MÚSICA

Álbum ‘Ivone Rara – 100 anos da Dona do Samba’, do cantor e compositor João Cavalcanti

2022 – ano do centenário de Dona Ivone Lara (1922-2018), sua memória permanece viva graças a seus álbuns, a gravações históricas nas vozes de grandes cantores e cantoras e, sobretudo, a tributos prestados por artistas da atualidade que ajudam a levar a obra da “Dama da Melodia” adiante para esta e para as futuras gerações. Como o que faz João Cavalcanti neste “Ivone Rara – 100 anos da Dona do Samba“. Contemplado no edital ProAC Direto Expresso 2021, o disco foi gravado em março de 2022 no estúdio Gargolândia, no interior de São Paulo, e já está disponível nos aplicativos de música.
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Desde o início da concepção do álbum, o norte foi o mais acertado possível, o de jogar luz sobre a arquitetura melódica da compositora. Num repertório elaborado muito menos por motivações cartesianas, João gravou 15 faixas – em encadeamentos interessantes e criativos de 22 composições da homenageada – que lhe permitissem dar a sua leitura e, por consequência, construir um discurso pessoal a partir daquilo que as canções de Dona Ivone originalmente já transmitem por si mesmas. Ele conta que teve duas intenções principais quando pensou o repertório de “Ivone Rara”. “O primeiro critério foi selecionar as melodias que eu julgo mais deslumbrantes. O segundo critério foi, entre as letras das canções, quais me ajudariam a contar uma história que respeitasse a minha relação com a música e que criasse um discurso notadamente novo a partir de canções que já foram gravadas”, explica.
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Essas muitas mensagens estão todas ali. Desde a abertura com “Alguém Me Avisou”, enlaçada com “Menino Brasileiro”, passando por outros amálgamas como os de “Sem Cavaco Não” / “Enredo do Meu Samba” e de “Dizer Não Pro Adeus” / “Adeus à Solidão”..

João Cavalcanti – foto: ©Leo Aversa

Para ajudar a compor essa nova narrativa, o artista explica que teve um cuidado minucioso com a ordenação das músicas – algumas delas agrupadas em forma de suítes. “Com um critério simbólico em mente, uni canções que se correlacionam. Optei por cantar pedaços de certas canções, omiti pedaços de determinadas letras. Criei uma colcha de retalhos desses textos para justamente conseguir criar essa história de forma mais objetiva. As suítes não só existem em função da formação instrumental, que é uma formação que remete a um concerto, mas também para ajudar a contar essa história nova que eu queria”, completa.
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Alguns desses entrelaçamentos suscitaram em João a construção de enredos narrativos ainda mais extensos, que ele moldou, de maneira sensível e inteligente, em forma de suítes. São os casos do que ele considera a “Suíte Voz”, que sublinha a faceta do intérprete em sua profissão-missão de cantar, agrupando “Canto do Meu Viver” / “Sereia Guiomar” / “O Trovador” / “Nasci Pra Sonhar e Cantar”; a “Suíte Romântica”, que reúne o lirismo perfeito da melodia de “Coração, Por Que Choras?”, gravada há 40 anos por Ivone, com as conhecidas “Liberdade” e “Minha Verdade”; e a “Suíte Esperança”, que aponta para um futuro melhor, mais humanizado e afetuoso, com “Samba de Roda Pra Salvador” e os clássicos “Acreditar” e “Sonho Meu”.

Além da densidade imersiva no universo melodioso de Dona Ivone proposto pelos pot-pourris, há também as canções apresentadas isoladamente e que encerram a mesma força. Entre elas, obras-primas como “Tendência”, “Alvorecer” e “Mas Quem Disse Que Eu te Esqueço” e outras um pouco menos conhecidas do público, como “Doces recordações”, “Resignação” e “Nos Combates Desta Vida”, todas coincidentemente gravadas pela própria autora em seu disco de 1985.
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Tão interessantes quanto a montagem do repertório são a instrumentação, os arranjos e, por consequência, a sonoridade do disco. Gregárias como a obra de Dona Ivone Lara, as atuações de Adriana Holtz (violoncelo), Claudia Elizeu (piano), Marcelo Caldi (sanfona) e Wanessa Dourado (violino e rabeca) dividem o protagonismo com o canto de João Cavalcanti, passando ao largo das obviedades e dos lugares-comuns ao encarar as criações de uma compositora umbilicalmente ligada ao samba.
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Este é o primeiro álbum solo exclusivamente de intérprete de João, cuja história fonográfica conta com os discos “Placebo” (2012) e “Garimpo” (2018), esse último em duo com Marcelo Caldi, os projetos audiovisuais “Samba Mobiliado” (2019) e “Desengaiola” (2022) – feito na companhia de Alfredo Del-Penho, Moyseis Marques e Pedro Miranda – além dos sete álbuns e dois DVDs lançados ainda como integrante do grupo Casuarina. Diante de um cenário de terra arrasada para a Cultura e para o país como um todo, João compreendeu que o exercício de se debruçar sobre o cancioneiro de Dona Ivone (“uma das maiores melodistas do mundo”, nas palavras dele) poderia levá-lo, inclusive, a se tornar um compositor melhor do que ele já é.
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No ano de seu centenário, Dona Ivone Lara ganha muito mais do que uma reinterpretação de sua obra. Ganha a renovação de seu legado num país que anseia, acredita e sonha com um alvorecer mais musical e acolhedor num horizonte próximo.
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Por Lucas Nobile, autor de “Dona Ivone Lara: A Primeira-Dama do Samba” (Sonora Editora). editado na primeira parte colocando a informação no tempo atual.

Capa do álbum “Ivone Rara – 100 anos da Dona do Samba” • João Cavalcanti • Selo MP,B Discos/Som Livre • 2022 | Arte gráfica: Anna Turra | Foto: Leo Aversa

DISCO ‘IVONE RARA – 100 ANOS DA DONA DO SAMBA’ • João Cavalcanti • CD • Selo MP,B Discos/Som Livre • 2022
Canções / compositores
1.1. Alguém me avisou (Dona Ivone Lara)
1.2. Menino brasileiro (Dona Ivone Lara e Rildo Hora)
2.1. Canto do meu viver (Dona Ivone Lara e Délcio Carvalho)
2.2. Sereia Guiomar (Dona Ivone Lara e Délcio Carvalho)
3. O trovador (Dona Ivone Lara e Délcio Carvalho)
4. Nasci pra sonhar e cantar (Dona Ivone Lara e Délcio Carvalho)
5. Nos combates desta vida (Dona Ivone Lara e Délcio Carvalho)
6.1. Sem cavaco não (Dona Ivone Lara e Mano Décio da Viola)
6.2. Enredo do meu samba (Dona Ivone Lara e Jorge Aragão)
7. Doces recordações (Dona Ivone Lara e Délcio Carvalho)
8. Tendência (Dona Ivone Lara e Jorge Aragão)
9.1. Coração, por que choras? (Dona Ivone Lara)
9.2. Liberdade (Dona Ivone Lara e Délcio Carvalho)
9.3. Minha verdade (Dona Ivone Lara e Délcio Carvalho)
10. Resignação (Dona Ivone Lara e Hélio dos Santos)
11.1. Dizer não pro adeus (Dona Ivone Lara, Luiz Carlos da Vila e Bruno Castro)
11.2. Adeus à solidão (Dona Ivone Lara e Délcio Carvalho)
12. Alvorecer (Délcio Carvalho e Dona Ivone Lara)
13.1. Samba de roda pra Salvador “Não chora meu bem” (Dona Ivone Lara)
13.2. Acreditar (Dona Ivone Lara e Délcio Carvalho)
14. Sonho meu (Dona Ivone Lara e Délcio Carvalho)
15. Mas quem disse que eu te esqueço (Dona Ivone Lara e Hermínio Bello de Carvalho)
– ficha técnica –
Músicos: João Cavalcanti (voz) | Adriana Holtz (violoncelo) | Claudia Elizeu (piano) | Marcelo Caldi (sanfona) | Wanessa Dourado (violino e rabeca) || Direção musical e arranjos: Marcelo Caldi || Direção artística e produção musical: João Cavalcanti || Direção de produção do projeto e direção de arte da foto: Renata Grecco || Produção executiva: Guete Oliveira || Gravado em março de 2022 por Diogo Guedes no Estúdio Gargolândia (Alambari / SP) | Assistente de gravação: Thiago Baggio || Edição de áudio: Bruno Giorgi || Mixagem: Ricardo Mosca || Masterização: Carlos Freitas || Arte gráfica e digital: Anna Turra || Fotos: Leo Aversa || Assessoria de imprensa e mídias digitais: Miriam Roia e Vivien Drumond / Somar Comunicação Integrada || Realização: Moleka Produções Artísticas || *O projeto “Ivone Rara – 100 anos da Dona do Samba” foi contemplado no Edital ProAC Expresso Direto 2021 | Lançado: 26 de agosto de 2022 | Selo: MP,B Discos/Som Livre | Formato: CD / Digital | Ano: 2022 | #* Ouça o álbum na sua plataforma de música favorita. clique aqui.
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>> João Cavalcanti na rede: Instagram | Facebook | Youtube | Spotify | Linktree.
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Série: Discografia da Música Brasileira / MPB / Canção.
* Publicado por ©Elfi Kürten Fenske

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