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Entrevista com a compositora e cantora Joyce Moreno, por Daniela Aragão

Joyce Moreno, nascida no Rio de Janeiro – cantora, compositora, arranjadora e instrumentista, tem em sua bagagem uma extensa discografia e cerca de 400 gravações de músicas suas por alguns dos maiores nomes da música popular brasileira, como Elis Regina, Maria Bethania, Monica Salmaso, Gal Costa, Milton Nascimento, Ney Matogrosso, Edu Lobo, Emilio Santiago, Boca Livre, Nana Caymmi, Zizi Possi, Elizeth Cardoso, Simone, Leny Andrade e muitos outros. Na área internacional, tem sido gravada por nomes de peso como Annie Lennox, Wallace Roney, Omara Portuondo, Black Eyed Peas, David Sanchez, Jon Lucien, Claus Ogerman, Gerry Mulligan, Till Brönner, Flora Purim e outros…

Eis a entrevista:

Daniela Aragão: Como começou a música em sua vida?
Joyce Moreno: A minha casa era super musical, um lugar aonde se ouvia muita música. A família toda gostava de música, minha mãe adorava música. Fui criada pela minha mãe, ela criou sozinha a mim e os dois filhos de seu primeiro casamento. Esses dois irmãos com uma diferença grande de idade para mim, o mais velho dezesseis anos a mais que eu e o segundo treze. Se ouvia muita música lá, minha mãe adorava jazz do tempo dela, Tommy Dorsey, Sinatra, coisas de seu tempo. Meus irmãos já eram ouvintes de um jazz mais moderno. Se ouvia muito rádio, muita música e no Rio de Janeiro sempre teve muita música. O carnaval, o samba, ouvia-se música o dia inteiro lá em casa. Esse meu irmão que tinha treze anos quando nasci, começou a tocar violão exatamente nesse período. Então a música para mim começa aí desde sempre. Ele tornou-se músico profissional, depois largou e foi fazer carreira no Banco do Brasil. No final de minha infância e adolescência ele era músico profissional, embora estudasse e fizesse outras coisas também. Ele era amigo do Menescal, que tinha sido seu colega de colégio e do pessoal da Bossa Nova, de Luís Carlos Vinhas, Eumir Deodato. Essas pessoas frequentavam a minha casa. Meu irmão saía a noite com seus amigos e ia ao Plaza, onde tocava John Alf  e chegava em casa no outro dia entusiasmado para tirar as músicas. “Rapaz de bem” e outras músicas de John ele tirava no violão. Então quando lançaram “Garota de Ipanema” eu já conhecia a música, pois os amigos de meu irmão já tocavam ela lá em casa antes de ser gravada. Tive contato com tudo isso sendo uma piralha de onze, doze anos. Eu via tudo acontecendo ao meu lado ao vivo e a cores.

Daniela Aragão: Você fez jornalismo não é?
Joyce Moreno: Sim, fui fazer jornalismo. Comecei a tocar violão com quatorze anos pegando o violão de meu irmão que não queria me dar aula. Fui a princípio só tentando copiar os acordes e assim aprendi sozinha. Com dezoito anos, momento em que entrei na faculdade, fui estudar também violão clássico. Estudei com Jodacir Damasceno para fazer o negócio direito. Eu já tocava bem, mas tecnicamente estava tudo errado. Fui ser aluna dele justamente para isso, para colocar as coisas no lugar. Fiz a faculdade de jornalismo, fui para a Puc e me formei, mas isso era meio um plano B. A profissão de jornalista  não era o que mais queria, mas fui estagiária no Caderno B do Jornal do Brasil, que se tornou uma experiência incrível. Era o que todos os meus colegas sonhavam conseguir, fui lá, batalhei e consegui.  Estava me dando super bem, mas aí veio o festival e tive uma oferta de contrato para gravar o primeiro disco e então acabou o jornalismo. Parti para a música, que era o que eu queria mesmo.

Daniela Aragão: A compositora também floresceu junto com a instrumentista e cantora?
Joyce Moreno: Era sempre uma coisa só, sempre compus desde criança. Quando estava no colégio e tinha que gravar as matérias de decoreba, musicava tudo. Chegava na hora da prova estava com tudo na cabeça, pois tinha posto música. Sempre pensei em compor, quanto à história de compor no feminino, isto se tornou uma confusão quando veio a aparecer. Isso aconteceu porque não era uma coisa que se fizesse, não era considerado apropriado uma mulher fazer isso. Tinha um ranço muito machista na música popular brasileira, como existiu até muito pouco tempo. Acho que só agora está começando a abrir tudo realmente em todos os níveis. Uma escalada progressiva, primeiro a questão das letras no feminino que eu fazia e as compositoras não. Em seguida veio a questão da instrumentista associada a aquele papo “ah você toca violão como homem”, como se fosse um elogio dizer que tocava bem, pois não era previsto que uma mulher tocasse bem. Depois a questão de ser band leader, liderar um grupo de homens, tocar com músicos e tal. Então todos esses degraus tiveram que ir sendo cumpridos, uma etapa de cada vez. Hoje em dia fico feliz por saber que não há mais esse tipo de barreira. Mulheres instrumentistas, mulheres compositoras, mulheres fazendo tudo, é isso aí.

Daniela Aragão: Ao compor na primeira pessoa e assumindo o eu feminino você sentia que havia algum impedimento?
Joyce Moreno: Eu não tinha a menor ideia, achava ridículo as cantoras gravando as músicas tendo que transpor as letras dos homens para o feminino. Quando as compositoras compunham ficava uma coisa toda neutra, ninguém falava de si mesmo. No entanto alguns homens já compunham no feminino como Assis Valente e Chico Buarque mais recentemente. Eram homens compondo como mulheres e as mulheres não faziam. Então comecei a compor, mas para mim era uma coisa muito natural, eu tinha dezoito, dezenove anos quando comecei a fazer essas músicas mais explícitas. Com dezoito anos e totalmente inocente, achava que isso era uma coisa normal. Foi um escândalo quando o disco saiu e cantei no festival, a repercussão toda que teve para mim foi um susto. Eu compunha com naturalidade e espontaneidade.

Daniela Aragão: Você ficou sendo por um bom tempo uma espécie de “porta voz” do feminino. Mais tarde acabou compondo em parceria com Ana Terra “Essa mulher”, uma canção que veio a ser gravada por Elis Regina e deu título ao disco dela de 1979.
Joyce Moreno: Dentro ainda da fase inicial há músicas como “Feminina”, que é exatamente a discussão do feminino, o que é ser feminina. Isso para mim também era uma questão, porque minha mãe achava que eu não era feminina. Passei a infância e a adolescência ouvindo minha mãe dizer que eu não era feminina, pois eu não gostava de maquiagem, salto alto, essas coisas que as outras meninas gostavam. Eu gostava de leitura, de nadar, pegar onda, era um outro mundo. Acho que ela tinha muito medo de que eu não obedecesse aos seus padrões, mas só que o abismo de gerações era muito grande naquela época, diferente do que é hoje. Converso qualquer assunto com o meu neto, mas naquela época você não conversava qualquer assunto com a mãe, era um abismo realmente. Acho que foi a nossa geração que quebrou, construiu essas pontes e dinamitou as anteriores. Derrubou os tabus todos, as prateleiras. Então a música “Feminina”, que também fiz sem pensar, muito pela sonoridade que ela me sugeria, acabou falando muito explicitamente disso. Volta e meia ainda faço, embora hoje em dia com menos empenho nessa causa. Acho que já está bastante falado tudo isso, naquele momento foi importante falar isso.

Daniela Aragão: Você no decorrer da carreira foi trazendo um intenso diálogo com o jazz e despontou com sua música no exterior. Como se deu a descoberta de sua música lá fora?
Joyce Moreno: Isso aconteceu em várias etapas. Houve um primeiro ensaio, quando fiz um disco com produção do Claus Ogerman e que nunca foi lançado. Fui para Nova York com Maurício Maestro, estávamos tocando juntos e fomos nos apresentar numa casa noturna lá. Uns lances que fazíamos foi mostrado ao Claus Ogerman em 1977, ele se interessou muito. Foi exatamente quando conheci o Tuty, que já morava lá há três anos.  Gravei um disco lindo com as cordas, produção e direção de Claus Ogerman e que nunca fui lançado. Outro dia postei uma faixa deste disco, a única que foi disponibilizada, pois o Claus nunca quis. Várias gravadoras se aproximaram dele para lançar o disco e ele não quis e cobra fortunas. Não sei porque ele guardou. Eu estava lá e teria certamente ficado, mas voltei porque minhas filhas mais velhas tinham permanecido no Brasil, a Clara e a Ana. Depois tive a Mariana com o Tuty. Clara ficou doente e necessitei voltar correndo e consequentemente abandonei a história toda lá. Acabou então que o tal disco não saiu, mas foi já uma primeira incursão no exterior. Em 1985 tive o primeiro convite para me apresentar no Japão e isso deu início a uma história de relacionamento estável com o público japonês que dura até hoje. Em 1988 fui para a Europa fazer meus primeiros shows, embora já tivesse antes ido com Edu Lobo. Em 1989 tive um convite da Verve para gravar um disco, na verdade devido ao fato de que o meu trabalho já estava circulando no exterior e as pessoas ouvindo e tomando conhecimento. Saía muita coisa lá fora na imprensa sobre mim, então não foi algo que aconteceu de repente, foi um processo lento que foi acontecendo aos poucos. São anos e anos de circulação do trabalho lá fora de várias maneiras. No início dos anos 90 os meus discos do início dos anos 80 foram descobertos por uns DJs de Londres e aí o negócio explodiu, ganhei o público jovem que começou a curtir o swing das músicas. Botavam na pista para dançar e foi uma outra onda que aconteceu e muito bacana, o que eles chamavam de Acid jazz. Hoje em dia tenho uma situação bastante estável dentro desse mundo do pessoal que curte música brasileira e ao mesmo tempo jazz. É um público de música brasileira mais criativo digamos, ninguém vai te chamar para tocar no Brazilian Day lá, mas no Jazz Lincoln Center sim. Não é nada que aconteceu subitamente, de repente, é resultado de toda uma construção e que ao mesmo tempo fui sendo convidada, as pessoas vieram me chamando. Não corri muito atrás disso.

Joyce Moreno – foto: Leo Aversa

Daniela Aragão: Você também está constantemente gravando e dialogando com grandes músicos como Toninho Horta, Dori Caymmi, Edu Lobo, Tom Jobim e João Donato.
Joyce Moreno: Gravei três discos com o repertório de Tom Jobim. O primeiro com canções de Tom, tive o texto de capa do próprio e arranjos de Gilson Peranzzetta. Isso foi quando Tom estava fazendo sessenta anos. Logo quando ele morreu fiz um trabalho de duo com Toninho Horta chamado “Sem você”. Todos esses são dedicados a obra do Tom, que a meu ver foi um mestre total para a minha música e de toda a minha geração. Quando o meu trabalho começou a funcionar, as portas abrindo lá fora, correspondeu exatamente com o momento em que as portas estavam se fechando aqui. Foi uma coincidência feliz, pois ao mesmo tempo em que começava a me tornar uma artista independente e tomar as rédeas da minha vida musical e profissional, a coisa começou a ficar esquisita para a música que eu fazia, para a música brasileira. Se tivesse ficado no lugar em que estava, “Clara e Ana”, programa de televisão, fazer música para tocar na novela, estaria algemada, isso algema o artista.  O artista acaba tendo que criar pensando toda vez naquilo, fazendo o que a gravadora quer. A minha escolha foi bem pela liberdade.

Daniela Aragão: Você possui total autonomia para a realização de seus trabalhos?
Joyce Moreno: Total, só faço o que estou afim. Os produtores que trabalham comigo são excelentes e sabem que quando o artista sabe o que quer fazer, não há a menor necessidade de que alguém fale: “ faça assim, faça assado”. Nessa hora o grande produtor é aquele que deixa o artista ser o que ele tem de melhor.

Daniela Aragão: Você segue com uma banda fixa faz bastante tempo não é?
Joyce Moreno: Não é mais aquela “Banda Maluca”, que só tinha eu como instrumento de harmonia, compondo o centro com meu violão acrescido de baixo, bateria e dois sopros. Ela ganhou esse nome, pois era uma formação meio maluca mesmo, só tinha um violão no centro e tudo acontecendo ali em volta. Hoje em dia trabalho com um quarteto, eu de violão e um trio composto por piano, baixo e bateria. São músicos de altíssima voltagem criativa todos. Para trabalhar nesse circuito, para fazer o tipo de trabalho que faço, não dá para ser músico funcionário, nem taxista. Tem que mergulhar na criação com você, correr o risco musical junto, ou seja, todo mundo ali é artista. Tanto que não falo nunca a expressão “meus músicos”, não sou dona de ninguém. Sou casada com um músico e não falo meu músico, meu baterista, posso falar meu marido, que é outro departamento. Acho que não funciona assim, estamos numa aventura musical juntos e todo mundo que toca comigo sabe disso. Por isso sou muito chata na hora de escolher e de convidar, pois tem que ser alguém que tenha esse tipo de coragem e atrevimento musical. Tem que chegar e tocar mesmo, pois vai entrar no fogo.

Daniela Aragão: Você possui uma discografia impecável, um de meus prediletos é o “Slow Music”.
Joyce Moreno: Também adoro esse disco, fiquei dez anos pensando nele, que é composto de baladas, é um disco de amor. Mas eu não queria uma coisa bobinha, canções de amor água com açúcar, “boy meets girl”. Eu queria um negócio que tivesse um certo agridoce na história, que elas  tivessem uma certa pontada de humor.

Daniela Aragão: Você diz que a idéia surgiu a partir de um manifesto.
Joyce Moreno: Foi o manifesto da “slow food”, que é um negócio que começou na Itália, mas que hoje é um movimento mundial.  Foi um italiano que começou chamado Carlo Petrini, quando abriram o primeiro Mc Donald’s em Roma. Ele escreveu um texto dizendo que achava um absurdo a comida se transformar nisso. Daí começaram a ter vários movimentos como o “slow life”. Então pensei em fazer um disco a partir dessa ideia, a música para ser fruída, degustada, tocada com muita calma. A gente engole muito lixo musical no dia a dia e isso é a dieta musical do brasileiro.

Daniela Aragão: Você já fez alguns discos temáticos, homenageou Elis, fez parceria com Dori Caymmi em “Rio Bahia”, gravou com João Donato, enfim, a nata de nossa música. Há algum artista ou projeto ainda no âmbito do sonho?
Joyce Moreno: Não sei, no momento não penso. Acabei de gravar um disco para o Japão e não sei quando vai sair aqui no Brasil. Me pediram um disco novo, o último foi o “Tudo”, totalmente autoral, somente canções minhas. Acho que um disco autoral não faria tão cedo, pois leva um tempo para maturar as canções, juntar o bouquet, para elas se juntarem umas as outras certinho. O pessoal do Japão lembrou que estava fazendo cinquenta anos de minha primeira entrada em estúdio, na verdade não era cinquenta anos de carreira. Eu era adolescente e o Menescal, que era muito amigo de meu irmão, ouviu uma fitinha que eu tinha gravado em casa aos quinze anos. Ele gostou e me convidou para cantar num quarteto vocal que estava produzindo para uma gravação. Essa foi a minha primeira experiência em estúdio. A pergunta era o que eu ouvia quando tinha quinze anos de idade, fiz então um disco todo baseado nisso. Então tem muita bossa nova e também outras coisas misturadas. O disco se chama “Raíz” e é todo sobre isso.

Daniela Aragão: Me chama atenção a qualidade de seu violão, poucas cantoras se acompanham como você.
Joyce Moreno: Eu não sou cantora, sou músico. É outra prateleira. Cantora é outra coisa e o Brasil tem cantoras espetaculares. Tem algumas que estão entre as grandes cantoras do mundo, eu não faço parte desse mundo das cantoras e dos cantores. Faço parte de um outro mundo, que é um mundo de músicos, compositores. Tudo é um pensamento musical meu que expresso de várias maneiras, seja compondo, tocando ou cantando. Essas coisas são expressas através dessas ferramentas que possuo, do canto, do violão, da composição. Eventualmente um arranjo que faço, pois todas as canções que crio organizo da maneira que quero, orquestração não sei fazer, mas arranjo faço. Então trabalho muito com esse pensamento. Não se trata de um trabalho de cantora, de intérprete, embora eu faça isso também dentro do meu universo, mas é outra coisa. Adoro Dori cantando, é uma de minhas vozes preferidas, mas se você lhe perguntar se é cantor, certamente ele vai dizer que não. O que Dori faz é outra coisa, inclusive ele é um orquestrador. São outros universos.

Daniela Aragão: Puxando essa questão do “pensar a música”, que de fato é o que dá mais conta de abarcar sua amplitude musical, gostaria que você falasse um pouco do programa “Cantos do Rio”, idealizado por você.
Joyce Moreno:  Criei vários projetos musicais para a “MultiRio”, que é a empresa de multimeios da prefeitura do Rio de Janeiro. Um deles foi o “Cantos do Rio”, onde eu era a apresentadora e ia com o meu violão na casa das pessoas e nos bairros onde os compositores, cantores e artistas moravam. Eram cantos do Rio mesmo, um percurso que objetivava mostrar como o Rio de Janeiro interfere na música das pessoas e as pessoas com suas músicas na cidade. Então fui a casa do Hermeto Paschoal em Bangú, ao estúdio do Menescal na Barra, a casa de Edu Lobo em São Conrado. Conversei com Carlos Lyra na “Toca no Vinícius”, andei no Leblon com Elton Medeiros, fui na Mangueira, Serrinha, enfim, todas essas andanças faziam parte do programa. Depois fiz um outro projeto chamado “No compasso da história”, que consiste na história do Brasil contada através da música. Foram quinze documentários de uma hora cada um, cada episódio falando de um período histórico do Brasil. As músicas apresentadas se referiam a esses períodos históricos, começa lá atrás nos índios. Os mais recentes que fiz passaram ou só no canal da Multi Rio ou então na TV Bandeirantes, ficou mais restrito ao Rio de Janeiro mesmo, não teve um alcance mais amplo. Agora irei fazer mais uma temporada de um outro programa criado por mim que se chama “Os pequenos notáveis” . Neste falamos sobre a infância de grandes compositores brasileiros como Vinícius de Moraes, Dolores Duran, então tem o pequeno Vinícius, a pequena Dolores, o pequeno Zé Kéti, o pequeno Braguinha. Vai então mostrando como eram essas pessoas quando crianças e como elas descobriram a música e foram chegando.

Daniela Aragão: Você trabalha junto com pesquisadores?
Joyce Moreno: Sempre trabalhamos, há uma equipe muito bacana da própria Multi Rio. Na série “O compasso da história” a pesquisadora foi a Heloísa Tapajós. Tinha a equipe de pesquisa histórica e iconográfica também. No “Pequenos notáveis” o pesquisador é o Pedro Paulo Malta e o Alfredo Alpeim que divide comigo os programas. Ele faz uma dramaturgia com as crianças, conta histórias e junto levamos a parte musical. Então todos esses anos estou envolvida com a educação musical de uma maneira muito discreta, criando esses projetos. Acho que é preciso levar ao conhecimento das crianças essas coisas.

Daniela Aragão: Você escreveu o livro “Fotografei você na minha Rolleiflex”. Rodando o mundo, tomando contato com tantas culturas, pinta a vontade de escrever uma espécie de livro relato?
Joyce Moreno: Tenho alguns projetos, entre eles um livro pronto o qual não me animei a fazer nada ainda, este é de contos, ficção. Tenho projetos, mas falta tempo para fazer tudo. É complicado, pois passo muito tempo na estrada. É difícil, para você sentar e escrever é preciso um tempo e concentração.

Daniela Aragão: Suas duas filhas Clara e Ana são cantoras também.
Joyce Moreno: Clara e Ana são, Mariana não. Clara é cantora mesmo, profissional, vive disso e em função disso. Trabalha em São Paulo, está gravando disco novo. Ana é cantora também, gravou alguns discos que saíram no Japão. Aqui saiu um pela Biscoito Fino, o terceiro disco dela chamado “Samba sincopado”. Agora ela está trabalhando numa web rádio, apresentando e criando programas. Mariana mora na Alemanha, é mãe, super mãe. Ela é designer, mas resolveu ser uma super mãe.

Daniela Aragão: Já gravou com suas filhas, ou cada uma tem um trabalho e uma vertente?
Joyce Moreno:  Cada uma tem um trabalho e uma vertente, já participei de discos delas e elas dos meus. Sempre tivemos uma inteiração musical muito grande.

Daniela Aragão: E os projetos atuais?
Joyce Moreno: O “Raíz”, que é o último disco já saiu no Japão e vai sair na Europa no início de 2015. Estou resolvendo com a gravadora Biscoito Fino qual dos dois projetos que irei lançar aqui no Brasil. Tenho dois discos para lançar e estou resolvendo qual deles.

Daniela Aragão: Dois discos prontos?
Joyce Moreno: Tenho muitos discos que nunca saíram no Brasil, estes dois são recentes. Talvez por aqui saia o “Raíz”. É uma questão de aparar arestas entre gravadoras, como o produto é meu tenho essa liberdade de ir acertando.

Daniela Aragão: Como você vê a sua musica em seu país?
Joyce Moreno: Acho que a minha música no meu país cumpre muito a função de estimular novas gerações de músicos a fazer a música deles. Vejo isso acontecer, recebo muita coisa bacana de músicos jovens que estão tocando as minhas músicas, que estão criando a partir do que a minha geração criou. Se você falar em massa, a minha música não tem função nenhuma, pois a função da música hoje em dia é ser música de massa. Eu diria que a grande maioria do povo brasileiro nem faz ideia do que a gente faz e nem sabe que a gente existe. Complicado tentar definir o lugar em que a gente vive. Não é um gueto, não é underground, é uma outra coisa, a gente vive num espaço em que a grande maioria das pessoas não tem acesso. Não tem acesso, pois não temos a música paga para aparecer no rádio ou na televisão.  É uma coisa só de quem está muito afim e vai procurar e essas pessoas são as que estudam música, que se interessam por música e que vão buscar esse tipo de informação. Caso contrário não tem. Por isso faço tanta questão de realizar e alavancar esses projetos educacionais para botar pelo menos na minha cidade um pouco de informação. É isso aí.

Leia também: Tudo é som, por Daniela Aragão

Novo álbum: “Brasileiras canções”. Joyce Moreno (2022). Ouça aqui!

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Daniela Aragão – foto: acervo pessoal

** Daniela Aragão (1975) é doutora em literatura brasileira pela Puc-Rio, cantora e pesquisadora musical. Há mais de duas décadas desenvolve trabalhos sobre a história do cancioneiro brasileiro, com trabalhos publicados no Brasil e no exterior. Gravou em 2005 o disco “Daniela Aragão face A Sueli Costa face A Cacaso”. Há mais de uma década realiza entrevistas com músicos de Juiz de Fora e de estatura nacional. Entre os entrevistados estão: Sergio Ricardo, Roberto Menescal, Joyce Moreno, Delia Fischer, Márcio Hallack, Estevão Teixeira, Cristovão Bastos, Robertinho Silva, Alexandre Raine, Guinga, Angela Rô Rô, Lucina, Turíbio Santos… Seu livro recém lançado “De Conversa em Conversa” reúne uma série de crônicas publicadas em jornais e revistas (Cataguases, AcheiUSA, Suplemento Minas, O dia, Revista Revestrés, Cronópios…) ao longo de quinze anos . Os textos de Daniela Aragão são reconhecidos no meio musical devido a sua considerável marca autoral e singularidade, cuja autora analisa minuciosamente e com lirismo obras de compositores e cantores como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque, Rita lee. O livro possui a orelha escrita pelo poeta Geraldo Carneiro, prefácio do pesquisador musical e professor da Puc-Rio Júlio Diniz, contracapa da cantora e compositora Joyce Moreno e do pianista e arranjador Cristovão Bastos. Irá lançar em 2022 seu livro “São Mateus – num tempo de delicadezas”.  Colunista da Revista Prosa, Verso e Arte. #* Biografia completa AQUI!

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*Imagem (capa): Joyce Moreno – foto: Leo Aversa.

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