Capa do disco 'Ronaldo Miranda: Piano Concerto - Concertino - Horizontes - Variações Temporais' • Serie A Musica do Brasil • Eduardo Monteiro, Orquestra Filarmônica de Minas Gerais & Fabio Mechetti + Miranda em foto de Vania Laranjeira / Concerto.
Obras do compositor Ronaldo Miranda – Selo Naxos lança disco da série ‘A Música do Brasil’, com a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, sob regência de Fabio Mechetti e o pianista Eduardo Monteiro. Gravado entre 13 e 16 de fevereiro de 2023, na Sala Minas Gerais, sob a direção técnica de Ulrich Schneider, quatro peças do compositor Ronaldo Miranda, ‘Concerto para Piano e Orquestra’ (1983), ‘Horizontes’ (1992), ‘Concertino para Piano e Orquestra de Cordas’ (1986) e ‘Variações Temporais – Beethoven Revisitado’ (2014). Já disponível nas plataformas de música.
Concerto para Piano e Orquestra (1983)
Composto por encomenda da Osesp, o Concerto para Piano e Orquestra estreou em maio de 1983, no Teatro Cultura Artística, sob a regência de Eleazar de Carvalho, tendo como solista o próprio compositor. A obra se divide em três movimentos – Tenso, Grave e Lúdico – e foi escrita em linguagem livremente atonal, embora apoiada em padrões formais consagrados. O primeiro movimento – Tenso – se estrutura a partir da Forma Sonata, usada com liberdade e inovação. O Tema A é vigoroso e rítmico, com um perfil neo-bartokiano, mostrando o piano atrelado à percussão. O Tema B é lírico e melódico, com intervenções pontilhistas não previsíveis, que entrecortam e fragmentam propositalmente os elementos fraseológicos. O segundo movimento – Grave – exibe cordas vigorosas em fortíssimo e uníssono, contrastando com o instrumento solista em pianíssimo e cantabile. O modelo para inspiração foi o pathos do movimento lento do 4º Concerto de Beethoven para piano e orquestra. O terceiro tempo – Lúdico – tem o arcabouço formal de um Tema com Variações, essas bem contrastantes entre si. A Coda é explosiva e virtuosística, não fazendo prever o delicado pizzicato final.
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Horizontes (1992)
Obra vencedora do Concurso América 500 Anos, da UFRJ, Horizontes (1992) é um poema sinfônico em três movimentos que conta a viagem de Colombo ao Novo Mundo. O primeiro tempo – A Partida – mostra o estado de espírito inquieto do navegador e a agitação da partida. Pequenas células no trompete, entre glissandos da harpa, traçam uma imagem sonora das caravelas que partem mar adentro. O segundo movimento – A Espera – é um momento de calmaria e saudade da terra natal. A música é extremamente lírica, nostálgica e melódica, explorando em especial o naipe de cordas. Este movimento se insere, sem interrupção, no terceiro tempo – A Descoberta – que começa com um anguloso solo de clarineta, pontuado pelo vibrafone (a clarineta representa o pássaro que traz um ramo de folhas, anunciando a proximidade da terra firme). Segue-se um vigoroso fragmento minimalista que sugere a agitação e o estado de expectativa da tripulação e, na sequência, a célula do trompete no primeiro movimento retorna encorpada em tríades pelos metais. O texto musical final sugere a eloquência que sublinha a aparição do novo continente, cujos horizontes se descortinam aos olhos dos navegadores. Musicalmente, no decorrer da obra, convivem livre atonalismo, minimalismo e neo-tonalismo.
Concertino para Piano e Orquestra de Cordas (1986)
Obra escrita em 1986, por encomenda da Universidade Federal de Pernambuco, o Concertino estreou no Teatro Santa Isabel de Recife, sob a regência de Osman Gioia, e novamente com o autor como solista. Em apenas dois movimentos, com linguagem neotonal, a peça começa com um Allegro inicial enérgico e lírico, com frequentes mudanças de andamento. Ao contrário do Concerto para Piano (1983), aqui a textura não é mais vertical, homofônica e atrelada à percussão. Prevalecem escalas fluidas e a delicadeza de desenhos horizontais, em transparente diálogo do piano com as cordas. As variações de dinâmica, caráter e andamento desse primeiro movimento (Allegro) contrastam com a ininterrupta fluência do Allegreto final, que se apoia na Forma Rondó. Com um refrão (A) extremamente melódico, esse Allegretto conclusivo apresenta um primeiro episódio (B) com ares bartokianos e um segundo episódio (C) que nos remete à música de Astor Piazzolla. A estrutura ABACA se insere numa Coda brilhante e virtuosística.
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Variações Temporais (Beethoven Revisitado) (2014)
Encomendada pela Osesp, a obra estreou na Sala São Paulo em 2014, sob a regência de Marcelo Lehninger. Seu objetivo seria o de funcionar como um preâmbulo para a Sinfonia Pastoral, de Beethoven, mas os limites desse trabalho se expandiram para muito além dessa premissa. O título Variações Temporais passou a definir não apenas os fenômenos da natureza mas também o tempo musical. A peça foi além das tempestades e dos temas pastoris, ampliando o conceito de tempo para as estações do ano e as fases do dia, bem como mergulhando no universo beethoveniano camerístico. Dentro dessa temática, três sonatas do mestre de Bonn são brevemente citadas: Primavera, Aurora e Tempestade. No tema inicial, a estrutura musical é simples e a orquestração, singela. Do ponto de vista melódico-harmônico, o autor recria a linguagem de Beethoven, já com o embrião das obras a serem citadas. Nas variações, é a própria linguagem do compositor que aflora, tornando o discurso mais complexo e propositalmente mais tenso. Pontuando esse texto, alguns oásis surgem no horizonte sonoro: a bela melodia com que o violino inicia a Sonata Primavera; o segundo tema do primeiro movimento da Sonata Aurora; e o inciso principal – sinuosamente pianístico – do terceiro movimento da sonata A Tempestade. Técnicas de Beethoven – como os uníssonos em cânone numa das suas 32 Variações – também são utilizadas com a linguagem do autor. O procedimento técnico é por si só uma referência. A obra parte do clássico compasso quaternário para uma plêiade de ritmos e eclética sucessão de compassos: regulares, irregulares, simples e compostos. Juntamente com as fases da natureza, o fluir do tempo musical justifica e reitera o título desta obra: Variações Temporais – Beethoven Revisitado.
— Ronaldo Miranda —
Ronaldo Miranda nasceu em 1948 no Rio de Janeiro, onde estudou na Escola de Música da UFRJ com Henrique Morelenbaum (Composição) e Dulce de Saules (Piano). Intensificou seu trabalho como compositor a partir de 1977, quando obteve o 1º Prêmio no Concurso de Composição para a II Bienal de Música Brasileira Contemporânea da Sala Cecília Meireles, com a obra Trajetória, para soprano e conjunto instrumental. Ao longo de sua carreira, Ronaldo Miranda recebeu vários prêmios no Brasil e no exterior, citando-se entre eles o Troféu Golfinho de Ouro (1981), o Prêmio APCA (1982, 2006, 2013), a Ordem das Artes e das Letras do Ministério da Cultura da França (1984), o Concurso Internacional de Composição de Budapeste (1986) e o Troféu Carlos Gomes (2001). Suas obras têm sido executadas nas principais salas de concerto nacionais e internacionais. Muitas delas foram comissionadas por importantes instituições e solistas nacionais e estrangeiros, como o Ministério da Cultura do Brasil, Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Sala Cecília Meireles, Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Fundação Vitae, Funarte, Centro Cultural Banco do Brasil, Banda Sinfônica do Estado de São Paulo, Camerata Antiqua de Curitiba, Petrobras Sinfônica, Orquestra Filarmônica de Goiás, Organização dos Estados Americanos, Apollon Stiftung, Antonio Meneses, Towson University e Erik Westberg’s Vokalensemble. Ronaldo Miranda foi ainda crítico de música do Jornal do Brasil, Vice-Diretor do Instituto Nacional de Música da Funarte, Diretor da Sala Cecília Meireles, Professor de Composição da UFRJ e da USP. É membro da Academia Brasileira de Música.
Disco ‘Ronaldo Miranda: Piano Concerto – Concertino – Horizontes – Variações Temporais’ • Eduardo Monteiro, Orquestra Filarmônica de Minas Gerais & Fabio Mechetti • Selo Naxos Classics • 2025
— Série ‘A Música do Brasil’ (The Music of Brazil)
Músicas / compositor
Piano Concerto (1983)* | Ronaldo Miranda
1. I. Tenso
2. II. Grave
3. III. Lúdico
Horizontes (1992)* | Ronaldo Miranda
4. I. A Partida
5. II. A Espera
6. III. A Descoberta
Concertino para piano e cordas (1986) | Ronaldo Miranda
7. I. Allegro (enérgico)
8. II. Allegretto
9. Variações Temporais (Beethoven Revisitado) (2014)* | Ronaldo Miranda
– ficha técnica –
Orquestra: Orquestra Filarmônica de Minas Gerais | Maestro regente: Fabio Mechetti | Eduardo Monteiro – piano nas faixas 1–3, 7 e 8 | Gravado entre 13–16 fevereiro de 2023, na Sala Minas Gerais, Belo Horizonte/MG | Produção e edição: Ulrich Schneider | Engenheiro de gravação, mixagem e masterização: Ulrich Schneider | Texto: Ronaldo Miranda | Capa/arte (obra): Sem título (1990), de Amílcar de Castro (1920–2002) / Lithografia – foto de Leonardo de Castro / Cortesia do Instituto Amílcar de Castro | Selo: Naxos Classics | Cat.: 8.574591 | Formato: CD digital / físico | Ano: 2025 | Lançamento: 28 de março | ♪Ouça o álbum: youtube / spotify | ♩Disco físico: @loja_classicos
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Série: Discografia da Música Brasileira / Música Instrumental / Música de concerto / Álbum.
Publicado por ©Elfi Kürten Fenske
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