Bom Sucesso terminou sua jornada vitoriosa no horário das sete na noite de sexta-feira (24), na Globo. Escrita por Rosane Svartman e Paulo Halm, a novela levantou bandeiras de diversidade e fez uma ode à literatura e à educação – mensagens urgentes e certeiras para o Brasil de 2020.
O amor de Alberto (Antonio Fagundes) e Paloma (Grazi Massafera) pelos livros, o que consolidou a amizade entre eles, fez com que as obras citadas pelos personagens tivessem suas vendas impulsionadas fora da ficção. Já é um feito e tanto para o folhetim.
Desde a sua estreia, no dia 29 de julho de 2019, até o último dia, mais de 52 obras literárias, entre livros e poemas, foram citadas na novela ‘Bom Sucesso‘. Em sua maioria, são títulos clássicos, como “Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Carroll, “Romeu e Julieta”, de William Shakespeare, “Dom Quixote de La Mancha”, de Miguel de Cervantes, e o brasileiro “Dom Casmurro”, de Machado de Assis.
Mas a trama das sete, escrita por Rosane Svartman e Paulo Halm, também abriu espaço para autores mais jovens, como Geovani Martins e o escritor policial Raphael Montes. Além de Jorge Amado, Clarice Lispector, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa e outros grandes nomes da literatura também foram indicados pelo protagonista Alberto (Antonio Fagundes) ou apareceram em cenas da história que girou em torno da editora Prado Monteiro.
Antonio Fagundes se sente grato pelo bem-sucedido impacto de “Bom sucesso” nos hábitos de leitura do telespectador. Desde que a novela foi lançada, houve um aumento significativo na procura pelas obras comentadas na história. E Alberto, seu personagem na novela das 19h, tem grande responsabilidade sobre isso.
– Foi uma coincidência gostosa fazer um personagem que curte os livros como eu. Tanto Rosane Svartman como Paulo Halm, além dos outros colaboradores, foram certeiros porque levantaram trechos da literatura extraordinários e que tinham tudo a ver com a trama da novela. Noventa por cento do elenco já apreciam os livros, mas o bacana foi ver que o restante do pessoal que trabalha por trás das câmeras também se mostrou interessado. Por tudo isso e por termos virado grandes amigos, sinto um misto de alegria e tristeza ao chegar ao fim da novela – comenta o ator, de 70 anos.
Relembre os clássicos literários citados por Alberto (Antonio Fagundes) na trama das sete
Livros e poemas citados:
* Leia os poemas no final da matéria.
Raphael Montes, autor dos livros ‘Suicidas’, ‘Dias perfeitos’ e ‘Jantar secreto’, entre outros, também foi citado.
Qual é a importância de uma novela que tem a literatura como protagonista?
“Deveria ser política de estado, né? Incentivar as pessoas a ler é tão importante para a formação de todos… Tão bonito conseguir essa função social com um trabalho feito inicialmente para divertir. Tive um prazer enorme quando uma mãe levou o filho à minha peça. Ele tinha comprado todos os livros que indiquei no podcast (“Clube do Livro do Fagundes”, do Gshow, criado na esteira do sucesso da novela e que, depois de 21 programas, ganhará nova temporada).”
É verdade que mergulhou na leitura aos 6 anos, quando teve mononucleose?
Sim, isso mesmo. O primeiro clássico que li foi “Os miseráveis”. Nem tinha idade, mas alguém me passou por debaixo dos panos na escola. Me marcou muito.
Como você, fã de livros, avalia esse momento em que o conhecimento está sendo negado?
Não é só no Brasil, mas no mundo. Há uma tentativa de avanço das trevas. Mas como já disseram: “Não passarão”. Veja só, o livro que mais faz sucesso hoje é “1984”. Reflete a nossa atualidade e foi escrito em 1948. Tudo é cíclico.
:: Entrevista completa no AQUI!
É tempo de caminhar em fingido silêncio,
e buscar o momento certo do grito,
aparentar fechar um olho evitando o cisco
e abrir escancaradamente o outro.
É tempo de fazer os ouvidos moucos
para os vazios lero-leros,
e cuidar dos passos assuntando as vias,
ir se vigiando atento, que o buraco é fundo.
É tempo de ninguém se soltar de ninguém,
mas olhar fundo na palma aberta
a alma de quem lhe oferece o gesto.
O laçar de mãos não pode ser algema
e sim acertada tática, necessário esquema.
É tempo de formar novos quilombos,
em qualquer lugar que estejamos,
e que venham os dias futuros, salve 2020,
a mística quilombola persiste afirmando:
“a liberdade é uma luta constante”.
– Conceição Evaristo, em O Globo, 31/12/2019.
§§
Deus me abandonou
no meio da orgia
entre uma baiana e uma egípcia.
Estou perdido.
Sem olhos, sem boca
sem dimensões.
As fitas, as cores, os barulhos
passam por mim de raspão.
Pobre poesia.
O pandeiro bate
é dentro do peito
mas ninguém percebe.
Estou lívido, gago.
Eternas namoradas
riem para mim
demonstrando os corpos,
os dentes.
Impossível perdoá-las,
sequer esquecê-las.
Deus me abandonou
no meio do rio.
Estou me afogando
peixes sulfúreos
ondas de éter
curvas curvas curvas
bandeiras de préstitos
pneus silenciosos
grandes abraços largos espaços
eternamente.
– Carlos Drummond de Andrade, do livro “Brejo das Almas”. 1934.
§§
Vinham, louras, de preto
Ondeando até mim
Pelo jardim secreto
Na véspera do fim.
Nos olhos toucas tinham
Reflexos de um jardim
Que não o por onde vinham
Na véspera do fim.
Mas passam… Nunca me viram
E eu quanto sonhei afim
A essas que se partiram
Na véspera do fim.
.
10-4-1927
Poesias Inéditas (1919-1930). Fernando Pessoa. (Nota prévia de Vitorino Nemésio e notas de Jorge Nemésio.) Lisboa: Ática, 1956 (imp. 1990). – 74.
§§
A arte de perder não é nenhum mistério;
Tantas coisas contêm em si o acidente
De perdê-las, que perder não é nada sério.
Perca um pouquinho a cada dia. Aceite, austero,
A chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Depois perca mais rápido, com mais critério:
Lugares, nomes, a escala subseqüente
Da viagem não feita. Nada disso é sério.
Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero
Lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Perdi duas cidades lindas. E um império
Que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles. Mas não é nada sério.
– Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo
que eu amo) não muda nada. Pois é evidente
que a arte de perder não chega a ser mistério
por muito que pareça (Escreve!) muito sério.
.
The art of losing isn’t hard to master;
so many things seem filled with the intent
to be lost that their loss is no disaster.
Lose something every day. Accept the fluster
of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn’t hard to master.
Then practice losing farther, losing faster:
places, and names, and where it was you meant
to travel. None of these will bring disaster.
I lost my mother’s watch. And look! my last, or
next-to-last, of three loved houses went.
The art of losing isn’t hard to master.
I lost two cities, lovely ones. And, vaster,
some realms I owned, two rivers, a continent.
I miss them, but it wasn’t a disaster.
Even losing you (the joking voice, a gesture
I love) I shan’t have lied. It’s evident
the art of losing’s not too hard to master
though it may look like (Write it!) like disaster.
– Elizabeth Bishop, em “Poemas escolhidos — Elizabeth Bishop”. [seleção, tradução e textos introdutórios Paulo Henriques Britto]. 1ª ed., São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
*Com informações de F5 entretenimento. | O Globo
“Pequeno mapa do tempo” reúne duetos do cantor João Fênix com Jonna, Almério, Moreno Veloso,…
Álbum da poeta e letrista Lúcia Santos tem as participações de Anastácia, André Bedurê, Ceumar,…
O cantor e compositor Roger Resende antecipa seu novo EP com a intimista “Cavaco Madeira”.…
Single 'Cabra da Peste' anuncia novo álbum autoral de Fi Bueno, gravado com produção do…
A série, é uma adaptação da obra prima de Gabriel García Márquez “Cem Anos de…
Romântico e quente, novo trabalho abre as comemorações do aniversário de dez anos da banda…