo do poeta camponês Kliúiev. Em 1916, é convocado para o exército, suportando mal o serviço militar. Um ano mais tarde, casase com Zinaída Raich. Aderiu à esquerda do Partido Social-Revolucionário, e apoiou a Revolução de Outubro. Em 1921, aderiu ao imagismo russo. No mesmo ano, conheceu em Moscou a dançarina norte-americana Isadora Duncan, com quem se casou no ano seguitne. Após fazerem longas viagens pela Europa e América, a união acaba. Iessiênin regressa, então, à Rússia, onde se entrega ao alcoolismo, que o acompanhou por toda a vida. Suicida-se em 1925, num hotel em Leningrado. Sua obra é um testemunho pungente do mundo surgido com a Revolução e um dos grandes documentos da poesia russa moderna.
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Velimir Khlébnikov (Viktor Vladimirovitch Khlébnikov), nascido a 9 de Novembro de 1885, foi um poeta, prosador, pensador, matemático, ornitólogo, pintor russo e uma figura proeminente na arte vanguardista. O Nostradamus russo não reconhecido é um fenômeno único na cultura russa, em muitos aspectos à frente do seu tempo. Ele é um dos mais originais representantes do futurismo russo, o qual, porém, superou as fronteiras dessa corrente, tornando-se uma brilhante e incomparável figura no meio literário da «Era de Prata». As suas experiências nas áreas da língua, do ritmo, da formação de palavras; as suas pesquisas de novos caminhos na lírica, no gênero épico, na prosa e na dramaturgia; a sua visão da vida, história, natureza e sociedade não se enquadram na moldura de nenhuma das correntes literárias do início do séc. XX. Complexos em forma e conteúdo, os versos de Khlébnikov são tema de discussão para os críticos literários até aos nossos dias. Aos olhos de muitos, ele é, ainda hoje, um “poeta para poetas”.
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“Vladimir Maiakóvski (Владимир Маяковский) é o maior poeta russo moderno, aquele que mais completamente expressou, nas décadas em torno da Revolução de Outubro, os novos e contraditórios conteúdos do tempo e as novas formas que estes demandavam. Maiakóvski deixa descortinar em sua poesia um roteiro coerente, dos primeiros poemas, nitidamente de pesquisa, aos últimos, de largo hausto, mas sempre marcados pela invenção. “Sem forma revolucionária não há arte revolucionária”, era o seu lema, e nesse sentido Maiakóvski é um dos raros poetas que conseguiram realizar poesia participante sem abdicar do espírito criativo.”
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