LITERATURA

‘E por isso não perguntai: Por quem os sinos dobram; eles dobram por vós’ – John Donne

John Donne (1572-1631) foi um dos maiores poetas de língua inglesa. Incompreendido na sua época, esquecido por muitos séculos, é hoje reverenciado e lido em todo o mundo. Sua obra serviu de inspiração para muitos outros poetas além do seu tempo.

Foi a partir de um belíssimo texto de John Donne, que o escritor norte-americano Ernest Hemingway, encontrou inspiração para o título do seu romance “Por Quem os Sinos Dobram” (1940)*, mais tarde adaptado a filme** de mesmo nome (1943). O texto faz parte de “Meditações”, de onde foi extraído o trecho que abre o romance de Hemingway, eternizando-o, fazendo-o um dos textos literários mais conhecidos da atualidade.

O texto é de uma beleza rara, que transporta o homem em um universo que o coloca no centro de um oceano, mas que o revela a fazer parte do mundo, que a grandiosidade da saga humana está na quebra da solidão, porque somos os nossos amigos, o rompimento da nossa solidão. Somos o gênero humano, exaltado pela vida e diminuído apenas pela morte.

Poucas pessoas souberam escrever a ideia de humanidade partilhada como John Donne o fez nos idos do século XVI. Diz-nos Donne:

Excerto “meditação XVII”

“Nenhum homem é uma ilha, inteiramente isolado, todo homem é um pedaço de um continente, uma parte de um todo. Se um torrão de terra for levado pelas águas até o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse o solar de teus amigos ou o teu próprio; a morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntai: Por quem os sinos dobram; eles dobram por vós”

Excerpt “Meditation XVII”

““No man is an island, entire of itself; every man is a piece of the continent, a part of the main. If a clod be washed away by the sea, Europe is the less, as well as if a promontory were, as well as if a manor of thy friend’s or of thine own were; any man’s death diminishes me, because I am involved in mankind, and therefore never send to know for whom the bell tolls; it tolls for thee”

John Donne, “Meditações”. [tradução Fabio Cyrino]. Edição bilíngue, São Paulo: Editora Landamark, 2007.
John Donne. “Meditação XVII” (1623), do livro ‘Devotions Upon Emergent Occasions’, (1624)

Este hino à humanidade faz de cada um de nós espectadores comprometidos (com) da existência de cada outro, numa solidariedade reforçada pelo encurtamento do mundo que é imagem de marca da nossa época.

Por isso, quando ouvirem os ventos oriundos de algum lugar …, não se esqueçam que os sinos dobram por nós também, ou não fosse o mundo finito.

John Donne, por Isaac Oliver
Obras em português de John Donne

:: Sonetos de Meditação. John Donne. [tradução Afonso Félix de Sousa]. Coleção ‘Poesia, sempre’. Rio de Janeiro: Philobiblion, 1985.
:: Elegias Amorosas. John Donne. [tradução de Helena Barbas]. Lisboa: Assírio & Alvim, 1997.
:: Meditações. John Donne. [tradução de Fabio Cyrino]. São Paulo: Landmark, 2007.
:: Poesia religiosa. John Donne. [tradução Marcus de Martini]. Florianópolis: Editora UFSC, 2017.

Em ‘Antologias’
:: Poesia metafísica: uma antologia. [Seleção, tradução, introdução e notas de Aíla de Oliveira Gomes]. Edição bilíngue. São Paulo: Companhia das Letras, 1991.
:: O Anticrítico. de Augusto de Campos. São Paulo: Companhia das Letras, 1986. {John Donne: O dom e a danação / poemas, p. 36-83}.
:: Verso, Reverso, Controverso. de Augusto de Campos. [tradução Augusto de Campos]. São Paulo: Editora Perspectiva, 2007.

Estudos
VIZIOLI, Paulo. O Poeta do Amor e da Morte. (John Donne). São Paulo: J.C. Ismael Editor, 1986.
GHIRARDI, José Garcez. John Donne e a crítica brasileira: três momentos, três olhares. Porto Alegre:  Editora, Age, 2000.

*Traduções em português da obra de Ernest Hemingway

:: Por quem os sinos dobram. Ernest Hemingway. [tradução de José Bento Monteiro Lobato]. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1942; 1958.
:: Por quem os sinos dobram. Ernest Hemingway. [tradução de Luís Peazê]. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2013.

Por Quem os Sinos Dobram (filme)
O filme**

Por Quem os Sinos Dobram
Sinopse: “Por Quem os Sinos Dobram” é a adaptação do romance de Ernest Hemingway que juntou Ingrid Bergman e Gary Cooper no grande ecrã e resultou num grande sucesso, conseguindo nove nomeações para os Óscares e o Óscar de melhor atriz secundária para Katina Paxinou. Trata-se da história de Robert Jordan (Gary Cooper) e de María (Ingrid Bergman), que decorre numa altura de guerra civil, em Espanha, na década de 30. Jordan é um norte-americano idealista a quem foi dada uma missão de risco nas montanhas. María é uma rapariga espanhola que Pilar (Katina Paxinou) encoraja a juntar-se a Jordan.
Ficha técnica
Título original: For Whom The Bell Tolls
País/ano: EUA, 1943
Gênero: Aventura, Guerra
Duração/cor: 156 min., cor
Direção: Sam Wood
Roteiro: Dudley Nichols
Elenco: Gary Cooper, Ingrid Bergman, Katina Paxinou, Akim Tamiroff, Arturo de Córdova, Vladimir Sokoloff, Mikhail Rasumny…

Raul Seixas, musica “Por quem os sinos dobram?” (inspirado no poema de John Donne)

“Por quem os sinos dobram?” – Raul Seixas

Nunca se vence uma guerra lutando sozinho
Cê sabe que a gente precisa entrar em contato
Com toda essa força contida e que vive guardada
O eco de suas palavras não repercutem em nada

É sempre mais fácil achar que a culpa é do outro
Evita o aperto de mão de um possível aliado, é
Convence as paredes do quarto, e dorme tranqüilo
Sabendo no fundo do peito que não era nada daquilo

Coragem, coragem, se o que você quer é aquilo que pensa e faz
Coragem, coragem, eu sei que você pode mais

É sempre mais fácil achar que a culpa é do outro
Evita o aperto de mão de um possível aliado
Convence as paredes do quarto, e dorme tranqüilo
Sabendo no fundo do peito que não era nada daquilo

Coragem, coragem, se o que você quer é aquilo que pensa e faz
Coragem, coragem, que eu sei que você pode mais
Coragem, coragem, se o que você quer é aquilo que pensa e faz
Coragem, coragem, que eu sei que você pode mais

Coragem, coragem, se o que você quer é aquilo que pensa e faz
Coragem, coragem, eu sei que você pode mais

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