quinta-feira, novembro 21, 2024

Federico Fellini: o artista de múltiplos talentos

“É inegável que Fellini faz parte do primeiro time do cinema mundial. Falo daqueles cineastas que não só fizeram filmes muito bons, mas que mudaram a linguagem cinematográfica e formularam novas soluções para o cinema. Há quem diga – e eu concordo – que ele está entre os que criaram o cinema moderno, esse que veio após a Segunda Guerra e ao qual continuamos ligados de alguma maneira”
– prof. Paulo Cunha, curador do Cinema da UFPE | em ‘Folha PE’, 18.1.2020.

“O dicionário italiano reconhece a palavra felliniano. Significa quase tudo o que tem a ver com o Mago de Rimini e seu cinema, não há dúvida. Mas é também o adjetivo que descreve um universo estético, social e político que impregna uma nação inteira há seis décadas. A tensão entre o homem moderno e os rudimentos do passado, os sonhos eróticos, o machismo caricatural ou uma estranha mistura de crítica e paixão simultânea por uma sociedade do espetáculo que acabou se tornando uma odiosa indústria publicitária. Federico Fellini (Rimini, 1920-Roma, 1993), deixou alguns dos filmes mais insólitos produzidos na Itália e fundou uma nova maneira de contar o mundo a partir dos sonhos e do lado mais grotesco de suas próprias memórias. Um século depois de seu nascimento, o big bang estético criado durante os anos em que viveu em Roma arrebenta as costuras do dicionário.” – El País, 17.1.2020.

Ao longo da vida, ele ganhou quatro estatuetas do Oscar na categoria de melhor filme estrangeiro e uma Palma de Ouro no Festival de Cannes.

Federico Fellini: o centenário de uma lenda do cinema – o artista de múltiplos talentos

– por Jochen Kürten | DW

Nascido em 20 de janeiro de 1920, Federico Fellini é até hoje o diretor de cinema mais famoso da Itália. Mas o artista nascido em Rimini tinha muitas facetas: desenhista original, roteirista inspirado – também para outros cineastas – e se impôs até como escritor. Antes de tudo, entretanto, ele é relembrado por suas obras-primas em celuloide.

Olhar sobre a juventude

Seu terceiro filme, “Os boas-vidas” (1953), lhe abre as portas do sucesso. Nele, Fellini evoca sua juventude numa cidadezinha à beira do Mar Adriático, onde cinco rapazes matam o tempo com companhias femininas, pequenos furtos e muito tédio. Esse retrato, de uma geração pós-guerra, autêntico, porém divertido valeu a Fellini o Leão de Prata do Festival de Veneza.

Oscar para tragicomédia

O próximo filme de Fellini, “A estrada da vida” (1954), é um sucesso estrondoso. Estrelado por Anthony Quinn e Giulietta Masina, é premiado com um Oscar e coloca o jovem mestre italiano na lista dos principais cineastas europeus. Em seu país, contudo, alguns diretores e críticos veem como um defeito o seu excesso de páthos e a idealização da realidade.

Clássico neorrealista

“A trapaça” (1955) é considerado uma reação às críticas ao filme anterior. Mais uma vez, Masina e Richard Basehart ocupam dois dos papéis principais na história de três embusteiros que enganam os pobres. Apesar de pintar um quadro desolador de miséria social, seus três “heróis” permanecem simpáticos. Mal-sucedido na época do lançamento, hoje ele conta entre os clássicos do neorrealismo.

Segundo Oscar

“Noites de Cabíria” (1957) vale a Fellini o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. A essa altura, o italiano de 37 anos é um astro do cinema mundial. Essa obra já contém muito do que se passará a descrever como “felliniano”: personagens e cenas grotescos, um olhar fantasioso sobre a tristeza social, temperado com muita ironia e humor.

Ícone do cinema mundial

Três anos mais tarde, chega aos cinemas a próxima obra-prima felliniana: “A doce vida” (1960) disseca a alta sociedade na Roma do fim dos anos 50, com estocadas especialmente agudas na imprensa de boulevard. A produção premiada com a Palma de Ouro de Cannes ostenta uma das cenas mais icônicas da história do cinema: a atriz sueca Anita Ekberg beija Marcello Mastroianni na Fonte de Trevi.

Incursão autobiográfica

É também Marcello Mastroianni que, três anos mais tarde, encarna o alter ego do autor italiano em “Oito e meio” (1963). Sua personagem, o cineasta em crise existencial Guido Anselmi, é um homem à procura do sentido da vida. O filme é também ponto final e resumo da primeira fase criativa de Fellini. É hora de começar algo novo.

“Nesse filme, estão as angústias existenciais e estéticas do cinema, os personagens mais recorrentes e os seus temas mais obsessivos. Tudo isso embalsamado por poesia, sonho, memória, imagens antológicas e trilha inesquecível de Nino Rota, parceiro e ‘cúmplice’ de Fellini”
– Maria Adelaide Amaral, dramaturga e escritora. sobre o filme “Oito e Meio”. em depoimento ao jornal O Estadão, 18.1.2020.

Orgia de imagens

E o novo vem na forma de cor, opulência e cenários monumentalmente originais. Em “Satyricon” (1969) e “Roma de Fellini” (1972), o diretor enfoca, acima de tudo, a capital da Itália, “sua” cidade, através de épocas diversas, rompendo com as convenções narrativas e tabus morais e religiosos, numa estética francamente surrealista.

Mais um Oscar

“Amarcord” (1973) também pertence a essa fase em que o cineasta narra suas histórias com grande requinte visual e sentimento exacerbado. E, no entanto, trata-se também de uma obra poeticamente pessoal, um olhar sobre Rimini, a cidade natal de Fellini, nos anos 1930. Mais uma vez lhe cabe o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.

“A poesia, a humanidade e a agrandabilidade desse (navio) Rex cinematográfico chamado Amarcord não só me encantou como determinar o resto da minha vida, porque foi o filme que me fez querer fazer cinema”
– Anna Muylaert, cineasta. sobre o filme “Amarcord”. em depoimento ao jornal O Estadão, 18.1.2020.

Obra de maturidade

“Cidade das mulheres” (1980) marca o início da última fase criativa do artista italiano. Agora sexagenário, ele continua encenando com grande opulência e um elenco de astros, porém as histórias ficaram mais íntimas, sonhadoras, pessoais. Mais uma vez é Mastroianni que representa o próprio Fellini numa viagem interior.

Adeus ao cinema

Apesar de não ser o último filme do mestre – outros dois ainda virão –, “Ginger e Fred” é o mais belo representante dessa fase final. Ele gira em torno de um casal de dançarinos, antes famosos, num encontro nostálgico após muitos anos de separação. Inevitavelmente, os protagonistas são Giulietta Masina, a esposa e musa de Fellini, e o fiel alter ego Marcello Mastroianni.

A sua obra segue como referência para os amantes da sétima arte!!!

*Com informações de DW Brasil.


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