Álbum homônimo conta com sete faixas autorais gravadas ao vivo no Terreiro de Bogum, em Salvador, que entoam uma aventura singular do ancestral à vanguarda. Disco conta com a participação de Gilberto Gil na faixa “Violão de Cabaça”
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‘Aguidavi do Jêje’ do grupo Aguidavi do Jêje e Luizinho do Jêje indicado ao Grammy Latino 2024, na categoria “Melhor Álbum de Música de Raízes em Língua Portuguesa”.
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É o som sagrado do atabaque que convoca os Voduns. O som conduzido com rigor e imerso em ancestralidade é registro de herança e de tradição. É assim que as boas energias saudaram a chegada do disco de estreia do grupo Aguidavi do Jêje, em 30 de novembro de 2023, pela gravadora carioca Rocinante. O single Violão de Cabaça, com participação especial de Gilberto Gil, fez o abre-alas.
Em sete faixas, a bolacha leva o nome do grupo liderado por Luizinho do Jêje, músico nascido e criado no Bogum. Considerado um gênio dos atabaques, Luizinho já foi percussionista do Quinteto Letieres Leite, Olodum, Maria Bethânia, Gilberto Gil, Margareth Menezes, Gilsons, Daniela Mercury, Mateus Aleluia, Virgínia Rodrigues e Orkestra Rumpilezz.
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Antes de percorrer o disco em si, precisamos honrar as referências: Aguidavi é o nome dado à vareta retirada do pé de Araçá e que toca os três atabaques do candomblé cultuado no jêje-mahim. E Jêje é como os africanos que vieram do reino do Daomé, atual Benim, eram chamados. Os ogans são aqueles preparados para tocar os atabaques sagrados — rum, rumpi e o lé — durante as cerimônias.
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O álbum foi gravado ao vivo no Terreiro do Bogum, no coração do bairro Engenho Velho da Federação, em Salvador. O Terreiro é uma das mais antigas casas de candomblé do Brasil e protege, até hoje, a tradição e subjetividade Jêje. Da tradição oral, conta-se que os integrantes do Bogum apoiaram e deram abrigo aos rebeldes da Revolta dos Malês, em 1835, a maior revolta urbana de escravizados que ocorreu no país.
O disco tem a participação do grande Gilberto Gil na faixa Violão de Cabaça, escolhida como single de estreia. “Luizinho do Jêje, um dos ogãs mais importantes dessa nova geração na Bahia. Fez um disco agora, me chamou pra participar, eu fui com muito prazer. Enfim… Luizinho do Jêje, grande figura!”, comenta Gilberto Gil.
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A música inicia com berimbaus em composição arrojada que desembocam numa virada de atabaques característica do grupo, convocando o violão único de Luizinho: daí Gil deita e rola como o grande improvisador que é e a canção segue com alegria, dança e fúria. “Ter Gilberto Gil nos fortalece, traz ainda mais força para o Aguidavi. É uma alegria imensa”, comemora Luizinho.
Além da participação de Gil no disco, o samba “Salve os caboclos” recebe o brilhante violão de Carlinhos Sete Cordas, com sua maneira singular de tocar violão que faz uma síntese do universo percussivo baiano — algo próprio de quem foi criado no terreiro — e não tem paralelo porque ele traz ritmos sacros da tradição Jêje para sua veia autoral. Seu violão norteia todos os elementos da orquestra de tambores, além das melodias cantadas.
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Apesar de ser intrinsecamente ligado ao Bogum, a estreia do Aguidavi do Jêje é uma celebração da cultura e da música popular afro-brasileira. “Esse é um disco de festa, que vai fazer muita gente dançar. As canções trazem a música de raiz mas de forma original. As letras são fortes, os ritmos são fortes, a energia é forte!”, anuncia Luizinho. “Não são músicas da religião, mas, não podemos deixar a lembrança do Jêje, a referência da festa do candomblé, a Festa do Vodum”.
As composições unem a inventividade da música brasileira com o culto à ancestralidade, lotadas de referências, história, talento e espiritualidade. Se autorreferenciam ao próprio caminho de cada ogan, que mais do que o responsável por chamar o Vodum, preservam a tradição oral e a musicalidade dos tambores no terreiro e no mundo saudando ancestrais, pretos-velhos, juremeiros, orixás, voduns e sambadeiras. Neste disco, Aguidavi do Jêje canta o Brasil africano combinando atabaques, agogôs, pandeiros, caxixis, berimbaus e outros instrumentos construídos pelos próprios integrantes do grupo, com violão, pedais de efeitos e bateria eletrônica ritmados com rigor e a precisão que a tradição musical de origem africana demanda
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“As músicas são todas nossas composições, com nossos arranjos, nossos ritmos. A gente procura sempre fazer o diferente, na levada do violão, no toque do berimbau, no toque do pandeiro, no toque do caxixi, no toque do agogô. Vamos ‘chegar chegando’, com tudo original, sem copiar ninguém, criado dentro do Terreiro do Jêje”, explica o fundador do grupo.
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O disco conta com direção artística e produção musical de Luizinho do Jêje, Tiago Nunes, Kainã do Jêje e Sylvio Fraga. A direção musical e arranjos são de Luizinho, Tiago, Kainã e Lucas Maciel. As gravações foram feitas por Pepe Monnerat, Edu Costa e Bráulio Passos no Terreiro e complementadas no Estúdio Rocinante.
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“Luizinho do Jêje, um dos ogãs mais importantes dessa nova geração na Bahia. Fez um disco agora, me chamou pra participar, eu fui com muito prazer. Enfim… Luizinho do Jêje, grande figura!” – @gilbertogil
AGUIDAVI DO JÊJE
– por Nei Lopes*
“Quem come em mesa bonita tem que usar camisa limpa”, diz a sabedoria de nossos ancestrais africanos. Por isso, abro esta breve apresentação primeiro informando que este não é um álbum de músicas rituais, sagradas. Mas que também não é de canções para simples entretenimento. Pois o que esta obra de arte propõe a você, caro leitor, é uma longa viagem atlântica, de ida e volta, do Brasil ao Golfo de Benin e à chamada Costa dos Escravos. Mas sem nenhum rancor ou ressentimento. Muito pelo contrário! Pois nossa viagem é um lauto banquete e acontece em uma das principais fontes da pujante e inesgotável africanidade brasileira.
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Como todos sabemos, jêje é o termo que designou, no Brasil escravista, cada um dos africanos ou africanas provenientes do antigo reino de Daomé, no território da atual República do Benin, e hoje adjetiva tudo o que se refere ao legado cultural desse povo. Da mesma forma, o termo nagô foi, na origem, o termo usado pelos daomeanos falantes da língua fon, aqui chamados jêjes, para designar os falantes da língua hoje conhecida como iorubá. Fortes, poderosos, orgulhosos, esses dois povos, — como muitos vizinhos europeus, asiáticos etc. até hoje — alternavam relações ora de paz ora de guerra encarniçada. Mas em solo brasileiro, a partir da Bahia, construíram juntos um admirável complexo cultural, do qual este Aguidavi do Jêje, que orgulhosamente apresentamos, é um exemplo eloquente e oportuno. Se não, vejamos.
Aguidavi é a vareta com que são percutidos os três tambores rituais do candomblé jêje-marrim, chamados rum, rumpi e lé. Todas essas quatro denominações vêm da língua fon, sendo jêjes portanto. Como também o nome da comunidade-terreiro onde se originou o grupo percussivo protagonista do presente lançamento, o Zoogodô Bogum Malê Rundó, cujo significado ainda permanece relativamente secreto até mesmo para os estudos mais avançados. Tentativamente, eles tem sido assim apresentados: Zogbodó como “corte de cabelo identificador dos filhos da divindade Sakpatá”, o Omolu ou Obaluaiê dos nagôs; Bogum, associado a Agbogun, divindade protetora da capital do Daomé; o elemento Malê é mostrado como prova da ligação da comunidade com a principal insurreição dos escravizados na Bahia, ocorrida em 1835; e Rundó pode ser a forma brasileira para a forma verbal hun dò, “abrir o buraco”, de sentido incerto.
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Quanto ao repertório deste Aguidavi do Jêje, o que temos a dizer é que ele é também uma viagem percussiva e melódica por diversas possibilidades, a qual inclui a sonoridade da viola de cabaça, de feitura artesanal, característica da chula baiana, definida em um registro do músico Roberto Mendes como “comportamento traduzido em canção” (Fundação Cultural Palmares, 2008). Assim, na viagem, o jêje abraça o nagô sem qualquer impedimento, tanto no “Ogum” da segunda faixa do Lado A, quanto no “Xirê” da terceira faixa do Lado B.
Observemos que, na música tradicional africana, como outras do âmbito folclórico, o padrão é o responsorial, ou seja, aquele onde o coro responde à chamada do solista. Isto se observa tanto nos rituais religiosos quanto nos simples folguedos. Assim, aqui nos ocorre uma afirmação do sambista Buci Moreira, neto da legendária Tia Ciata, matriarca da comunidade baiana do Rio de Janeiro, em uma entrevista, aqui citada de memória: “O samba na casa da minha avó era só aqueles corinhos, em que o cantor improvisava”. Entretanto, no presente álbum, as letras de Luizinho do Jêje e parceiros enriquecem o rito, com onomatopeias de magnífico efeito, como xiriquipá tutupá; malamá malaquê; zaumbê, zazazazá; brugudu, brugudu, indo até o velho Daomé e voltando até nós. E até mesmo, como no “Xirê” acima mencionado, invocando um importante orixá do panteão nagô-ijexá que a saudosa Mãe Menininha do Gantuá dizia ser o “santo menino que velho respeita”, o odé Logum Edé.
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Este é um álbum de festa. No qual o mistério permanece. Mas as diferenças étnicas e linguísticas não têm maior importância. Afinal, Exu e Elegbá, Ogum e Gu, Xangô e Hevioso, orixás e voduns, todos são partes desta poderosa união jeje-nagô criada ao mesmo tempo por Olodumare e Mawu-Lissá. E que o Aguidavi de Luizinho do Jêje e seus músicos prepararam, para nossa degustação e nosso deleite.
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Ajeum! Bom apetite! Axé!
— * Nei Lopes – contracapa do disco, novembro/2022. (compositor, cantor, escritor e estudioso das culturas africanas) —
Grupo afro percussivo Aguidavi do Jêje é: Luizinho do Jêje; Nem Cardoso; Alan Teles; Danilo Jesus; Danilo T’challa; Enzo Xablinha; Gabriel Santana; Ícaro Sá; Jadson Xabla; Jeferson Chagas; Kainã do Jêje; Kaique Mello; Lídio Alves; Lucas Maciel; Negokiri; Paulinho Music; Raysson Lima; Tiago Nunes
DISCO ‘AGUIDAVI DO JEJE’ • Grupo Aguidavi do Jêje – Luizinho do Jêje • Selo Rocinante / LP • Rocinante Três Selos • 2023
Canções / compositores
LADO A
1A. Ibaô (Luizinho do Jêje) | Participação Carlinhos 7 Cordas
2A. Ogum (Domínio público)
3A. Na palha do dendê (Luizinho do Jêje, Magary e Peu Meurray)
4A. Violão de cabaça (Luizinho do Jêje, Nem Cardoso e Magary) | Participação Gilberto Gil
LADO B
1. Salve os caboclos (Luizinho do Jêje e Nem Cardoso) | Participação Carlinhos 7 Cordas
2. Couro no tempero (Luizinho do Jêje e Magary)
3. Xirê (Luizinho do Jêje, Nem Cardoso e Peu Meurray)
– ficha técnica –
Grupo afro percussivo Aguidavi do Jêje – Luizinho do Jêje (atabaque, efeitos e voz – fx. 1A; atabaque e voz – fx. 2A; violão, voz e rum – fx. 3A, 4A, 1B, 2B, 3B) | Alan Teles (rum e efeitos – fx. 1A; rum – fx. 2A, 3A, 4A, 2B; pandeiro e rum – fx. 1B; rum e xequerê – fx. 3B) | Danilo Jesus (agogô e efeitos – fx. 1A; agogô – fx. 2A, 3A, 4A, 2B, 3B; agogô e tacos – fx. 1B) | Danilo T’challa (agogô e efeitos – fx. 1A; agogô – fx. 2A, 3A, 4A, 2B, 3B; agogô e rocar – fx. 1B) | Gabriel Santana (pi e efeitos – fx. 1A; pi – fx. 2A, 3A, 4A, 3B; pandeiro e pi – fx. 1B; pi e caxixi – fx. 2B) | Ícaro Sá (pi, efeitos e SPdS – fx. 1A; pi e SPdS – fx. 2A, 3A, 2B, 3B; pi, berimbau e SPdS – fx. 4A; pandeiro, pi e SPdS – fx. 1B) | Jadson Xabla (rum e efeitos – fx. 1A; rum – fx. 2A, 4A, 2B, 3B; rum e xequerê – fx. 3A; pandeiro e rum – fx. 1B) | Jeferson Chagas (agogô e efeitos – fx. 1A; agogô – fx. 2A, 3A, 2B, 3B; agogô e ganzá – fx. 1B) | Kainã do Jêje (atabaqueria e efeitos – fx. 1A; atabaqueria – fx. 2A, 3A, 4A, 2B, 3B; pandeiro e atabaqueria – fx. 1B) | Kaique Mello (pi e efeitos – fx. 1A; pi – fx. 2A, 3A, 4A, 2B, 3B; pi e tacos – fx. 1B) | Lídio Alves (pi e efeitos – fx. 1A; pi – fx. 2A, 3A, 4A, 2B, 3B; pi e tacos – fx. 1B) | Lucas Maciel (quatro runs, efeitos e octapad – fx. 1A; quatro runs e octapad – fx. 2A, 3A; quatro runs, octapad e berimbau – fx. 4A; pandeiro, rum e SPdS – fx. 1B; surdos, rum, caxixi e SPdS – fx. 2B; surdos, rum e SPdS – fx. 3B) | Negokiri (pi e efeitos – fx. 1A; pi – fx. 2A, 3A, 4A, 2B; pi e tacos – fx. 1B) | Nem Cardoso (pi, efeitos e voz – fx. 1A; pi e voz – fx. 2A, 3A, 2B, 3B; pi, xequerê e voz – fx. 4A; pandeiro, pi e voz – fx. 1B) | Paulinho Music (agogô e efeitos – fx. 1A; agogô – fx. 2A, 3A, 4A, 2B, 3B; agogô e ganzá – fx. 1B) | Raysson Lima (rum, efeitos e xequerê – fx. 1A; pi e xequerê – fx. 2A; rum – fx. 3A, 2B, 3B; rum, xequerê e berimbau – fx. 4A; pandeiro e rum – fx. 1B) | Tiago Nunes (surdos, efeitos, xequerê e SPdS – fx. 1A, 2A; rum, surdos e SPdS – 3A; surdos, SPdS e berimbau – fx. 4A; pandeiro, quatro runs e octapad – fx. 1B; quatro runs, caxixi e octapad – fx. 2B; quatro runs, xequerê e octapad – fx. 3B) | Enzo Xablinha (lé – fx. 1A, 2A, 3A, 4A, 2B, 3B; lé e tacos – fx. 1B) | Participação especial: Gilberto Gil (voz – fx. 4A) | Carlinhos Sete Cordas (violão 7 cordas – fx. 1A e 1B) || Direção artística: Luizinho do Jêje, Tiago Nunes, Kainã do Jêje e Sylvio Fraga | Direção musical e arranjos: Luizinho do Jêje, Tiago Nunes, Kainã do Jêje e Lucas Maciel | Produção musical: Luizinho do Jêje, Tiago Nunes, Kainã do Jêje e Sylvio Fraga | Gravação: Pepê Monnerat, Edu Costa e Bráulio Passos no Terreiro do Bogum | Gravação de voz, violão e complementos: Pepê Monnerat no Estúdio Rocinante | Gravação de voz Gilberto Gil: Edu Costa | Mistura/mixagem: Pepê Monnerat, Luizinho do Jêje, Tiago Nunes, Kainã do Jêje e Nem Cardoso | Masterização: Götz-Michael Rieth | Coordenação técnica: Flávio Marcos Batata | Assistência de estúdio: Felipe Duriez, Alexandre Aedel Junior e Arlow | Coordenação técnica (SSA): Curujito | Assistentes técnicos (SSA): Raphael Santos e Marquinhos | Auxiliar (SSA): Giovane Goiaba | Roadies (SSA): Flavio Pereira São Pedro e Luciano Melo Bogum Toby | Coordenação artística: Jhê | Produção executiva: Luanda Morena | Fotografias: Diego Bresani | Fotografias com Gilberto Gil: João Atala | Documentário: Rodrigo Siqueira | Texto capa disco: Nei Lopes | Projeto gráfico: Julio Dui — Mono | Assessoria de imprensa: Tathianna Nunes / Pantim Comunicação | Selo: Rocinante / Rocinante Três Selos | Cat.: R018 | Formato: CD digital / LP – vinil | Ano: 2024 | Lançamento: 30 de novembro | ♪Ouça o álbum: clique aqui / Bandcamp | ♩compre o LP/vinil: clique aqui.
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>> Siga: @aguidavidojeje | @rocinantegravadora | @rocinantetresselos | @fabricarocinante
Luizinho do Jêje
“Comecei na música já dentro da barriga de minha mãe, ouvindo os toques da minha nação Jêje: o sató, a hamunha, o ijexá, o agueré — e quando eu nasci mesmo ficou mais forte o negócio porque eu vi os toques, vendo os ogãs tocando”.
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Não se pense que Luizinho do Jêje levou de pronto da barriga da mãe para o Aguidavi do Jêje os satós, hamunhas, ijexás, aguerés. Antes, o menino ouviu os vinis do irmão, frequentou os sambas juninos (o chamado samba duro), debutou no Olodum, trabalhou com Jauperí, Elpídio Bastos, gravou com o Araketu.
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Por outro lado, é fato que ele começou na barriga da mãe que, por sua vez, foi plasmada pelos sons que plasmaram as barrigas das avós, das bisavós… (“Tataravô, bisavô, avô, pai, Xangô, Aganju…”)
A música de Luizinho se enraíza no que lhe antecede em muito. Criado no Engenho Velho da Federação, dentro do Terreiro do Jêje (Salvador), sua primeira composição se chama, sintomaticamente, “Minha Nação é Jêje”.
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Os chamados jêjes, daomeanos falantes da língua fon, são a remota matriz da comunidade que origina o Aguidavi do Jêje, a orquestra de atabaques fundada por Luizinho no Zoogodô Bogum Malê Rundó, em Salvador.
Vale registrar que no Aguidavi não há apenas membros da nação Jêje: há também integrantes das nações Angola e Keto. Aquilo que em termos academicamente corretos poderia ser chamado de “sincretismo”, Luizinho prefere descrever como uma necessidade de “juntar as três nações pra gente amadurecer todo nosso conhecimento”.
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É possível que o que se escreveu até aqui e parte do que já se escreveu sobre Luizinho do Jêje e o Aguidavi deem a impressão de que se trata de um trabalho de coleta étnico-folclórica, um registro de cunho documental. E é aqui que a porca torce o rabo.
Aguidavi do Jêje não é um disco de canções tradicionais: tudo nele é autoral. Luizinho do Jêje é um compositor tão contemporâneo quanto qualquer outro deste século XXI. Pensamos que a atmosfera de mistério que se desprende de sua fala, nas raras entrevistas que concede, deve ser creditada muito mais ao “não-saber” que envolve os criadores profundos do que às interdições impostas por preceitos religiosos — embora, evidentemente, esses digam muito.
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Caxixi, berimbau, pandeiro, agogô, rum, pi, lé, atabaqueria (uma bateria pra lá de moderna), uma série de tambores grandes de fabricação própria, além de um violão ostinato-percussivo — eis aí a formação instrumental do Aguidavi do Jêje, cuja pressão alicerça cantos responsoriais onomatopaicos e, diríamos — se fôssemos um pouco mais esnobes — algo surrealistas.
Luizinho é um educador: desde 2000 dava aulas a uma ruma de meninos que hoje, crescidos, integram o Aguidavi (entre eles Kainã do Jêje, seu filho um dos principais percussionistas do Brasil de hoje). Já por volta dessa época, buscava no violão levadas novas, de talho mais percussivo do que harmônico. Não seria despropositado reivindicar, para seu violão, status de coisa inaugural na história do instrumento no Brasil. Mas isso não cabe a nós, e ele não se importaria.
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Por outro lado, nada impede que seja o violão de Luizinho o mais novo instrumento de percussão brasileiro. Um pinho totêmico ao redor do qual tudo se organiza para celebração de uma festa na qual “o mistério permanece” — como bem notou Nei Lopes no texto da contracapa do álbum.
Fonte: Rocinante Gravadora.
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Série: Discografia da Música Brasileira / MPB / Afro-brasileiro / Candomblé / Samba / Percussão / álbum.
* Publicado por ©Elfi Kürten Fenske
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