Ao longo de 20 faixas, disco duplo levanta questões acerca do trabalho, dos relacionamentos e da carga mental depositadas na mulheres, vai do amor e sexo à depressão pós-parto, e faz convite conciliatório aos homens para transformação conjunta; Quantas jornadas de trabalho cabem nas 24h de uma mãe? Em pleno 2024, a sociedade ainda faz parecer que as mães não cabem nas jornadas do mundo. Enquanto as mulheres estão sobrecarregadas emocionalmente e fisicamente pela demanda de não renunciar a si, e ainda dar conta da criação de seus filhos, essa ainda parece uma tarefa extremamente solitária num país onde mais de 170 mil crianças nascem por ano sem registro do pai (dados da Agência Brasil). Podemos dizer que esse é o útero do novo projeto de Verônica Ferriani. A cantora, compositora, instrumentista e produtora musical lançou o álbum duplo “Cochicho no silêncio vira barulho, irmã”, que joga luz sobre questões relacionadas à maternidade e ao cuidado, mas também ao papel designado à mulher ainda hoje. Com um ponto central de importância: o disco, que reúne 20 canções, 17 delas compostas pela artista, tem tom conciliatório, e faz um convite para a procura de caminhos que possam transformar essa realidade.
Dividido entre “Cochicho no silêncio” e “Vira barulho, irmã”, o novo álbum coleciona uma extensa lista de participações, entre elas, as vozes de Áurea Martins, Alessandra Leão, Anaïs Sylla, Flávia Maia, Mairah Rocha, Assucena, Mônica Salmaso, Flaira Ferro, Lurdez da Luz e Giana Viscardi.
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Com exceção de três músicas, Verônica Ferriani assina a composição de todo o álbum.
O título traz um chamado para a ação: uma narrativa feminina para além do discurso. O projeto é descrito por Verônica como confessional, quase biográfico. Tendo o trabalho maternal como base temática, a artista elabora sentimentos como raiva, frustração, mas também a vontade de buscar novos caminhos para resolvê-los, não só entre mulheres.
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“No álbum, as questões culturais e históricas que dificultam nosso movimento livre ficam aqui poetizadas. O desejo é ser mais uma voz no movimento por narrativas femininas, aqueles em que a gente se reconheça, neste chamado a uma forma mais equilibrada de ocupação do nosso mundão”, explica Verônica.
Faixa a faixa
A faixa que abre o disco – um samba, esse símbolo de busca por liberdade, e também faixa-título, “Cochicho no silêncio vira barulho, irmã” – situa a temática construída ao longo de todo o álbum: as expectativas culturais que invariavelmente recaem sobre o gênero feminino, associadas à maternidade e ao cuidado. Áurea Martins surge como representação da universalidade e atemporalidade da experiência feminina.
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“Não me contento” traz um dos lados do prisma pelo qual a maternidade é destrinchada ao longo de todo o trabalho – a descoberta de um novo amor, até então desconhecido, e traz a participação de Alessandra Leão. “O convite à Alessandra Leão para integrar a faixa se deu ao lembrar de um sonho que ela relatou ter tido comigo grávida, sem saber que eu havia acabado de perder a gravidez de poucas semanas. Histórias como esta dão o tom confessional, sincero e em certa medida biográfico, que acompanha as canções do disco.”, conta Verônica.
A temática segue com “La Mer”, escrita pela artista franco-senegalesa Anaïs Sylla e que também dá voz à faixa; “Acorda, Mamãe”, que reflete sobre o trabalho das mulheres para além da maternidade, e com participação de Flávia Maia e Mairah Rocha, propõe também uma busca pelo reconhecimento da própria origem e do entendimento da organização da sociedade.
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A cantora Assucena marca presença em “Sem Regras”, faixa que questiona quem faz as regras da sociedade – e para quem elas valem. Mônica Salmaso dá a voz em “Amor que Fica”, que remete ao cuidado feminino não só no papel de mãe, mas na rede de apoio que se constrói ao longo da vida, inspirado pelo próprio processo de perda materna que Verônica enfrenta.
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“Foto Linda” traz o protagonismo da voz de Verônica para cantar uma representação crua do relacionamento após a chegada dos filhos, e o desequilíbrio de expectativas e funções acumuladas. “Peitos Caídos” é entoada pela voz de Flaira Ferro (também autora do texto) e faz um retrato da amamentação como símbolo da maternidade e das mudanças corporais atravessadas pelas mães.
“Pra baixo do tapete” abre a segunda metade do disco duplo, e traz o mar de responsabilidades e demandas exigidas pela maternidade, que nunca serão atendidas por completo e perfeitamente, mas que podem ter outro peso quando se tem uma rede de apoio. “Essa é pra quem?” segue o tom de desabafo cansado para falar sobre vontades deixadas de lado por conta do trabalho maternal e da falta de apoio dos parceiros. A temática do relacionamento transformado continua em “Te Querendo”, que apresenta as mudanças na realidade de um casal após o nascimento das filhas – desde o amor e sexo à depressão pós-parto. Esse processo de redescoberta da identidade e sensualidade se costura com “Blue Moon”.
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A carga mental e a rotina abarrotada seguem em pauta na faixa “Cadê Humor?”, seguida por “Passada de Pano”, que conta com a participação de Lurdez da Luz para abordar os abusos em relações que são relativizados, amenizados ou ignorados, e que afetam em sua maioria as mulheres.
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“Num Dia Como Hoje” constrói uma abordagem minimalista para falar sobre os ciclos da vida; “Permitir-se” traz a voz de Giana Viscardi para falar do sentimento de culpa presente na maternidade, e a importância de saber olhar para si mesma e reconhecer a própria caminhada; “Saudade de alguém” destaca a importância de se estar presente, construindo as relações, no misto de saudade de quem não está perto e a vontade (impossível) de juntar todos aqueles que fazem parte de nossa vida.
Inspirada na ex-presidente neozelandesa Jacinda Ardern, “Jacinda & Eu” apresenta o nome de todas as musicistas, cantoras e participantes do álbum, além de algumas mulheres que integram a rede de apoio da artista. É um agradecimento e um reforço necessário àquelas que constroem a caminhada; não há como fazê-la sozinha. “Essa música também protesta contra a dificuldade de acesso às informações nas plataformas digitais, num apelo para que os ouvintes se atentem aos profissionais que lá não ficam listados”, complementa a artista.
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Primeira faixa-bônus, “Uma Canção Para Você” é dedicada ao companheiro de Verônica, em uma lembrança de que todo casal existe antes do nascimento dos filhos e é uma construção diária a partir do amor, descrita pela compositora como “uma canção simples sobre o amor parceiro e profundo, dedicada a nosso maior aliado nesta aventura que é viver, com ou sem filhos”.
“Trabalho Maternal” fecha o álbum em um desenho claro que sintetiza o impacto da maternidade na vida da mulher, resumindo as discussões levantadas ao longo das faixas anteriores acerca do trabalho materno e de todo o peso, expectativas, dilemas e desigualdades que vêm com ele, e a quem interessa mantê-los.
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As 20 faixas de “Cochicho no silêncio vira barulho, irmã” costuram abordagens e reflexões sobre as expectativas culturais e os papéis de gênero, em um convite para a união e a mudança. Um disco feito a muitas mãos, e um convite aberto para homens e mulheres se juntarem a ele.
DISCO ‘COCHICHO NO SILÊNCIO VIRA BARULHO, IRMÃ’ • Verônica Ferriani • Selo Independente / Distribuição Tratore • 2024
Canções / compositores / interpretes
DISCO 1
1. Cochicho no silêncio vira barulho, irmã (Verônica Ferriani) | Participação: Áurea Martins
2. Não me contento (Verônica Ferriani) | Participação: Alessandra Leão
3. La mer (Anais Sylla) | Intérpretes: Anais Sylla
4. Acorda, mamãe (Canto de trabalho/Domínio Público) | Participação: Flávia Maia e Mairah Rocha
5. Sem regras (Verônica Ferriani) | Participação: Assucena
6. Amor que fica (Verônica Ferriani) | Participação: Mônica Salmaso
7. Foto linda (Verônica Ferriani)
8. Peitos caídos (Flaira Ferro e Dom) | Participação: Flaira Ferro
9. Pra baixo do tapete (Verônica Ferriani)
DISCO 2
10. Essa é pra quem? (Verônica Ferriani)
11. Te querendo (Verônica Ferriani)
12. Blue moon (Verônica Ferriani)
13. Cadê humor? (Verônica Ferriani)
14. Passada de pano (Verônica Ferriani) | Participação: Lurdes da Luz
15. Num dia como hoje (Verônica Ferriani) | Participação: Nilze Carvalho
16. Permitir-se (Verônica Ferriani) | Participação: Giana Viscardi
17. Saudade de alguém (Verônica Ferriani)
18. Jacinda e eu (Verônica Ferriani)
19. Uma canção para você (Verônica Ferriani) / faixa bônus
20. Trabalho maternal (Verônica Ferriani) / faixa bônus
– ficha técnica –
Verônica Ferriani (fx. 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20; coros – fx. 2, 3, 9, 12; violão – fx. 7, 18, 19, 20; reco-reco – fx. 10; texto – fx. 14; tamborim – fx. 19) | Samara Líbano (violão 7 cordas – fx. 1) | Elodie Bouny (violão e arranjo – fx. 6) | Fernando Lima (arranjo de violões – fx. 17) | Vanessa Ferreira (baixo acústico – fx. 9, 10, 12, 14; baixo elétrico – fx. 11, 13, 16) | Thais Nicodemo (teclado – fx. 2, 18) | Aline Falcão (teclado – fx. 9, 10, 11, 12, 13, 16; teclados – fx. 14; guitarra – fx. 11, 16) | Victória dos Santos (chocalho, cuíca, prato e faca, tamborim, conga, tantam, repique anel – fx. 1; congas – fx. 11, 14; bombo – fx. 2; onça – fx. 2; reco-reco – fx. 2, 11; bacurinha – fx. 11) | Dani Virgulino (triângulo e zabumba – fx. 7) | Alana Ananias (bateria – fx. 9, 10. 11, 12, 13, 14; overdub – fx. 11, 13, 14) | Joana Queiroz (clarone – fx. 6) | Maiara Moraes (flauta transversal – fx. 10, 14) | Estefane Santos (trompete – fx. 13, 16; flugelhorn – fx. 16) | Nanda Guedes (sanfona – fx. 7; acordeon – fx. 9) | Lívia Mattos (sanfona – fx. 17) | Suelem Sampaio (harpa sinfônica – fx. 9, 12) | Vivian Kuczinsky (guitarra – fx. 13) | Lurdes da Luz (voz – fx. 14) | Cordas: Wanessa Dourado (violino 1 – fx. 5); Letícia Andrade (violino 2 – fx. 5); Jennifer Cardoso (viola – fx. 5) e Mayara Alencar (cello – fx. 5) | Duo Siqueira Lima – Cecília Siqueira e Fernando Lima (violões – fx. 17) || Participação especial: Áurea Martins (voz – fx. 1) | Alessandra Leão (voz, ylus e caxixi – fx. 2) | Anaïs Sylla (voz e coros – fx. 3) | Flávia Maia (voz e percussão corporal – fx. 4) | Mairah Rocha (voz e percussão corporal – fx. 4) | Assucena (voz – fx. 5) | Mônica Salmaso (voz – fx. 6) | Nilze Carvalho (bandolim – fx. 15) | Flaira Ferro e Dom (texto/voz – fx. 8) | Giana Viscardi (voz e coros – fx. 16) | Vozes – fx. 18 – Alessandra Leão, Anais Sylla, Assucena, Áurea Martins, Flaira Ferro, Dani Virgulino, Livia Mattos, Mairah Rocha, Mônica Salmaso, Nanda Guedes, Nilze Carvalho, Victória dos Santos || Produção executiva e musical: Verônica Ferriani | Pós-produção musical e mixagem: Vivian Kuczynsk | Masterização: Florência Saraiva Akamine | Estúdios de Gravação – Apodi 185, por Gustavo Valle e Beto Mendonça / Malt Records, Umuarama (RJ) e Vferriani | Edição instrumental e vozes: Verônica Ferriani | Edição vozes: Bianca Mello | Arte gráfica: Ana Brun | Capas: Manuela Eichner | Fotos e vídeos de estúdio: Patrícia Ribeiro | Fotos de divulgação: Thais Taverna | Figurino: Greta Escobar | Maquiagem e cabelo: Juliana Vacaro | Conteúdo e mídias sociais: Bruno Gael e Dandara Bacelar | Assessoria de imprensa: Dobra Comunica | Selo: Independente | Distribuição: Tratore | Formato: CD digital duplo | Ano: 2024 | Lançamento: 22 de março | ♪Ouça o álbum: clique aqui.
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Mais sobre o álbum
LZ, Jorge. “Cochicho no silêncio vira barulho, irmã”, de Verônica Ferriani. In: Na Ponta da Agulha – Itaú Cultural, 16.4.2024. Disponível no link. (acessado em 1.8.2024)
REIS, Aquiles Rique. Um trabalho exuberante. In: Dicas de Aquiles – JB, 8 de junho de 2024. Disponível no link. (acessado em 1.8.2024)
Sobre Verônica Ferriani
Natural de Ribeirão Preto, Verônica Ferriani é cantora, compositora, instrumentista e produtora musical. Tem 4 discos solo e 2 coletivos lançados, além de colaborar em projetos especiais diversos.
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Gravou nos DVDs recentes de Yamandu Costa e de Toquinho, com quem esteve em turnê Voz e violão entre 2011 e 2018. Fez shows como convidada de Ivan Lins, Beth Carvalho, Spokfrevo Orquestra, Mart’nália, Noca da Portela, Xande de Pilares, entre outros. Dividiu o palco em projetos especiais com Monarco, Moska, Jair Rodrigues, Teresa Cristina, entre muitos outros.
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Liderou a Gafieira São Paulo, vencedora do 22º Prêmio da Música Brasileira (2011), como melhor grupo de samba.
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Convidada a representar a nova música no Projeto Novas Vozes do Brasil, parceria do Itamaraty e MinC com Embaixadas do Brasil pelo mundo, apresentou-se em festivais e importantes espaços do Japão, Rússia, Portugal, Argentina, Colômbia, Espanha e Israel.
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>> Siga: @veronicaferriani
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Série: Discografia da Música Brasileira / MPB / Canção / Álbum.
Publicado por ©Elfi Kürten Fenske
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