Carlos Canhameiro dirige MACÁRIO do brazil, que retoma clássico de Álvares de Azevedo. Peça inacabada do escritor brasileiro relata um encontro emblemático entre um jovem estudante e o Satã. Temporada acontece no TUSP Maria Antonia entre 2 de agosto e 1º de setembro 2024
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O espetáculo MACÁRIO do brazil, dirigido por Carlos Canhameiro, estreia no TUSP Maria Antonia (Rua Maria Antonia, 294 – Vila Buarque, São Paulo, SP) dia 2 de agosto, sexta-feira, e segue em temporada até 1º de setembro de 2024, com sessões gratuitas de quinta a sábado, às 20h, e, aos domingos, às 18h, totalizando 20 apresentações.
Às sextas-feiras, a peça ganha um novo formato com a inserção de uma palestra entre a primeira parte e o final. Dias 9, 16, 23 e 30 de julho, Janaina Leite, Andréa Sirihal Werkema, Ave Terrena e Welington Andrade fazem uma fala de 30 minutos sobre literatura, teatro e contemporaneidades cênicas brasileiras.
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O trabalho revisita o clássico Macário, de Álvares de Azevedo (1831-1852), publicado postumamente em 1855. Trata-se de uma obra inacabada e a única do escritor brasileiro pensada para o teatro.
A trama é dividida em dois episódios. No primeiro, o jovem estudante Macário chega em uma taverna para passar a noite e começa a conversar com um estranho sobre as várias concepções de amor e da poesia. De repente, ele descobre que o seu interlocutor é o Satã e parte com ele para a cidade de São Paulo.
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Depois, a narrativa segue em outro ambiente, a Itália. O protagonista deseja morrer e encontra o amigo Pensaroso (que na versão de Canhameiro, será Pensarosa), que está apaixonado. Os dois travam diálogo sobre o amor, a filosofia e a literatura, depois Macário é levado pelo Satã para uma orgia em uma taverna. Inclusive, de acordo com a pesquisa de Canhameiro, o crítico literário Antonio Candido aposta na ideia de que a continuação de Macário é justamente o livro Noite na Taverna (1855), também de Azevedo.
Sobre a encenação
“Há algo de cativante na peça de moço Álvares de Azevedo, talvez porque seja uma espécie de embrião da dramaturgia contemporânea brasileira. Ao mesmo tempo, os grandes críticos literários, como Antonio Candido e Sábado Magaldi, foram taxativos em dizer que a peça seria apenas para a leitura e não para a encenação. Acho isso curioso, porque é uma visão sobre o teatro muito limitada, de alguém que enxerga esta linguagem artística apenas como uma estrutura dramatúrgica bem-acabada. É exatamente tal contraste entre texto e cena que me interessa”, conta Canhameiro.
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Álvares de Azevedo morreu jovem, com 20 anos, e nenhuma das suas obras foi publicada em vida. Mesmo assim, ele é conhecido como o principal nome do ultrarromantismo brasileiro. “É incrível que uma pessoa com menos de 20 anos tenha escrito uma peça no século 19 que apresenta estrutura celebrada na contemporaneidade. Para mim, Macário coloca o teatro como o lugar da diversão, da invenção, da imaginação, do inacabado, daquilo que ainda não é possível ser capturado pela razão. E é com essas ideias em mente que eu construo as minhas encenações”, acrescenta.
Para situar todas estas ideias no palco, Canhameiro colocou em cena um coro de 20 jovens de 20 anos. Eles são, em sua maioria, estudantes de teatro e dança de diferentes escolas, cursos técnicos e universidades da cidade de São Paulo e região.
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Além disso, no elenco estão Alitta (ex Blackyva), primeira atriz travesti preta indicada ao Prêmio Shell por sua performance em Chega de Saudade; Danielli Mendes, artista da dança; José Roberto Jardim, que recentemente concorreu ao Prêmio APCA pela direção da peça PAWANA; e Nilcéia Vicente, cantora e atriz fundadora do Grupo 59 de Teatro.
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“O que eu quis foi me debater com o passado, justamente colocando o texto de Álvares de Azevedo em diálogo com as manifestações estéticas contemporâneas. Não se trata de nova roupagem para um texto do século 19 e sim o que o teatro contemporâneo pode fazer com esse texto. O tempo não é uma medida estável como gostaríamos que fosse. Por isso quero em cena diferentes referências temporais desde a morte do autor até hoje, pontua o encenador. Para viabilizar isso, Anuro e Cacau Francisco assinaram o figurino.
Assim como aconteceu em seu trabalho anterior, xs CULPADXS, a música tem bastante importância em MACÁRIO do brazil. O quarteto À Deriva, formado por Beto Sporleder (saxofone e flautas), Daniel Muller (piano, acordeão e sintetizadores), Guilherme Marques (bateria e percussão) e Rui Barossi (baixo acústico, cordas em geral e tuba) toca brasilidades que vão desde o sertanejo da dupla Cascatinha & Inhana ao pop americanizado de Pepê e Neném. A criação musical tem ainda a participação dos cantores Paula Mirhan e Yantó.
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O cenário de José Valdir Albuquerque segue a mesma ousadia fragmentária da peça. No primeiro episódio o público vê um quarto de hotel muito bem definido. Depois, a cama se transforma em uma piscina e o elenco permanece dentro dela. Já a banda fica em uma estrutura mais alta, próxima da cabeceira. “Pensei em criar uma experiência cênica coletiva e poderosa. São 30 pessoas em cena e uma equipe externa de mesmo tamanho. Cenário, figurino, luz, música, vídeo, tudo para potencializar ao máximo a teatralidade e a juventude de Álvares de Azevedo, diz Canhameiro.
Álvares de Azevedo
Manuel Antônio Álvares de Azevedo nasceu na cidade de São Paulo, em setembro de 1831, e morreu pouco mais de vinte anos depois, em abril de 1852, no Rio de Janeiro. A peça Macário foi publicada em 1855. Álvares de Azevedo escreveu cedo e morreu cedo. Não viu quase nada do que escreveu, publicado. E também não viu sua dramaturgia em cena.
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Este projeto aqui apresentado quer colocar Macário em cena, mas quer ir além de resgatar um texto do século XIX de um autor extremamente jovem e de verve anárquico-romântico. Há algo na forma, na matéria dramatúrgica de Macário que pode ser melhor compreendida ou melhor elaborada em cena hoje, no século XXI. A aposta deste projeto é colocar no palco o texto de Álvares de Azevedo em diálogo com as manifestações estéticas contemporâneas, juntando o jazz livre e a mpb, o pós-dramático e o musical, o teatro documentário e a dança.
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Em uma certa ousadia de ressignificar o passado, “Macário é, possivelmente, a primeira obra pós-dramática brasileira”, segundo Canhameiro. “Não há em Macário personagens bem elaborados, narrativa progressiva, drama em forma bem apurada. O que poderia ser apontado como defeito, é virtude”, conclui o diretor.
Sinopse
MACÁRIO do brazil é uma releitura do texto “Macário” escrita por Álvares de Azevedo, um dos expoentes do ultra-romantismo brasileiro. A peça é dividida em dois episódios e explora temas como a melancolia, a busca pelo sentido da vida, o desencanto e o pacto faustiano com o diabo.
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O jovem Macário, estudante e poeta, encontra-se em uma taberna, profundamente desencantado com a vida e questionando o sentido de sua existência. Ele está em um estado de espírito sombrio, reflexo de sua visão pessimista do mundo. É nesse cenário que o jovem romântico encontra um misterioso e carismático desconhecido, ninguém menos do que o próprio Satã! “Macário” é uma peça que mergulha fundo na psique humana, explorando os conflitos internos do protagonista e suas interações com forças metafísicas.
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Em MACÁRIO do brazil, Carlos Canhameiro e o quarteto À Deriva procuram colocar em cena a força jovem do século XIX com os dilemas da juventude e da teatralidade contemporâneas.
Sobre Carlos Canhameiro
Carlos Canhameiro é um artista múltiplo – ator, diretor, dramaturgo e escritor que trafega por diversas linguagens com desenvoltura. É integrante da Cia. LCT e da Cia. De Feitos, além de participar como artista convidado em diversos coletivos. Tem livros de poesia, dramaturgia, infantil publicados pela Editora Mireveja, 7Letras e Lamparina Luminosa. Como diretor e dramaturgo, soma mais de 20 anos de criações em São Paulo, com mais de 30 peças no currículo. Foi vencedor do Prêmio Shell 2023 com Melhor Dramaturgia para a peça xs CULPADXS e do Prêmio APCA 2023 com Melhor Espetáculo Infantil com a peça A Grande Questão.
FICHA TÉCNICA
MACÁRIO do brazil | Concepção e encenação: Carlos Canhameiro | Texto: Álvares de Azevedo | Elenco: Alitta, Danielli Mendes, José Roberto Jardim, Nilcéia Vicente | Músicos e trilha sonora original: quarteto À Deriva – Beto Sporleder, Daniel Muller, Guilherme Marques e Rui Barossi | Cantores: Paula Mirhan e Yantó | Cenário: José Valdir Albuquerque / Carlos Canhameiro | Figurinos: Anuro e Cacau Francisco | Iluminação: Gabriele Souza | Coreografia: Andreia Yonashiro e Danielli Mendes | Coro dos 20 anos: Alana Campos, Beatriz Dultra, Beatriz Galli, Brenda Regio, Carolayne Coelho, Duda Fernachione, Eric Vivarelli, Fernanda de Almeida, Gabriel Viana, Gabriela Guimarães, Glenda Matos, Igor Rocha, Jaqueline Chiesa, Jaqueline Samaris, Joyce Dourado, Mar Lumini, Maria Clara, Sarah Lima, Victoria Ribeiro e Willian Galiazzi | Som: Pedro Canales | Operador de luz: Renan Estevão | Arte gráfica: Isak Alves | | Assessoria de imprensa: Canal Aberto – Márcia Marques e Daniele Valério | Produção: Gabs Ambrozia Corpo Rastreado
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Prêmio Zé Renato
Secretaria de Cultura do Município de São Paulo
Este projeto foi contemplado pela 18ª Edição do Prêmio Zé Renato — Secretaria Municipal de Cultura
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SERVIÇO
MACÁRIO do brazil
Data: 2 de agosto a 1º de setembro, de quinta a sábado, às 20h, e, aos domingos, às 18h
Local: TUSP Maria Antonia – Rua Maria Antonia, 294 – Vila Buarque
Ingressos: Gratuitos
Duração: 95 minutos
Classificação: 14 anos
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Sessões com palestras entre as partes do espetáculo (30 minutos):
9/8 > Palestra n.1 – MACÁRIO OU DO DRAMA ROMÂNTICO BRASILEIRO
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Andréa Sirihal Werkema
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Andréa Sirihal Werkema é professora de Literatura Brasileira da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), onde dá aulas na graduação e na pós-graduação, com pesquisa, em geral, sobre temas relativos à literatura do século XIX: Romantismo, Machado de Assis. Doutora em Literatura Brasileira pela UFMG, onde também se graduou. Publicou e/ou organizou, entre outros, Macário, ou do drama romântico em Álvares de Azevedo (Ed. UFMG, 2012); As duas pontas da literatura: crítica e criação em Machado de Assis (Relicário, 2019); “Cuidado, leitor”: Álvares de Azevedo pela crítica contemporânea (Alameda, 2021) e Atualidade de Machado de Assis: leituras críticas (Nankin, 2021); Machado de Assis e os direitos humanos (Alameda, 2024).
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16/8 > Palestra n.2 – TEATRO E TRANSFORMAÇÃO
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Ave Terrena
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Ave Terrena é dramaturga, diretora teatral, poeta e professora da Escola Livre de Teatro de Santo André. Com dez textos encenados no Brasil, México e Portugal, já publicou três livros, dois de dramaturgia e um de poesia. Entre seus últimos trabalhos, destacam-se “Fracassadas BR” e “As mulheres dos cabelos prateados”, além de sua atuação como curadora no Rumos Itaú Cultural, SESC Pulsar 2023, e a 9a Mostra de Dramaturgia do CCSP. Atua também na comunidade ballroom SP, sendo integrante da Pioneer House of Hands Up.
23/8 > Palestra n.3 – TEATRO E ABJEÇÃO
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Janaína Leite
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Janaina Leite é atriz, diretora, dramaturga e pós-doutoranda pela Escola de Comunicação e Artes da USP. Nos últimos anos, em trabalhos como “Stabat Mater”, Camming 101 noites” e “História do Olho – um conto de fadas porno noir” vem pesquisado as relações entre teatro e pornografia, se interessando especialmente por linguagens híbridas, a perspectiva ob-cena que aproxima teatro e performance, arte e vida, fronteiras difusas entre práticas artísticas e práticas sócio-culturais. Já apresentou seus trabalhos em países tais quais França, Espanha, Portugal, Chile, Bélgica, México e Alemanha. Seu último trabalho “Deeper” é uma experiência imersiva em realidade virtual, na qual pesquisa o universo digital e os estados dissociativos de consciência em situações limite. Ainda este ano, à convite do Lift Festival em Londres e a Clean Break compagnie, dirige o trabalho “The trials and passions of unfamous women” aproximando práticas jurídicas e teatro.
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30/8 > Palestra n.4 – DRAMATURGIA BRASILEIRA E FORMAS CONTEMPORÂNEAS
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Welington Andrade
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Doutor em Literatura Brasileira pela USP, é editor da revista Cult e crítico de teatro da mesma publicação desde 2013. É bacharel em Artes Cênicas pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Uni-Rio) e professor titular de Língua Portuguesa da Faculdade Cásper Líbero, onde ingressou em 1997.
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Ministrou cursos no Centro de Pesquisa e Formação do Sesc São Paulo e no Ágora Teatro. Foi professor-palestrante das disciplinas História do Teatro e Crítica Teatral no curso de Artes Cênicas da ECA-USP, em 2010 e 2016, respectivamente.
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É autor de um dos capítulos da História do teatro brasileiro: do modernismo às tendências contemporâneas e do prefácio de Viagem magnética, de Décio Pignatari. Organizou o livro “Imagens da era Vargas: artigos, fábulas e memórias” (Sesc-SP, 2004) e coordenou a coleção Clássicos Adaptados, da Editora Larousse do Brasil (2005-2006). Editou os livros A morte de si (Cult Editora, 2023), do psicanalista Marcelo Veras, e Abjeção: a construção histórica do racismo (Cult Editora, 2024), da socióloga Berenice Bento.
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