Álbum ‘Sinfonia dos Orixás • Pequenos Funerais Cantantes’ está disponível em todas as plataformas digitais. Lançamento da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo – Osesp pela série A Música do Brasil, que faz parte do projeto Brasil em Concerto – uma realização do selo Naxos em parceria com o Departamento de Difusão Cultural do Ministério das Relações Exteriores. O álbum ‘Sinfonia dos Orixás’ leva prêmio na categoria especial “Lançamento Erudito”, da 31ª edição do Prêmio da Música Brasileira – PMB 2024.
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Gravado na Sala São Paulo em fevereiro de 2022, este é o décimo quinto título da série A Música do Brasil e traz duas obras do compositor paulista Almeida Prado – que em 2023 completaria 80 anos – interpretadas pela Osesp e pelo Coro da Osesp, sob a regência do maestro britânico Neil Thomson: a Sinfonia dos Orixás e os Pequenos Funerais Cantantes – a segunda peça conta também com a participação dos solistas Clarissa Cabral (mezzo soprano) e Sabah Teixeira (barítono).
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A seleção de obras oferece um rico panorama da criação de José Antônio de Almeida Prado, que nasceu em Santos, no litoral paulista, em 1943, e morreu em São Paulo em 2010, e marcou seu nome como um dos mais influentes compositores brasileiros do século XX e início do XXI. O álbum Sinfonia dos Orixás • Pequenos Funerais Cantantes pode ser encontrado em edição física na Loja Clássicos, que está localizada dentro da Sala São Paulo (piso térreo), e em edição digital disponível nas mais diversas plataformas de streaming.
Sobre a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo – Osesp
Fundada em 1954, desde 2005 é administrada pela Fundação Osesp. Thierry Fischer tornou-se Diretor Musical e Regente Titular em 2020, tendo sido precedido, de 2012 a 2019, por Marin Alsop, que agora é Regente de Honra. Seus antecessores foram Yan Pascal Tortelier, John Neschling, Eleazar de Carvalho, Bruno Roccella e Souza Lima. Em 2016, a Orquestra esteve nos principais festivais da Europa e, em 2019, realizou turnê na China. Em 2018, a gravação das Sinfonias de Villa-Lobos, regidas por Isaac Karabtchevsky, recebeu o Grande Prêmio da Revista Concerto e o Prêmio da Música Brasileira. Em outubro de 2022, a Osesp estreou no Carnegie Hall, em Nova York, realizando dois programas – o primeiro como convidada da série oficial de assinaturas da casa, o segundo com o elogiado projeto Floresta Villa-Lobos.
Sobre a série A Música do Brasil
A série A Música do Brasil faz parte do projeto Brasil em Concerto, desenvolvido pelo Ministério das Relações Exteriores com o intuito de promover a música de compositores brasileiros criada a partir do século XVIII. Cerca de 100 trabalhos orquestrais dos séculos XIX e XX serão gravados pela Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo – Osesp e as Filarmônicas de Minas Gerais e de Goiás. Álbuns de música coral e de câmara serão gradualmente adicionados à coleção. Os trabalhos foram selecionados de acordo com sua importância histórica para a música brasileira e a pré-existência de gravações. A maior parte das obras registradas para a série nunca esteve disponível em fonogramas fora do Brasil; muitas outras terão sua estreia mundial em álbuns. Uma parte importante do projeto é a preparação de novas ou primeiras edições dos trabalhos que serão gravados, muitos dos quais, apesar de sua relevância, só estavam disponíveis no manuscrito do compositor. Este trabalho é feito pela Academia Brasileira de Música e por musicólogos trabalhando em parceria com as orquestras.
Texto de Carlos Fiorini* sobre o álbum
Almeida Prado (1943–2010)
Sinfonia dos Orixás • Pequenos Funerais Cantantes ao poeta Carlos Maria de Araújo
Nascido em Santos, em 1943, e falecido em São Paulo, em 2010, José Antônio Rezende de Almeida Prado foi um dos principais compositores brasileiros da segunda metade do século XX à primeira década do século XXI. Escreveu para diversas formações, com destaque para o piano, seu instrumento, mas conta também com incursões por uma gama que vai do violão solo à grande orquestra, passando pelo coro, diversos instrumentos solistas e música de câmara.
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A obra de Almeida Prado pode ser dividida em três grandes períodos. As peças de juventude, marcadamente nacionalistas, demonstram uma forte influência de Camargo Guarnieri, então seu professor de composição. O segundo período tem início em 1965, quando Almeida Prado rompe com Guarnieri e passa a absorver e utilizar as tendências da vanguarda europeia. Foram os anos em que conseguiu se projetar como compositor, principalmente após receber o primeiro prêmio do I Festival de Música da Guanabara, em 1969, com Pequenos Funerais Cantantes. Em seguida, mudou-se para Paris, onde estudou com Nadia Boulanger e Olivier Messiaen. A partir de 1983, tem início o terceiro período, em que o compositor passa a mesclar as técnicas e os elementos desenvolvidos anteriormente, em afinidade com as tendências vanguardistas, com elementos da música tonal e referências aos ritmos e modos da música brasileira, além de fontes religiosas, notadamente textos católicos e ritmos e melodias do candomblé.
Pequenos Funerais Cantantes ao poeta Carlos Maria de Araújo(1969) [20‘22”]
Pequenos Funerais Cantantes foi escrita para coro, solistas e orquestra, sobre o poema homônimo de Hilda Hilst. Embora Almeida Prado utilize uma ampla gama de instrumentos na formação orquestral, ele o faz a fim de criar timbres diversos – em momento algum ocorre um tutti. Versátil também é o emprego do coro para além da tradicional escrita coral, com elementos como o canto monódico, o estilo declamatório e sílabas entrecortadas por pausas e texto falado.
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A obra estrutura-se em três partes: “Corpo de Fogo”, “Corpo de Terra” e “Corpo de Silêncio”. A primeira é uma introdução instrumental que descreve sonoramente um voo de avião e sua queda, em referência ao acidente que vitimou o poeta português Carlos Maria de Araújo. “Corpo de Terra” é o título que Almeida Prado tomou emprestado da primeira metade dos poemas de Hilda Hilst. Desta, ele aproveita os seis primeiros dos sete poemas e os transforma em breves movimentos para esta parte central, que é a principal e a mais extensa da obra.
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Em “Corpo de Terra I” ouve-se, introduzido pelos sinos, um lamento em canto monódico entoado pelo coro, que faz referência à música litúrgica medieval. A última frase deste poema (“Assim te lembro”) anuncia a atmosfera do que vem a seguir. Os movimentos II a VI, com seus respectivos poemas, destacam diferentes facetas do poeta em seu sono eterno: dorme o pastor, … o inocente, … o profeta, … o cantor, … o amigo. De cada um, surgem universos sonoros únicos, forjados a partir de combinações timbrísticas entre coro e orquestra; apenas em “Corpo de Terra V”, o barítono solista substitui a formação coral. Após a mezzo-soprano finalizar o movimento central em um breve solo sem a orquestra, “Corpo de Silêncio” conclui a obra com poucos instrumentos: os violoncelos entoam a monodia de “Corpo de Terra I”, enquanto a música se extingue apenas com os toques do sino.
Sinfonia dos Orixás (1984–85) [49’56”]
Composta entre 1984 e 1985, por ocasião da comemoração dos dez anos da Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas, a Sinfonia dos Orixás foi construída originalmente em três movimentos: “Chamado aos Orixás (Ritual Inicial)”, “Manifestação dos Orixás” e “Ritual Final”. O corpo principal da obra é o movimento central, dividido em 17 partes, em que são ouvidos 15 cantos dos orixás e dois interlúdios. Apesar dessas divisões, a música transcorre sem interrupções do início ao fim. Muitos dos seus motivos melódicos e rítmicos foram baseados em pontos recolhidos por sua mulher, Helenice Audi, que frequentava um centro de umbanda.
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A visão de Almeida Prado sobre os orixás, segundo a qual para cada orixá há um santo correspondente, é carregada de sincretismo com o catolicismo, religião da qual era adepto. Com isso, deixou de incluir na obra Exu, pois, segundo os católicos, ele representaria o diabo. No entanto, para a crença iorubana, a invocação do Exu é fundamental para o rito, pois é ele quem faz a ligação entre os homens e os orixás. Assim, na estreia da Sinfonia, foi realizada uma improvisação com atabaques em homenagem a Exu, que foi autorizada pelo compositor e, cuja inclusão, permanece opcional nas execuções da obra.
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Se observada em sua estrutura geral, a Sinfonia dos Orixás assemelha-se a uma suíte, com um movimento introdutório e outro conclusivo. No entanto, a maneira como o compositor construiu o desenvolvimento temático da peça justifica a denominação de “sinfonia”. Dois temas principais dialogam por toda a obra. O tema dos orixás femininos surge de um motivo de três notas, entoado pelas trompas e trompetes logo no início do “Chamado aos Orixás”, e vai se construindo ao longo da Sinfonia. Já o tema dos orixás masculinos sofre o processo inverso: é apresentado como um tema completo pelo corne inglês em “Oxalá I” e se dilui até ser reduzido a apenas duas notas no “Ritual Final”.
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Fluem as melodias de fácil reconhecimento, que se sucedem e se sobrepõem, mas o destaque está na escrita rítmica e na ampla seção de instrumentos de percussão. O extenso movimento central apresenta uma grande variação de ambientes, como o sonoro “Obatolá”, o breve e quase estático “Ifá”, o pulsante “Ogum-Obá”, o lírico “Ibejí” e o dançante “Iansã”. “Manifestação dos Orixás” se encerra com o luminoso “Oxumarê”, preparando o “Ritual Final”. Nessa vibrante conclusão, os instrumentos entram em grupos: primeiro os metais, seguidos das cordas, da percussão e das madeiras. Cada um deles toca um motivo e o repete incessantemente, até que todos se encontrem em um brilhante e sonoro acorde, que encerra a Sinfonia.
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Separadas por duas décadas, essas obras são representativas de diferentes períodos criativos de Almeida Prado e apresentam estilos distintos, mas há um elo comum entre ambas: suas estruturas são tripartidas, com um corpo central extenso, ladeado por uma introdução e uma conclusão breves.
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*Carlos Fiorini
É regente e professor livre-docente do curso de regência do Departamento de Música da UNICAMP. Em 2004, apresentou a tese “Sinfonia dos Orixás de Almeida Prado: Um Estudo Sobre Sua Execução Através de uma Nova Edição, Crítica e Revisada”, em seu Doutorado, também pela UNICAMP.
ÁLBUM ‘José Antônio de ALMEIDA PRADO – SINFONIA DOS ORIXÁS – Pequenos funerais cantantes’ • série ‘A Música do Brasil • Selo Naxos • 2023
Regência Neil Thomson | Coro Sinfônico do Estado de São Paulo | Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo – OSESP | Solistas: Clarissa Cabral (mezzo soprano) e Sabah Teixeira (barítono)
– Pequenos funerais cantantes ao poeta Carlos Maria de Araújo (1969) – 20:22
– (sobre poema homônimo de Hilda Hilst, 1930–2004) –
1. Corpo de fogo
2. Corpo de terra I
3. Corpo de terra II
4. Corpo de terra III
5. Corpo de terra IV
6. Corpo de terra V
7. Corpo de terra VI
8. Corpo de silêncio
– Sinfonia dos Orixás (1984–85) – 49:56
9. Saudação a Exu
10. Chamado aos orixás – Ritual inicial
11. Manifestação dos orixás – 1. Obatolá – O canto do universo
12. 2. Ifá – O canto da adoração
13. Interlúdio I – As águas do Rio Níger
14. II. 3. Oxalá I – O canto da luz
15 II. 4. Xangô I – O canto das alturas e dos abismos
16. II. 5. Oxalá II – O jogo dos búzios
17. II. 6. Oxum – O canto dos lagos e dos rios
18. Interlúdio II – As águas do Rio Níger
19. II. 7. Ogum-Obá – A dança da espada e do fogo
20. II. 8. Ibejí – Cantiga para Cosme e Damião
21. II. 9. Omulum – O canto da noite e do mistério
22. II. 10. Oxalá III – O canto do amor e da alegria
23. II. 11. Oxosse-Ossãe – O canto das matas e florestas
24. II. 12. Iemanjá – O canto dos sete mares
25. II. 13. Iansã – O canto da paixão
26. II. 14. Xangô II – O canto das tempestades, raios e coriscos
27. II. 15. Oxumarê – O canto do arco-íris
28. III. Ritual final
– ficha técnica –
1-8 – Pequenos funerais cantantes ao poeta Carlos Maria de Araújo (1969). Música de José Almeida Prado para coro, solistas e orquestra, sobre o poema homônimo de Hilda Hilst || 9-28 – Sinfonia dos Orixas (1984-85). Música de José Almeida Prado || Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo – OSESP | Neil Thomson – regente | Clarissa Cabral – mezzo-soprano (fx.7) | Sabah Teixeira – baixo-barítono (fx.6) | Coro da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (fx. 2, 5, 7) || Produção, engenheiro de som e edição: Ulrich Schneider | Capa: Orixás (1966) – obra de Djanira (1914-1979) / Acervo Pinacoteca do Estado de São Paulo | Texto do encarte: Carlos Fiorini || Encarte – Tradução para inglês: Susannah Howe / Edição e revisão: Igor Reyner || Gravado em 14 e 16 de fevereiro e 10 e 11 de novembro de 2022, na Sala São Paulo – São Paulo/SP || Partituras disponíveis: 1-8 – Editora da Osesp (editora.osesp.art.br) // 9-28 – Tonos Music (tonosmusic.com) || Realização: Selo Naxos | Parceria: Departamento de Difusão Cultural do Ministério das Relações Exteriores | Formato: CD / Digital | Ano: 2023 || #* Ouça o álbum. clique aqui | * Compre: Loja Clássicos.
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> Imagem (capa da matéria): Capa do álbum ‘Almeida Prado – Sinfonia dos Orixás – Pequenos funerais cantantes’ | arte: Orixás de Djanira // Osesp com Coro da Osesp/Neil Thomson – foto: ©Laura Manfredini (novembro, 2022).
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Série: Discografia da Música Brasileira / Música instrumental / Música clássica / Música erudita.
* Publicado por ©Elfi Kürten Fenske
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