“Acho que deveríamos colocar Esopo entre os grandes sábios de que a Grécia se orgulha, ele que ensinava a verdadeira sabedoria, e que a ensinava com muito mais arte que os que usam regras e definições.”
– LA FONTAINE
Acredita-se que, antigamente, uma pessoa chamada Esopo escreveu centenas de fábulas que são muito conhecidas até hoje. Estudiosos da Antiguidade afirmavam que Esopo viveu no reino da Trácia, no nordeste da Grécia, no século VI a.C. Agora se sabe que muitas dessas histórias são ainda mais antigas e que Esopo talvez nunca tenha existido.
As fábulas de Esopo provavelmente faziam parte da tradição oral — ou seja, eram histórias contadas em voz alta. Há cerca de 2 mil anos, o escritor romano Fedro pôs algumas delas por escrito. Mais tarde, as histórias foram traduzidas para outras línguas. Em português, existe um manuscrito do século XV, chamado Fabulário português medieval, ou O livro de Esopo, que contém várias dessas fábulas e foi publicado em forma de livro no início do século XX. A mais antiga versão conhecida em inglês foi publicada em 1692. Ao longo dos séculos, elas sempre foram bastante populares na Europa e no Brasil.
A maior parte das fábulas apresenta animais com características humanas e termina com uma moral, um ensinamento ou lição que a própria história pretende demonstrar.
Fonte: Britannica Escola
Esopo, o fabulista, foi flanar num estaleiro. Lá, provocado pelas zombarias dos operários, disse-lhes:
– Quando o mundo era apenas água e caos, Zeus quis fazer um dia um novo elemento: a terra. Foi por isso que ele a fez engolir o mar três vezes. Da primeira vez, a terra deixou aparecer as montanhas; da segunda, as planícies; quando ela for beber pela terceira vez, a arte de vocês não servirá para nada.
Quem ri de quem lhe é superior terminará perdendo o riso.
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Uma camela atravessava um rio de águas turbulentas. Tendo defecado, as fezes levadas pelo redemoinho foram parar no seu focinho. Ela então exclamou:
– Como é que o que estava atrás veio parar na minha frente?
Em certos ocasiões, os sensatos são ultrapassados pelos piores imbecis.
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Um gato queria ter uma boa razão para devorar um galo que caiu em suas garras.
– À noite – acusou-o –, teus gritos não deixam os homens dormir.
O galo se defendeu:
– É um serviço que lhes presto, chamando-os a seus deveres.
O gato não se abalou e acusou o galo de ultrajar a natureza por não respeitar nem a mãe nem as irmãs.
O galo respondeu:
– Isso reverte mais uma vez para o bem de meus patrões: eles têm assim ovos em abundância.
Os pretextos especiais de nada servem quando o celerado, desavergonhadamente, está decidido a fazer o mal.
Um pescador, que era também flautista, pegou a flauta e a rede e foi pescar. De pé num promontório, pôs-se a tocar. Os peixes, pensava ele, atraídos pela beleza da música, pulariam sozinhos fora d’água. Tocou um bom tempo sem parar. Em vão. Deixando de lado a flauta, pegou a rede e a lançou na água. Pegou um monte de peixes. Tirava-os da rede e os jogava na areia . Como os peixes se retorciam, ele disse:
– Seus malditos, quanto vocês não dançaram enquanto eu estava tocando!
Assim agem os ardilosos.
Uma gralha faminta estava no alto de uma figueira; estava achando os frutos muito verdes e esperava que amadurecessem. Uma raposa, ao vê-la esperar pelo tempo, descobriu logo a razão e lhe disse: “Minha amiga, não adianta alimentar esperanças. Elas só nos enchem de ilusões”.
Uma raposa e um crocodilo discutiam para ver qual dos dois era o mais nobre. O crocodilo se gabava dos feitos de seus ancestrais e concluiu dizendo que seus pais presidiam os jogos ginásticos. A raposa replicou: “Nem precisavas dizer, só de olhar tua pele já dá para ver tua longa prática esportiva”.
Contra os mentirosos, os fatos falam por si sós.
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Alguns homens iam por uma estrada para fechar um negócio. Eis que, no caminho, encontram um corvo caolho. Como não queriam passar pelo pássaro, um deles, pensando que estavam diante de um mau presságio, achou melhor não ir em frente. Um outro replicou:
– Como esse pássaro pode prever nosso futuro se não soube evitar a perda de seu próprio olho?
Não dá para ouvir os conselhos de quem não sabe cuidar de si mesmo.
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Era verão e os animais estavam sedentos. Um leão e um javali foram matar a sede numa pequena fonte. Estavam brigando para ver quem ia beber primeiro. A briga terminou numa luta sangrenta. De repente, tendo-se separado momentaneamente para recuperar o ar, viram os abutres que só estavam esperando que um deles morresse para devorá-lo. Pararam então de brigar:
– Melhor ficarmos amigos que servir de pasto aos abutres e aos corvos.
Querelas e disputas nos expõem ao perigo. Melhor acabar com elas.
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Um lavrador desatrelou seus animais e os levou ao bebedouro. Um lobo que, faminto, procurava o que comer, encontrou a charrua. Começou a lamber a canga. Depois, ao passar o pescoço por baixo, ficou preso, e, sem se dar conta, começou a puxar a charrua pelo campo.
Ao voltar do bebedouro, o lavrador o viu e disse:
– Maldito animal, não vá querer dizer que deixou de pilhar e de fazer o mal para lavrar a terra!
Não adianta os maus quererem passar por virtuosos, a forma como o fazem os desacredita aos olhos dos outros.
– Esopo. Fábulas. [tradução Antônio Carlos Vianna; revisão Delza Menin e Ruiz R. Faillace]. Porto Alegre: Editora L&PM Pocket, 2011.
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