Escrevi faz tanto tempo esse texto. Resolvi reescrevê-lo. Vocês se lembram? 2006. Zoológico australiano de Sunshine Coast, Austrália. Numa alta e estrelada quinta-feira morreu de fulminante infarto, Harriet, a “suposta colaboradora” de Charles Darwin em sua Teoria da Evolução. Até aos anos 60 ela era chamada de Tom (!!). Achavam que era macho. Será que Darwin também? O animal se recusava a cruzar com fêmeas, uffa, ainda bem, naquela época ainda não havia teorias conspiratórias e ogras de diversidade de gênero. Um especialista descobriu o erro e detalhe. E a partir daí, o teor da teoria pode ter errado em alguns “farejos”. E, consequentemente alterado muitas interpretações. A Ciência trabalha por eliminações e incertezas.
Outros duvidam das relações científicas entre Charles e Harriet. Muitos até negam o seu lugar de origem. Não importa. Simpática, a gigante tartaruga de Galápagos, com seus 175 anos, talvez a criatura mais antiga do planeta, se foi feliz. E legou lições.
A tartaruga simboliza o Primordial, a forma do mundo manifestado. Na África, de sua carapaça fazem um tabuleiro de xadrez simbolizando habilidade, sabedoria e poder. Ao recolher-se em seu casco, ela penetra em outro mundo: doméstico e místico. No Mundo Antigo a tartaruga era consagrada à Afrodite-Vênus por ser o símbolo da Fertilidade e por sua prole numerosa. Sua cabeça, de formato fálico, associava-se ao sempre teso e vitalista Pã, o deus insaciável pelas ninfas dos bosques.
Para os padres da Antiga Igreja, a tartaruga pantanosa simbolizava a baixeza dos prazeres carnais. De seu casco, Mercúrio, o menino-mito fez a sua primeira guitarra lírica. Com isto, a literatura cristã a absolve como instrumento de transmutação moral do pecado da carne através do espírito plangente.De cima, a tartaruga pode nos lembrar um rosto-ventral, a conjunctio Yang-Yin, unindo como siameses os dois sexos.
Nos túmulos chineses significava a Imortalidade. Devido a sua lentidão, a tartaruga traduz a evolução natural, em contraposição com a evolução espiritual. Também é o emblema do Tempo Longevo. Seu peso, contudo, simboliza estagnação e involução, a somatização da matéria, que acumula, concentra e afunda. Inverso à asa do espírito, que se abre, levanta e voa.
O barbudo cientista, além das interessantes formulações sistemáticas da Teoria da Evolução, tantas vezes mal compreendidas, ou posteriormente, mal explicadas, poderia também nos presentear com a “Teoria da Involução”; espécie de manual para nossa atual sobrevivência.
Dos aparentes vestígios de evolução sobraram apenas indícios. Tudo involui. Da impensável e imponderável Criação ao cretinismo teológico de vários segmentos, passando pelo pentecostal malafaniano até “cientistas cabeça-feita” do Criacionismo, “discretamente” tendencioso e racial. Aquela velha estória das superioridades competitivas, o deus de maior conta bancária e barras de ouro.
Existe mais involucionismo, que sentir sempre a falta do pior-anterior presidente em comparação ao pior-atual ? Ou existe mais involução, que o Brasil, de favelas a mansões, infestado de TVs e computadores; mas com 70 milhões de analfabetos nada analógicos porém alucinados digitais? Até as raposas velhas e novas da política local fingem na mídia não querer candidatar-se, já se mostrando em campanha. E quando assumem, sempre esquecem dos seus piores atos anteriores.
Envolvidos não se desenvolvem. Para nos desenvolvermos, não podemos nos deixar envolver. Regimes políticos, educacionais, religiosos e midiáticos “envolveram” e enferrujaram o nosso DNA, nos fazendo involuir para lugar nenhum. Toda evolução depende de uma devolução. No tempo-espaço e na memória – os preciosos, sacros e individuais valores da nossa vida – hoje, tão invalidados e desvalidos.
Tudo nos vem sendo tirado: objetos, saberes, aromas, lugares, memórias, livros, cidadania, músicas e paisagens transformados apenas em lembrança e matéria fósseis.
Na sequência de – frames – do filme da Evolução Humana, a projeção é inversa e o tempo corre ao contrário. Não viemos dos corcundas e barulhentos guinchadores primatas como teoriza Darwin. Estamos avançando em direção a eles, virando eles. Nós, os Neo-trogloditas.
Por isso se eu puder escolher na seleção natural das esperanças perdidas, a melhor forma de retroceder, pularei etapas na escala involutiva. Nada de planalto dos macacos. Quero voltar a ser novamente uma tranquila tartaruga, entre palmeiras, sombra e água fresca, revivendo-me na Ilha de Galápagos.
* Carlos Walker, ou simplesmente Wauke. Músico, Escritor e Astrólogo há 40 anos. Carlos Walker começa a cantar em 1969 através de Festivais no Brasil. Têm livros publicados e discos gravados.
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* Carlos Walker, ou simplesmente Wauke. Músico, Escritor e Astrólogo há 40 anos. Carlos Walker começa a cantar em 1969 através de Festivais no Brasil. Têm livros publicados e discos gravados.
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