Contrabaixista Jorge Helder lançou ‘Samba Doce’ pelo Selo Sesc, seu primeiro álbum autoral em 40 anos de carreira
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Mestre do instrumento que já dividiu palco e estúdio com os mais importantes artistas da música popular brasileira traz agora a doçura e a mordacidade harmônica em disco samba-jazz com as participações de Chico Buarque, Dori Caymmi, Rosa Passos, Stefano Bollani, Renato Braz, o grupo Boca Livre e as cordas da Orquestra Filarmônica de São Petersburgo; álbum chegou primeiro no Sesc Digital em 18 de setembro (2020) e no dia 23 nas demais plataformas de música
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Um álbum que “refina a tradição de música instrumental e traz a canção para dentro dela como ninguém”. É assim que Caetano Veloso classifica o primeiro trabalho autoral do músico, compositor e arranjador nascido em Fortaleza e radicado no Rio de Janeiro há 34 anos. Foi na capital fluminense que Jorge Helder passou a ser requisitado pelos mais célebres cantores da música popular brasileira para fazer parte de seus conjuntos musicais, seja para entrar em estúdio ou cair na estrada em turnê.
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Ele que já gravou mais de 350 discos tocando ao lado de Chico Buarque, Caetano Veloso, Stefano Bollani, Ney Matogrosso, João Bosco, Miúcha (1937-2018), Maria Bethânia, Gal Costa, Elza Soares, Roberto Carlos, Rosa Passos, Joyce Moreno e Adriana Calcanhoto e por aí vai, a lista é extensa, faltava em sua discografia um trabalho para chamar de seu. Agora, isso está completo. Neste mês, o Selo Sesc, a gravadora do Sesc São Paulo, lança Samba Doce. Um repertório samba-jazz inteiramente autoral com a assinatura do contrabaixista. O álbum chegou com exclusividade ao Sesc Digital no dia 18 e nos demais players de streaming em 23 de setembro (2020).
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Samba Doce reúne mais de 40 artistas em dez faixas, todas compostas por Jorge Helder, sendo metade delas em parceria com Chico Buarque, Aldir Blanc (1946-2020) e Rosa Passos. “Eu quis convidar vários músicos com os quais trabalhei e aprendi ao longo da carreira. Cada faixa tem uma formação diferente pensando no estilo musical de cada um, abarcando diferentes sensibilidades”, destaca Helder.
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De família musical, com passagem por um grupo de chorinho e uma banda de rock na infância e adolescência, em Samba Doce ele intercala o contrabaixo com o baixo elétrico, ficando de fora apenas da faixa “Vagaroso”, que traz Paulo Aragão (arranjo de cordas), Nailor Proveta (sax alto), Marcos Nimrichter (piano) e a Orquestra de Cordas de São Petersburgo.
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Abrindo o disco, tem a sofisticação instrumental da faixa-título composta em 2017 e interpretada com a maestria do trio formado por Jorge Helder (contrabaixo), Lula Galvão (violão) e Erivelton Silva (bateria). Na sequência, uma lembrança à obra do grande compositor Aldir Blanc com a canção “Dorivá”, cuja letra, de sua autoria, é uma homenagem a Dorival Caymmi (1914-2008) e que em Samba Doce é cantada por Dori Caymmi.
A parceria com Chico Buarque é de longa data. Desde 1993, o mestre do contrabaixo participa da gravação de discos e de shows do cantor e compositor carioca, pelo Brasil e exterior. O ponto de partida desta combinação musical se deu com uma turnê na Europa seguida pelo disco Paratodos. A primeira parceria, “Bolero Blues”, foi feita em 2006 e gravada no álbum Carioca. O momento no qual Chico contou-lhe que havia feito uma letra para a sua música tem um registro audiovisual – conhecido pela reação emotiva de Helder – no documentário “Desconstrução”, DVD sobre os bastidores da gravação do disco.
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Em Samba Doce eles dividem a autoria de “Bolero Blues”, com Chico no vocal; de “Rubato”, que traz a participação do cantor Renato Braz e do bolero “Casualmente”, faixa que encerra o álbum e cantada pelo grupo Boca Livre, formado por Zé Renato, David Tygel, Lourenço Baeta e Mauricio Maestro.
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A cantora Rosa Passos interpreta a parceria “Inocente Blues”, um blues abrasileirado. Das dez composições selecionadas para o disco, a mais antiga é “Tema Novo”, escrita em 1983 quando Helder ainda morava em Brasília, antes de se mudar em definitivo para o Rio de Janeiro.
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Sem muitas pretensões e feito de forma muito espontânea, o disco começou a ser gravado em 2013 e ao longo do tempo o projeto foi ganhando consistência. Com ilustração assinada pelo arquiteto, compositor e poeta Fausto Nilo, parceiro de trabalho de Geraldo Azevedo, Moraes Moreira (1947-2020) e de tantos outros artistas, a capa de Samba Doce foi inspirada em uma fotografia cujo instante é de crianças saltando em uma dança, dando a impressão de que flutuam.
DISCO ‘SAMBA DOCE’ • Jorge Helder • Selo Sesc • 2020.
Canções / compositores:
1. Samba doce (Jorge Helder)
2. Dorivá (Jorge Helder e Aldir Blanc)
3. Passo o ponto (Jorge Helder)
4. Inocente blues (Jorge Helder e Rosa Passos)
5. Vagaroso (Jorge Helder)
6. Bolero blues (Jorge Helder e Chico Buarque)
7. Outubro 86 (Jorge Helder)
8. Rubato (Jorge Helder e Chico Buarque)
9. Tema novo (Jorge Helder)
10. Casualmente (Jorge Helder e Chico Buarque)
– ficha técnica –
Jorge Helder (contrabaixo – fx. 1, 6, 7, 9, 10; baixo elétrico – fx. 2, 8) | Lula Galvão (violão – fx. 1) | Pedro Franco (violão – fx. 2) | Marcus Teixeira (violão – fx. 8) | Lula Galvão (guitarra – fx. 3) | Nelson Faria (guitarra – fx. 7) | Ricardo Silveira (guitarra – fx. 9) | João Carlos Coutinho (piano – fx. 2) | Stefano Bollani (piano – fx. 3) | Antonio Adolfo ((piano – fx. 4) | Marcos Nimrichter (piano – fx. 5) | João Rebouças (piano – fx. 6) | Rafael Vernet (piano – fx. 7) | Bruno Cardozo (piano – fx. 8) | Renato Neto (piano – fx. 9) | João Carlos Coutinho (piano – fx. 10) | Nailor Proveta (sax alto – fx. 5) | Marcelo Martins (sax tenor – fx. 7) | Erivelton Silva (bateria – fx. 1) | Jurim Moreira (bateria – fx. 6, 9) | Kiko Freitas (bateria – fx. 7) | Edu Ribeiro (bateria – fx. 8) | Pantico Rocha (bateria – fx. 10) | Marcelo Costa (percussão – fx. 2) | Chico Batera (percussão – fx. 10) || Dori Caymmi (voz – fx. 2) | Rosa Passos (voz – fx. 4) | Chico Buarque (voz – fx. 6) | Renato Braz (voz – fx. 8) || Grupo Boca Livre: formado por Zé Renato, David Tygel, Lourenço Baeta e Mauricio Maestro (vozes – fx. 10) || Orquestra de Cordas de São Petersburgo (fx. 2, 5, 6) || Orquestra Atlântica (fx. 3) – formada por Marcelo Martins (sax tenor), Danilo Sina (sax alto), Levi Chaves (sax barítono), Jessé Sadoc e Gesiel Nascimento (trompetes), Bebeto Germano e Elias Correa (trombones), Jorge Helder (baixo elétrico), Williams Mello (bateria) e Dadá Costa (percussão) || Orquestra Atlântica (fx. 4) – formada por Marcelo Martins (sax tenor), Danilo Sina (sax alto), Levi Chaves (sax barítono), Jessé Sadoc e Gesiel Nascimento (trompetes), Bebeto Germano e Elias Correa (trombones), Jorge Helder (contrabaixo) e Williams Mello (bateria) || Arranjos de cordas: Mario Adnet (fx. 2); Paulo Aragão (fx. 5); Luiz Cláudio Ramos (fx. 6) | Arranjo: Jessé Sadoc (fx. 3) | Arranjo de sopros: Jessé Sadoc (fx. 4) | Arranjo vocal: Mauricio Maestro (fx. 10) || Produção artística: Jorge Helder | Produção executiva: Maria Carolina Rodrigues | Ilustração da capa: Fausto Nilo | Técnico de mixagem do álbum: Roberto Lioli | Técnicos de edição: Jeronimo Orselli e Edu Costa | Mixado no Cia dos Técnicos Studios | Assessoria de imprensa: Maria Carolina Rodrigues || Agradecimentos especiais: Caetano Veloso, Paula Lavigne, João Pedro Campos, Lucas Campos, Mario Adnet, Mariza Adnet, Fausto Nilo, Kleber Augusto, todos os amigos que participaram e toda equipe do Selo Sesc || #* Ouça o álbum: Sesc Digital | plataformas de música
Doce Jorge, por Caetano Veloso
De toda a cultura musical que se desenvolveu no pós-Beco-das-Garrafas, o samba-jazz virtuoso e inventivo, Jorge Helder é a expressão mais fiel – e, ao mesmo tempo, a mais pessoal e menos redutível ao padrão. Começa que Jorge é uma das melhores pessoas que conheci entre os músicos que há, sendo também um dos melhores músicos que há entre as pessoas.
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Nesse seu álbum autoral, encontram-se a doçura e a mordacidade harmônica: aquela nunca é sufocada por esta. “Samba Doce”, que abre o disco e o nomeia, é um manifesto desse casamento perfeito na complicada música instrumental brasileira. Logo vem um afro-samba com acento de ijexá saudando Caymmi, com as palavras sempre certeiras de Aldir Blanc, na voz de Dori, o mais marítimo dos filhos de Dorival. O samba-ijexá sugere polirritmias. Daí vem a Orquestra Atlântica – cuja conjunção de atabaques com metais não deixa de mostrar parentesco com a Rumpilezz de Letieres – saindo, sempre em samba, de um seis-por-oito só no couro. Mas há o piano extraordinário de Stefano Bollani: quantos pianistas há ou houve que produzam notas de tão imensa clareza?
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Clareza de toque, de timbre, de ideia de significado. Todas essas coisas que vou listando fazem jus à qualidade a um tempo sincera e cheia de intencionais surpresas das composições de Jorge. Mas aí chega Rosa Passos. A madrinha e namorada de todos os brasileiros amantes do jazz. Com sua voz inocente e escoladíssima, ela é a alma da música que atravessa todas as canções e peças de Jorge. Nessa, de que ela é parceira letrista, sua voz se esconde mágica e rebrilha natural. O Chico que canta o “Bolero Blues” é o grande músico que quase ninguém vê nesse letrista e escritor fluente e preciso. Se eu tivesse a capacidade de cantar com precisão essas notas inimagináveis de Jorge Helder, eu acho que não teria forças para me conter e não me entregar ao virtuosismo do instrumentista improvisador. Ele já vem (inclusive com a companhia de Jorge) mostrando em seus últimos discos quão supermúsico ele é.
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Mas as palavras são tão fortes que a gente quer se pegar à Barão da Torre e à Vinicius de Moraes. Mas o letrista passa ao castelhano e suas palavras sobre um amor em Cuba se espalham pelas vozes do Boca Livre, o arranjo de Maurício Maestro sempre à altura da melodia hiper-harmônica de Jorge. Mas o letrista volta ao português, redizendo em nossa língua exatamente o que disse em espanhol, reencontrando as coincidências entre as duas línguas ibéricas. Isso só da parte que ouvi do disco de Jorge Helder. A música brasileira está em festa com esse lançamento. O samba-jazz mais do que redime-se: reinventa-se e purifica-se. Jorge é um dos pontos altos da nossa música popular. Refina a tradição de música instrumental e traz a canção para dentro dela como ninguém.
Mais sobre o disco ‘Samba Doce’ na imprensa:
CULTURA FM. Jorge Helder lança o disco autoral “Samba Doce”. In: Rádio Cultura, FM103,3. 24.9.2020. Disponível no link. (acessado em 20.5.2023).
CULTURA FM. Jorge Helder reúne mais de 40 artistas em novo disco. In: De Volta ‘Pra’ Casa, Cultura, Fundação Padre Anchieta, 28.10.2020. Disponível no link. (acessado em 20.5.2023).
DINIZ, Augusto. Baixista ícone da MPB, Jorge Helder lança álbum após 40 anos de carreira. In: Carta Capital, 25.10.2020. Disponível no link. (acessado em 20.5.2023)
FERREIRA, Mauro. Baixista da MPB, Jorge Helder cai no samba-jazz no primeiro álbum em 40 anos de carreira. In: G1/Globo, 18.9.2020. Disponível no link. (acessado em 20.5.2023)
LAUDENIR, Antonio. Contrabaixista cearense Jorge Helder lança ‘Samba Doce. In: Diário do Nordeste, 23 de Setembro de 2020. Disponível no link. (acessado em 20.5.2023).
LIMA, Irlam Rocha. Jorge Helder lança primeiro disco solo da carreira, o CD ‘Samba doce’. In: Correio Braziliense, 6.10.2020. Disponível no link. (acessado em 20.5.2023).
REZENDE, Marcelo. Jorge Helder lança “Samba Doce” com a bênção de Caetano. In: O Estado (Mato Grosso do Sul), 21.9.2020. Disponível no link. (acessado em 20.5.2023).
SAMPAIO, Marcos. Cearense Jorge Helder lança disco com participação de Chico Buarque. In: Blogs O Povo, 29.11.2020. Disponível no link. (acessado em 20.5.2023).
Leia também: Álbum ‘Caroá’, do contrabaixista e compositor Jorge Helder.
Sobre Jorge Helder
Nas tardes com a tia em Fortaleza, no Ceará, Jorge Helder aprendeu a tocar violão e com o pai, bandolim. Ainda na adolescência, teve contato com o baixo elétrico e depois, ao mudar-se para Brasília, estudou baixo acústico na Escola de Música de Brasília. Jorge Helder levou essa formação afetuosa e formal, popular e erudita para o Rio de Janeiro, onde vive desde 1986 tocando com artistas de variados gêneros musicais.
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Ao longo de 40 anos de carreira, atuou em shows e participou de mais de 350 discos de inúmeros artistas da música brasileira e internacional. A lista é grande. Dos consagrados Chico Buarque, Caetano Veloso, Ney Matogrosso, João Bosco, Ivan Lins, Emílio Santiago, Maria Bethânia, Gal Costa, Elza Soares, Roberto Carlos, Adriana Calcanhoto, Miúcha e Zélia Duncan, passando por tantos outros importantes nomes como Sandra de Sá, Cássia Eller, Rosa Passos, Leila Pinheiro, Marcos Valle, Edu Lobo, Guinga e os irmãos Nana, Dori e Danilo Caymmi. Com Tom Jobim e Dorival Caymmi, gravou o DVD “Meu Caro Amigo” sobre a obra de Chico Buarque.
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Nesta trajetória artística, Jorge Helder também dividiu estúdio e palco com Joyce Moreno, Francis Hime, Leny Andrade, Zeca Pagodinho, Martinho da Vila, Roberta Sá, Moacyr Luz, Alexandre Pires, Ivete Sangalo, Angela Maria, Bebel Gilberto, Rita Lee, Jards Macalé, Roberto Menescal, Carlos Lyra, João Donato, Elba Ramalho, Fernanda Abreu, Fausto Nilo e Luiz Melodia. Entre os internacionais, Jorge gravou com o francês Henri Salvador, a cubana Omara Portuondo, o italiano Stefano Bollani, as portuguesas Mariza, Carminho, a japonesa Lisa Ono, só para citar esses.
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Produtor musical em diversos projetos, como compositor, Helder tem uma obra pequena, mas consistente. Considera-se um músico que ainda tateia no gesto de compor e que está em constante desenvolvimento através de muito estudo, da gama de referências e experiências que adquire com o contato de músicos de todos os cantos do Brasil e do mundo. Seus parceiros são Chico Buarque, Aldir Blanc, Rosa Passos, Joyce Moreno e Celso Viáfora. | >> Jorge Helder na rede: Instagram | Spotify | Linktr.ee | Shows/contato: MDA International
Saiba mais sobre: Sesc Digital
Selo Sesc nas redes: sescsp | facebook | Instagram | youtube.
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> Imagem (capa da matéria): Jorge Helder – foto ©Nelson Faria
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Série: Discografia da Música Brasileira / Música instrumental.
* Publicado por ©Elfi Kürten Fenske