O cinema iraniano guarda algumas das maiores pérolas do cinema internacional. Marcada por temas aparentemente intimistas, como a infância, a família ou a arte, a filmografia de diretores como Mohsen Makhmalbaf, Jafar Panahi, Asghar Farhadi e Abbas Kiarostami carrega um peso político muito forte e tem conseguido vencer barreiras e expandir seu discurso para muito além das fronteiras do Irã. Um dos grandes pontos da cinematografia iraniana é ir na contramão do “cinema-espetáculo” de Hollywood.
“O maior mérito da cinematografia iraniana é produzir filmes que tocam a alma humana, com simplicidade, por meio de histórias do cotidiano. Os diretores se inspiram na milenar tradição da poesia persa. O cinema é um instrumento de transformação e crítica social […] Os filmes retratam questões humanas que perpassam toda e qualquer civilização (justiça, solidariedade, sentido da vida e da morte, solidão, esperança, ética) e ainda revelam as contradições da sociedade iraniana e os problemas decorrentes das imposições morais”
– Graziela Cruz (jornalista e professora), no jornal ‘O Tempo’, 29.9.2015.
Conheça melhor esse cinema a partir de 15 títulos e apaixone-se:
A Separação | A Separation (Asghar Farhadi, 2011)
Um retrato da Teerã atual, através da história de um casal que se separa, pois a mulher quer imigrar e o marido quer ficar cuidando de seu pai doente. quando a mulher sai de casa, ele contrata uma cuidadora, com quem terá conflitos que acabarão num tribunal. vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro e outros 54 prêmios.
Close-Up | Nema-ye Nazdik (Abbas Kiarostami, 1990)
Um jovem cinéfilo, apaixonado pelo trabalho do diretor iraniano Mohsen Makhmalbaf acaba preso ao se fazer passar pelo famoso diretor e vai a julgamento, acusado por uma família rica de falsidade ideológica, roubo e extorsão. O estilo documental de Kiarostami se sobressai, recriando fatos reais com os próprios envolvidos. curioso notar o respeito que a população iraniana parece ter por seus cineastas, um povo culto.
A maçã | Sib (Samira Makhmalbaf, 1998)
A maçã baseia-se na história real de 2 garotas gêmeas que viveram trancadas dentro de casa por 12 anos, sem nenhum contato com o mundo exterior. A mãe é cega e o pai seguem o extremismo do antigo alcorão. Denunciados pelos vizinhos ao Serviço Social, um dia, são descobertas começando a readaptação das meninas ao novo mundo!
Filhos do Paraíso | Bacheha-Ye Aseman (Majid Majidi 1997)
Um menino humilde de 9 anos leva os sapatos de sua irmão para o reparo, mas os perde. por não terem recursos para comprar outro par, decidem esconder dos pais e professores, revezando o sapato do menino. até que surge uma competição de corrida na escola onde o terceiro prêmio é um par de tênis, o garoto treina e, para a sua decepção acaba tirando o primeiro lugar. singelo e comovente, um dos primeiros filmes iranianos a conquistar o mundo, sendo indicado ao Oscar.
Tartarugas podem voar | Lakposhtha parvaz mikonand (Bahman Ghobadi, 2004)
Dirigido pelo ótimo diretor curdo-iraniano, tem sua ação concentrada na fronteira entre Irã e Turquia, num assentamento curdo, massacrado pelos dois lados. lá vive um grupo de crianças órfãs mutiladas por minas terrestres e constantemente ameaçadas por ataques químicos. mas nenhuma delas age com auto-piedade, tentam sobreviver à dura realidade da melhor maneira. belíssimo filme, que deveria ser obrigatório para qualquer um que reclame de vida.
Gabbeh (Mohsen Makhmalbaf, 1996)
Uma tribo nômade do sudeste do Irã, cuja especialidade é tecer “gabbehs”, está morrendo, está a beira de extinção. O “gabbeh” é um tipo muito original de tapete persa – os motivos são altamente criativos, não existem dois iguais. Sua inspiração vem da vida das pessoas da tribo, dos lugares que atravessam, de suas paixões, etc. No banco de um rio, uma velha, que lava um gabbeh, conversa com o tapete e narra como um dos últimos gabbehs foi feito por uma jovem chamada Gabbeh.
O Balão Branco | Badkonake Sefid (Jafar Panahi, 1995)
Uma garotinha convence a mãe a lhe dar o pouco dinheiro que tem para comprar um peixe dourado gordo para as comemorações de ano novo. no caminho ela perde o dinheiro, mas não desanima, deparando-se com a solidariedade e também com a indiferença de várias pessoas. um filme singelo e comovente, com roteiro que Abbas Kiarostami fez como presente ao seu assistente em ‘Através das Oliveiras’, Panahi. vencedor da Camera d’Or em Cannes, como melhor filme de um diretor estreante.
Gosto de Cereja | Taste Of Cherry (Abbas Kiarostami,1997)Gosto de Cereja | Taste Of Cherry (Abbas Kiarostami,1997)
Vencedor da Palma de Ouro em Cannes, conta a história de um homem que percorre uma pedreira na periferia de Teerã, em busca de alguém em quem ele possa confiar um trabalho muito especial. as montanhas de terra e pedras parecem representar seu próprio cérebro e suas angústias. uma obra-prima do cinema, realizada por um diretor que merece uma lista só dele, com obras como ‘Close-Up’, ‘Através das Oliveiras’, ‘Onde Fica a Casa do Meu Amigo?’ e vários outros.
O Silêncio | Le Silence (Mohsen Makhmalbaf, 1998)
Khorshild é um garoto cego de 10 anos. Morando com a mãe em uma fronteira do Irã com o Tajiquistão, o jovem tem uma sensibilidade sonora muito aguçada, o que proporciona para ele um trabalho como afinador de instrumentos musicais. Todo dia ele pega o ônibus para ir ao trabalho e, quase sempre, se perde no meio dos sons da cidade, deixando seu chefe impaciente. Recebeu Medalha de Ouro do Senado Italiano no Festival de Veneza.
O apartamento | Forushande (Asghar Farhadi, 2016)
Emad (Shahab Hosseini) e Rana (Taraneh Alidoosti) são casados e encenam a montagem da peça teatral “A Morte de um Caixeiro Viajante”, de Arthur Miller. Um dia, eles são surpreendidos com o alerta para que eles e todos os moradores do prédio em que vivem deixem o local imediatamente. O problema é que, devido a uma obra próxima, todo o prédio corre o risco de desabamento. Diante deste problema, Emad e Rana passam a morar, provisoriamente, em um apartamento emprestado. É lá que Rana é surpreendida com a entrada de um estranho no banheiro, justamente quando está tomando banho. O susto faz com que ela se machuque seriamente e vá parar no hospital. Entretanto, é o trauma do ocorrido que afeta, cada vez mais, suas vidas.
Um instante de inocência | Nun va Goldoon (Mohsen Makhmalbaf, 1996)
Em Teerã, um ex-policial de seus 40 anos procura o cineasta Mohsen Makhmalbaf. Vem cobrar o cumprimento de uma antiga promessa. Dois anos antes, o diretor lhe prometeu um papel em seu próximo filme. Na verdade, o primeiro contato entre os dois homens deu-se muito antes, 20 anos atrás, em circunstâncias bem dramáticas. Era o governo do Xá Rheza Pahlevi. Mohsen, então com 17 anos, era um dissidente. Numa manifestação, apunhalou o policial, tentando tomar-lhe o revólver. Este defendeu-se atirando em Mohsen, que acabou preso e torturado. A Revolução Islâmica do aiatolá Khomeini muda todo o quadro político. Quinze anos depois do incidente, o mesmo policial, agora fora da força, candidatou-se a um papel em Salve o Cinema. Mas só dois anos depois é que isto acabou acontecendo. Então, o cineasta decide filmar o confronto entre os dois, desta vez usando atores. Não há vilões, nem heróis: só a tentativa de compreender dois pontos de vista opostos numa situação-limite.
O Jarro | Khomreh (Ebrahim Forouzesh, 1992)
Numa aldeia iraniana, no deserto, um grande problema se inicia quando o jarro que serve para guardar água para os alunos da escolinha local trinca. A comunidade descobre a solidariedade que os une na tentativa de resolver o problema.
A Cor do Paraíso | Rang-e Khoda (Majid Majidi, 1999)
Mohammad é um jovem estudante de oito anos que frequenta uma escola para cegos em Teerã. Sua impossibilidade de ver o mundo reforça mais ainda sua habilidade em sentir suas poderosas forças. Depois de um ano, ele volta à sua terra natal, um vilarejo no norte montanhoso do Irã, junto com seu pai, um carvoeiro viúvo.
Procurando Elly | Darbareye Elly (Asghar Farhadi, 2010)
Um grupo de casais vai passar o feriado na praia e entre eles um rapaz divorciado que acabou de voltar da Alemanha e uma desconhecida deles, que uma das mulheres quer apresentar. mas algo dá errado e a moça desaparece. a partir daí sua história começa a ser desvendada e todos começam a ficar mais preocupados com sua honra que com sua vida. outro excelente suspense de Farhadi, que domina essa estrutura com delicadeza ímpar.
Através das oliveiras | Zire Darakhatan Zeyton (Abbas Kiarostami, 1994)
Uma equipe de cinema chega a uma pequena cidade no norte do Irã, devastada por um tremor de terra, para realizar um filme. Hossein (Hossein Rezai) é contratado para ser o protagonista. Por acaso, a atriz que contracena com ele é Tahere (Tahere Ladanian), uma jovem por quem ele está apaixonado, mas que a família tinha recusado para o casamento. Enquanto ele diz todas as suas falas, Tahere permanece calada. O diretor descobre o amor platônico que Hossein sente por Tahere. Após algumas pressões, Tahereh aceita atuar normalmente e começa a cumprir seu trabalho. Mas não é fácil, ao menos para Farhad – na história que está sendo filmada, eles são recém-casados. Nos intervalos entre os takes, ele tenta de todas as maneiras obter uma resposta de sua amada. Entretanto, ela não parece muito interessada em responder.
A Casa é Escura | Khaneh siah ast (Forugh Farrokhzad, 1963)
Filme iraniano aclamado, descrito como um elemento-chave do gênero relacionado a trabalhos como o Hurd ou Freaks. O único trabalho do filme Forough Farrokhzad começa com a frase ” O mundo está cheio de feiúra. Ainda mais se o homem iria desviar o olhar. Indo ver na tela uma imagem de feiúra, um retrato do sofrimento, seria injusto ignorar ” e, em seguida, mostra, em uma matéria, poética, a vida em uma colônia de leprosos.
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