LITERATURA

Cora Coralina “Feliz é o professor que aprende ensinando”

Exaltação de Aninha
(O professor)
.
Professor, “sois o sal da terra e a luz do mundo”.
Sem vós tudo seria baço e a terra escura.
Professor, faze de tua cadeira,
a cátedra de um mestre.
Se souberes elevar teu magistério,
ele te elevará à magnificência.
Tu és um jovem, sê, com o tempo e competência,
um excelente mestre.

Meu jovem Professor, quem mais ensina e quem mais aprende?
O professor ou o aluno?
De quem maior responsabilidade na classe,
do professor ou do aluno?
Professor, sê um mestre. Há uma diferença sutil
entre este e aquele.
Este leciona e vai prestes a outros afazeres.
Aquele mestreia e ajuda seus discípulos.
O professor tem uma tabela a que se apega.
O mestre excede a qualquer tabela e é sempre um mestre.

Feliz é o professor que aprende ensinando.
A criatura humana pode ter qualidades e faculdades.
Podemos aperfeiçoar as duas.
A mais importante faculdade de quem ensina
é a sua ascendência sobre a classe
Ascendência é uma irradiação magnética, dominadora
que se impõe sem palavras ou gestos,
sem criar atritos, ordem e aproveitamento.
É uma força sensível que emana da personalidade
e a faz querida e respeitada, aceita.
Pode ser consciente, pode ser desenvolvida na escola,
no lar, no trabalho e na sociedade.
Um poder condutor sobre o auditório, filhos, dependentes, alunos.
É tranqüila e atuante. É um alto comando obscuro
e sempre presente. É a marca dos líderes.

A estrada da vida é uma reta marcada de encruzilhadas.
Caminhos certos e errados, encontros e desencontros
do começo ao fim.
Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.
O melhor professor nem sempre é o de mais saber,
é sim aquele que, modesto, tem a faculdade de transferir
e manter o respeito e a disciplina da classe….

– Cora Coralina, em “Ainda Aninha…”, no livro “Vintém de cobre: meias confissões de Aninha”. 6ª ed., São Paulo: Global Editora, 1997, p. 151.

§§

“Sou espiga e o grão que retornam à terra.
Minha pena (esferográfica) é a enxada que vai cavando,
é o arado milenário que sulca.
Meus versos têm relances de enxada, gume de foice
e o peso do machado.
Cheiro de currais e gosto de terra.”
– Cora Coralina, trecho do poema “A gleba me transfigura”, do livro “Vintém de cobre: meias confissões de Aninha”. 6ª ed., Global Editora, 1996, p.109.

Saiba mais sobre Cora Coralina:
Cora Coralina – venho do século passado e trago comigo todas as idades
Cora Coralina (outros poemas)

Revista Prosa Verso e Arte

Música - Literatura - Artes - Agenda cultural - Livros - Colunistas - Sociedade - Educação - Entrevistas

Recent Posts

Mostra de teatro itinerante conscientiza crianças sobre a prevenção da dengue

Por meio da arte, a peça infantil “Vou daqui, vou pra lá, cada coisa em…

5 horas ago

Festival de teatro gaúcho “Porto Alegre em Cena” chega ao Rio de Janeiro com Caio Fernando de Abreu e Cassandra

O Festival Porto Alegre em Cena promove pela primeira vez os espetáculos Caio do Céu…

7 horas ago

Turnê | Nova Orquestra (RJ) homenageia Tim Maia com apresentações em Minas Gerais

Nova Orquestra, do Rio de Janeiro, desembarca em Minas Gerais para apresentar espetáculo inédito em…

8 horas ago

Maria Clara & JP apresentam espetáculo infantil “Brincar e Imaginar” no Qualistage

Em única apresentação no Qualistage, no sábado, 15 de março, o espetáculo infantil mais esperado…

8 horas ago

MIS SP | Notas Contemporâneas – Especial Jovem Guarda traz Wanderley Cardoso para bate-papo musical

Celebrando os 80 anos em 2025, o cantor e ator Wanderley Cardoso realiza bate-papo musical…

9 horas ago

Sesc Pinheiros | Dez anos do Baião de Spokens, com Arrigo Barnabé, Ava Rocha, Alzira E, Sombra

Baião de Spokens celebra década com Ópera Bárbara Tecnizada no Sesc Pinheiros. Espetáculo acontece no dia…

10 horas ago