Álbum “Varandão” de João Lyra e Cristovão Bastos chega com 10 faixas autorais e canções trazem timbres e caminhos melódicos surpreendentes.
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VARANDÃO, apresentação João Carino
A música é o maior patrimônio do Brasil quando pensamos na relação entre qualidade e quantidade de obras. Nosso cancioneiro popular dispõe de acervo inigualável, oriundo de diversas fontes culturais, tendo suas vertentes no índio, no branco e no negro. Tudo junto e misturado, como dizem. É como se fosse uma poção mágica, feita somente com ingredientes brasileiros. E essa é a receita que iremos encontrar nas faixas deste álbum. Tudo concebido com ricas sutilezas: desde as que envolvem as lembranças da infância, os amores correspondidos (e não correspondidos), as implacáveis dores das paixões, o sorriso da criança, a sabedoria dos idosos, o conselho da mãe, a saudade do pai.
Toda essa riqueza poética e musical vem à tona quando falamos de dois completos e especiais artistas: João Lyra e Cristovão Bastos, ou Cristovão Bastos e João Lyra. Quem sabe Cristovão Lyra e João Bastos? Nem importa. O João vem da pacata cidade de São José da Lage, Alagoas, com as raízes antigas da Craibeira, carregado de jambo, umbu, mangaba e cajá. Sem faltar, é claro, de uma boa pimenta malagueta. Já o Cristovão é de Marechal Hermes, cria do subúrbio carioca, do futebol de rua, da bola de gude e do pião, de soltar pipa com cerol e rabiola com gilete.
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Os dois se emanam do botequim, da comida de rua, da rabada, da barriga de porco, do feijão tropeiro, do ensopadinho de chuchu com camarão.
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Não conheço dupla com mais afinidade do que esta: João Lyra e Cristovão Bastos. Completam-se. Apesar de virtuosos nos seus instrumentos, entre eles não tem correria, é tudo na categoria, na sabedoria. Ninguém quer brilhar mais que o outro, pelo contrário, cedem espaço o tempo um para o outro com elegância. Tratam a música com respeito. As criações desta dupla existem para emocionar.
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O nome do álbum é Varandão, uma designação que virou sinônimo de choro lento. Aliás, já considerado hoje um gênero do choro. A expressão foi cunhada pelo saudoso músico João de Aquino. Originalmente era “Varandão da Saudade” e acabou ficando conhecida como “Varandão”. São 10 faixas, cada uma com seu próprio sabor, com suas nuances. Nem de longe se parecem. Trazem timbres diferentes, modulações surpreendentes e caminhos melódicos inusitados. Todas simples na essência e ao mesmo tempo sofisticadas, de alto nível. Coisa de craque. No caso, de dois craques. Ambos, compositores de canções conhecidas, feitas em parceria com grandes nomes do cenário autoral. Não bastasse, são músicos muito experientes, que já tocaram (e tocam) com os maiores e melhores artistas da música brasileira.
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Prepare-se para viajar no tempo da delicadeza – nem no passado, nem no futuro. Uma viagem atemporal, como são as emoções. Mistérios que embalam a alma da gente.
ÁLBUM “VARANDÃO” • João Lyra e Cristovão Bastos • Selo Independente • 2022
Contendo as músicas:
1. Varandão 1 (João Lyra e Cristovão Bastos)
2. Varandão 2 (Cristovão Bastos)
3. Varandão 3 (João Lyra e Cristovão Bastos)
4. Varandão 4 (João Lyra e Cristovão Bastos)
5. Varandão 5 (Cristovão Bastos e João Lyra)
6. Varandão 6 (João Lyra e Cristovão Bastos)
7. Varandão 7 (Cristovão Bastos e João Lyra)
8. Varandão 8 (João Lyra e Cristovão Bastos)
9. Varandão 9 (João Lyra)
10. Varandão 10 (Cristovão Bastos e João Lyra)
♪ficha técnica♪
João Lyra (violão) | Cristovão Bastos (piano) || ♪Participação especial: Rui Alvim (clarinete – fx. 10) | Durval Pereira (xique-xique – em todas as faixas) | Zé Bastos (baixo – em todas as faixas) | Mixagem e masterização: João “Janjão” Vasconcelos | Gravado no Studio Dzepha – Rio de Janeiro | Produção musical: João Lyra e Cristovão Bastos | Arte: José Maria Mattos | Capa: Dydha Lyra | Texto de apresentação: João Carino | Selo: Independente | Ano: 2022 | Formato: CD digital || ♪ Ouça o álbum no canal de Cristovão Bastos ou na sua plataforma favorita: Soptify | Deezer | Apple Music | Amazon Music | Youtube Music | Tidal
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“Fomos fazendo aos poucos, acrescentando uma ideia aqui, gravando uma música ali… É um álbum no qual a gente trabalha com a ideia das composições, aquilo que o pessoal chama de varandão. Fizemos essas composições com esse sentido, não é uma coisa velha, porém é mais antiga. E o jeito de compor, a gente trabalhou em função disso. Foi um trabalho de longo prazo, talvez a gente esteja nele há cerca de cinco anos. Fizemos esse álbum com calma e muito carinho. O disco surgiu agora e é um trabalho na contramão do que todo mundo escuta hoje, mas é legal ter esse tipo de trabalho também. Ao mesmo tempo, é um registro nosso das coisas que a gente faz.” – Cristovão Bastos
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Sobre o álbum:
PIO, Augusto. Cristovão Bastos e João Lyra lançam álbum dedicado ao choro. In: Estado de Minas, 25.1.2023. Disponível no link. (acessado em 19.6.2023).
REIS, Aquiles. Varandão expressa toda a criatividade de João Lyra e Cristovão Bastos. In: Gazeta, 28.2.2023. Disponível no link. (acessado em 19.6.2023).
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Leia também:
:: “Choro Negro – Cristovão Bastos e Mauro Senise tocam Paulinho da Viola”.
:: Encontro histórico, o piano de Cristovão Bastos e o violão 7 cordas de aço de Rogério Caetano.
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João Lyra (compositor, violonista, arranjador, produtor musical), nasceu em São José da Lage, Alagoas, em 26 de abril de 1949. Os primeiros passos para a música foram dados com a sua mãe que tocava cavaquinho. Por influência do seu irmão mais velho, adotou o violão como seu instrumento. Em Maceió fez parte de vários grupos de Música Popular Brasileira e grupos de Rock, tendo, porém, em sua formação o Choro e a Bossa Nova. Mudou-se para Recife para estudar música na Universidade Federal de Pernambuco, em paralelo, estudou violão clássico com o professor Jose Carrion. Mais tarde, durante 9 anos, foi professor do Conservatório Pernambucano de Música. Fez parte da Orquestra de Cordas Dedilhadas de Pernambuco como músico, arranjador e compositor. Participou em mais de 1000 gravações de discos de artistas locais. Ainda em Recife, fez parte da Camerata Carioca a convite de Mauricio Carrilho ao lado de Joel Nascimento, Luis Otavio, Henrique Cazes, Paulo Sergio Santos e Beto Cazes em apresentações no Rio de Janeiro e nos EUA.
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Viajou para o Japão com Elizete Cardoso, Zimbo Trio e Choro Carioca. Gravou um disco ao vivo nos EUA com Joel Nascimento e Sexteto Brasileiro. Durante 6 anos, viajou com Sivuca por toda a Europa e gravou 2 discos do artista, inclusive músicas de sua autoria. O casamento com Sivuca foi perfeito pois sua identificação com a música nordestina e de berço. Em 1993, mudou-se para o Rio de Janeiro onde já fez parte da banda de Nana Caimmy, e tem gravado discos de vários artistas da MPB como Paulo Jobim Gal Costa, Gilberto Gil, Djavan, Ivan Lins, Sivuca, Elba Ramalho, Zé Ramalho, Aguinaldo Rayol, Erasmo Carlos, Emilio Santiago, Alceu Valenca, Caetano Veloso, Chico Buarque, Ângela Maria, Alcione, Miltinho MPB4, Simoni, Maria Betânia, Zé Renato, Martinho da Vila, Zeca Pagodinho, Danilo Caimmy, Dory Caimmy, Joana, Raimundo Fagner, Miúcha, Olivia Byington, Olivia Hime, Francis Hime, Paulo César Pinheiro, Moacy Luz, MPB4, Joao Bosco, Joao Nogueira, Luciana Rabello, Roberto Silva, Luis Carlos da Vila, Cristina Buarque, Cristovão Bastos, Monarco, Jamelão, Hebe Camargo, Tânia Alves, Tim Maia, Ney Matogrosso, Milton Nascimento, Fafá de Belém, Sandra de Sá, Aldir Blanc, Leila Pinheiro, Leny Andrade, Luiz Melodia, Zélia Duncan, Rosa Passos, Zizi Possi, Edu Lobo, Leandro Braga, Dominguinhos, Owaldinho, e tantos outros. Participou de vários Songbook da Gravadora Lumiar.
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Álbuns em parceria “Marvada viola – ao capitão Furtado” – Roberto Corrêa, João Lyra e Adelmo Arcoverde, pelo selo Funarte/1987, esse disco contou com a participação especial de Sivuca, Rolando Boldrin, Zé Mulato e Cassiano, além das participações de Maurício Carrilho e João Aquino.
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Em 1992, foi o convidado especial de Sivuca, no álbum “Pau doido”, pelo selo Kuarup.
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Na composição, seus principais parceiros, são: Cristovão Bastos, Maurício Carrilho, Paulo César Pinheiro, Adelmo Arcoverde, Marco César, Spok (Inaldo Cavalcante de Albuquerque), Adelson Viana, Zeh Rocha, Milton Rangel, entre outros.
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As suas músicas foram gravadas em discos de vários artistas, entre eles: Adelson Viana, Chico Salles, João Camarero, Alice Caymmi, Nicolas Krassik, Daniela Spielmann, Mário Sève, Elba Ramalho, Marcelo Caldi, Paulo Sérgio Santos, Joel Nascimento, Fagner, Spok, Luciana Menezes, Sivuca, Alexandra Nicolas, Spok Frevo Orquestra, Sexteto Capibaribe, Orquestra de Cordas Dedilhadas de Pernambuco, Camerata Brasilis, Conjunto Pernambucano de Choro, e outros.
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Em 2014, lançou o seu disco solo “Tocador”, inicialmente lançado no Japão. “Tocador” de João Lyra (violão) e participação de Luciana Rabello (cavaquinho), João Camarero (violão de 7 cordas), Cristovão Bastos (piano), Adelson Viana (acordeon), Zé Leal (percussão), Celsinho Silva (pandeiro), Rui Alvim (clarinete) e Zé Canuto (sax). No CD ele gravou os choros “Seu Rafa”, em homenagem a Raphael Rabello; “Coringuinha”, feita para Canhoto da Paraíba; “Dom Bastos de Marechal, dedicado ao pianista Cristovão Bastos; “Tem animal na varanda”, para Maurício Carrilho”; “De João pra Pernambuco”, dedicado a João Pernambuco; e “Meus três amores”, dedicado aos filhos, acrescente-se a estes mais quatro temas: “Varanda”, “J. da Gema”, “Descaso” e “Banzo”. O desenho da capa é de Dhyda Lyra; projeto gráfico Dora Reis.
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Em dezembro de 2022, lança em parceria com Cristovão Bastos o álbum “Varandão”, selo Independente. São 10 composições de Lyra e Bastos, todas sob o título Varandão – 1 a 10., sendo que a faixa 2, é composição só de Cristovão, e faixa 9, só de Lyra..
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Cristovão Bastos (compositor, pianista, arranjador, diretor musical e professor), nascido no bairro de Marechal Hermes, na cidade do Rio de Janeiro, em 3 de dezembro de 1946. Respeitado e admirado por grande parte da música brasileira, estudou teoria musical e acordeom desde cedo, formando-se aos 13 anos, quando iniciou sua carreira, tocando em bailes com a banda de “Creso Augusto”. Sua estreia como pianista foi aos 17 anos, numa boate em Cascadura, subúrbio do Rio de Janeiro. Foi um dos fundadores da Banda Black Rio, participando de sua primeira formação e do primeiro disco, o antológico “Maria Fumaça” em 1976. No mesmo ano participou como solista, juntamente com flautista Copinha, do disco Memórias Chorando de Paulinho da Viola.
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Parceiro de grandes nomes como Chico Buarque — com quem compôs “Todo o sentimento” e “Tua cantiga” —, Paulo César Pinheiro, Aldir Blanc, Paulinho da Viola, Elton Medeiros, Luciana Rabello e Abel Silva. Cristovão criou e assinou arranjos para discos e shows de Nana Caymmi, Edu Lobo, Elza Soares, Emílio Santiago, Fafá de Belém, Miúcha, Gal Costa, Nelson Gonçalves, Paulinho da Viola, Ângela Maria, Chico Buarque, entre outros.
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Algumas de suas composições estão registradas nas vozes e instrumentos de nossos maiores intérpretes, como Zezé Gonzaga, Simone, Ney Matogrosso, Maria Bethânia, Verônica Sabino, os grupos Época de Ouro e Nó em Pingo D’água, Maria Creuza, Paulinho da Viola, Elizeth Cardoso, Emílio Santiago, Zé Nogueira, Mauro Senise, Marco Pereira, entre outros. Em 1998, a cantora Clarisse Grova gravou Novos Traços, disco de músicas inéditas de Cristovão e Aldir Blanc, com produção de Rildo Hora. Barbra Streisand gravou ‘Let´s start right now’, versão da música ‘Raios de luz’ parceria dele com Abel Silva, no álbum A Love Like Ours (1999).
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Com Aldir Blanc, Cristovão compôs mais de vinte canções, entre elas, ‘Resposta ao tempo’, tema de abertura da minissérie Hilda Furacão, da Rede Globo (1998) e ‘Suave veneno’, da novela Suave Veneno, Rede Globo (1999), ambas gravadas por Nana Caymmi.
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Em sua longa e profícua carreira, mais de 55 anos de trabalho, Cristovão recebeu 13 prêmios, entre eles o Prêmio Sharp como compositor, arranjador, instrumentista e melhor disco instrumental, com “Bons Encontros”, em parceria com Marco Pereira; Em 2008 recebeu o ‘Prêmio Tim’, como melhor arranjador com o disco “Paulinho da Viola – Acústico MTV”. Em 2011 o ‘Prêmio da Música Brasileira’ como melhor arranjador, com o disco “Tantas Marés” de Edu Lobo. Em 2018, recebe o ‘Prêmio da Música Popular Brasileira’ juntamente com Chico Buarque pela canção “Tua Cantiga”, na categoria ‘Melhor canção’; e em 2021 recebe Prêmio Ernesto Nazareth (1º lugar) do festival Rio Choro, para a sua música “Especial saudade“. Ainda em 2021, recebe o Prêmio Profissionais da Música, na categoria ‘Intérpretes de Choro’, álbum Cristovão Bastos e Rogério Caetano* (selo Biscoito Fino, 2020), o disco também foi indicado ao Latin Grammy 2021, na categoria de melhor Álbum Instrumental.
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Lançou dois discos solo, o primeiro “Avenida Brasil”, em 1997 e o segundo “Gafieira Suburbana”, em 2008, contendo composições suas e de amigos.
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Em 1992, gravou o álbum premiado “Bons Encontros”, em parceria com Marco Pereira. Bastos. No ano de 2002, gravou o disco “Domingo na geral”, álbum com o grupo ‘Nó em Pingo D’Água’. Em 2019, gravou e lançou o álbum “Espelho” em parceria com Maury Buchala, pelo selo SESC SP. Em julho de 2020, lançou o disco em duo “Cristovão Bastos e Rogério Caetano”, pelo selo Biscoito Fino. O álbum promove o encontro de dois grandes mestres em seus instrumentos – o piano e o violão 7 cordas aço. Disco em homenagem a Raphael Rabello.
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Em outubro deste ano, lançou o disco em duo “Choro negro – Cristovão Bastos e Mauro Senise tocam Paulinho da Viola”, pelo selo Biscoito Fino, 2022. O álbum celebra os 80 anos de Paulinho da Viola, mestre da nossa música.
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Em dezembro de 2022, lança em parceria com João Lyra o álbum “Varandão”, selo Independente. São 10 composições de Lyra e Bastos, todas sob o título Varandão – de 1 a 10., sendo que a faixa 2, é composição só de Cristovão, e faixa 9, só de Lyra.
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> Imagem (capa da matéria): Cristovão Bastos – foto ©Marcelo Castello Branco / João Lyra – foto ©Maira Cassel
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Série: Discografia da Música Brasileira / Choro / Chorinho / Música instrumental.
* Publicado por ©Elfi Kürten Fenske