A exposição “A Alma do Mundo – Leonardo 500 anos”, abre no dia 24 de outubro com curadoria de Marco Lucchesi, presidente da Academia Brasileira de Letras, estudioso da obra do matemático, cientista, inventor, pintor, escultor, arquiteto italiano, uma das figuras mais importantes do Renascimento.
Para Helena Severo, presidente da Biblioteca Nacional, a exposição é uma oportunidade de a Biblioteca Nacional cumprir sua missão de democratizar o acesso ao acervo de uma instituição que é talvez a maior guardiã da cultura no Brasil, inserida entre as 10 maiores bibliotecas nacionais do mundo, e a maior da América Latina.
Lucchesi coloca na mostra o que há de melhor em Da Vinci, com ares contemporâneos: na matemática, o IMPA (Instituto de Matemática Pura e Aplicada) apresenta um vídeo da tela Monalisa que, movendo lentamente o rosto em movimentos baseados em princípios matemáticos de fluxos, se transforma em sapo, e depois em várias outras figuras. Fluxos têm relação com a hidráulica, tema de estudos de Leonardo.
O Instituto Fractarte, de São Paulo, leva dois vídeos de brilhantes explosões fractais, resultado de um cálculo de mais de 10 trilhões de sinais. “Essa explosão fractal é interessante porque Leonardo também imaginava uma espécie de fim de mundo, não necessariamente religioso; a grande destruição dos elementos para ele era o momento em que colocava os quatro elementos: água, fogo, terra e ar no comando da batalha de Anghiari, uma grande e fortíssima unidade, que organizava a própria natureza.
Do Museu de Ciência e de Vida da Universidade Federal do Espírito Santo vêm os fósseis plastinados, que colocam em evidência os estudos de anatomia do qual Leonardo foi exímio precursor e reconfigura, mais uma vez, a relação da arte com a ciência, “um enlace fundamental na obra do artista e no debate de um novo paradigma”, segundo Lucchesi. Um feto que Leonardo desenhou depois de te-lo visto dentro de uma mulher, um crânio, elementos reproduzidos através da plastinação e da pesquisa entram em diálogo com a obra de Leonardo.
Dentre as 70 obras do acervo da Biblioteca Nacional, entre gravuras, desenhos, e livros, todas trazidas por D. João VI em 1808 com a Biblioteca Real, recuperadas pelo laboratório de conservação e restauração da instituição, a peça forte é Divina Proportione”, de Luca Pacioli, com 60 ilustrações feitas por Leonardo dos sólidos platônicos: poliedros que têm o mesmo número de faces se encontrando em cada vértice: pirâmides, cubos, octaedros, dodecaedros e icosaedros. É um livro raro e curioso, marco da geometria renascentista. Pacioli foi professor de matemática, em torno de 1496, na corte do duque de Milão, Ludovico Sforza, onde conheceu Leonardo da Vinci, pintor e engenheiro da mesma corte. A obra contém um resumo sobre as propriedades da “proporção áurea”, com base nos teoremas de Euclides – as formas são mostradas tanto em esqueleto quanto em aspecto sólido. Trata-se da obra que mais exerceu influência no mundo da arte.
Um conjunto de leituras que fizeram a formação de Leonardo, de acordo com as listas nos códices de Madrid, das listas que o próprio Leonardo fez, livros que fizeram parte de sua biblioteca, de onde tirou suas ideias, aprendeu e cresceu. “É um material às vezes extremamente medíocre, com resultados extremamente geniais”, diz o curador.
“O gênio de da Vinci não se restringe aos maquinismos que projetou, mas a um método plástico e rigoroso: a poética do conhecimento radial, que ultrapassa escafandros e máquinas voadoras, segundo uma leitura feliz, que não distingue arte e ciência, como distantes comarcas. É antes a busca de uma via transversal, de um conteúdo plástico e crescente.
Em 1482, o duque de Milão encomendou a Leonardo da Vinci a construção de uma grande estátua para homenagear seu antecessor, Francesco Sforza, simpatizante de esportes equestres. Passaram-se 10 anos até que fosse concluído um cavalo de argila com sete metros, na verdade um molde para a estrutura de bronze. Oitenta toneladas da liga metálica foram acumuladas, mas com a ameaça de uma invasão francesa, o bronze e o molde de argila viraram material bélico.
O projeto então foi esquecido, mas 500 anos mais tarde, em 1977, um piloto aposentado e colecionador de arte, Charles Dent, soube do caso, fundou um instituto e angariou fundos para construir a obra inconclusa de Leonardo, chamada de “Gran Cavallo”.
Duas estatuas foram então erguidas, em Milão e no jardim de um milionário alemão, e mais tarde outras duas, uma na cidade natal de Charles Dent e outra na cidade natal de Leonardo, Achiano, na Italia.
Mas essa história acabou chegando ao Brasil. O advogado e poeta Diógenes da Cunha Lima, do Rio Grande do Norte, encomendou ao escultor Dalécio Damásio Mariz uma réplica do “cavalo” de três metros. O prefeito de Parnamirim instalou a escultura na cidade.
Marco Lucchesi foi então buscar uma pequena cópia em bronze e outra em fotografia, que serão mostradas na exposição Alma do Mundo – Leonardo 500 anos.
Duas reproduções de pinturas de Israel Pedrosa, cedidas pela família do artista Anunciação e Batalha de Anghiari; a espiral de Roberto Moriconi e o fabuloso passeio pela Grécia, de Wesley Duke Lee, dentro do helicóptero de Leonardo, são algumas das principais obra que estarão expostas na Biblioteca Nacional. Segundo Lucchesi, os trabalhos escolhidos dialogam de alguma maneira com Leonardo Da Vinci. Trabalhos de Pietrina Cecchaci, Ana Maria Maiolino, Angelo Venosa, Nazareno, Valtercio Caldas e Amador Perez também estarão presentes.
Endereço
Biblioteca Nacional
Rua México s/n
Centro, Rio de Janeiro/RJ
Abertura
24 de outubro
Visitas
Segunda-feira – 12h às 17h
Terça-feira a sexta-feira – 10h às 17h
Sábados – 10h30h às 14h30
Fonte: Biblioteca Nacional
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