Show de 78 de Renato Teixeira é lançado em álbum digital pelo Selo Sesc. Como parte do projeto Relicário, a apresentação traz canções célebres do compositor que é um dos símbolos da música caipira
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Estreando como compositor em 1967 no 3º Festival da MPB da TV Record com a marcha Dadá Maria, foi com Romaria, canção gravada em 1977 na voz de Elis Regina, que Renato Teixeira torna-se conhecido nacionalmente. A canção, que reafirma a identidade caipira e busca tirar o tom pejorativo do termo, foi posteriormente regravada por diversos outros importantes nomes, como Inezita Barroso, Chitãozinho e Xororó e Sérgio Reis.
É no ano seguinte, 1978, que o músico realiza no Sesc Consolação, então Sesc Vila Nova, o show que dá vida ao Relicário: Renato Teixeira (ao vivo no Sesc 1978). O álbum digital chega a público gratuitamente nas principais plataformas de streaming e no Sesc Digital em 29 de novembro.
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Nascido em Santos, o cantor e compositor encontrou em Taubaté, onde morou dos 14 aos 24 anos, a estrada que o levaria à sua história pela música caipira. Não fosse a mudança de cidade, talvez os caminhos do caiçara não teriam cruzado com as raízes sertanejas presentes no Vale do Ribeira. Trabalhando em uma rádio, foi que entrou em contato com grandes nomes como Tonico e Tinoco, Tião Carreiro e Vieira e Vieirinha.
O álbum é permeado pelos comentários de Teixeira sobre as canções e sobre a música caipira, além das brincadeiras e leveza entre os amigos tocando juntos no palco.
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Renato Teixeira é um compositor de mão cheia. Dono de letras que tocam em sentimentos universais, o músico consegue evocar à memória de quem ouve cenas inteiras, carregadas de emoção. O álbum abre com Sentimental eu fico, canção de 77, também gravada na voz de Elis. A melodia da viola característica da música caipira embala o início da canção, cuja letra nos transporta para as lembranças e reflexões de um homem em nostalgia, sentado à mesa de um bar. “Eu sou um lobo cansado carente / De cerveja e velhos amigos / Na costura da minha vida mais um ponto / No arremate do sorriso mais um nó”.
Do choro da viola em Viola malvada embarcamos na bem-humorada e sarcásticas Vira bosta, que vai de um alegre e vivo quintal no interior, onde plantando tudo dá, para outro oposto, em meio à cidade. “O meu quintal fica no centro da cidade / Quase do lado do Viaduto do Chá / Como se vê, o clima é bom e o ar é puro / Só falta é fazer um muro que é pro povo não me olhar”.
Sina de violeiro, de 79, gravada também por Sérgio Reis, relata de maneira épica a vida dura de um sertanejo e de sua família. É na música onde resta cantar as mágoas e transformar a dor em poesia. “Por isso mesmo amigo é que eu lhe digo / Não tem sentido em peito de cantor /Brotar o riso onde foi semeada / A consciência viva do que é a dor”.
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Madrasta, composta em parceria com Beto Ruschel, foi também defendida em mais um Festival da MPB da TV Record, desta vez pro Roberto Carlos. De maneira sutil, fala de sentimentos profundos pela que chega no lugar da mãe. “Minha madrasta bem vinda na varanda. / Onde me escondo dos medos / Na paz que ofereço a você. / Nossa casa, aceite o afeto”.
De maneira bucólica, Amora traz as lembranças do interior: a estrada, o pé de araçá, o quintal, a dor de um amor. “Sinto o coração flechado / Cercado de solidão / Penso que deve ser doce / A fruta do coração”. Em Canta moçada, de Tonico e Tinoco, Renato Teixeira enfatiza a beleza da canção e lamenta não ser conhecida como merece devido ao preconceito com relação à música caipira na época. A canção resgata de maneira nostálgica a lembrança de um baile da juventude. “Fim de baile, fim de noite / É começo de sofrer / No peito fica a saudade / De quem teve um bem querer”.
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Sobre os percalços da vida ao som da viola, Murro n’água narra a saga pela sorte. “Eu venho te perseguindo, sorte danada / Comendo o pó da miséria nessa empreitada / Às vezes te vejo longe, mas não vale nada / Se a gente não tá bem perto é dar murro n’água”. Em seguida, Antes que aconteça soa como um conselho para a vida. “Antes que aconteça da fera te pegar / Trate que pareça vontade de cantar / Nada muito igual ao ato de enganar / Aja como quem vai trabalhar”.
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“Sou caipira, pira, pora / Nossa Senhora de Aparecida / Ilumina a mina escura / E funda o trem da minha vida”. Fechando o álbum com maestria, Romaria, eternizada na voz de Elis foi a canção que marcou a carreira de Teixeira.
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“A proposta de Romaria era realmente mostrar essa, essa fusão da música caipira com a MPB. Eu nunca imaginei que a música fosse fazer o sucesso que fez. Foi feita sem intenção de se tornar uma canção tão popular quanto se tornou. Inicialmente eu quis fazer uma música sofisticada. A Elis foi importante porque quando ela se declarou caipira ela realmente jogou o preconceito que havia no chão e a gente pôde crescer com isso. Um grande momento”, completa Renato Teixeira.
DISCO ‘RELICÁRIO – RENATO TEIXEIRA AO VIVO NO SESC 1978’ • Renato Teixeira • Selo Sesc • 2024
Canções / compositores
1. Sentimental eu fico (Renato Teixeira de Oliveira)
2. Viola malvada (Renato Teixeira de Oliveira)
3. Vira bosta (Renato Teixeira de Oliveira)
4. Sina de violeiro (Renato Teixeira de Oliveira)
5. Madrasta (Renato Teixeira De Oliveira / Alberto Manoel Ruschel Filho)
6. Amora (Renato Teixeira de Oliveira)
7. Canta moçada (Alcides Felisbino De Souza / Cesar Durval Sampaio / Joao Salvador Perez)
8. Murro n’água (Renato Teixeira de Oliveira)
9. Antes que aconteça (Renato Teixeira de Oliveira)
10. Romaria (Renato Teixeira de Oliveira)
– ficha técnica –
Renato Teixeira (voz e violão) | Carlos Alberto de Souza, o Carlão (viola caipira) | Sergio Mineiro (violão e flauta) | Rodolpho Grani Junior (contrabaixo) | Oswaldinho do Acordeon (sanfona) | José de Ribamar Viana, o Papete (percussão) | Show gravado em 1978 no teatro Pixinguinha Vila Nova, hoje Sesc Consolação (São Paulo/SP)| Assessoria de imprensa: Sofia Calabria Y Carnero / Comunicação Selo Sesc | Selo: Sesc | Distribuição: Tratore | Formato: CD / Digital | Ano: 2024 | Lançamento: 29 de novembro | ♪Ouça o álbum: clique aqui | ♩SESC Digital: clique aqui.
Leia também
– Renato Teixeira: quando a música caipira encontrou a MPB, por Kamille Viola
– Relicário, por Renato Teixeira
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SOBRE RENATO TEIXEIRA
Renato Teixeira é cantor e compositor. Estreou como compositor em 1967, no 3º Festival da MPB da TV Record com a marcha “Dadá Maria” (1967), defendida por Gal Costa. No ano seguinte, compõe com Beto Ruschel a valsinha “Madrasta”, defendida por Roberto Carlos (1941) no 4º Festival da MPB. Com o grupo Água, ao lado de diversos músicos, como Oswaldinho do Acordeon (1954), Papete (1947), Nelson Ayres (1947) e Amilson Godoy (1946), gravou os LP’s como Álbum de Família de 1971 e Paisagem de 1973. Em 1977, com a gravação de “Romaria” por Elis Regina, torna-se um compositor nacionalmente conhecido e, desde então, lança diversos álbuns. Além da carreira artística, atualmente apresenta o programa Balaio na TV Cultura, ao lado de seu filho Chico Teixeira em que tem a proposta de apresentar a diversidade da música brasileira.
SOBRE RELICÁRIO
Relicário é um projeto permanente que reverbera a memória do Sesc São Paulo com registros do acervo da instituição que há mais de 70 anos tem na ação cultural o instinto de estimular a autonomia pessoal, a interação e contato com expressões e modos diversos de pensar, agir e sentir. A primeira etapa do projeto apresenta áudios de shows históricos realizados em unidades do Sesc em São Paulo nas décadas de 1970, 1980 e 1990, remasterizados e formatados como álbuns digitais. A série também oferece o contexto histórico de cada registro, através de textos, vídeos e fotografias. Saiba mais no site.
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A estreia do projeto aconteceu com o álbum Relicário: João Gilberto (Ao vivo no Sesc 1998), depois foi a vez de Relicário: Zélia Duncan (Ao vivo no Sesc 1997), em seguida Relicário: João Bosco (Ao vivo no Sesc 1978); depois Relicário: Adoniran Barbosa (Ao vivo no Sesc 1980); Relicário: Dona Ivone Lara (ao vivo no Sesc 1999).
SOBRE O SELO SESC
Desde 2004 o Selo Sesc traz a público obras que revelam a diversidade e a amplitude da produção artística brasileira, tanto em obras contemporâneas quanto naquelas que repercutem a memória cultural, estabelecendo diálogos entre a inovação e o histórico. Em catálogo, constam álbuns em formatos físico e digital que vão de registros folclóricos às realizações atuais da música de concerto, passando pelas vertentes da música popular e projetos especiais. Entre as obras audiovisuais em DVD, destacam-se a convergência de linguagens e a abordagem de diferentes aspectos da música, da literatura, da dança e das artes visuais. Os títulos estão disponíveis nas principais plataformas de áudio. Sesc Digital e Lojas Sesc. Saiba mais em: Link.
SOBRE O SESC SÃO PAULO
Com 77 anos de atuação, o Sesc – Serviço Social do Comércio conta com uma rede de 42 unidades operacionais com atendimento presencial e 4 unidades operacionais com atendimento não presencial no estado de São Paulo e desenvolve ações com o objetivo de promover bem-estar e qualidade de vida aos trabalhadores do comércio, serviços, turismo e para toda a sociedade. Mantido pelos empresários do setor, o Sesc é uma entidade privada que atua nas dimensões físico-esportiva, meio ambiente, saúde, odontologia, turismo social, artes, alimentação e segurança alimentar, inclusão, diversidade e cidadania. As iniciativas da instituição partem das perspectivas cultural e educativa voltadas para todas as faixas etárias, com o objetivo de contribuir para experiências mais duradouras e significativas. São atendidas nas unidades do estado de São Paulo cerca de 30 milhões de pessoas por ano. Hoje, aproximadamente 50 organizações nacionais e internacionais do campo das artes, esportes, cultura, saúde, meio ambiente, turismo, serviço social e direitos humanos contam com representantes do Sesc São Paulo em suas instâncias consultivas e deliberativas. Mais informações: clique aqui.
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Série: Discografia da Música Brasileira / MPB / Canção / Álbum.
* Publicado por ©Elfi Kürten Fenske