A travessia de um filho diante do adoecimento da mãe pelo Alzheimer. ‘Meu nome: Mãe‘, espetáculo solo do ator Aury Porto, com direção de Janaina Leite, estreia curta temporada no Teatro Oficina, de 7 a 29 de setembro. Temporada marca o retorno de Aury e da mundana companhia aos palcos do Teatro Oficina. Visto por mais de 1000 pessoas, espetáculo evoca e invoca lembranças, histórias, canções e construções na travessia de um filho diante do adoecimento da mãe. No Brasil, condição afeta 1,2 milhão de pessoas e 100 mil novos casos são diagnosticados por ano.
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A convivência de Aury Porto com sua mãe, que vive com Mal de Alzheimer há 15 anos, bem como a relação familiar com o lento processo de degeneração cognitiva e de memória acarretado pela doença, foram pontos centrais para a criação de MEU NOME: MAMÃE, espetáculo solo do artista, que marca sua primeira incursão no universo da autoficção, sob a direção de Janaina Leite. A montagem ganha a terceira temporada, desde de que estreou em junho de 2023, desta vez no Teatro Oficina, de 7 a 29 de setembro, aos sábados e domingos, às 19h.
A dramaturgia de Claudia Barral centrada em duas personagens, Filho e Mãe, interpretados pelo ator Aury Porto, e dinâmica de troca de “máscaras”, transita entre a memória do portador da Doença de Alzheimer e o surrealismo na qual as imagens e situações se expressam diretamente do inconsciente.
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Escrita a partir de relatos bem-humorados de Aury Porto para os amigos mais próximos sobre as situações vividas por ele e sua família, que além dos cuidados da medicina, se vale da força de resistência característica da cultura sertaneja dos cearenses. A leveza, disposição e afeto empregados nas situações do cotidiano para tratar a complexidade do assunto sempre rendiam o comentário: “Você precisa levar isso para o palco”.
“A disposição e bom humor, pouco frequente entre famílias que têm portadores do Mal de Alzheimer, onde na maioria dos casos vemos tristeza, medo e vergonha dos familiares e tendência ao isolamento social do paciente, já era um importante passo para a realização da montagem. Então, fui apresentado a Janaina Leite, que já possui um extenso trabalho com a perspectiva autobiográfica”, explica o ator.
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Os arremates finais da dramaturgia de Claudia Barral deram uma dimensão ainda mais poética ao texto. “Ações, esboços de diálogos, depoimentos e intervenções foram sendo paulatinamente lapidados e reorganizados em um exercício delicado de tessitura de fios de memória e de experiência. A dramaturgia persegue, na verdade, reconstituir, em um mosaico, os laços que unem mãe e filho. São cenas da vida cotidiana que, tocadas pela condição do Alzheimer, se reestruturam não para o apagamento, mas para o aflorar de uma transformação”, conta a dramaturga.
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A trajetória presente nas obras de Janaina Leite dentro da vertente dos teatros do real, ganha em MEU NOME: MAMÃE uma especial camada ao ter a memória como centro dentro do delicado tema da saúde mental. “A forma como o Aury e sua família lidam com a doença, abre uma outra dimensão, que me interessa como diretora, além da relação do filho com a mãe, tema que já me vem tocando há um tempo. A saída lúdica encontrada por eles para essa convivência é o retrato do próprio teatro no encontro com a vida”, acredita a diretora.
Tirar o véu do tabu
Apesar de ser um testemunho do amor inquebrantável do Filho para com sua Mãe, a montagem tem um propósito sanitário: colaborar com a discussão sobre as doenças características da velhice, uma vez que a sociedade brasileira está envelhecendo. “O país tem aumentado sua expectativa de vida e faz-se necessária uma mudança de paradigma. Estamos deixando de ser um país da juventude e urge nos debruçarmos sobre a velhice como fenômeno social”, adianta Aury.
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A diretora Janaina Leite sentencia: “MEU NOME: MAMÃE é a possibilidade de tirar o véu do tabu e pensar outras maneiras de lidar com a forma especial de presença ainda possível dessas pessoas que amamos. Não mais um passado arquivista, mas uma memória em ato, que se atualiza pelo vínculo e através da ludicidade da linguagem. ”
Diante da situação trágica que caracteriza essa doença para a qual não se tem cura e na qual o paciente evolui inevitavelmente para a perda completa da memória, a direção de arte de Flora Belotti prioriza elementos cotidianos, que se desdobram em sentidos e trazem novas camadas para a interpretação. Cenário e figurino retratam o peso da história de uma vida, com objetos realistas, típicos das casas de interior do Nordeste. Tecidos crus se apresentam como a matéria da criação, se desdobram em imagens ao envolver espaço, corpo e se colocam como objeto, seja no lençol que recobre todos os móveis do espaço ou no mosquiteiro que se abre em tela de projeção.
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A trilha sonora criada por DiPa é composta por músicas que fazem parte das memórias afetivas “da mãe e filho” nos anos convividos no Cariri, interior do Ceará, juntamente com temas originais compostos para o espetáculo que aludem a uma desconstrução dos elementos sonoros desse universo do sertão. Já o desenho de luz de Ricardo Morañez brinca com a fantasia, memória, sombras e projeções.
Sobre Aury Porto
Com mais de trinta anos de trabalho nas artes cênicas, além de ator, tem exercido as funções de diretor, produtor, professor de teatro, dramaturgo e adaptador. No início da década de noventa criou a companhia Teatro Dragão do Dito em parceria com o dramaturgo Paulo Faria. No ano 2000 entrou para o hoje sexagenário Teatro Oficina Uzyna Uzona no qual exerceu as funções de ator, produtor e administrador, tendo permanecido naquela companhia por nove anos. Em 2007 fundou, ao lado da atriz Luah Guimarãez, a mundana companhia. À frente desta companhia, que tem uma equipe que gira em torno de trinta profissionais das artes cênicas, idealizou e coproduziu a maioria dos onze espetáculos criados nestes treze anos de existência.
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Destaque para os seguintes trabalhos em teatro: Boca de Ouro, de Nelson Rodrigues com direção de Zé Celso Martinez Corrêa no Teatro Oficina (2000/2001); Os Sertões – A Terra, O Homem I, O Homem II, A Luta I, A Luta II, de Euclydes da Cunha; Cinzas, montagem de texto de Samuel Beckett, na qual atou e dirigiu juntamente com Renée Gumiel, dançarina francesa precursora da dança moderna no Brasil (2006). Já com a mundana companhia: A Queda, novela de Albert Camus; Os Bandidos, texto de Friedrich Schiller com direção de Zé Celso Martinez Corrêa; O Idiota – Uma Novela Teatral, a partir do romance homônimo de Fiódor Dostoiévski e adaptado por Aury Porto em colaboração com Vadim Nikitin, Luah Guimarãez e Cibele Forjaz; O Duelo, adaptado por Aury Porto a partir da novela homônima de Anton Tchekhov, direção de Georgette Fadel; Na Selva das Cidades – Em Obras, com texto de Bertolt Brecht direção de Cibele Forjaz; Lampião no Céu, montagem da Cia. Os Buriti sediada em Brasília, direção de Luis André Cherubini; Medeamaterial, direção de Márcio Aurélio e texto de Heiner Müller; DIPTICO MUNDANA: Os Insensatos, montagem da mundana companhia com direção coletiva e textos de André Sant’Anna e Guerra em Iperoig, direção coletiva e textos de André Sant’Anna (2022).
Sobre Janaina Leite
Atriz, diretora e dramaturgista. Em paralelo à trajetória com o Grupo XIX, do qual é uma das fundadoras, concebeu os espetáculos Festa de Separação: um documentário cênico, Conversas com meu Pai, Stabat Mater e História do Olho- Um conto de fadas pornô-noir. Lançou o livro Autoescrituras performativas: do diário à cena pela Editora Perspectiva, consolidando sua pesquisa sobre autobiografia e documentário no teatro. Lançou também pela editora Javali a publicação com a dramaturgia de dois de seus espetáculos Conversas com meu Pai (texto de Alexandre Dal Farra) e Stabat Mater. Idealizou e orientou diversos grupos de pesquisa, dentre eles Feminino Abjeto 1 e Feminino Abjeto 2 – O vórtice do masculino, fundamentais laboratórios para a criação de Stabat Mater. A artista também atua na orientação de oficinas, cursos, palestras e curadoria por todo o Brasil, além da orientação de projetos por meio dos “Laboratórios Autorais” que desenvolve desde 2012.
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Janaina Leite foi a pesquisadora em foco da MITsp 2020, tendo Stabat Mater na programação da plataforma MITbr, a apresentação de uma “desconstrução do espetáculo” onde compartilhou procedimentos e conteúdo da criação, além de ser tema em diversas conversas na programação da Mostra. O espetáculo Stabat Mater circulou pelos Festivais Internacionais Santiago a Mil (Chile), Festival de Liége (Bélgica), FIT Cádiz (Espanha) e Festival GO e Carreau du Temple (França). No Brasil o espetáculo realizou 40 apresentações em São Paulo e circulou pelos festivais FILO Londrina, Cena Contemporânea de Brasília, FETEAG do Agreste e Festival de Curitiba.
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Em 2022 estreou História do Olho – Um conto de fadas pornô-noir, contemplada pelo 13° Prêmio Zé Renato de Teatro. No exterior conduziu palestras sobre sua pesquisa e metodologia no Conservatoire National Supérieur d’Art Dramatique (CNSAD – Paris), na Université Sorbonne Nouvelle – Paris 3, para a turma de Pós-graduação em Dramaturgia e Argumento da Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo (ESMAE) e na Escola Superior de Teatro e Cinema e no espaço de criação transdisciplinar “Circolando”, ambos em Portugal. Orientou uma residência artística na Comédie National de Caen na França e conduziu o workshop Dramaturgias Hibridas e performativas no FIT Cádiz. Atualmente realiza seu Pós-Doutorado na ECA/USP.
Sobre Claudia Barral
Psicanalista e dramaturga é formada em Interpretação Teatral pela Universidade Federal da Bahia, com passagem pelo GITIS – Academia Russa de Artes – onde esteve em residência para o curso Os Fundamentos do Método de Stanislavsky. Atua em diversos campos da produção literária, como dramaturga, roteirista e poeta. Na sua produção em dramaturgia destacam- se O Cego e o Louco (Prêmio Copene 2000, com versão roteirizada para a TV Cultura em 2007), Cordel do Amor sem Fim (Prêmio Funarte 2004, Indicação ao Prêmio FITA 2013) e Hotel Jasmim (Prêmio Mostra de Dramaturgia em Pequenos Formatos Cênicos do Centro Cultural São Paulo e Prêmio Dramaturgia Feminina Heleny Guariba). Como roteirista, destaque para os curtas-metragens Sal (Festival de Cinema de Gramado, 2017) e Guarani em Chamas (Produção Teatro Municipal de São Paulo), além de Timidez, longa de Thiago Gomes e Susan Kalik. Colaborou, ainda, com a dramaturgia de espetáculos como Os Figurantes (2009), direção de Cacá Carvalho; Erêndira (2019), texto de Gabriel Garcia Marques adaptado por Augusto Boal e com direção de Marco Antônio Rodrigues. Seus textos contam com diversas montagens, filmagens e leituras encenadas por todo território brasileiro e em países como Portugal, Alemanha, Inglaterra, Peru e Itália.
SINOPSE
A peça atravessa emocionalmente com cronologia própria uma jornada de vida do ator ao lado da sua mãe e da sua família. Aury Porto evoca e invoca lembranças, histórias, canções e construções acerca da travessia de um filho diante do adoecimento da mãe. A doença de Alzheimer, que acomete cada vez mais brasileiros, é narrada no espetáculo em experiências que, por muito íntimas, se tornam universais.
FICHA TÉCNICA
Idealização, texto e atuação – Aury Porto. Direção – Janaina Leite. Dramaturgia – Claudia Barral. Cenário e figurino – Flora Belotti. Trilha sonora – Rodolfo Dias Paes (DiPa). Desenho de luz – Ricardo Morañez. Preparação corporal – Lu Favoreto. Projeções – Felipe Ghirello. Produção executiva – Bia Fonseca, Aury Porto e Mundana companhia. Programação visual – Mariano Mattos Martins. Assessoria de imprensa – Adriana Monteiro.
SERVIÇO
Teatro | MEU NOME: MAMÃE
Curta temporada
Quando: de 7 a 29 de setembro
Horários: sábados e domingos, às 19h
Duração: 50 minutos
Classificação indicativa: 12 anos
Capacidade de público por sessão: 100 lugares
Preços R$ 60,00 (inteira) e R$30,00 (meia-entrada) e R$ 20,00 para moradores do Bixiga
Ingressos por e-mail, bilheteria ou Sympla
[email protected]
Local: Teatro Oficina
Endereço: Rua Jaceguai, 520 – Bela Vista, São Paulo – SP, 01315-010
Mais informações: @meunomemamae | @auryporto