Com texto de Michelle Ferreira e direção de Nelson Barskerville, peça ‘Ana Marginal’ mergulha na poética de Ana Cristina Cesar. Idealizado por Nataly Cavalcantti, o espetáculo performativo explora facetas diferentes da autora que fez história a partir dos anos 70
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Um dos grandes nomes da literatura marginal da década de 1970, para a poeta carioca Ana Cristina Cesar (1952-1983), vida e literatura eram inseparáveis. Ana Marginal – Um navio ancorado no espaço, projeto idealizado pela artista Nataly Cavalcantti, usa justamente essa mistura de vida e obra como inspiração para o espetáculo. O trabalho estreia no Espaço Elevador no dia 9 de setembro, às 20h, e segue em temporada até o dia 30 de outubro, com sessões aos sábados e segundas, às 20h, e, aos domingos, às 19h. Os ingressos custam R$ 40 (inteira) e R$20 (meia-entrada). O projeto foi realizado graças à 16ª Edição do Prêmio Zé Renato de Teatro para a cidade de São Paulo, da Secretaria Municipal de Cultura.
A dramaturgia assinada por Michelle Ferreira traz para a cena três personas para representar a escritora: Ana – a poeta, Cristina – a bailarina, e Cesar – a acadêmica, representadas pelas atrizes Nataly Cavalcantti, Carol Gierwiastowski e Bruna Brignol, respectivamente.
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Trabalho feito em parceria, atrizes e dramaturga, ao lado do diretor Nelson Baskerville e da diretora assistente Anna Zêpa, mergulharam na sua obra para desvendar o corpo-poema de Ana Cristina Cesar, misturando arte e vida pessoal.
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A característica forte de seus textos, a um só tempo viscerais e coloquiais – marca comum também entre outros poetas marginais dos anos 1970 -, cria uma aproximação confidencial com seus leitores. Inclusive, no livro “Antigos e Soltos — Poemas e Prosas da Pasta Rosa”, uma compilação de textos inéditos feita por Armando Freitas Filho, ela faz uma sugestão radical: “despoetizar a escrita feminina. Suprimir o mito do sexto sentido, da doce e inefável poesia feminina. A falsa grávida com gazes. — Estrutura histérica!, grita a fada madrinha. Assinado embaixo: Nós do outro sexo, do sexto sexo.”
“Como Ana Cristina Cesar pregava a quebra dos padrões eruditos e escrevia de uma maneira mais espontânea e contestadora, entendemos que o teatro performativo era a melhor maneira de homenagear essa mulher tão potente. Sempre achei que o Baskerville seria o diretor que conseguiria transpor para a cena o universo que eu imaginava pro espetáculo. E eu não me enganei”, comenta Nataly.
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Para dar conta da atmosfera caótica presente na obra da poeta, a equipe optou por usar muitas projeções, tanto de frases de Ana Cristina quanto de cenas complementares à ação. As atrizes também interagem a todo momento com um andaime e haverá até uma escultura de luz feita pelo próprio diretor. Além desses elementos, o cenário ganha uma verticalidade importante, não só pela estrutura de dois andares do Espaço Elevador como pela presença de uma escada.
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Para o encenador, entender a essência da autora é um desafio. “A cada dia chegam novos materiais que são incorporados ao espetáculo. Ela não está em apenas um poema ou um livro. Para desvendá-la, é preciso se debruçar sobre suas fotografias, cartas, cartões postais, entrevistas. Talvez hoje sua angústia fosse muito mais dispersa, porque os tempos mudaram muito, mas gostaríamos de devolver para ela essa sexualidade que lhe foi negada”, defende Baskerville.
A complexidade desse processo de pesquisa também está presente na peça. Além de performático, Ana Marginal – Um navio ancorado no espaço configura-se como um metateatro, já que as atrizes discutem, em cena, temas como: por que sempre que se fala em artistas mulheres, o primeiro assunto é a sua vida pessoal, a histeria feminina, ao invés da importância das suas obras?
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“Nosso objetivo é fazer os espectadores também saírem em busca de Ana Cristina Cesar. Infelizmente, ela morreu precocemente e não deu tempo de ela ser venerada como a grande autora brasileira que é”, reflete o diretor.
CESAR – Não se preocupe, é confuso mesmo.
ANA – Não, não é confuso, é simples. Nós estamos criando algo que não existe.
CESAR – Sim, até porque se estivéssemos criando algo que já existe, não
estaríamos criando nada, estaríamos reproduzindo.
ANA – A Célia disse que você é muito criativa. Enfim, é isso.
CRISTINA – Olha, eu não estou entendendo muito bem.
CESAR – É confuso mesmo.
ANA – Não, é simples. É muito simples. É um espetáculo sobre Ana Cristina César.
CESAR – Sabe quem é?
ANA – Claro que ela sabe quem é.
CÉSAR – Ela pode não saber.
ANA – Você sabe quem é?
CRISTINA – Ela foi homenageada na Flip uns anos atrás.
Trecho de “Ana Marginal – Um navio ancorado no espaço”
Atividades paralelas
Para mergulhar ainda mais no universo da escritora, a equipe também conversou com a ensaísta, editora e crítica literária Heloísa Teixeira, grande amiga da homenageada. O encontro rendeu um desdobramento para o projeto: a especialista fará uma palestra aberta e online sobre a Ana Cristina Cesar e a mulher na poesia hoje.
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Outra atividade relacionada ao espetáculo é o curso “Literatura Negra de Autoria feminina: construindo lugares de luta”, ministrado pela poeta Lívia Natália. Entre os temas abordados nas aulas estão feminismo negro e decolonialidade do saber, combatendo a violência epistêmica supremacista branca, e afetividade e solidão da mulher negra.
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O público também pode participar da oficina “Preparação do Poema” ministrada pela artista, poeta e arte educadora Josiane Cavalcanti. Os encontros envolvem a fruição e a discussão de textos, bem como exercícios criativos com leitura e comentários.
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Essas atividades estão programadas para setembro e outubro. As informações sobre inscrições e vagas serão divulgadas com antecedência nas redes sociais da peça.
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ANA – “para que então ‘ter’ um corpo se é ‘preciso’ mantê-lo num estojo como um
violino muito raro.” Katherine Mansfield.
Trecho de “Ana Marginal – Um navio ancorado no espaço”
FICHA TÉCNICA
Idealização e produção artística: Nataly Cavalcantti | Dramaturga: Michelle Ferreira | Direção: Nelson Baskerville | Diretora assistente: Anna Zêpa | Atrizes: Bruna Brignol, Carol Gierwiastowski e Nataly Cavalcantti | Concepção cenográfica: Bruna Brignol e Nelson Baskerville | Figurino: Marichilene Artisevskis | Assistente de figurino: Carolina Oliveira | Iluminação: Lui Seixas | Trilha sonora: Nelson Baskerville | Criação e montagem dos vídeos: João Paulo Melo | Consultoria em vídeo: André Grynwask | Vídeo Heloísa Teixeira: Anna Zêpa | Direção de movimento: Débora Veneziani | Preparação vocal: Alessandra Lyra (Cor & Voz) | Cenotecnia: Casa Malagueta | Operação de som: Gabriel Müller | Operação de luz e vídeo: João Paulo Melo | Operação de letreiro: Iza Marie Miceli | Contrarregra: Victoria Aben-Athar | Arte gráfica: Bruna Brignol | Fotos de divulgação: Bruna Castanheira | Registro em fotos e vídeos: João Paulo Melo e Marcos Floriano | Assessoria de imprensa: Canal Aberto – Márcia Marques | Assistente de produção: Gabriel Müller | Diretora de produção: Iza Marie Miceli || Projeto contemplado pela 16ª Edição do Prêmio Zé Renato de Teatro para a cidade de São Paulo – Secretaria Municipal de Cultura
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SERVIÇO
Ana Marginal – Um navio ancorado no espaço
Data: 9 de setembro a 30 de outubro de 2023
Horário: sábados e segundas, às 20h, e, aos domingos, às 19h
Local: Espaço Elevador | 75 minutos | Classificação indicativa: 12 anos
Endereço: R. Treze de Maio, 222 – Bela Vista, São Paulo – SP
Ingresso: 40 (inteira) e R$ 20 (meia-entrada)
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