As oito idades da vida, segundo o psicanalista Erik Erikson. Qual é a sua?

“A evolução fez do homem um animal tanto ensinante como aprendiz, visto que dependência e maturidade são recíprocas; O homem maduro necessita ser necessitado e a maturidade é guiada pela natureza daquilo que deve ser assistido. A generatividade é, pois, de modo primordial, a preocupação em estabelecer e orientar a geração seguinte”
– Erik Erikson, em “Infância e Sociedade”. [tradução Gildásio Amado]. Rio de Janeiro. Zahar Editores, 1976, p.138.

A teoria de Erikson*

A teoria de Erikson foi criada pelo psiquiatra alemão Erik Homburger Erikson no séc. XX. Nessa teoria é valorizado o papel do meio social na formação da personalidade do indivíduo, a energia que orienta o desenvolvimento é psicossocial. Segundo Erikson, existem oito estágios psicossociais ou oito idades em que ocorre o desenvolvimento. Cada estágio ou idade atravessa uma crise entre uma vertente positiva e uma negativa. Um estágio está conectado ao outro, os primeiros influenciam os posteriores, sendo que os cinco primeiros estágios formam a identidade, e em todos os estágios existem conflitos para serem resolvidas, resoluções que influenciarão a vida futura.

“O campo do desenvolvimento humano concentra-se no estudo científico dos processos sistemáticos de mudança e estabilidade que ocorrem nas pessoas”
– Papalia, em “Desenvolvimento humano”. Porto Alegre: Artmed, 2006, p. 36.

Segundo Erikson, durante o ciclo vital construiríamos o que ele denomina plano de vida (Blend Images / Getty Images)
“Eu sou o que posso imaginar que serei”
– Erik Erikson

Vamos aos oito estágios psicossociais ou oito idades, segundo a teoria de Erikson:

O primeiro estágio – confiança/desconfiança (0 – 18 meses)

A idade em que a criança adquire confiança em si mesmo e no mundo ao redor, através da relação com a mãe. Se a mãe atende as necessidades do filho, a confiança está construída. Se não, medo, receio e desconfiança podem ser desenvolvidos pela criança. Virtude social desenvolvida: esperança.

O segundo estágio – autonomia/dúvida e vergonha (18 meses – 3 anos)

A contradição entre o que a criança quer fazer (impulso) e o que as normas permitem. A criança deve ser estimulada a fazer as coisas de forma autônoma, para não se sentirem envergonhadas. Os pais devem ajudar os filhos para terem vontade de fazer as coisas corretamente. Virtude social desenvolvida: desejo.

O terceiro estágio – iniciativa/culpa (3 anos- 6 anos)

Neste estágio a criança já tem a capacidade de distinguir as coisas que pode e as coisas que não pode fazer. Começando a tomar iniciativas, mas sem sentir culpa. A criança começa a assumir outros papéis, tendo noção de ‘outro’ e de individualidade, começando a se preocupar com a aceitação do seu comportamento. Virtude social desenvolvida: propósito.

“O pensamento é um tanto egocêntrico, mas aumenta a compreensão do ponto de vista dos outros. A imaturidade cognitiva resulta em algumas ideias ilógicas sobre o mundo. Desenvolve-se a identidade de gênero”
– Papalia, em “Desenvolvimento humano”. Porto Alegre: Artmed, 2006, p. 40.

O quarto estágio – indústria (produtividade) / inferioridade (6 anos- 12 anos)

A criança começa a se sentir como uma pessoa trabalhadora, capaz de produzir. A resolução positiva dos estágios anteriores é importantíssima, sem confiança, autonomia e iniciativa, não conseguirá se sentir capaz. O sentimento de inferioridade pode levar se sentir incapaz. Este é o momento de relações interpessoais importantes. Virtude social desenvolvida: competência.

O quinto estágio – identidade/confusão de identidade (adolescência)

Aqui se adquire a identidade psicossocial, o adolescente precisa entender seu papel no mundo e reconhecer sua singularidade. Há uma redefinição nos elementos de identidade já adquiridos. Algumas dificuldades desse período são: falta de apoio no crescimento, expectativas parentais e sociais diferentes, dificuldades em lidar com as mudanças, etc. Virtude social desenvolvida: fidelidade.

“Quando um jovem não consuma essas relações íntimas com outros – e, acrescentaria eu, com os seus próprios recursos internos – no final da adolescência ou início da idade adulta ele poderá procurar relações interpessoais sumamente estereotipadas e acabar retendo um profundo sentimento de isolamento. Se os tempos favorecerem um tipo impessoal de padrão interpessoal, um homem pode ir longe na vida e, entretanto, albergar um grave problema de caráter, duplamente penoso porque ele nunca se sentirá realmente ele próprio, embora todos digam que ele é “alguém”(…) Assim a consequência duradoura da necessidade de distanciamento é a presteza em fortificar o território próprio de intimidade e solidariedade e em ver todos os estranhos com uma fanática “supervalorização das pequenas diferenças” entre o familiar e o desconhecido”
– Erik Erikson, em “Infância e Sociedade”. [tradução Gildásio Amado]. Rio de Janeiro.
Rio de Janeiro. Zahar Editores, 1976, p.136.

O sexto estágio – intimidade/isolamento (25 anos – 40 anos)

É essencial estabelecer uma relação íntima durável com outras pessoas, caso não consiga estabelecer essa relação se sentirá isolado. Virtude sócia desenvolvida: amor.

“A condição física atinge o auge, depois declina ligeiramente. O pensamento e os julgamentos morais tornam-se mais complexos. São feitas escolhas educacionais e vocacionais, após um período exploratório. Traços e estilos de personalidade tornam-se relativamente estáveis, mas as mudanças na personalidade podem ser influenciadas pelas fases e acontecimentos da vida. São tomadas decisões sobre relacionamentos íntimos e estilos de vida pessoais, mas podem não ser duradouros. A maioria das pessoas casa-se e tem filhos”
– Papalia, em “Desenvolvimento humano”. Porto Alegre: Artmed, 2006, p. 41.

O sétimo estágio – generatividade/estagnação (35 anos – 60 anos)

A necessidade de orientar a geração seguinte, uma fase de afirmação pessoal no trabalho e na família. Podendo ser produtivo em várias áreas. Existe a preocupação com as gerações futuras, educando e criando os filhos. O lado negativo é que pode levar a pessoa a parar em seus compromissos sociais. Virtude social desenvolvida: cuidar do outro.

“As capacidades mentais atingem o auge, a especialização e as habilidades relativas à solução de problemas práticos são acentuadas. A produção criativa pode declinar, mas melhor em qualidade. Para alguns, o sucesso na carreira e o sucesso financeiro atingem seu máximo, para outros, poderá ocorrer esgotamento ou mudança de carreira. A dupla responsabilidade pelo cuidado dos filhos e dos pais idosos pode causar estresse. A saída dos filhos deixa o ninho vazio”
– Papalia, em “Desenvolvimento humano”. Porto Alegre: Artmed, 2006, p. 41.

O oitavo estágio – integridade/desespero (após os 60 anos)

É a hora da avaliação de tudo que se fez na vida, em caso de uma negação em relação ao passado, se sente fracassado pela falta de poderes físicos e cognitivos. O desespero para pessoas que acham o balanço de sua vida negativa e integridade para pessoas que sentem o balaço de sua vida positiva. Virtude social desenvolvida: sabedoria.

“Seja qual for o abismo a que as preocupações fundamentais possam conduzir os homens, (…) o homem, como criatura psicossocial, defrontar-se-á, no final de sua vida com uma nova edição da crise de identidade que poderíamos formular nas seguintes palavras: “Eu sou o que sobrevive de mim”. Das fases da vida, portanto, disposições tais como fé, força de vontade, determinação, competência, fidelidade, amor, desvelo, sabedoria – tudo critérios de força vital individual – também fluem para a vida das instituições. Sem elas, as instituições definham; mas sem que o espírito das instituições impregne os padrões de desvelo e amor, instrução e treino nenhuma força poderia emergir da sequência de gerações”
– Erik Erikson, em “Infância e Sociedade”. [tradução Gildásio Amado]. Rio de Janeiro. Zahar Editores, 1976, p.141.

“Ainda que envelheçamos muito, em nosso íntimo sentimo-nos exatamente os mesmos que éramos na juventude, ou melhor, na infância. Isso que permanece inalterado, sempre igual e que não envelhece com o passar do tempo é o cerne de nossa essência, que não reside no tempo e, justamente por essa razão, é indestrutível.”
– Arthur Schopenhauer, em “A arte de envelhecer”. [tradução Karina Jannini]. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2012, p. 61.

Erik Erikson – psicanalista

Breve biografia Erik Erikson

O psicanalista Erik Homburger Erikson, criador do conceito ‘crise de identidade’. Amigo e discípulo de Sigmund Freud, Erikson formulou a teoria do desenvolvimento emocional do ser humano, segundo a qual cada estágio da vida está associado a lutas psicológicas que ajudam a moldar a personalidade. Na sua teoria, a dinâmica da sociedade em que o indivíduo vive também é considerada influência determinante para a maneira como as mudanças emocionais são resolvidas. Erikson nasceu em Frankfurt, Alemanha. Foi professor em Viena, Áustria, numa escola dirigida por Anna Freud, filha de Sigmund. Refugiou-se do nazismo nos EUA em 1933. Ensinou em várias universidades dos EUA até estabelecer-se na de Harvard, uma das melhores do país, em 1960. O auge da fama de Erikson se deu nas décadas de 60 e 70, quando suas teorias foram usadas para ajudar a entender as mudanças sociais, em especial na juventude. Ele ajudou a consolidar o gênero literário da psicobiografia. A que escreveu sobre Gandhi lhe valeu o Pulitzer de 70.

“Vim da arte para a psicologia, o que pode explicar; ainda que não justificar, o fato de que às vezes o leitor me veja pintando contextos e cenários em ocasiões em que ele preferiria que assinalasse fatos e conceitos…”
– Erik Erikson, em “Infância e Sociedade”. [tradução Gildásio Amado]. Rio de Janeiro. Zahar Editores, 1976, p. 14.

Obras de Erik Erikson publicadas no Brasil

:: Infância e Sociedade. Erik Erikson. [tradução Gildásio Amado]. Rio de Janeiro. Zahar Editores, 1976.
:: Juventude, Identidade e crise. Erik Erikson. [tradução Álvaro Cabral]. 2ª ed., Rio de Janeiro: Editora Guanabara,1987.
:: O ciclo de vida completo. Erik Erikson. [tradução Maria Adriana Veríssimo Veronese]. Erik Erikson. Porto Alegre: Artes Médicas,1998.

Outras referências de pesquisa:
EVANS, R.I.. Diálogo com Erik Erikson. México: Fondo de cultura económica, 1976.
PAPALIA, D. E.. Desenvolvimento humano. Porto Alegre: Artmed, 2006.

SCHOPENHAUER, Arthur. A arte de envelhecer. [tradução Karina Jannini]. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2012.
SÊNECA, Lúcio Anneo. Sobre a brevidade da vida. [tradução de Lúcia Sá Rebello, Ellen Itanajara Neves Vranas e Gabriel Nocchi Macedo]. Porto Alegre: L&PM, 2010.

“Que tanto aflige os espíritos infantis que chegam a ela, despreparados e desarmados”
– Sêneca, em “Sobre a brevidade da vida”. Porto Alegre: L&PM, 2010, p. 47.

*Com informações do artigo publicado originalmente no Portal da Educação.

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