Foi difícil acordar na segunda (6/1). Assim como três milhões de brasileiros ligados na telinha, eu fiz torcida para Fernanda Torres no Globo de Ouro 2025.
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O prêmio só foi ser anunciado perto da 1h.
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Foi como último capítulo das novelas de antigamente, foi como final de Copa do Mundo.
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Fernanda era Brasil. E ela ganhou pela sua atuação no filme “Ainda estou aqui”, de Walter Salles Jr, superando atrizes oscarizadas.
Nossa primeira atriz a alcançar um Globo de Ouro.
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Enquanto ela se dirigia ao palco e passava lentamente pelas mesas para abraçar Viola Davis e receber a estatueta, eu via a Fauna de Baila Comigo, a Simone de Selva de Pedra, a Diana de Comédias da Vida Privada, a Dora de Luna Caliente, a Vani de Os Normais, a Fátima de Tapas & Beijos, a Estela de Todas as Mulheres do Mundo, a Carula de Marvada Carne, a Eliane de Com Licença, Eu Vou à Luta, a Francisca de Kuarup, a Maria Augusta de O Que É Isso, Companheiro?, a Alex de Terra Estrangeira até se materializar em Eunice Paiva, seu último papel em Ainda Estou Aqui, representando uma pioneira dos direitos humanos no país.
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Três décadas da nossa televisão e cinema desfilavam como camadas e feições de uma mesma mulher, como papéis de um mesmo destino, como folhas de uma mesma árvore naqueles pequenos passos ao palco.
Ela caminhava com um vestido mostrando as costas nuas, um símbolo emblemático de que não deixava nada de si para trás.
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Aos 59 anos, Fernanda Torres escreveu novamente seu nome na história do cinema mundial. Aos 21 anos, já tinha sido a primeira atriz brasileira a obter a Palma de Ouro de Cannes.
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Fernanda, filha de artistas, é icônica. É despojada. É cativante. É romancista. É cronista de jornal. É pensadora.
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O mais comovente é que ela dedicou o prêmio a sua mãe, Fernanda Montenegro, que disputou a a mesma categoria, em 1999, pelo papel em “Central do Brasil”.
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Não é vingança, mas justiça.