Depois de estrear no CCSP, a peça-instalação ‘A Bailarina Fantasma’ retorna ao espaço intimista onde foi criada, para quatro únicas apresentações; o espetáculo parte da escultura icônica de Degas para falar do apagamento da visibilidade de uma bailarina clássica negra. Haverá também atividades paralelas, com bate-papos e oficina.
.
“(…) Verônica, recebe os aplausos no corredor – uma celebração à sua presença grandiosa e à sua habilidade em transitar entre potência, vulnerabilidade e resistência em cena. A Bailarina Fantasma é uma obra corajosa que convida o público a refletir sobre a história e os desafios enfrentados pelas mulheres pretas na dança, ao mesmo tempo que celebra a capacidade de resiliência e autonomia dos corpos em sua dança insurgente.” Trecho da crítica de Poliana Piteri, no site A Espectadora
Depois de uma curta e concorrida temporada no Porão do CCSP – Centro Cultural São Paulo – a peça A Bailarina Fantasma volta em cartaz para quatro únicas apresentações – de 21 a 24 de novembro de 2024, quinta a domingo, às 20h – no Ateliê do encenador Wagner Antônio, localizado no 1º andar do Espaço 28 (Rua Anhaia, 987 – Bom Retiro), com entrada gratuita.
.
A obra cênica parte da polêmica escultura ‘A Bailarina de 14 anos’, do pintor e escultor francês Edgar Degas (1834-1917), e das memórias da bailarina brasileira Verônica Santos para destacar as violências físicas e simbólicas sofridas pela artista em seu processo de formação em dança, bem como as tentativas de apagamento de sua visibilidade ao longo de sua carreira como bailarina clássica negra.
A partir de um pensamento curatorial articulado por Fernando Gimenes, idealizador do projeto, foram reunidos profissionais com fortes traços autorais como Dione Carlos na dramaturgia, Wagner Antônio na encenação e criação da instalação, Natália Nery na trilha sonora original executada ao vivo, além de Verônica Santos. O espetáculo revela, em uma ‘peça-instalação’ (conceito e pesquisa de longa data do encenador junto ao Grupo 28 Patas Furiosas), os bastidores do universo da dança clássica e da escultura que virou um marco na história da arte moderna.
.
“Com a mediação artística-psicanalítica de Rafael Costa no levantamento da minha biografia e de materiais para a composição da nossa dramaturgia, acessei muitas das minhas memórias. Voltamos para a minha infância e avançamos até o momento presente em que me encontro na melhor forma de me expressar”, conta Verônica.
Degas e suas esculturas
Degas tinha grande interesse por bailarinas, tema de mais da metade de suas duas mil obras, em que retratava o corpo de balé da Ópera de Paris em palco, ensaios e momentos de descanso. Na Ópera, ele conheceu Marie van Goethem, uma estudante de balé de 13 anos, que posou para sua escultura “A Bailarina de 14 Anos”, exposta em 1881. A obra, inovadora ao usar cera, cabelo real e tecido, recebeu críticas por parecer estranha e animalesca, mas se tornou icônica, com 28 cópias em bronze em museus renomados como o Museu d’Orsay e o MASP.
.
Sobre as réplicas, como elas são feitas em bronze, um material que escurece quando exposto à ação do tempo, muitas pessoas pensam que a bailarina retratada era uma jovem negra. O que ao longo dos anos gerou diversos atos de cunho racista sobre a obra, chegando a nomearem como ‘A Pequena Macaca de 14 anos’, conta Fernando Gimenes, idealizador do projeto.
As experiências de Verônica ecoam na escultura de Degas, onde, segundo Fernando Gimenes, o aparente descanso da bailarina revela, em um olhar mais atento, a tensão e o sofrimento de manter a postura. Este foi um dos temas da exposição “Degas”, no MASP em 2020, onde a artista brasileira Sofia Borges criou fotos em grande escala das esculturas, especialmente da “Bailarina de 14 anos”. Borges focou na expressão dos olhos e músculos, trocando a delicadeza tradicional por sombras que destacam as tensões sociais e críticas da obra.
.
Para Verônica, que cresceu em uma família preta e periférica, o balé foi uma oportunidade de educação, mas sua formação no ambiente foi desafiadora. “Passei anos em salas de balé, pois meus pais viam nisso uma chance de sociabilização,” afirma, ressaltando a busca por uma linguagem que represente suas vivências e subjetividade. “Eu aprendi duas técnicas específicas, uma francesa e uma russa, que nada têm a ver com um corpo negro ou tipicamente brasileiro. Depois, fui conhecer o trabalho das norte-americanas, incluindo o sapateado. Mas eu sempre sentia que aqueles ambientes não me queriam”, completa.
.
Para Dione Carlos, dramaturga de A Bailarina Fantasma, o espetáculo é um ritual de libertação do corpo. “Queremos mostrar uma mulher renascendo. E como tenho investigado o poder do erotismo, principalmente quando falamos em corpos subalternizados, tenho construído uma espécie de quilombo-erótico-místico nos meus projetos”, explica a dramaturga. Verônica e Dione dialogam e planejam uma vingança, mas contra o colonialismo, contra o sistema, contra o racismo. É um plano de vingança subjetivo e poético, compartilhado com a plateia.
A encenação – instalação
O público acompanha a cena de forma livre, sem lugares fixos. A intérprete e a equipe técnica guiam os espectadores por um ambiente imersivo, agora no Espaço 28, que oferece uma atmosfera mais intimista que o Porão do CCSP.
.
A pianista Natália Nery cria a atmosfera sonora no piano elétrico, inspirada no estilo experimental de John Cage. Ela toca composições originais, além de referências clássicas como “O Lago dos Cisnes” e músicas icônicas de Nina Simone, enquanto a voz de Dione ecoa pelo espaço, trazendo a influência das peças radiofônicas ao espetáculo.
.
“Para mim, essa bailarina fantasma também é a memória corporal da primeira diáspora da humanidade, que foi a saída de África. Com esse espetáculo eu gostaria de resgatar essa nossa vocação para a dança”, completa Dione.
Programação complementar
Para ampliar os assuntos trazidos em A Bailarina Fantasma, haverá uma programação extra, com bate-papos e oficinas.
.
Após as apresentações dos dias 22 e 23 de novembro, a equipe envolvida no espetáculo promoverá encontros públicos, para expandir referências e pesquisas para pessoas que se interessem pelo tema da interseccionalidade de linguagens artísticas e das artes visuais para criação de obras teatrais inéditas.
.
Na sexta-feira (22/11), acontece a conversa “Teatro das Matérias”, com a artista plástica, escultora e artista intermídia Laura Vinci, sobre sua pesquisa e obra, recentemente lançada em livro, homônimo, pela editora Nara Roesler.
No sábado (23/11), o artista visual Ramo participa do encontro “Ramificar e Vilanizar”, em que trata do conceito de “vilanismo” e de sua obra e pesquisa para a criação da exposição “Ramificar”. Ramo é vilão, artista visual, educador e gestor cultural.
.
Nos dias 23 e 24 de novembro, (sábado e domingo), das 14h às 17h, acontece a oficina “Por uma Prática Curatorial Mediadora e Colaborativa em Artes Cênicas”, com Felipe de Assis, artista da cena, Mestre em Artes Cênicas pela UFBA, pesquisador e curador do Centro Cultural Futuros – Arte e Tecnologia (RJ) e do Festival Internacional FIAC BAHIA (BA).
.
As inscrições são gratuitas e os encontros contarão com acessibilidade em Libras – Língua Brasileira de Sinais.
Sinopse
A peça-instalação foi criada a partir da icônica e polêmica escultura francesa ‘A Bailarina de 14 anos’, do escultor Edgar Degas, em fricção com os relatos autobiográficos da bailarina brasileira Verônica Santos. Com encenação e instalação cênica de Wagner Antonio e dramaturgia inédita de Dione Carlos, o espetáculo revela um corpo fraturado por violências físicas e simbólicas e também por tentativas de apagamento da visibilidade de uma bailarina clássica negra. A obra propõe uma espacialidade imersiva onde a performer e a dramaturga ritualizam um diálogo íntimo e, diante do público, elaboram um plano de vingança.
FICHA TÉCNICA
Idealização e direção de produção: Fernando Gimenes | Produção: Plataforma – Estúdio de Produção Cultural | Atuação: Verônica Santos | Dramaturgia: Dione Carlos | Pianista: Natália Nery | Encenação e instalação cênica: Wagner Antônio | Diretora assistente: Isabel Wolfenson | Mediação artística-psicanalítica: Rafael Costa | Equipe técnica performativa: Laysla Loysle, Ijur Sanso, Lucas JP Santos, Camila Refinetti, Denis Kageyama, Guilherme Zomer, Marina Meyer | Acessibilidade: Sina – Acessibilidade e Produção | Designer gráfico: Murilo Thaveira | Fotos: Helton Nóbrega e Noelia Nájera | Redes sociais: Jorge Ferreira | Fisioterapeuta: Claudia Carahyba | Professora de balé: Aurea Ferreira | Assistente de produção: Bruno Ribeiro | Técnico de gravação em áudio: Fabrício Zava | Assessoria de imprensa: Canal Aberto – Márcia Marques, Carol Zeferino e Daniele Valério
SERVIÇO
A Bailarina Fantasma
Data: 21 a 24 de novembro de 2024, quinta a domingo, às 20h.
Local: Espaço 28 – 1º Andar – Rua Anhaia, 987 – Bom Retiro, São Paulo, SP
Ingresso: Gratuito (Reservas a partir do dia 14/11 pelo Instagram @abailarinafantasmateatro) – Público Reduzido
Duração: 75 minutos
Classificação: 18 anos
Acessibilidade: Todas as sessões contarão com acessibilidade em Libras – Língua Brasileira de Sinais.
Encontros públicos e oficina
Local: 1º Andar do Espaço 28 – Rua Anhaia, 987, Bom Retiro, São Paulo, SP. Acessos gratuitos, com reservas a partir do dia 14/11, pelo Instagram @abailarinafantasmateatro – Vagas limitadas. Haverá tradução de LIBRAS – Língua Brasileira de Sinais
Teatro das Matérias, com a artista plástica Laura Vinci.
Data: 22 de novembro de 2024, sexta, depois da sessão
A relação com o teatro, iniciada em 1998 no Teatro Oficina, tornou-se um lugar central de experimentação e exploração de temas já abordados há alguns anos por ela nas artes visuais, ampliando assim, o discurso e a potência de seu trabalho.
Ramificar e Vilanizar, com o artista visual Ramo.
Data: 23 de novembro de 2024, sábado, depois da sessão
A exposição Ramificar apresenta um artista atento às questões afrofuturistas e quilombistas, consciente dos estigmas que o racismo impõe a corpos negros. “Vilanizar” como contragolpe ao enquadramento dos fantasmas da masculinidade hegemônica que ditam o que ser e aos poucos matam.
Oficina – Por uma Prática Curatorial Mediadora e Colaborativa em Artes Cênicas, com Felipe de Assis
Datas: 23 e 24 de novembro de 2024, sábado e domingo, das 14h às 17h.
As noções de mediação e colaboração, oriundas respectivamente da curadoria em artes visuais e das práticas artísticas em artes cênicas, podem contribuir à formulação de uma prática curatorial em artes cênicas. A construção de uma prática curatorial atenta ao pressuposto da emancipação é um exercício de alteridades, deslocamentos constantes entre as posições usualmente estabelecidas pelos envolvidos, para a produção de um contexto tão performativo quanto o teatro com o qual dialoga.
Composição e improvisação emergem como conceito no álbum “Aura”, novo trabalho do violonista e compositor…
O Barão Vermelho vai apresentar seu novo show “Do Tamanho da Vida”, título da música…
Chegou nas plataformas digitais “Que Clichê”, single de Fi Bueno que estará em seu próximo álbum autoral.…
Em tempos onde tudo é enquadrado em minutos palatáveis e formatos “acessíveis”, a poesia e…
Em um mundo onde as diferenças se dissolvem sob a rigidez das formas, A Outra…
A roleta tem inspirado gerações de jogadores com promessas de vitórias a cada giro e…