Trabalhas sem alegria para um mundo caduco,
onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo.
Praticas laboriosamente os gestos universais,
sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual.
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Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas,
e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a concepção.
À noite, se neblina, abrem guarda-chuvas de bronze
ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas.
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Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra
e sabes que, dormindo, os problemas te dispensam de morrer.
Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina
e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras.
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Caminhas entre mortos e com eles conversas
sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito.
A literatura estragou tuas melhores horas de amor.
Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear.
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Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota
e adiar para outro século a felicidade coletiva.
Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição
porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.
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Carlos Drummond de Andrade, no livro “Sentimento do mundo”. Record, 2022
SOBRE O LIVRO
Sentimento do mundo , publicado em 1940, quando Carlos Drummond de Andrade tinha 38 anos, é seu terceiro livro de poemas, mas o primeiro escrito após a mudança para o Rio de Janeiro, então capital do país. O poema-título, que abre o volume, registra a abertura do poeta para uma visão mais ampla da humanidade. No conjunto de poemas aqui reunidos, há também uma atitude política mais participativa e empenhada (mesmo que ciente de seus limites) na transformação da realidade.
Os poemas sociais de Sentimento do mundo são alguns dos melhores já produzidos em nossa literatura. “O operário no mar”, “Os ombros suportam o mundo”, “Mundo grande” e a “Noite dissolve os homens”, entre outros, são exemplos de uma literatura engajada na qual, como escreveu o crítico Antonio Candido, referindo-se ao posicionamento político de Drummond na época, a “adesão ao socialismo e a negação do sistema capitalista” se fazem “em chave de lirismo, como alguma coisa que vem de dentro e existe antes de mais nada enquanto modo de ser”.
Esta nova amplitude, embora represente uma inflexão na obra de Drummond, não elimina, é claro, as fortes ligações que tinha com Minas Gerais e sua cidade natal. Os dois planos convivem, de forma mais ou menos tensa, ao longo do livro. Essa conexão decisiva com as origens fica evidente, por exemplo, no poema “Confidência do itabirano”: “Alguns anos vivi em Itabira. / Principalmente nasci em Itabira. / Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.”
As novas edições da obra de Carlos Drummond de Andrade têm seus textos fixados por especialistas, com acesso inédito ao acervo de exemplares anotados e manuscritos que ele deixou. Em Sentimento do mundo , o leitor encontrará o posfácio do líder indígena, ambientalista e autor Ailton Krenak, e também bibliografias selecionadas de e sobre Drummond; e a seção intitulada “Na época do lançamento”, uma cronologia dos três anos imediatamente anteriores e posteriores à primeira publicação do livro.
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FICHA TÉCNICA
Título: Sentimento do mundo
Páginas: 96
Formato: 13.5 x 0.5 x 20.5 cm
Acabamento: Brochura
Lançamento: 18/04/2022 (27ª edição)
ISBN: 978-6555874600
Selo: Record
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