sábado, novembro 23, 2024

Primeira tarde (Première soirée) – Arthur Rimbaud

– Quase despida estava ela
E de um grande ramo indiscreto
Folhas saltavam na janela
Em malícia, perto, perto.
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Seminua, cruzava as mãos,
Assentada sem muito tino
No sofá, esfregando ao chão
Os pezinhos tão finos, finos.
.
– Pálido, ficava a observar
Uma pequena luz gazeteira
Em seu sorriso borboletear
E no seio, – mosca na roseira.
.
– Beijei-lhe os tornozelos finos.
Soltou doce riso brutal
Que se desfez em claros trinos,
Um belo riso de cristal.
.
Pequeninos pés em partida
Sob a camisa: “Queres parar!”
– Primeira audácia permitida,
E o riso que fingia castigar!
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– Sob os meus lábios, palpitantes
Os olhos se deixavam beijar:
– Joga a cabeça petulante
Pra trás: “Muito melhor está!…
.
Senhor, tenho algo a lhe dizer…”
– O resto no seio eu lançava
Num beijo que lhe deu prazer
Com um bom riso que aceitava…
.
– Quase despida estava ela
E de um grande ramo indiscreto
Folhas saltavam na janela
Em malícia, perto, perto.
.

Première soirée
– Elle était fort déshabillée
Et de grands arbres indiscrets
Aux vitres jetaient leur feuillée
Malinement, tout près, tout près.
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Assise sur ma grande chaise,
Mi-nue, elle joignait les mains.
Sur le plancher frissonnaient d’aise
Ses petits pieds si fins, si fins.
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– Je regardai, couleur de cire
Un petit rayon buissonnier
Papillonner dans son sourire
Et sur son sein, – mouche au rosier.
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– Je baisai ses fines chevilles.
Elle eut un doux rire brutal
Qui s’égrenait en claires trilles,
Un joli rire de cristal.
.
Les petits pieds sous la chemise
Se sauvèrent: “Veux-tu finir!”
– La première audace permise,
Le rire feignait de punir!
.
– Pauvrets palpitants sous ma lèvre,
Je baisai doucement ses yeux:
– Elle jeta sa tête mièvre
En arrière: “Oh! c’est encor mieux!…
.
Monsieur, j’ai deux mots à te dire…”
– Je lui jetai le reste au sein
Dans un baiser, qui la fit rire
D’un bon rire qui voulait bien…
.
– Elle était fort déshabillée
Et de grands arbres indiscrets
Aux vitres jetaient leur feuillée
Malinement, tout près, tout près.
.
Arthur Rimbaud, no livro “Antologia poética”. organização e tradução Afonso Henriques Neto. 7Letras, 2020

SOBRE O LIVROrevistaprosaversoearte.com - Primeira tarde (Première soirée) - Arthur Rimbaud
Esta antologia apresenta um amplo panorama da obra rimbaudiana, reunindo 25 de seus poemas – inclusive algumas obras-primas já clássicas, como O barco bêbado –, mais dois poemas do Álbum Zútico, quatro textos de Iluminações e dois textos de Uma temporada no inferno. A edição bilíngue valoriza ainda mais as primorosas traduções do poeta Afonso Henriques Neto, que também comenta na apresentação do volume os desafios de traduzir Rimbaud, com diversos exemplos das diferentes soluções encontradas por outros tradutores, e ainda narra sua experiência bastante particular de recriar poeticamente os versos do autor francês em língua portuguesa, sempre com o mesmo encanto e entusiasmo despertados desde a primeira leitura, na juventude. As notícias biográficas e as notas sobre os poemas traduzidos ajudam a contextualizar melhor a obra e os critérios de seleção para esta antologia, ampliando o alcance do livro e estimulando novas leituras – afinal os versos do jovem poeta transcendem o tempo e atravessam gerações, com o mesmo vigor de quando foram criados. Nas palavras de Henry Miller, “[…] para mim essas frases jamais perderão sua força. Cada vez que as reencontro sinto a mesma emoção, o mesmo júbilo, o mesmo medo de enlouquecer se me detiver nelas por tempo longo demais. Quantos escritores são capazes de provocar esse efeito? A gente encontra trechos inesquecíveis, certas frases marcantes, mas em Rimbaud são incontáveis, espalhadas por todas as páginas, como joias caídas de uma arca saqueada.”
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FICHA TÉCNICA
Páginas: 184
Formato: 14x21cm
Acabamento: Livro brochura
Lançamento: 26/11/2020
ISBN: 978-65-86043-99-0
Selo: 7Letras
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Saiba mais sobre Arthur Rimbaud:
Arthur Rimbaud – moderno e visionário


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