Lançado originalmente em 1993, O álbum Paratodos, de Chico Buarque retorna ao formato vinil em uma edição especial pela Rocinante Três Selos. Com participações marcantes de Tom Jobim e Gal Costa, o disco reafirma sua relevância na história da música brasileira.
.
Paratodos reflete a diversidade de influências musicais de Chico Buarque, trazendo canções que exploram temas como relações humanas, memória e identidade cultural. Destaques do disco incluem “Paratodos”, uma homenagem a Tom Jobim e outros artistas brasileiros; “Futuros Amantes”, com sua poesia atemporal; e “Biscate”, que conta com a voz de Gal Costa e aborda relações amorosa, infidelidade e ciúmes com ironia e profundidade. Em “Piano na Mangueira”, Tom Jobim faz sua última parceria com Chico, celebrando o samba e a Estação Primeira de Mangueira.
O disco também apresenta colaborações com Francis Hime (“Pivete”) e Luiz Cláudio Ramos (“Outra Noite”), além de canções da parceria prolífica com Edu Lobo, como “Choro Bandido” e “Sobre Todas as Coisas”.
.
Entre as várias preciosidades de Paratodos, as fotos de perfil e de frente são do fichamento de Chico Buarque na polícia, em 1961, quando ainda menor de idade foi detido por praticar uma travessura comum à juventude transviada paulistana da época: roubar carros para passear pela cidade até que acabasse a gasolina. O caso foi parar até no jornal Última Hora, que publicou uma foto do jovem Chico com um amigo e a seguinte manchete: “Pivetes Furtaram um Carro: Presos”. Segundo Zuza Homem de Mello, foi a primeira vez que Chico apareceu na imprensa.
“Álbum excelso e de impacto na música brasileira do fim do século 20, Paratodos apresentava o Chico que o Brasil amava desde sempre em “Futuros Amantes”, “Romance”, “Tempo e Artista” e “De Volta ao Samba” — imbuído da sedutora descontração dos seus versos, além de leveza, ironia e inteligência comuns em sua trajetória lírica. No tema de encerramento, “A Foto da Capa”, Chico descreve com perfeição a situação exata que gerou a sua foto que ilustra a capa de Paratodos, um projeto gráfico assinado pelo próprio artista“, define Bento Araújo, jornalista que assina o texto do Obi que acompanha o vinil.
.
Paratodos chega em edição especial com vinil amarelo 180g, encarte com letras das músicas e um texto exclusivo do jornalista e escritor Bento Araújo. O projeto gráfico, que destaca a capa icônica assinada pelo próprio Chico, é acompanhado de um obi e todas as 12 faixas originais.
DISCO ‘PARATODOS’ • Chico Buarque • Relançamento / edição especial vinil amarelo • Rocinante Três Selos • 2025
Canções / compositores
Lado A
1. Paratodos (Chico Buarque)
2. Choro bandido (Edu Lobo e Chico Buarque)
3. Tempo e artista (Chico Buarque)
4. De volta ao samba (Chico Buarque)
5. Sobre todas as coisas (Edu Lobo e Chico Buarque)
6. Outra noite (Luiz Cláudio Ramos e Chico Buarque)
Lado B
7. Biscate (Chico Buarque) | Participação de Gal Costa
8. Romance (Chico Buarque)
9. Futuros amantes (Chico Buarque)
10. Piano na Mangueira (Tom Jobim e Chico Buarque) | Participação de Tom Jobim
11. Pivete (Francis Hime e Chico Buarque)
12. A foto da capa (Chico Buarque)
– ficha técnica –
Chico Buarque (voz – fx. 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12; violão – fx. 3) | Gal Costa (voz – fx. 7) | Tom Jobim (piano, voz e arranjo – fx. 10) | Luiz Cláudio Ramos (violão – fx. 1, 2, 3, 4, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12; guitarra – fx. 1, 5, 7, 11, 12) | Jorge Helder (baixo elétrico – fx. 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 11, 12) | Luizão Maia (baixo elétrico – fx. 10) | João Rebouças (piano – fx. 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 9, 11; teclados – fx. 1, 3, 6, 7) | Leandro Braga (piano – fx. 8, 12; teclados – fx. 12) | Wilson das Neves (bateria – fx. 1, 7, 10, 11, 12; percussão – fx. 7, 9, 10, 11) | Jurim Moreira (bateria – fx. 4) | Chico Batera (percussão – fx. 1, 7, 11, 12; vibrafone – fx. 5) | Cidinho (percussão – fx. 1, 7, 11, 12) | Marçal (percussão – fx. 1, 7, 10) | Don Chacal (percussão – fx. 3, 12) | Jota Moraes (vibrafone – fx. 9) | Rildo Hora (realejo / gaita harmônica – fx. 1) | Dominguinhos (acordeon – fx. 1) | Orlando Silveira (acordeon – fx. 3) | Ubirajara Silva (bandoneón – fx. 2) | Franklin da Flauta (flauta – fx. 1, 2; flautas – fx. 6, 8, 9; clarone – fx. 6) | Marcelo Bernardes (flauta – fx. 1; flautas – fx. 11; clarinete – fx. 2, 3; sax tenor – fx. 5, 7; sax soprano – fx. 11) | Ricardo Pontes (sax alto – fx. 7) | Vittor Santos (trombone – fx. 4, 7) | Roberto Marques (trombone – fx. 10) | Paulinho Trompete (trompete – fx. 7, 12) | Zdenek Svab (trompa – fx. 9 | João Daltro (violino I – fx. 1) | José Alves (violino II – fx. 1) | Jesuína Noronha Passaroto (viola – fx. 1) | Alceu Reis (violoncelo – fx. 1, 2, 3, 8) | Cordas (fx. 6, 9) – Violinos: Paschoal Perrota (spalla); Aizik Meilach Geller; Antonella Lima Pareschi; Bernardo Bessler; Carlos Eduardo Hack; Carmelita Reis; Giancarlo Pareschi; José Alves; João Daltro; Léo Fabrício Ortiz; Paula Vianna Prates Barbato; João Jerônimo de Menezes Filho; Ricardo Amado; Michel Bessler; Walter Hack / Violas: Arlindo Figueiredo Penteado; Eduardo Roberto Pereira; Hindemburgo Vitoriano Borges Pereira; Frederick Stephany; Marie Christine Springuel; Jesuína Noronha Passaroto / Violoncelos: Iura Ranevsky; Alceu Reis; Márcio Mallard e Jaques Morelenbaum | Arregimentação de cordas: Paschoal Perrota (fx. 1, 6, 9) | Participações especiais: Tom Jobim na música “Piano na Mangueira” e Gal Costa na música “Biscate” | Produzido por Luiz Claudio Ramos e Vinicius França | Direção artística: Miguel Plopschi | Arranjos e regência: Luiz Claudio Ramos / exceto Tom Jobim em “Piano na Mangueira” | Técnicos de gravação e mixagem: Dalton Rieffel / exceto Claudio Farias em “Piano na Mangueira” | Técnico de masterização: Ricardo Essucy | Corte: José Oswaldo Martins | Edição e cópias: Dalmo Beloti | Coordenador de catálogo: Genilson Barbosa | Contra-regra: Vadinho | Secretária de produção: Elenes Teixeira | Capa: Gringo Cardia | Fotos: Adriana Pittigliani | Assistente de arte: Renato Ribeiro | Assistente fotografia: Carlos Araújo | Gravado e mixado nos estúdios Cia. dos Técnicos || Reedição Rocinante/Três Selos 2024 – Coordenação geral: João Noronha, Sylvio Fraga e Wladymir Jasinski | A&R: Márcio Rocha e Rafael Cortes | Coordenação gráfica: Mateus Mondini | Coordenação técnica: Pepê Monnerat | Coordenação de prensagem: Vinicius Crivellaro | Licenciamento: Daniel Moura e Joe Lima | Texto e edição de conteúdo: Bento Araújo | Comunicação e Marketing digital: Dayw Vilar e Tathianna Nunes (Pantim) | Adaptação gráfica: Bloco Gráfico e Pedro Caldara | Masterização: Pepê Monnerat | Selo: Rocinante Três Selos | Formato: LP / vinil amarelo | Ano: 2025 | Lançamento: janeiro | ♪Ouça o álbum: clique aqui | ♩As vendas começaram no dia 24 de janeiro, exclusivamente no site rocinantetresselos.com
——————-
Esta edição Rocinante/Três Selos é em vinil amarelo 180g, inclui encarte original com letras e encarte especial com texto do jornalista e escritor Bento Araujo, autor da série de livros Lindo Sonho Delirante.
‘PARATODOS’ • Chico Buarque
por Bento Araujo
Não tinha nada a ver com preguiça. Entre livros, roteiros, turnês, discos ao vivo, regravações e homenagens, era natural que Chico Buarque tivesse tempo de lançar apenas dois álbuns com canções inéditas naquela década de 1990. Paratodos saiu em 1993, As Cidades em 1998. No intervalo pouco usual de cinco anos entre esses trabalhos, Chico teve dois netos, escreveu dois livros, lançou um álbum de regravações (Uma Palavra) e foi enredo da Mangueira, além de estrelar o CD Chico Buarque da Mangueira, onde o próprio homenageado cantava ao lado de figuras icônicas da verde e rosa como Beth Carvalho, Alcione e Nelson Sargento.
.
“Calculo que uma música que faço hoje dá o mesmo trabalho de dez que eu compunha antigamente”, declarou o astro à revista Showbizz em 1998. O Chico dos anos 90 andava muito mais exigente consigo mesmo do que aquele das décadas anteriores — a ponto de alegar que as próprias canções autorais já finalizadas exerciam pressão para que o disco todo ficasse pronto, pois queriam “ser soltas, existir para o mundo”.
Voltando exatamente a 1993, o ano de lançamento de Paratodos, antes mesmo do álbum chegar às lojas a sensação já era de que aquele seria o ano que “Chico Buarque vai virar a mesa após uma entressafra musical que o levou a enveredar pela literatura e escrever seu primeiro romance, Estorvo”, conforme publicou a revista Qualis, que ainda fez questão de alertar: “o compositor dá sinais de que vai voltar a produzir e cantar canções”. No artigo, Chico explicava o seu processo de composição naquela altura de sua carreira: “As palavras numa canção eu escolho a partir da música. É uma parceria. A palavra não aparece antes da música e sim, depois, mesmo quando eu faço uma música sozinho. Nunca escrevi uma letra de música antes da música existir. Muitas vezes a palavra aparece antes mesmo do sentido da letra. Às vezes uma letra bonita começa por uma palavra, uma palavra que é puxada pela melodia. É muito comum os parceiros cantarem a música, e quase que existe uma onomatopeia no que eles cantam. Cada som muda uma palavra, essa palavra é a chave para o verso, que pode ser a chave para a letra toda”.
.
“Paratodos”, a música que abre o álbum homônimo, traz Chico cantando: “Meu maestro soberano / Foi Antônio Brasileiro / Quem soprou esta toada / Que cobri de redondilhas / Pra seguir minha jornada / E com a vista enevoada / Ver o inferno e maravilhas”. Citando Tom Jobim (cujo nome completo era Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, ou seja, o Antônio Brasileiro por excelência), Chico apresenta uma analogia entre sua vida, seus ancestrais e vários artistas brasileiros como o próprio Jobim e tantos outros como Dorival Caymmi, Jackson do Pandeiro, Ari Barroso, Vinicius de Moraes, Nelson Cavaquinho, Luiz Gonzaga, Pixinguinha, Noel Rosa, Cartola, Caetano Veloso, João Gilberto, Erasmo Carlos, Jorge Ben Jor, Roberto Carlos, Gilberto Gil, Hermeto Pascoal, Edu Lobo, Milton “Bituca” Nascimento, Nara Leão, Gal Costa, Maria Bethânia, Rita Lee, Clara Nunes etc.
A riqueza da música do Nordeste brasileiro marca presença na canção, principalmente o baião. Sobre a influência da música nordestina em sua música, o artista declarou para a Showbizz: “Na minha infância, na casa de meus pais se ouvia tudo da música brasileira, nordestina inclusive. É claro que o samba era o que mais tocava — ao lado da bossa nova. Foi o que me fez querer ser músico, mas volta e meia rolava um xote ou um baião. Um dos meus primeiros trabalhos semiprofissionais foi a trilha sonora da peça Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto. Para compor aquilo eu fui apresentado pelo escritor Roberto Freire, na época diretor do teatro, a um pesquisador, cujo nome esqueci, especializado em cultura nordestina. Ele me passou um monte de fitas, daquelas grandes, antes que existisse o cassete, com tudo da música nordestina. Um pouco daquilo que aprendi deve estar aflorando agora”.
.
Em menos de três minutos, “Paratodos” compilava algumas das principais características de Chico Buarque e sua arte de fazer canção popular para uma nova geração: o olhar, os múltiplos recortes, as personagens incorporadas, as citações, a empatia e os ritmos brasileiros. A mansuetude e a brandura que o artista imortalizou como algumas de suas características nas décadas anteriores continuavam implacáveis, até mesmo para a geração MTV, que agora assistia o clipe de “Paratodos” na emissora responsável por trazer algum senso de globalização aos jovens, felizes por contar pela primeira vez com um canal de TV que permanecia 24 horas no ar.
.
Com o primeiro disco autoral de Chico Buarque lançado naquela década de 1990, aquela garotada travava contato também com uma das parcerias mais prolíficas, prodigiosas e soberbas da música brasileira, aquela de Chico com Edu Lobo. Foram mais de 40 canções assinadas pela dupla e duas delas estão em Paratodos. “Choro Bandido” está entre as melhores criações da dupla e havia sido lançada originalmente na trilha da peça O Corsário do Rei (1985), em versão com Tom Jobim e o próprio Edu Lobo. “Sobre Todas as Coisas” havia pintado na trilha do musical O Grande Circo Místico, em versão de Gilberto Gil. Na biografia Edu Lobo: São Bonitas as Canções, de Eric Nepomuceno, Edu declarou: “Os trabalhos que fiz com Chico sempre foram bons demais para mim. Eu sempre adorei fazer as músicas, mandar para ele, esperar a letra.
Gostava sempre do que vinha. Eu via o Chico trabalhando e aprendi como ele trabalha, observando como insistia e insistia de novo. E quase obsessivo, e eu também sou meio obsessivo com o que faço. Então, um estabelecia o patamar do outro. Do mesmo jeito que eu nunca pedi para ele mudar nada em nenhuma letra, nas vezes em que eu quis mudar alguma coisa na minha música, ele resistia. Em mais de uma ocasião eu quis mudar algumas notas, e ele reclamava, dizendo que não tinha sido assim a música que havia recebido para escrever a letra. Dizia que se fosse daquele jeito que eu estava querendo fazer, ou seja, se fosse com aquela mudança, a letra também seria outra, ou a palavra seria outra”.
.
Paratodos também marcou época por trazer ilustres convidados especiais como Tom Jobim e Gal Costa. “Piano na Mangueira”, foi composta em referência à Estação Primeira de Mangueira, cujo samba enredo homenageou Jobim em 1992. Foi a última parceria entre Tom e Chico. “Biscate” expõe a complexidade, a dificuldade e as tensões de muitas das relações amorosas do povo brasileiro, através de sua letra repleta de metáforas e ironias abordando temas como infidelidade e ciúme – Chico no papel de homem da relação e Gal no papel de mulher foram apenas mais uma das irretocáveis sacadas do disco. Outras foram trazer parcerias de Chico com Francis Hime, em “Pivete”, e com Luiz Cláudio Ramos em “Outra Noite”.
.
Álbum excelso e de impacto na música brasileira do fim do século 20, Paratodos apresentava o Chico que o Brasil amava desde sempre em “Futuros Amantes”, “Romance”, “Tempo e Artista” e “De Volta ao Samba” — imbuído da sedutora descontração dos seus versos, além de leveza, ironia e inteligência comuns em sua trajetória lírica. No tema de encerramento, “A Foto da Capa”, Chico descreve com perfeição a situação exata que gerou a sua foto que ilustra a capa de Paratodos, um projeto gráfico assinado pelo próprio artista.
.
As fotos de perfil e de frente são do fichamento de Chico Buarque na polícia, em 1961, quando ainda menor de idade foi detido por praticar uma travessura comum à juventude transviada paulistana da época: roubar carros para passear pela cidade até que acabasse a gasolina. O caso foi parar no jornal Última Hora, que publicou uma foto do jovem Chico com um amigo e a seguinte manchete: “Pivetes Furtaram um Carro: Presos”. Segundo Zuza Homem de Mello, foi a primeira vez que Chico apareceu na imprensa. Seis anos mais tarde, ironicamente, a imprensa relatava a entrega do título de cidadão honorário paulistano ao ilustre pivete.
Projeto Rocinante Três Selos
A paixão pelo vinil une três grandes nomes do mercado nacional em uma colaboração inédita. A fábrica Rocinante, localizada em Petrópolis, agora prensará uma seleção exclusiva de discos a partir de novembro, em uma parceria com a Três Selos. Esta curadoria, licenciada pela própria Rocinante, conta também com a contribuição da Tropicália Discos, uma loja icônica do Rio de Janeiro com mais de 20 anos de expertise na divulgação da música brasileira.
.
Essas referências do mercado se unem para apresentar com excelência algumas das obras mais marcantes da música brasileira, incluindo nomes consagrados como Chico César, Gilberto Gil, Pabllo Vittar, Hermeto Pascoal, Novelli, Tulipa Ruiz, Céu, Baiana System, Barão Vermelho, Anelis Assumpção, Dona Onete, Alceu Valença, Os Orixás. Com um projeto gráfico inovador e utilizando as melhores prensas de vinil do país, essa parceria promete elevar ainda mais a música brasileira, celebrando sua riqueza e diversidade em cada lançamento.
>> Siga: @tres.selos | @rocinantetresselos | @fabricarocinante | @tropicaliadiscos
.
.
.
Série: Discografia da Música Brasileira / MPB / Canção / Álbum.
* Publicado por ©Elfi Kürten Fenske