segunda-feira, novembro 4, 2024

Biblioteca mais antiga de São Paulo, no Mosteiro de São Bento

O coração de São Paulo abriga a biblioteca mais antiga da cidade, inaugurada em julho de 1598, é uma das mais antigas do país. A Biblioteca do Mosteiro de São Bento de São Paulo guarda um tesouro que contém parte dos maiores ensinamentos da humanidade. O acervo é conservada em amplas salas no segundo andar do histórico prédio localizado a poucos metros do local onde a metrópole nasceu.
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Em uma matéria do Uol, o portal descobriu que existem mais de 115 mil livros que são reunidos desde 1598, quando os primeiros monges começaram a trabalhar nessa biblioteca.

Os títulos da biblioteca do Mosteiro de São Bento estão disponíveis para consulta dos próprios monges, que têm a leitura como um de seus hábitos diários, e para os alunos da Faculdade de São Bento. O acesso ao ambiente da biblioteca, no entanto, é de claustro e restrito aos 40 monges beneditinos que lá vivem.
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O acervo conta com 581 títulos publicados entre os séculos 15 e 18, joias raras da coleção. Uma bíblia de Gutenberg, o pai da imprensa, é o livro mais raro do acervo da biblioteca de São Bento. Datada de 1496, cerca de cem anos antes de os monges chegarem ao Brasil, e quatro anos mais velha que o nosso país, a bíblia fica isolada em uma sala com umidade e temperatura controladas e acesso restrito às pessoas que conservam estas obras e a estudiosos.

Outros livros raros da coleção: um comentário da bíblia de 1500, uma bíblia em alemão de Lutero, de 1656, a enciclopédia “História Natural do Brasil”, de 1658, os tratados de Aristóteles, de 1607, Steganographia, do monge Johannis Trithemius, de 1676 e um antifonal – base para o canto gregoriano – de 1715. Os exemplares, impressos em latim, grego e alemão, estão bastante conservados também pela alta qualidade do papel usado na época.
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Uma das curiosidades sobre os exemplares mais antigos é que alguns  – como o comentário da bíblia de 1500 – usavam os antigos papiros como material de encadernação. O monge conta que existem lombadas mais valiosas do que as próprias obras que carregam. Como grande parte dos livros raros possuem edições mais recentes, as obras raras ficam restritas à conservação museológica.

Os primeiros registros da história dessa biblioteca são de 1750, quando as aquisições começam a aparecer em atas dos capítulos – nome dado às reuniões internas dos monges. Eram obras vindas da Europa, principalmente do antigo (hoje desativado) Mosteiro de São Martinho de Tibães, em Braga, Portugal.
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Na época entre os beneditino estava Frei Gaspar da Madre de Deus, considerado um dos primeiros historiadores de São Paulo.

Algumas imagens da biblioteca e de obras raras do acervo

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Mezanino da biblioteca do Mosteiro de São Bento, em São Paulo. Restrito aos monges, o local guarda cerca de 115 mil volumes e precisou ser ampliado para comportar a coleção que se iniciou em 1598 – foto: Junior Lago/Uol
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Vista geral da biblioteca do Mosteiro de São Bento, a mais antiga de São Paulo – foto: Junior Lago/Uol
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A biblioteca do Mosteiro de São Bento tem alguns livros raros em sua coleção. O mais antigo é uma bíblia de Gutenberg, de 1496, cerca de cem anos antes da chegada dos monges no Brasil. foto: Junior Lago/Uol
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Datado de 1500, um comentário da bíblia em latim tem a capa em couro e letras desenhadas à mão no início dos parágrafos – foto: Junior Lago/Uol
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Apesar de não ser o exemplar mais antigo, a bíblia de Lutero é um dos livros mais importantes guardado pelos monges do Mosteiro de São Bento, em São Paulo. O exemplar é datado de 1656. Martinho Lutero desafiou a Igreja na época ao traduzir a bíblia para o alemão, com o intuito de tornar a obras mais acessível. A tradução da bíblia do latim para o alemão foi um dos motivos para o início da Reforma Protestante, que propôs mudanças no catolicismo – foto: Junior Lago/Uol
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Trechos da bíblia de Lutero em alemão gótico. O exemplar de 1656 tem capa em couro com detalhes em ferro – foto: Junior Lago/Uol
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Apesar de ter as primeiras páginas deterioradas, o exemplar está bem conservado. Os livros mais raros ficam isolados dos outros volumes da biblioteca, em uma sala com controle de umidade e temperatura. Os próprios monges fazem a conservação do acervo – foto: Junior Lago/Uol

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A biblioteca do Mosteiro de São Bento, em São Paulo, também tem um exemplar datado de 1607 que reúne os tratados escritos pelo filósofo grego Aristóteles nos idiomas grego e latim – foto: Junior Lago/Uol

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A obra publicada em 1607 traz os pensamentos de Aristóteles em grego e latim, lado a lado – foto: Junior Lago/Uol
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Um antifonal de 1715 – que traz resumos de salmos da bíblia e é base para o canto gregoriano – também faz parte do acervo da biblioteca do Mosteiro de São Bento. Entre os exemplares raros, este é um dos mais bem conservados. A capa do antifonal é em couro de porco com detalhes em ferro. Segundo o monge responsável, o papel em que a obra foi impressa é de alta qualidade, por isso ele se mantém bastante conservado há 300 anos – foto: Junior Lago/Uol
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Um antifonal de 1715 – que traz resumos de salmos da bíblia e é base para o canto gregoriano – também faz parte do acervo da biblioteca do Mosteiro de São Bento. Entre os exemplares raros, este é um dos mais bem conservados. A capa do antifonal é em couro de porco com detalhes em ferro. Segundo o monge responsável, o papel em que a obra foi impressa é de alta qualidade, por isso ele se mantém bastante conservado há 300 anos – foto: Junior Lago/Uol
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Detalhe do antifonal de 1715 conservado pelos monges na biblioteca do Mosteiro de São Bento, em São Paulo. O livro é usado como base para o canto gregoriano – foto: Junior Lago/Uol

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A enciclopédia “História Natural do Brasil”, do médico e naturalista holandês Guilherme Piso. Datado de 1658, o exemplar traz os primeiros registros de fauna e flora brasileira, tudo em latim. foto: Junior Lago/Uol

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A enciclopédia de 1658, publicada apenas 158 anos após o descobrimento, também traz exemplares da flora brasileira. As ilustrações são do holandês Albert Eckhout. foto: Junior Lago/Uol

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Um exemplar do Alcorão também faz parte do acervo da biblioteca do Mosteiro de São Bento – foto: Junior Lago/Uol

“[…] pensara que todo livro falasse das coisas, humanas ou divinas, que estão fora dos livros. Percebia agora que não raro os livros falam de livros, ou seja, é como se falassem entre si. À luz dessa reflexão, a biblioteca pareceu-me ainda mais inquietante. Era então o lugar de um longo e secular sussurro, de um diálogo imperceptível entre pergaminho e pergaminho, uma coisa viva, um receptáculo de forças não domáveis por uma mente humana, tesouro de segredos emanados de muitas mentes, e sobrevividos à morte daqueles que os produziram, ou os tinham utilizado.”
– Umberto Eco, em “O nome da Rosa”. [tradução de Aurora Fornoni Bernardini e Homero Freitas de Andrade]. 2ª ed., Rio de Janeiro: Editora Record, 2010.

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A biblioteca no Mosteiro de São Bento, São Paulo – foto: Junior Lago/Uol

Os livros censurados do Mosteiro de São Bento
Biblioteca quatrocentona conta com títulos que já foram proibidos pela Igreja Católica
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Entre os cerca de 100 mil livros da preciosa biblioteca do Mosteiro de São Bento, no centro de São Paulo, há vários que já foram proibidos pela própria Igreja Católica. São obras que constaram do famigerado index, a lista de obras censuradas pelo Vaticano, que vigorou até 1966. “No jornal L’Osservatore Romano, edição de 15 de junho de 1966, foi publicado o decreto do papa Paulo VI, eliminando o index”, pontua o monge beneditino João Baptista, atual responsável pela biblioteca.

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O monge beneditino Dom João Baptista, produtor cultural e responsável pela biblioteca – foto: Junior Lago/Uol

A pedido do blog, Baptista destaca algumas dessas obras que existem no acervo do mosteiro (os comentários são dele):
Steganographia, 1676 de Johannes Trithemius.
Trata-se de uma curiosa obra que trata da ocultação de mensagens e dialoga com escritos esotéricos e códigos, algo como telepatia e hipnotismo na nomenclatura da atualidade. Esta é a obra mais importante do autor e também a mais controversa. Trithemius foi monge beneditino, abade de Sponheim. A obra foi escrita por volta de 1500, mas apenas impressa um século depois. Ao ser impressa já foi incluída no index pelo decreto de 7 de setembro de 1609.
Primeira tradução da Bíblia para o alemão, feita por Martinho Lutero.
Trata-se de uma edição luxuosa em couro e metal de 1656. A Igreja não permitia a tradução da bíblia, que só podia ser utilizada na versão latina chamada de Vulgata, feita por São Jerônimo.
Edições de O Príncipe de Maquiavel – todas do século 19.
Alguns volumes da Encyclopédie de Diderot, século 19. Algumas dessas escritas também por Voltaire e Montesquieu.
Edição do século 19 Du Contrat Social, de Rousseau.
Primeiras edições das obras de Sartre em francês.
Sermões do Mestre Eckhart, dominicano alemão do século 14.
Algumas de suas ideias foram condenadas pelo tribunal da inquisição. As obras no mosteiro estão em alemão e francês e são todas do século 20.
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Saiba mais sobre a biblioteca
Biblioteca do Mosteiro de São Bento de São Paulo

Fonte: Uol Entretenimento | Estadão São Paulo | São Paulo-Infoco


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