sábado, novembro 23, 2024

A longa e estranha história das dietas da moda para emagrecer

As dietas para emagrecer que entram na moda são em geral soluções de curto prazo
– por Melissa Wdowik*

“De todos os males que afetam a humanidade, não conheço nem imagino nenhum mais angustiante do que a obesidade.”

Assim começava a carta sobre excesso de peso escrita por William Banting, provavelmente o primeiro livro de dieta para emagrecer já publicado. Banting, diretor de uma funerária com sobrepeso, publicou o livro em 1864 para compartilhar seu sucesso, que propunha substituir uma ingestão excessiva de pão, açúcar e batatas por carne, peixe e hortaliças, principalmente.

Desde então apareceram dietas da moda em múltiplos formatos. Até que ponto as pessoas estão dispostas a chegar para alcançar a silhueta desejada? Como professora de nutrição e comportamento alimentar, tenho a sensação de que a história das dietas para emagrecer demonstra que a vaidade supera o bom senso.

Dietas líquidas

Vamos voltar a 1028, o ano que nasceu William, o Conquistador. Sadio na maior parte de sua vida, o rei acabou tão obeso em seus últimos anos que se submeteu a uma dieta líquida composta quase exclusivamente de bebidas alcoólicas. Perdeu peso suficiente para conseguir montar seu amado cavalo, mas um acidente equestre lhe causou por fim uma morte prematura.

Conhecemos um caso em que supostamente consumir mais álcool do que comida aumentou a longevidade. Em 1558, o aristocrata italiano Luigi Cornaro restringiu sua alimentação a 340 gramas de comida e 397 mililitros de vinho por dia. Dizem que viveu até os 102 anos, o que rendeu a seu método o nome de Dieta da Imortalidade.

Na década de 1960, foi introduzido outro plano centrado no álcool, a dieta do beberrão. Incluía comidas “masculinas” como carne e peixe, junto com todo o álcool que seu seguidor desejasse.

O poeta Lord Byron atribuía seu aspecto magro e pálido ao vinagre com água. Essa prática ressurgiu na década de 1950 na forma da popular dieta do vinagre de maçã, que recomenda tomar uma mistura em partes iguais de mel e vinagre de sidra. A versão mais recente, que carece de respaldo científico, afirma que três pequenas colheradas de vinagre de maçã antes de comer diminuem a fome e reduzem a gordura.

Limpezas

As dietas líquidas “mais limpas” e depurativas foram criadas supostamente para limpar o corpo de toxinas, apesar de nossa capacidade natural para isso. Em 1941, o entusiasta da saúde alternativa Stanley Burroughs criou a mãe de todas as dietas purgativas, a Master Cleanse, ou dieta da limonada, para eliminar a vontade de junk food, álcool, tabaco e drogas. Tudo que se precisava fazer era tomar uma mistura de suco de limão taiti ou siciliano, calda de bordo, água e pimenta-malagueta moída seis vezes por dia durante pelo menos dez dias. Beyoncé voltou a popularizá-la em 2006, afirmando ter perdido 10 quilos em duas semanas,

O médico televisivo Dr. Oz e outros promoveram desde então suas próprias versões, que variam em duração e nos alimentos permitidos. A maioria inclui um laxante diário e grandes quantidades de água.

A dieta da última chance, publicada em 1976, consistia em beber um líquido com muito poucas calorias várias vezes por dia. O principal ingrediente era uma mistura de subprodutos animais preparados com couro, chifres e tendões. Essa “vitamina de carne” foi retirada do mercado porque vários seguidores da dieta morreram.

Mais recentemente, tornou-se popular o plano do suco verde. Muitos se interessaram pela promessa de uma profunda depuração e uma rápida perda de peso, enquanto para outros parecia uma forma mais fácil de consumir mais frutas e hortaliças. Uma das receitas originais propunha maçã, aipo, pepino, couve crespa, limão e gengibre.

Dietas dos famosos

Andy Warhol usava um método diferente para manter a forma. Dizem que quando ia aos restaurantes pedia pratos que não gostava, e então mandava para embrulhar para viagem. Depois, dava a algum morador de rua.

Dormir era outra possibilidade. Contava-se que Elvis Presley era defensor da dieta da Bela Adormecida. Dizem os rumores que as longas jornadas de sono conseguidas com o uso de soníferos o impediam de comer.

Em um esforço recente para imitar os famosos, a incrível dieta de 48 horas de Hollywood foi seguida pela milagrosa dieta de 24 horas de Hollywood, que substitui a comida por uma mistura de shakes e diversos complementos alimentares.

Emagrecer rapidamente

No início do século XX, o empresário com sobrepeso Horace Fletcher emagreceu e transformou as dietas de emagrecimento em um fenômeno da cultura popular com sua dieta da mastigação. Recomendava mastigar a comida até que se tornasse líquida, para evitar comer em excesso.

Outro método que dizem que se tornou popular na primeira década do século XX foi a dieta da solitária. Em teoria, a pessoa ingeria uma tênia ou pílulas de tênia. O verme viveria no estômago e consumiria parte do alimento. Apesar de terem sido encontrados anúncios publicitários da época, não há provas de que se vendessem realmente tênias.

Ao longo dos anos, outras dietas atraíram admiradores com a promessa de baixar facilmente de peso graças a um alimento milagroso. Houve a dieta do pomelo (ou grapefruit), que recomenda meio pomelo a cada refeição; a dieta da manteiga de amendoim e a dieta do sorvete, que prometem que se pode comer a quantidade que se deseje desses dois manjares, diariamente; e a dieta Xangrilá, de 2006, que afirmava que era possível reduzir a fome tomando azeite de oliva uma hora antes de cada refeição.

Um exemplo que se destaca é a dieta da sopa de repolho, popularizada por famosos na década de 1950. A ideia era não comer nada além de sopa durante sete dias. A receita original propunha uma mistura de repolho, hortaliças e água e cebola desidratada, mas outras versões acrescentavam ingredientes como frutas, leite desnatado e carne de vaca. Volta a entrar na moda uma vez a cada dez anos, e a Internet sempre ajuda a difundi-la.

Ideias alternativas

Algumas dietas e as teorias que as respaldam iam além da comida.

Em 1727, o escritor Thomas Short observou que as pessoas com sobrepeso moravam perto de pântanos. Sua dieta para evitar pântanos recomendava mudar-se para afastar-se desses locais.

Em vez de se afastar dos pântanos, a dieta da luz recomenda não comer. Alguns seguidores afirmaram, em uma entrevista realizada em 2017, que a comida e a água não eram necessárias, e que eles subsistiam à base de espiritualidade e luz. O jejum prolongado conduziria finalmente à inanição, mas foram vistos devotos da dieta comendo e bebendo.

Em 2013, apareceu algo mais perigoso, a dieta da bola de algodão. Seus seguidores declaravam consumir até cinco bolas de algodão de uma vez, afirmando que saciavam e assim perdiam peso. Devido a seu infeliz efeito de causar obstrução intestinal, a dieta logo perdeu popularidade.

Mas nem todas as ideias incomuns são ruins. A dieta de cores dos sete dias, publicadas em 2003, sugeria comer todo dia alimentos de uma única cor. Por exemplo, o dia vermelho incluía tomates, maçãs e morangos. Essa proposta na verdade defende alimentos saudáveis, não industrializados ou restrições absurdas.

Apesar de chamativas, as dietas para emagrecer que entram na moda são em geral soluções de curto prazo. Talvez produzam no início uma perda de peso rápida, mas é mais provável que se deva ao fato de que quem as segue reduz as calorias em relação a sua dieta habitual, e com frequência consistem em perda de água.

Seria melhor pensar que não existe segredo simples para emagrecer. Para conseguir uma perda sustentável de peso e mantê-lo é necessário reduzir a ingestão de calorias e aumentar os níveis de atividades, com ou sem pomelo e repolho.

* Melissa Wdowik é professora adjunta de Ciências da Alimentação e Nutrição Humana na Universidade Estatal do Colorado. Este artigo foi publicado originalmente em inglês no site The Conversation.

Cláusula de divulgação: Melissa Wdowik não trabalha para nenhuma empresa ou organização que possa ser beneficiado deste artigo, nem a assessora, possui ações nelas ou recebe financiamento. Também não declara outras vinculações relevantes além do cargo acadêmico mencionado.

** Este artigo foi publicado originalmente em inglês no site The Conversation. Reproduzido por El País Brasil.


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