“Na Cocó” é o novo disco de Xauim. “Essa é a terra que esquenta a cabeça e que serve seu coco gelado”: projeto é centrado em Salvador, trazendo um olhar que, além do cartão-postal, aponta para os contrastes da capital baiana
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O cantor e compositor Xauim lança Na Cocó, primeiro volume de seu novo álbum. O título, expressão baiana que alude à ideia de atacar de forma furtiva, reflete para o artista a essência do trabalho. O projeto é centrado em Salvador, trazendo um olhar que, além do cartão-postal, aponta para os contrastes da capital baiana. A partir de ritmos locais e elementos de samba reggae, dance hall, ijexá e kuduro, as oito faixas do disco retratam as realidades sociais, culturais e políticas da cidade e colocam em relevo a tensão entre realidade e idealização, evocando temas como desigualdade, violência policial e gentrificação. A capa do disco é uma criação do próprio artista, que também atua como fotógrafo sob o nome de Matheus L8 e com a soma de design do Studio Lombra.

Nascido em Salvador, Cidade Baixa, XAUIM transita entre a ancestralidade e o contemporâneo, unindo raízes da música de matriz africana aos beats eletrônicos. O cantor lançou seu primeiro EP em 2021, “Flutuântico”, e desde então segue lançando uma série de singles. “O nome XAUIM”, comenta o artista, “significa “sagui” em tupi e, para mim, representa a busca pela harmonia entre as vibrações da mata e os circuitos da cidade. Assim como o sagui, que vive entre fios elétricos e galhas, XAUIM busca equilibrar essas duas dimensões na música”.

Cada faixa de Na Cocó é uma peça dessa narrativa. Voz da Terra abre o álbum com o pai do artista e depoimentos de figuras icônicas de Salvador; a canção reflete o significado do que é ser baiano. Em Ambivalente, Xauim explora as desigualdades sociais marcadas nos contrastes geográficos e econômicos de seu território. Caldo de Sururu questiona a superficialidade do turismo e expõe o cotidiano de milhares de pessoas que sustentam a capital soteropolitana: “essa é a terra que esquenta a cabeça e que serve o seu coco gelado”, canta em um dos versos. Já Eles Não Ligam Pra Gente traz o dancehall para narrar a violência policial e o racismo estrutural, conectando a vivência de Xauim com a memória coletiva do Pelourinho, onde foi gravado o clipe They Don’t Care About Us, de Michael Jackson, evocado no título da canção. A faixa Praça do Reggae serve como manifesto, com reflexões de Milton Santos sobre a cidade enquanto produtora de pobreza. Madeira resgata a violência da colonização e suas heranças atuais, enquanto Maria Felipa homenageia a heroína da Independência na Bahia. Por fim, Haverá Doce encerra com uma melodia de ijexá que ecoa esperança, revelando uma Salvador que guarda belezas além da violência e da dor.
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“O disco surge a partir de um olhar para o próprio território. De pensar como esse território nos faz e ao mesmo tempo como a gente o faz. Nesse álbum, eu abraço o exercício de olhar para as belezas e tristezas e constatar que essas coisas andam juntas e coexistem em uma peculiar harmonia na Bahia”, comenta Xauim.
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Na Cocó convida o público a enxergar Salvador sob uma nova luz, abordando suas complexidades com a sensibilidade de quem vive e respira o território, que é “berço de mãe e berço de pai / presente”.

Capa do álbum ‘Na Cocó’ • Xauim • Selo Independente / distribuição Tratore • 2024

DISCO ‘NA COCÓ’ • Xauim • Selo Independente / distribuição Tratore • 2024
Canções / compositores
1. Voz da terra (Xauim)
2. Ambivalente (Xauim)
3. Caldo de Sururu (Xauim)
4. Eles não ligam pra gente [Michael]. (Aquahertz)
5. Praça do Reggae “Interlúdio” (Xauim)
6. Madeira (Xauim)
7. Maria Felipa (Xauim)
8. Haverá doce (Xauim)
– ficha técnica –
Xauim (voz – fx. 1-8; montagem – fx. 1, 5) | Maceleza de Castilho (guitarra – fx. 4) | Normando Mendes (trompete – fx. 4) | Vinícius Freitas (sax – fx. 4) | Lucas Maciel (percussão – fx. 1, 8) | Ícaro Sá (percussão – fx. 6) | Tâmara Pessôa (vocais – fx. 1, 4, 8) | Frases sampleadas: Daniel Ferreira, Apoena Ferreira, Matheus Buente, James Martins, Carla Akotirente, Geronimo Santana, Cid Texeira, Milton Santos  | Vozes (fx. 1): Daniel Ferreira, James Martins, Carla Akotirene, Cid Teixeira e Matheus Buente | Vozes (fx. 5): Apoena Ferreira e Milton Santos | Produção musical: Aquahertz (fx. 1, 2, 3) / exceto fx. 6: Átila Santana | Mixagem e masterização: Aquahertz | Arranjo de naipe: Vinícius Freitas (fx. 4) | CapaFotos: Matheus L8 | Design: Studio Lombra | Motion: Gustavo Korontai | Figurino: Jones Nascimento | Assistência: Matheus Pirajá | Produção: Vilma Carla Martins | Modelos: Luana Fulô, Rogério Bezerra e Paula Marinho | Fotos divulgação: Rodrigo Ladeira | Videoclipe – fx. 7: Diretor: Matheus L8; Diretor de fotografia: Matheus Pirajá e Matheus L8; Produtora: Vilma Martins; Coreografa: Luana Fulô e Paula Marinho; Buffet: Dona Gal; Direção arte: Jones Nascimento; Assistência: Luís Fernando; Edição e montagem: Matheus L8; Cor: Matheus Pirajá; Assistente de VFX: Erick Moreira; Vfx: Gustavo Korontai; Elenco: Luana Fulô, Paula Marinho, Teresa Barbosa, Teresa Freitas, Herminia da Silva Santos, Guiomar Freitas, Rayana da Silva, Antonia Passos, Rogério Bezerra, Yasmin de Oliveira Dias, Verônica Raquel Mucúna | Assessoria de imprensa: Henrique Pires e Yasmim Bianco / Bianco Assessoria | Selo: Independente | Distribuição digital: Tratore | Formato: CD digital | Ano: 2024 | Lançamento: 1 de novmebro | Ouça o álbum: clique aqui | Assista o videoclipe ‘Maria Felipa’: clique aqui.
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O projeto ‘Na Cocó’ / e ‘Maria Felipa’ foi contemplado pelo edital SalCine, com recursos financeiros da Fundação Gregório de Mattos, Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, Prefeitura de Salvador e da Lei Paulo Gustavo, Ministério da Cultura, Governo Federal.
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>> Siga: @xauim

Xauim – foto: Rodrigo Ladeira

FAIXA A FAIXA POR XAUIM
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1. Voz da Terra
A música se inicia com a voz do pai do artista, Daniel Ferreira, falecido em 2012, marcando o início do álbum com uma reflexão sobre o significado de ser baiano. Essa conexão profunda, quase umbilical, com o território da Bahia foi herdada por osmose. O pai, apaixonado por essa terra e atuante no turismo náutico, transmitiu ao artista o interesse e o amor por esse lugar, que agora transbordam na música.
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Voz da Terra abre com o entrelaço do suingue do samba reggae e a pluralidade das vozes que ecoam, sentem e pensam Salvador. Essa faixa é uma colagem de falas, coletadas de entrevistas, discursos e memes, que revela uma cidade complexa, onde o belo e o duro convivem na mesma esquina.
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A faixa traz vozes como as de James Martins, Carla Akotirene, Cid Teixeira e Matheus Buente, que compartilham suas relações com o território.
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Voz da Terra é a costura dessas múltiplas facetas, um convite à coexistência que vai muito além de simples dualidades.

2. Ambivalente
Ambivalente sintetiza a essência de Salvador, uma cidade marcada por contrastes profundos. A música navega pelas diferenças sociais e geográficas, desde os decks de prédios luxuosos no bairro da Vitória até as palafitas vulneráveis da Cidade Baixa, nas margens. A letra destaca o peso das desigualdades, trazendo à tona as cicatrizes históricas e sociais, e ao mesmo tempo questiona a transformação de lugares de dor em pontos turísticos, como no verso: “Cores vivas nas nossas feridas.”
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O refrão da música pergunta: “Salvador quer provar? Quer de qual sabor? Tem de côco, Cancún e Palestina.” A pergunta é uma metáfora poderosa sobre qual faceta da cidade se deseja experimentar: o frescor do côco, o paraíso de Cancún ou a zona de guerra que é Palestina. Essas imagens reforçam a ambiguidade de uma cidade que pode ser acolhedora e paradisíaca, mas também cruel e marcada pela violência.

3. Caldo de Sururu
Caldo de Sururu é conduzida pelo ritmo angolano Kuduro, e a canção traz novamente à tona os contrastes da cidade. Nela, a Salvador do turismo é colocada lado a lado com a cidade vivida por seus moradores. Com cantos que remetem aos vendedores(as) anunciando suas mercadorias, como “coco fresco,” “queijo,” e “caldo de sururu,” a música evoca a imagem de uma paisagem tropical e festiva, a partir desse canto de venda do árduo trabalho presente nesse cenário, onde os trabalhadores, sob o sol, sustentam a imagem vendida com os sabores e frescores de suas mercadorias.
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A letra ironiza a forma como Salvador é propagandeada como uma cidade de verão eterno e festividades, enquanto os moradores enfrentam uma realidade bem diferente. Além das tensões do litoral, a música passa por questões urbanas enfrentadas pelos moradores, como a trágica mobilidade urbana e seus ônibus lotados. No verso “o povo espremido na Lapa, corda de caranguejo” faz referência ao sufoco diário de quem depende do transporte público.
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A música traz um verso que brinca com o contraste de temperaturas e condições: “essa é a terra que esquenta a cabeça e que serve o seu coco gelado”. Enquanto os trabalhadores suam debaixo do sol, eles servem bebidas geladas aos turistas que desfrutam da paisagem tropical.
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Caldo de Sururu questiona a superficialidade do sorriso estampado nas propagandas de Salvador, enquanto trabalhadores suam para manter essa fachada tropical. A música coloca frente a frente a cidade do turista e a cidade do trabalhador, pincelando as tensões e desigualdades que marcam a vida cotidiana.
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A cidade, ao mesmo tempo “mato, concreto, pedra e cal”, carrega em si a memória de seus movimentos históricos e arquitetônicos. A música convida a uma reflexão sobre quem pode “rodar” no centro dessa roda simbólica de poder e privilégio, evocando a exclusão daqueles que estão à margem.
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No entanto, apesar do caos e das feridas, a faixa termina com uma nota de esperança: “SalCity é doce também”. A ambivalência da cidade não se limita à dureza; há também doçura, e a vida, como a maré, “leva o sal que a vida trouxe”. Salvador, com todas as suas contradições, ainda guarda uma doçura resiliente.

4. Eles não ligam pra gente (Michael)
Eles não ligam pra gente (Michael) evoca uma frase icônica que ficou fincada no imaginário baiano após a gravação do clipe de Michael Jackson em Pelourinho, Salvador. No vídeo de “They Don’t Care About Us”, a frase “Michael, eles não ligam pra gente”, falada em português, marcou a memória coletiva da cidade. Nessa canção, XAUIM usa a potência desse grito para falar sobre a desassistência do Estado à população pobre, a partir das violências que se manifestam na atuação policial.
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Fluindo com um ritmo jamaicano de Dancehall, a música combina uma batida dançante e empolgante que contrasta fortemente com seu conteúdo sério. A canção nasce de uma experiência pessoal de abordagem policial vivida pelo artista, que inspirou a reflexão sobre a violência estatal e o racismo estrutural. Na música, o artista relata o momento em que, ao usar um capote que cobria seu rosto, foi parado de forma violenta pela polícia, simplesmente por ser um homem negro. Esse episódio é sintetizado no verso “capote com pele retinta e pala”, que expõe como sua aparência foi o motivo da abordagem. O capote, que tinha um valor simbólico por ser um presente da mãe, tornou-se o gatilho para uma situação de violência e preconceito.
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A música também faz referência ao trabalho da intelectual Carla Akotirene, citada diretamente no verso “leia Carla Akotirene”. A obra de Akotirene, especialmente seu livro “Fragrante Forjada”, aborda como o racismo estrutural se manifesta no sistema prisional. Essa conexão entre a vivência pessoal e a crítica ao racismo estrutural permeia toda a canção, ampliando a discussão para a relação entre Estado e a população pobre (especificamente a população negra), que é a mais afetada por esse tipo de violência.

Xauim – foto: Rodrigo Ladeira

5. Praça do Reggae
Praça do Reggae é um interlúdio que apresenta samples das falas do geógrafo Milton Santos e da urbanista Apoena Ferreira, abordando questões sobre as cruéis dinâmicas do espaço urbano. A fala de Milton Santos aponta como a cidade atua como produtora de pobreza, enquanto Apoena Ferreira, em um diálogo quase complementar, retrata como a exclusão do povo nos projetos políticos leva os mais marginalizados a buscarem alternativas de sobrevivência, o que impacta toda a sociedade.
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O título da faixa rememora um espaço histórico da cultura de Salvador, a Praça do Reggae, que está abandonada há mais de duas décadas. Esse local tornou-se um símbolo do descaso e da exclusão social que afetam as comunidades pobres e periféricas.
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Essa breve faixa serve como um manifesto sobre o abandono estatal e a gentrificação, utilizando as vozes desses dois pensadores para refletir sobre as dinâmicas de exclusão e resistência no espaço urbano.

6. Madeira
Madeira é conduzida pelo ritmo do pagode baiano ou pagodão, trazendo uma base forte e envolvente para uma crítica contundente ao contínuo processo de exploração nas Américas. A música conecta o saque colonial ao cenário atual, marcado pela corrupção, genocídio indígena e negro, e a ascensão de figuras como Trump e Musk. Revisita o passado, apontando como o sistema de exploração iniciado no século XV persiste até hoje. Com versos como “Tem sangue no ouro de Trump” e “Tem sangue na prata de Potosí”, a canção denuncia as riquezas acumuladas às custas do sofrimento de milhões.
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A ideia da palavra “madeira” é central à música, funcionando tanto como símbolo da exploração de recursos naturais quanto da violência, com a expressão “descer a madeira,” que na Bahia remete a uma reação física e violenta. Em versos como “Sou fera ferida que desce a madeira,” XAUIM reforça o efeito rebote, onde o oprimido, machucado, se torna duro e reprodutor de violência.
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A música também critica diretamente acontecimentos políticos recentes, como o negacionismo da vacina e o envolvimento de autoridades com a destruição ambiental: “Nega a vacina fazendo o cachê / Povo faminto vivendo na xêpa / Pega o ministro ladrão de madeira / E desce a madeira.”
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Madeira é, portanto, um manifesto que conecta o passado colonial ao presente, colocando em evidência como a exploração e a violência estrutural permanecem atuais.

7. Maria Felipa
Esta canção nos transporta para o passado, convidando-nos a imaginar a perspectiva das pessoas comuns durante uma guerra: a marisqueira, o escravizado, e muitos outros que se viram no meio do conflito ao avistarem as tropas portuguesas chegando às costas baianas. A música ilumina a coragem daquelas pessoas que, com as armas que possuíam, entraram na batalha e lutaram pela liberdade. Ela destaca as verdadeiras heroínas e heróis do 2 de Julho, a independência do Brasil na Bahia
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Maria Felipa é a personificação das histórias que resistem nas margens, que não foram incluídas no projeto oficial de nação, mas que permanecem vivas e pulsantes na cultura popular. Por isso, essa música vai além de ser um tributo a essa heroína; é também uma homenagem a todas aquelas que, como ela, foram excluídas da narrativa oficial, mas que desempenharam um papel fundamental na construção da resistência e da verdadeira identidade do Brasil. Quando eu falo “Mariele vive em Maria Felipa” e inverto uma ordem natural da cronologia delas, estou apontando pra essa força de representação que coexiste no passado, presente e futuro. Parafraseando Glauber Rocha, eu diria: as crianças brasileiras não devem acreditar em uma independência às margens do Ipiranga. Close em Maria Felipa, a verdadeira imagem do povo brasileiro.
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Com uma mescla de música baiana com fortes influências de afro house e kuduro, Maria Felipa é, assim, um manifesto artístico que busca dar voz àqueles que foram e continuam sendo invisibilizados. O single é acompanhado de um videoclipe dirigido pelo próprio XAUIM, também conhecido como Matheus L8 no cenário audiovisual. Gravado em Saubara, a 103 km de Salvador, a filmagem captura a essência de uma região marcada por cultura e resistência. Todos os anos, na madrugada do dia 2 de julho, as ruas de Saubara acolhem uma procissão de mulheres vestidas com lençóis brancos, armadas com facões e espingardas, carregando panelas de mingau, em homenagem às ancestrais que alimentaram os combatentes durante as batalhas. A indumentária, além de servir de disfarce, aterrorizava os portugueses, que acreditavam estar vendo fantasmas.

8. Haverá Doce
Haverá Doce ao toque de Ijexá, traz timbres e ambiências, com uma atmosfera calma como uma maré mansa. Como uma versão dub do afoxé que encerra a faixa Ambivalente, a música se destaca do restante do álbum, oferecendo uma nova perspectiva sobre a cidade.
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A faixa é quase instrumental, com uma letra curta que se repete como um mantra.
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Ao longo do álbum, as tensões e feridas de Salvador são expostas, mas Haverá Doce indica que também existe um outro olhar, um olhar doce para a cidade. Ela nos convida a enxergar além do bruto, além das chagas, revelando que há belezas e doçuras escondidas na paisagem urbana. Essa faixa aponta para a possibilidade de ver Salvador com um olhar mais gentil e compassivo, mesmo diante de seus desafios.
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A música finaliza com a repetição “berço de pai, berço de mãe”, sugerindo a ideia de que a cidade também cumpre o papel de pai e mãe, sendo um elemento formador da população e da cultura local.
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Série: Discografia da Música Brasileira / MPB / Afro-brasilidade / Canção / Álbum.
* Publicado por ©Elfi Kürten Fenske

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