quinta-feira, fevereiro 20, 2025

Disco ‘Mundo Mecânico, Mundo Eletrônico’ do Cólera é reeditado pela Rocinante Três Selos

A banda punk Cólera, um dos maiores ícones da cena punk brasileira, tem seu clássico “Mundo Mecânico, Mundo Eletrônico”, reeditado em LP pela Rocinante Três Selos. O sexto disco do grupo ganha uma edição especial de vinil 180g, já disponível para pré-venda, no site Rocinante Três Selos.
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Com 15 faixas de pura energia e reflexão, “Mundo Mecânico, Mundo Eletrônico” não é apenas mais um disco. Através de suas letras objetivas e sonoridade única, o Cólera traz à tona uma reflexão crítica sobre temas atemporais como a música 1992 (mundo mecânico, Mundo eletrônico), que dá nome a esse álbum que foi lançado justamente em 1992, música essa que foi feita no início dos anos 80, tanto que sua primeira gravação foi no feita Split ao vivo no Lira Paulistana, junto com o Ratos de Porão, e já na época previa uma série de mudanças que a tecnologia faria em nossas vidas, Demonstrando as discordância, maledicência, reparo e reprimenda. Quanto as novas gerações que buscam se conectar com as raízes do punk e sua resistência.

Bento Araújo, jornalista e escritor, descreve o álbum com a intensidade que caracteriza a banda: “Canções que criam o cenário sonoro ideal para temas político-sociais que jamais envelhecem.” De fato, as músicas abordam questões universais e que tocam diretamente o cotidiano de uma sociedade marcada pela marginalização e pela luta.
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Com influências que vão do punk ao reggae, do rock ‘n’ roll ao rap, o Cólera apresenta um som único, batizado de FUCK’N ROLL, que mistura o melhor dos anos 90 e os estilos mais inovadores da época. O encarte original do disco, agora reproduzido fielmente nesta edição especial, traz um recado importante: “Agora, com 12 anos de atividades, a banda está lançando novo trabalho em vinil. É um LP com 15 agulhadas na consciência. São letras objetivas apoiadas num estilo de som característico dos anos 90, FUCK’N ROLL. Uma combinação de blues, rock ‘n’ roll, reggae, punk, rock, rap e thrash. Harmonia com peso ou velocidade melodiosa, IT’S FUCK’N ROLL!!!”

Além do vinil, a edição inclui uma reprodução do encarte original, pôster e um texto exclusivo de Bento Araújo, autor da série de livros Lindo Sonho Delirante, que compartilha sua visão sobre a banda e o impacto de Mundo Mecânico, Mundo Eletrônico.
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A tracklist do disco inclui hinos como “MDM”, “Suicídio Animal”, “George”, “Príncipes da Noite” e “Fuck!”, além das faixas que trazem a mesma energia rebelde e inovadora que marcaram a trajetória do Cólera desde sua formação.

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Capa do álbum ‘Mundo Mecânico, Mundo Eletrônico’ • Cólera • Selo Rocinante Três Selos • 2025

Disco ‘Mundo Mecânico, Mundo Eletrônico’ • Cólera • Selo Rocinante Três Selos • 2025
Canções / compositor (Redson Pozzi/Cólera)
Lado A
1A. 1.9.9.2.
2A. M.D.M.
3A. Shopping Boys
4A. Fuck!
5A. Dinheiro
6A. Volume pra Caixão / Jane
7A. O. com C.
8A. Príncipes da Noite
Lado B
1B. Suicídio Animal
2B. Sistema Odiável
3B. George
4B. Anor-mal
5B. Nervus
6B. Murder
7B. Fuck’n’Roll
– ficha técnica –
Cólera éPierre – bateria e vocal; Fabio – baixo e vocal; Redson – guitarra e vocal | Produção executiva: Francisco Domingos de Souza | Gravado e mixado no Estúdio Guidom (24 canais) de junho a agosto de 1991 – São Paulo | Técnico e coordenador musical: Edielson | Produção técnica e mixagem: Redson, no Estúdio Guidom | Desenho da capa e contracapa: Marcel | Desenho “Cabeça”: Ulisses | Assessoria fonográfica: Paralelo’s | Lançamento original: Devil Discos – Cat.: FDS030 Set/ 1992 | Remasterizado por Arthur Joly em 2016, EAEO Records || Edição Rocinante/Três Selos 2025Coordenação geral: João Noronha, Sylvio Fraga e Wladymir Jasinski | A&R: Márcio Rocha e Rafael Cortes | Coordenação gráfica: Mateus Mondini | Coordenação técnica: Pepê Monnerat | Coordenação de prensagem: Vinicius Crivellaro | Licenciamento: Daniel Moura e Joe Lima | Texto e edição de conteúdo: Bento Araújo | Comunicação e marketing digital: Dayw Vilar e Tathianna Nunes (Pantim) | Adaptação gráfica: Bloco Gráfico e Pedro Caldara | Selo: Rocinante Três Selos | Cat.: R3072 | Formato: | Ano: 2025 | Lançamento/reedição: 11 de fevereiro | Ouça o álbum: clique aqui | Pré-venda no rocinantetresselos.com  / envio a partir de 10/3

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‘Mundo Mecânico, Mundo Eletrônico’ • Cólera • Selo Rocinante Três Selos • 2025

TEXTO DE BENTO ARAUJO
“O que torna alguém punk?” Foi a pergunta direcionada ao líder do Cólera pela principal publicação de música do Brasil naqueles anos 80, a Bizz. O guitarrista, letrista, vocalista e compositor paulistano Edson Lopes Pozzi, o Redson, respondeu na lata: “O que torna alguém punk é a vida que você vai levando desde pequeno, repressão sexual, falta de liberdade dentro de casa, repressão escolar… Você nasce, vê o mundo e acha bonito. Mas aí você vai crescendo e vai aparecendo um monte de coisa que vai te deixando chocado. Aí você fala: ‘Nossa! O mundo é assim?’ Aí você vai se identificando com o lado da vida mais pesado. Você vai vendo que a vida que você vai levar desde a sua adolescência até o resto da vida vai ser um negócio mais punk do que fechar os olhos para toda esta realidade”.
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Se tem algo que Redson, Pierre e Val jamais fizeram foi fechar os olhos diante da realidade que os cercavam. Desde os primórdios do movimento punk no Brasil, lá estava o Cólera no meio do furacão: em 1982 participam da pioneira compilação Grito Suburbano (com Inocentes e Olho Seco) e do festival O Começo do Fim do Mundo, no SESC Pompéia, um marco do início do movimento no Brasil. Nos anos seguintes marcaram presença em compilações seminais do punk brasileiro como SUB (1983) e Ataque Sonoro (1985), além de lançarem o split Cólera e Ratos de Porão Ao Vivo (1985) e o primeiro LP completo do grupo: Tente Mudar o Amanhã (1985).
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Em 1986 lançam seu álbum definitivo, Pela Paz em Todo Mundo, que contém diversos hinos imortais do punk nacional e continua insólito, surpreendente, vigoroso e relevante. É um manifesto ideológico de angústia e existencialismo juvenil do tipo que o Brasil ainda não havia experimentado em disco. O LP foi um sucesso, algo até então inédito no underground brasileiro, vendendo milhares de cópias.
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A repercussão chegou na Europa, onde o Cólera excursionou no ano seguinte, tornando-se a primeira banda independente brasileira a realizar uma grande excursão pelo velho continente. A ideia original era fazer 18 apresentações, mas a aceitação foi tamanha que o Cólera passou cinco meses em tour pela Europa, realizando 56 shows no total, em nove países diferentes. Até a grande imprensa se rendeu, como o Estadão, que deu a capa de seu Caderno 2 à banda, com a manchete: “Epidemia de cólera na Europa”.

Com a proposta de levar o punk e a mensagem de paz do disco às massas, o Cólera seguiu excursionando e gravando. Em 1988 lançam um disco ao vivo registrado na tour europeia, European Tour ‘87 (pela A.Indie Records), e vão para a Devil Discos, selo independente que soltou os próximos LPs do trio, entre eles Verde, Não Devaste (1989) e Mundo Mecânico, Mundo Eletrônico (1992). No contrabaixo, algumas mudanças: Val deixa o Cólera e é substituído por J.B., que logo deixa o posto para Fábio Bossi.
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É com Redson, Pierre e Fábio que o Cólera grava Mundo Mecânico, Mundo Eletrônico, o primeiro disco do grupo lançado na década de 1990. No documentário Redson nos Tempos do Cólera, de Sandro Neiva (Pervitin Filmes), Redson fez um comentário importante sobre o conceito de Mundo Mecânico, Mundo Eletrônico: “Nós já tínhamos um repertório muito legal, voltado novamente para uma quebra de formatos, criado para um disco mais garage, com guitarra trazendo aquela distorção de saturação das válvulas. O que a gente sentisse de rock ‘n’ roll no estúdio, que desse no sangue o tesão de gravar, a gente já gravava ali mesmo. Enfim, foi assim o Mundo Mecânico, Mundo Eletrônico… Já é um disco que tem uma linguagem mais garage, uma mistura de hip hop com punk, rhythm and blues e outras possibilidades, como reggae”.
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O disco abre com “1.9.9.2.”, uma composição antiga de Redson que havia batizado uma demotape lançada pelo Cólera em 1984 e que também abria o primeiro LP completo do grupo: Tente Mudar o Amanhã (1985). No documentário Redson nos Tempos do Cólera o guitarrista e vocalista comenta como surgiu “1.9.9.2.”: “Escrevi essa música porque um dia eu comecei a pirar olhando calculadoras, eletrônicos e computadores. Pensei, ‘olha que negócio doido né meu? O homem vai inventando coisas e de repente irá inventar um cérebro e máquinas que falam’. Comecei a pirar na ideia dessa possibilidade… Não sei se foi uma onda quântica do futuro que passou e eu captei, pois escrevi sobre algo que viria a acontecer. Achei tão fatal a coisa que decidi que o álbum teria que chamar 1.9.9.2. Mundo Mecânico, Mundo Eletrônico e sair no ano de 1992, que foi o que aconteceu”.
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Depois de apostar na temática ecológica de Verde, Não Devaste, Redson passou a escrever sobre as realidades de personagens do cotidiano dos grandes centros urbanos, como em “George”, “Príncipes da Noite” e “Suicídio Animal”. Essa última narra a história de uma prostituta que acaba tirando a própria vida em meio à solidão e aos vícios — na parte musical, pitadas de reggae e dub. Um sacrilégio para o punk de outros tempos, mas totalmente no contexto de pluralidade dos anos 90.
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No encarte original do disco, aqui fielmente reproduzido, o Cólera avisava: “Agora, com 12 anos de atividades, a banda está lançando novo trabalho em vinil. É um LP com 15 agulhadas na consciência. São letras objetivas apoiadas num estilo de som característico dos anos 90, FUCK’N ROLL. Uma combinação de blues, rock ‘n’ roll, reggae, punk, rock, rap e thrash. Harmonia com peso ou velocidade melodiosa, IT’S FUCK’N ROLL!!!”.

Algumas dessas novas influências surgem também em “Shopping Boys”, uma divertida e cáustica análise sobre o consumismo juvenil, com Redson cantando “Ontem fui ao shopping / Onde desfilam alguns boçais / Haviam mil babacas achando-se os tais / Uns tem muita grana / E a cabeça oca / Outros não tem nada / E tentam imitar / Mas todos peidam / Todos tem bunda / Todos arrotam / E tem chulé. Já “Sistema Odiável”, “Anor-mal”, “Nervus”, “Murder” e “Fuck’n’Roll” são punk rock no melhor estilo Cólera de sempre.
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A revista Rock Brigade não foi nada elogiosa em sua resenha sobre Mundo Mecânico, Mundo Eletrônico: “O Cólera deixou de lado em definitivo aquele seu característico punk/hardcore. O que vemos hoje é um rock’n’roll simples com letras pseudo-punk. Algumas influências funk foram incorporadas (ouça ‘Shopping Boys’), o que torna esta metamorfose ainda mais radical. Os músicos estão bem maduros, mas o estilo decepciona sobremaneira os velhos fãs. O mais justo seria mudarem o nome do grupo para ‘Cólica’ ou algo do tipo”.
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“Sobreviveremos à nossa neurose, às nossas máquinas, aos nossos preconceitos? Sobreviveremos à nossa insignificância perante a estupidez nuclear?” As perguntas de Redson continuam sem respostas, o que encoleriza Mundo Mecânico, Mundo Eletrônico como um compêndio definitivo de temas velozes, corrosivos, pubescentes e sarcásticos. Canções que criam o cenário sonoro ideal para temas político-sociais que jamais envelhecem em meio a tópicos como rejeição, discordância, maledicência, reparo e reprimenda. IT’S FUCK’N ROLL!!!
“Mundo Mecânico, Mundo Eletrônico”
Cólera
Por Bento Araujo

Projeto Rocinante Três Selos
A paixão pelo vinil uniu, em novembro de 2023, três grandes nomes do mercado nacional em uma colaboração inédita: a fábrica Rocinante, localizada em Petrópolis, a Três Selos, renomada por sua seleção especial de lançamentos em vinil, e a Tropicália Discos, uma loja icônica do Rio de Janeiro com mais de 20 anos de expertise na divulgação da música brasileira.

> Siga: @colera.banda | @rocinantetresselos

Série: Discografia da Música Brasileira / MPB / Canção / Rock / Punk / Álbum.
* Publicado por ©Elfi Kürten Fenske


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