O cantor e compositor Belchior, expoente da música popular brasileira por suas letras contestatórias, melancólicas e irônicas, morreu neste sábado aos 70 anos de acordo com os jornais O Povo e Diário do Nordeste, do Ceará, Estado natal do músico. As publicações dizem ter confirmado a informação com familiares, que não divulgaram a causa do falecimento em Santa Cruz, no Rio Grande do Sul. O governador cearense, Camilo Santana (PT), disse em nota de pesar que “o povo cearense enaltece sua história, agradece imensamente tudo que fez e pelo legado que deixa”.
Antonio Carlos Belchior será enterrado em Sobral, no interior do Estado, onde nasceu, segundo os jornais cearenses.
O compositor, autor de sucessos como Medo de avião, Velha roupa colorida e Apenas um rapaz latino-americano teve o auge da carreira nos anos 70, com discos próprios e gravações de intérpretes como Elis Regina, que transformou Como nosso pais, composta pelo cearense, em hino de uma época. Em 1976 gravaria o disco Alucinação,que o consolidaria no cenário musical nacional.
Trajetória
Na infância no Ceará, Belchior estudou piano e música coral, e trabalhou no rádio em sua cidade natal. Seu pai tocava flauta e saxofone, e sua mãe cantava em coro de igreja. Mudou-se em 1962 para Fortaleza, onde estudou Filosofia e Humanidades. Também chegou a estudar medicina, mas abandonou o curso em 1971 para se dedicar à música.
Começou apresentando-se em festivais pelo Nordeste. Depois do sucesso de “Mucuripe”, mudou-se para São Paulo, onde compôs trilhas sonoras para filmes e passou a fazer shows maiores e aparições em programas de televisão. Em 1974, lançou seu primeiro disco, “A palo seco”, cuja música título se tornou sucesso nacional e ganhou versões ao longo da história, como a de Oswaldo Montenegro e da banda Los Hermanos.
Outros artistas também regravaram sucessos de Belchior, entre eles Roberto Carlos (“Mucuripe”) e Erasmo Carlos (“Paralelas”), Engenheiros do Hawaii (“Alucinação”), Wanderléa (“Paralelas”) e Jair Rodrigues (“Galos, noites e quintais”). Elis Regina foi uma de suas maiores intérpretes: além de “Como nossos pais”, gravou “Mucuripe”, “Apenas um rapaz latino-americano” e “Velha roupa colorida”.
Em 1982, o cantor lançou “Paraíso”, que tem participações dos àquela época ainda jovens artistas Guilherme Arantes, Ednardo Nunes, Jorge Mautner e Arnaldo Antunes. Fundou sua própria gravadora e produtora, a Paraíso Discos, em 1983. Ao longo da carreira, Belchior teve mais de 20 discos lançados.
Turbulências e desaparecimento
Belchior enfrentou turbulências nos últimos anos, recluso e fora do palcos. Em 2009, ganhou as manchetes depois que sua ex-mulher contratou um advogado para cobrar supostas dívidas e pensão devidas pelo cantor. “Para a família, Belchior está sumido desde 2007”, calculava o advogado da ex-mulher de Belchior Leonardo Scatolini na TV, naquele ano. Belchior chegou a falar com o programa Fantástico, desde o Uruguai, informando que trabalhava no país em traduções da suas canções para o espanhol. “Sou um rapaz latino-americano.”
Mesmo cultuado, Belchior recusou os convites para voltar aos palcos. Nos últimos anos, se popularizaram no Ceará e em outras partes os dizeres “Volta, Belchior” em muros. No Carnaval deste ano, ele foi homenageado em blocos em São Paulo e em Fortaleza.
Ouça os 20 maiores sucessos de Belchior
Fonte: El País/ O Globo
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