LITERATURA

Chico Buarque é ganhador do Prêmio Camões de literatura 2019

Compositor é o primeiro músico a ser eleito pelo principal troféu literário da língua portuguesa
por Maurício Meireles | *Folha de S. Paulo

Chico Buarque é o novo vencedor do Camões, principal troféu literário da língua portuguesa, anunciou o júri na tarde desta terça-feira (21), após reunião na sede da Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro. Chico foi eleito por unanimidade e vai receber € 100 mil (R$ 452 mil).

Ninguém conseguiu ainda entrar em contato com o músico para dizer que ele foi o vencedor. Luiz Schwarcz, seu editor, Marieta Severo, sua ex-mulher, dois assessores e o júri do Camões estão desde 16h tentando contato com Chico —mas ele está em Paris para passar seu aniversário, que é em junho, e não atendeu as ligações.

O Camões, criado em 1988, elege todo ano um autor de qualquer país falante do português. A escolha é um reconhecimento da obra completa do autor, em vez de apenas a uma obra específica. O último brasileiro eleito havia sido Raduan Nassar, autor de “Lavoura Arcaica”, em 2016. No ano passado, o Camões foi para Germano de Almeida, escritor de Cabo Verde.

Em nota, o júri do troféu disse que escolheu Chico tanto pela qualidade de sua obra quanto pela sua “contribuição para a formação cultural de diferentes gerações em todos os países onde se fala a língua portuguesa”. Os jurados destacaram ainda o “caráter multifacetado” de seu trabalho, que passa pela poesia, o teatro e o romance. “Seu trabalho atravessou fronteiras e mantém-se como uma referência fundamental da cultura do mundo contemporâneo”, diz o júri, na nota.

Revela-Te, Chico – Uma Fotobiografia

Entre os autores que já ganharam, Chico é o primeiro que tem na música popular sua obra principal —Jorge Amado, que venceu em 1994, chegou a fazer composições com Dorival Caymmi, mas é mais conhecido por seus livros. O mesmo acontece com Ferreira Gullar, vencedor em 2010, que chegou a compor músicas de sucesso para Fagner —mas também é conhecido principalmente por sua obra poética.

“Evidente que esse prêmio é um reconhecimento pela poesia dele nas letras de música, que também são literárias, não só pelos livros. São poemas. Grandes poemas. A música ‘Construção’, por exemplo, é um poema até raro de se fazer”, diz o escritor Antonio Cicero, um dos membros do júri, ele também compositor.

Cicero argumenta ainda que o debate sobre se a canção é ou não um gênero literário já deveria estar encerrado.

“Os primeiros poemas ocidentais conhecidos, alguns dos melhores já feitos, que são os gregos, com os épicos de Homero e os líricos como os de Safo, eram poemas musicados. A palavra lírica vem de lira. A poesia lírica era toda cantada. Seria uma tolice pretender que a letra de música [não seja vista] como grande poema”, afirma.

Além de Antonio Cicero, participaram do júri Clara Rowland e Manuel Frias (Portugal), Antônio Carlos Hohlfeldt (Brasil), Ana Paula Tavares (Angola)​ e Nataniel Ngomane (Moçambique).

​Além de compositor de vários dos maiores clássicos da música brasileira, Chico também tem uma breve —mas premiada— obra literária. Seu último livro foi “O Irmão Alemão”, mas já publicou também “Budapeste” e “Leite Derramado”, entre outros.

O Camões parece se espelhar no Nobel de literatura, que, em 2016, deu o prêmio a Bob Dylan. Como no caso do troféu sueco, não será inesperado se a notícia agora fustigar um debate sobre se a canção pode ser tratada como gênero literário —e se honrarias do tipo estão corretas em premiar músicos.

SAIBA QUEM FORAM TODOS OS VENCEDORES DO CAMÕES:

1989 – Miguel Torga, Portugal

1990 – João Cabral de Melo Neto, Brasil

1991 – José Craveirinha, Moçambique

1992 – Vergílio Ferreira, Portugal

1993 – Rachel de Queiroz, Brasil

1994 – Jorge Amado, Brasil

1995 – José Saramago, Portugal

1996 – Eduardo Lourenço, Portugal

1997 – Artur Carlos M. Pestana dos Santos, o Pepetela, Angola

1998 – Antonio Cândido de Melo e Sousa, Brasil

1999 – Sophia de Mello Breyner Andresen, Portugal

2000 – Autran Dourado, Brasil

2001 – Eugênio de Andrade, Portugal

2002 – Maria Velho da Costa, Portugal

2003 – Rubem Fonseca, Brasil

2004 – Agustina Bessa-Luís, Portugal

2005 – Lygia Fagundes Telles, Brasil

2006 – José Luandino Vieira, Angola

2007 – António Lobo Antunes, Portugal

2008 – João Ubaldo Ribeiro, Brasil

2009 – Armênio Vieira, Cabo Verde

2010 – Ferreira Gullar, Brasil

2011 – Manuel António Pina, Portugal

2012 – Dalton Trevisan, Brasil

2013 – Mia Couto, Moçambique

2014 – Alberto da Costa e Silva, Brasil

2015 – Hélia Correia, Portugal

2016 – Raduan Nassar, Brasil

2017 – Manuel Alegre, Portugal

2018 – Germano Almeida, Cabo Verde

Fonte: *Folha de S. Paulo.

Revista Prosa Verso e Arte

Música - Literatura - Artes - Agenda cultural - Livros - Colunistas - Sociedade - Educação - Entrevistas

Recent Posts

O terror – uma crônica breve de Clarice Lispector

E havia luz demais para seus olhos. De repente um repuxão; ajeitavam-no, mas ele não…

4 dias ago

Memórias, um conto de Luis Fernando Verissimo

Estavam na casa de campo, ele e a mulher. Iam todos os fins de semana.…

4 dias ago

‘Não há sombra no espelho’ – um conto de Mario Benedetti

Não é a primeira vez que escrevo meu nome, Renato Valenzuela, e o vejo como…

4 dias ago

Negro Leo une desejo e tradição popular em novo álbum ‘Rela’

Um dos mais inventivos e prolíficos artistas de sua geração, cantor e compositor maranhense Negro…

4 dias ago

Guiga de Ogum lança álbum ‘Mundo Melhor’

Aos 82 anos, Guiga de Ogum, um dos grandes nomes do samba e da música…

4 dias ago

Espetáculo ‘A Farsa do Panelada’ encerra a temporada teatral no Teatro a Céu Aberto do Saquassu

“A Farsa do Panelada” com a missão de fazer o público rir através do texto…

4 dias ago