Alaíde Costa Silveira Mondin Gomide, mais conhecida como Alaíde Costa, (Rio de Janeiro, 8 de dezembro de 1935) é uma cantora e compositora brasileira. Começou no programa A raia Miúda de Renato Murce. Com um canto suave e sussurrado, é considerada uma das perfeitas vozes do país. Consagrou em 1964 com “Onde está você?”. Grande marco da voz, que embalou casais. Com quinze discos gravados em cinquenta anos de carreira, participou dos principais programas de televisão e de rádio no eixo Rio-São Paulo. Tema de reportagens de jornais e revistas, participou de festivais internacionais e recebeu importantes prêmios e homenagens de expoentes da música popular brasileira. Uma das grandes referências musicais do movimento surgido em 1957, a Bossa Nova, frequentava a boemia do Beco das Garrafas, em Copacabana. Mais sobre Alaíde Costa aqui.
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EIS A ENTREVISTA
Daniela Aragão: Podemos começar pela premiação em sua atuação no Festival de Gramado no filme “Todos os mortos”. Você, como Áurea Martins é uma mulher negra de canto magnífico e que atua também. Como se deu essa atuação?
Alaíde Costa: Eu fui procurada pelo diretor para cantar uma música, eu, como você sabe, não canto qualquer coisa, gosto de cantar aquilo que me faz sentido. Me convidaram, sem querer desmerecer, para cantar “Batuque na cozinha”, agora pense bem eu cantando “Batuque na cozinha”. Aí eu disse que essa música eu não iria cantar, não tem nada a ver comigo. Eu propus a eles a canção que cantei no filme e que tinha mais conexão com o enredo do filme e aí se deu. Foi a maior surpresa para mim ter ganho esse prêmio como coadjuvante. Eu não tinha nenhuma fala no filme, só canto e faço gestos, sei lá, ganhei (risos)
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Daniela Aragão: Você gostou dessa experiência?
Alaíde Costa: Eu já tinha feito teatro, inclusive eu fiz o “Poema Sujo” do Ferreira Gullar. Atuei também numa apresentação em uma peça chamada “Os Monstros”, no Teatro Ruth Escobar, com elenco formado por Raul Cortez, Sueli Franco, Lutero Luiz, a própria Ruth e muitos outros artistas maravilhosos. Eu sempre tive uma coisa de interpretar, eu não sei de onde veio isso, mas eu procuro colocar a canção de uma forma que mexe com meu corpo, possivelmente foi por aí que me escolheram para o prêmio.
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Daniela Aragão: Pela força de sua interpretação vocal e por sua presença, a sua imagem. Aí você puxou o gancho. Já aparece aí no seu relato um certo preconceito e você é uma mulher precursora, mulher negra que trilhou uma obra magnífica sem ceder a apelos. Recentemente você soltou uma entrevista em que disse que foi apelidada de “Ameixa” pela turma da Bossa Nova.
Alaíde Costa: Acredito que aquela turma viu em mim uma chance de levar a música deles pra frente e foi o que aconteceu. Eu comecei a cantar as músicas, apresentar mesmo sem ter gravado, mas na minha ausência eles me chamavam de Ameixa e eu não sabia disso. Eu soube faz pouco tempo. Se eles chegassem e me chamassem de Ameixa na minha presença eu até acharia carinhoso. “Ah Ameixa”, mas quando eu não estava “Ah a Ameixa vem hoje”, quer dizer uma coisa preconceituosa. Eu estou ai né, onde eles estão?
Daniela Aragão: Tem um trabalho seu que adoro que é de canções de Milton Nascimento
Alaíde Costa: Eu estava há muito tempo sem gravar, aqui em São Paulo tinha um programa chamado “Almoço com as estrelas” e eu fazia uma temporada numa boate chamada “Casa Forte” em que resolvi cantar o “Me deixa em paz”. O pessoal gostou muito de minha leitura para essa música, pois o “Me deixa em paz” era uma música de carnaval cantada pela Linda Batista. Fui convidada para cantar no “Almoço das Estrelas” exatamente essa música. O Milton estava presente, ele se apresentou antes de mim, daí o Ayrton falou assim: “-Oh Milton não sai não, vou chamar uma pessoa que acho que você vai gostar muito, todos nós gostamos. Vê se você faz alguma coisa com o seu maravilhoso violão”. Aí eu comecei a cantar, mas o Milton não conhecia a música. Ele, musical do jeito que é acompanhou também. Quando ele terminou me disse: “ – Estou gravando um LP e gostaria de te convidar para participar dele” e daí o tempo passou, passou e nada do Milton me chamar, pensei que ele havia se esquecido. Um dia me ligaram da Odeon para ir pro Rio e quando cheguei lá já estava tudo armado para eu gravar. E foi assim o “Me deixa em paz”. Fiquei bastante emocionada com o arranjo do Wagner Tiso, muito bonito. E essa música começou a abrir portas para mim. Eu estava muito afastada de disco e logo a Odeon me contratou, eu gravei lá e tal. Eu tenho gravado lá “Aquele coração” que foi uma produção do Milton.
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Daniela Aragão: Belíssimo da primeira a última faixa. A gravação de Outubro é de arrepiar.
Alaíde Costa: Gravei na Odeon um lp de que gosto muito juntamente com Oscar Castro Neves, um amigo que se foi recentemente.
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Daniela: E disco com as canções do Wisnik?
Alaíde: Em 68 o Zé Miguel, ainda universitário, participava do Primeiro Festival Universitário na TV Tupi, então eu fui escolhida por ele para defender a música chamada “Outra Viagem”. Adorei a música que é belíssima. A música ficou injustamente em quinto lugar. A prima do Zé trabalhava numa danceteria e insistiu para eu e o Zé irmos lá. De repente estava lá no agito, como ele diz o agito de salão. Eu estava com um anel e não sei por que tirei o anel e pus na mão dele e foi aí que aconteceu essa história do anel. Agora recentemente quando ele me passou as músicas em sua casa, ele me falou que tinha uma canção que queria me mostrar, era o anel. Ele começou a cantar a música e eu comecei a chorar e eu sou a rainha do chorinho. Ademilde Fonseca ganhou injustamente esse título, pois a rainha do chorinho sou eu. E comecei a chorar, chorar e caiu a ficha de que era aquele anel e fiquei muito emocionada, muito grata pela lembrança e carinho dele me dando de presente a canção.
Daniela: E a partir dessa canção você foi estruturando o repertório com ele?
Alaíde Costa: Na verdade eu já tinha as canções e seriam pro ensaio eu fizemos naquele dia. Fomos tirar os tons e ele me mostrou o anel.
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Daniela Aragão: Saudade da saudade é um encantamento
Alaíde Costa: É tudo lindo ali.
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Daniela Aragão: O piano do Wisnik é minimalista e faz um suporte para a beleza de sua voz. Ele está a serviço principalmente do seu canto e a irmandade de vocês selada com esse anel é comovente.
Alaíde Costa: São 52 anos de amizade, foi 68. Eu tinha dezesseis anos, olha só.
Daniela Aragão: E o piano?
Alaíde Costa: Não toco nada. Mexo no piano com as minhas composições, mas não sou pianista. O piano no momento está com uma de minhas netas, ela gosta de música, leva jeito, então resolvi passar para ela o piano. Eu tenho um filho que também se interessa por música, o Marcelo Guima, mas ele tem já os instrumentos dele. Esse piano foi do Moacyr Santos, andei estudando um pouco com ele e quem me deu o piano foi Vinícius de Moraes. A história desse piano é muito engraçada, o Moacyr me ofereceu e lhe falei que não tinha condição de comprar e aí ele disse: “- Fala com o Vinícius, ele é tão seu amigo”, mas eu não falei nada com o Vinícius. Eu um dia cheguei na aula e Moacyr perguntou se eu tinha falado com o Vinicius. Falei que não pois eu tinha vergonha. Então ele mesmo foi e falou com o Vinícius e o Vinícius me deu uma bronca: “_Por que você não falou?”. Só sei que o piano apareceu em minha casa e nada de valores foi combinado com Vinicius. Eu tinha minhas aulas e ia para a casa do Vinícius estudar no piano dele e depois que o piano foi para a minha casa parei de ir na casa do Vinícius estudar. Mas cada vez que eu encontrava o Vinícius morria de vergonha. – Oh Vinicius eu não tenho dinheiro, não deu pra juntar nenhum dinheiro. Um dia cheguei no Vinícius dizendo que estava difícil para eu pagar. Vinicius estourou com essa “Para de falar desse maldito piano, o piano é seu e não fale mais nesse piano”. Eu estudei piano pouquíssimo, acho que não passou de quatro meses porque o Moacyr já estava com tudo arrumado para ir para os Estados Unidos. Foi nesse pouquinho que aprendi a fazer um pouco de harmonia para as minhas canções.
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Daniela Aragão: Então o piano em sua vida foi presente naquele tempo
Alaíde Costa: Não me considero uma pianista
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Daniela Aragão: Não estou dizendo pianista virtuose, mas capaz de se acompanhar e ter o instrumento como parceiro na composição, passagem de tom e eventualmente alguma execução.
Alaíde Costa: Me acompanho
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Daniela Aragão: Sua timidez ainda permanece?
Alaíde Costa: Sim, até na hora de entrar no palco.
Daniela: quando gravei meu disco no estúdio do Sérgio Lima Netto fiquei muito inspirada por você, pois sabia que você tinha passado por lá para gravar um disco fazia pouco tempo. Eu tenho os encontros consonantais com a língua meio travada. quando eu cantava uma música chamada Agradecer ficava forte esse traço. Então o Sergio sugeriu uma fonoaudióloga. Daí falei: – A Alaíde tem marcas no canto, mas é tão lindo. Ele me disse: Mas você não é a Alaíde. O Emicida está propondo um cd no qual você vai participar?
Alaíde Costa: Eu já recebi a letra de uma canção da Joyce, por enquanto não recebi mais nada. Quem manda a canção já com a letra vai permanecer como é o caso do João Bosco que mandou uma música belíssima, com uma letra belíssima que é a minha cara. É o meu retrato ali e eu estou muito feliz. Eu também vou dar uma canção para ele colocar letra.
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Daniela Aragão: Como é o seu processo de composição?
Alaíde Costa: Vem do nada, letra e música também.
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Daniela Aragão: Gosto imensamente de uma canção gravada por você chamada Paisagem sobre Valsa.
Alaíde Costa: Essa música é do Sidney Miller, linda. Mas não estou lembrando. Eu conheci o Sidney através do Hermínio Bello de Carvalho. Existe um LP feito em homenagem ao Sidney Miller em que eu participo com a Zezé Gonzaga e o José Luiz Mazzioti, inclusive fizemos uma temporada apresentando canções dele.
Daniela: Eu tenho uma curiosidade em relação a esse canto tão lindo que você tem e de forte assinatura. Quais foram e são suas audições?
Alaíde Costa: O que eu ouvia quando era menina eu não gostava. Uma ou outra eu curtia. Achava tudo muito estranho, não sei se era a forma como as pessoas cantavam. Não sei definir sabe, até eu ouvir Silvio Caldas cantando “Noturno em tempo de samba”, daí eu passei a me interessar por música. Eu não queria ser cantora, eu passei a ser cantora porque insistiram muito comigo. Tinha nada a ver comigo ser cantora, me inscreviam nos programas de calouros.
Daniela Aragão: No programa do Ary Barroso em que você foi na época era bem menina.
Alaíde Costa: Ali eu já tinha tomado o gostinho porque eu era babá de umas meninas e eu ficava cantarolando e a mãe delas, a Wanda, falava “Vai no programa do Ary Barroso, você canta bem, larga a mão de ser boba”. Eu não tinha vitrola na época, era o nome que se dava para o toca-discos. O Silvio Caldas tinha um programa semanal na Rádio Clube do Brasil, cada vez que ele cantava o “Noturno em tempo de samba” eu ia memorizando a música, quando aprendi fui numa casa chamada Bandolim de Ouro, comprei a partitura do Noturno e me inscrevi no programa. Quando o programa me chamou fui levando a minha partitura e o pianista falou que eu não poderia cantar naquele dia, pois a música era difícil e ele ainda iria passar para o meu tom. Ele tirou meu tom e levou a partitura. Passado algum tempo me chamaram, fui e ganhei. Ary Barroso era meio debochado e falou “- O que você vai cantar?” Falei “Noturno em tempo de samba”, ele me perguntou quem era o autor da música e eu disse que era o Custódio Mesquita e Evaldo Rui. “- Você vai cantar essa música”, disse : – Vou. Ele falou; “- Vamos ver”. Ary não acreditou no que viu e me deu a nota máxima que era cinco na época e assim tomei o gostinho. Comecei em tudo quanto era programa de calouros e tinham muitos.
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Daniela Aragão: Você parece manter o mesmo vigor na voz, as extensões, o colorido do timbre. Você toma cuidados especiais com a voz?
Alaíde Costa: Tudo natural, faço nada não, a natureza me ajuda.
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Daniela Aragão: Gostaria de te transmitir um abraço do compositor da canção Diariamente, o Paulo Girão. Essa tão linda canção foi gravada em 75?
Alaíde Costa: O Guinga na época era Carlos Althier. A tia do Guinga era amiga de minha mãe e contou para minha mãe que tinha um sobrinho que tocava violão muito bem para que eu o conhecesse. Minha mãe me contou e combinei com o Guinga para ir a minha casa, desse encontro surgiu a ideia e ele formou um quinteto ou sexteto chamado “A peça”. Comecei logo a fazer apresentações com a Peça e daí um dia o Guinga falou, tem um menino que faz música muito bonita. Ele levou o Paulo César Girão na minha casa, foi assim.
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Daniela: O que te toca atualmente, quem você gostaria de gravar?
Alaíde Costa: Tem muita gente, eu andei fazendo umas apresentações cantando Chico e Edu, o Chico eu gravei, mas o Edu não. E nessas apresentações que fiz escolhi o digamos lado B, o menos conhecido. É um repertório que eu gostaria de registrar em disco. Fui ouvindo, veio uma proposta de um produtor chamado Gasparias. Vamos fazer mais apresentações cantando Edu e Chico e eles me mandaram umas coisinhas e fui escolhendo. Tenho gostado muito do resultado.
Daniela Aragão: Um disco seu que tenho adoração é “Tudo que o tempo me deixou” que traz a ideia da passagem do tempo, tanto no nível existencial como estendendo para o ofício de artista. Parece um disco despedida e é apenas uma espécie de balanço, pois quanta coisa você fez depois dele.
Alaíde Costa: quando Gilson me mostrou “Tudo que o tempo me deixou” fiquei muito emocionada. A letra é belíssima, melodia belíssima. Muito lindo aquele trecho “Tudo que o tempo me deixou foi meu presente que ficou pra trás o meu passado que não volta mais”.
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Daniela Aragão: Você gravou de Sueli Costa “Voz de mulher” que remete e todas a essas mulheres que a gente ouve, aprende, de certa maneira a matter, mãe, o feminino.
Alaíde Costa: Eu gravei algumas músicas da Sueli, gravei “Amor é outra liberdade”, “Cinema Antigo”, eu gravei a música da Sueli com a qual eu a conheci. Fazia parte de um júri de um festival e a Sueli no comecinho participou deste Festival. O samba eu lhe fiz e ela pôs o nome “Trata-se de Pilares”, aí quem sou eu perdida no meu próprio amor, a história desse amor. Esta música está no “Coração”, um arranjo belíssimo de João Donato.
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Daniela Aragão: Sueli tem uma linha de composição muito bela, uma descendente da linhagem de Chiquinha Gonzaga. Sueli é absoluta. Tem um trabalho lindo de Sueli que merece ser conhecido, quando ela era jovem começou a musicar os poemas do Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles. A Sueli coloca música de forma magnífica em poemas. Você Alaíde apresenta em seu trabalho esse casamento sublime entre palavra e som. E as cantoras jazzistas, você escuta?
Alaíde Costa: Gosto muito de jazz e das cantoras jazzísticas, mas não ouço muito. O que ouço de fato é música instrumental. Sou apaixonada pelo Piazzolla. Vi Piazzolla pela primeira vez em 58, mas ele não era o Piazzolla dos anos 70. Esse dos 70 estava começando a inovar o tango, o nome do Lp é Piazzolla ONO. Bem diferente do que ele foi se tornando com o passar do tempo.
Daniela Aragão: Você chegou a conhecê-lo?
Alaíde Costa: Conheci no Festival da canção em que eu e Anelita levamos a maior vaia. Eu fui cantar uma música do Hermeto Paschoal e ele fez uma introdução quilométrica e já começaram a vaiar. Aí depois não sei por que tive que voltar como premiada. Andaram dizendo na ocasião que o Hermeto ia colocar porcos e galinhas no palco, tudo mentira. Eu tinha que voltar e se não voltasse o Hermeto iria pagar uma multa. Eu voltei.
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Daniela Aragão: quantos artistas grandiosos já levaram vaia, vale lembrar a vaia para a tão linda canção Saveiros
Alaíde Costa: Mesmo premiada eu não queria voltar para cantar e com aquela introdução eu não acabava mais. Cortaram o som e eu fiquei com tanta raiva que peguei o microfone e joguei longe. No momento em que eu joguei o Maracanazinho todo ficou de pé me aplaudindo. Inventaram que eu ia ler um manifesto subversivo, pense eu subversiva (risos)
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Daniela Aragão: Gostaria de saber como se dá a recepção do seu trabalho no exterior.
Alaíde Costa: Não é bem o que as pessoas fantasiam. Fui com John Alf fazer uma turnê pela Alemanha e lá não sabiam quem era a gente. Em contraponto eles nos recebiam com muito carinho, auditórios lotados, as pessoas prestando muita atenção, muito diferente. Eu também me apresentei com Claudio Segóvia num recital chamado “Brasil Brasileiro”, junto com Elza Soares e Jair Rodrigues. Tinha dança, tinham as mulatas, mas todas comportadas de vestidinho, nada de perna de fora. A sensualidade não era explicita. Tudo são experiências.
MAIS SOBRE ALAÍDE COSTA
:: Alaíde Costa – a joia rara da música brasileira
:: ‘O Que Meus Calos Dizem Sobre Mim’, álbum de Alaíde Costa – produzido por Emicida e Marcus Preto
** Daniela Aragão (1975) é doutora em literatura brasileira pela Puc-Rio, cantora e pesquisadora musical. Há mais de duas décadas desenvolve trabalhos sobre a história do cancioneiro brasileiro, com trabalhos publicados no Brasil e no exterior. Gravou em 2005 o disco “Daniela Aragão face A Sueli Costa face A Cacaso”. Há mais de uma década realiza entrevistas com músicos de Juiz de Fora e de estatura nacional. Entre os entrevistados estão: Sergio Ricardo, Roberto Menescal, Joyce Moreno, Delia Fischer, Márcio Hallack, Estevão Teixeira, Cristovão Bastos, Robertinho Silva, Alexandre Raine, Guinga, Angela Rô Rô, Lucina, Turíbio Santos… Seu livro recém lançado “De Conversa em Conversa” reúne uma série de crônicas publicadas em jornais e revistas (Cataguases, AcheiUSA, Suplemento Minas, O dia, Revista Revestrés, Cronópios…) ao longo de quinze anos. Os textos de Daniela Aragão são reconhecidos no meio musical devido a sua considerável marca autoral e singularidade, cuja autora analisa minuciosamente e com lirismo obras de compositores e cantores como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque, Rita Lee. O livro possui a orelha escrita pelo poeta Geraldo Carneiro, prefácio do pesquisador musical e professor da Puc-Rio Júlio Diniz, contracapa da cantora e compositora Joyce Moreno e do pianista e arranjador Cristovão Bastos. Irá lançar em 2022 seu livro “São Mateus – num tempo de delicadezas”. Colunista da Revista Prosa, Verso e Arte. #* Biografia completa AQUI!
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