Teatro, dança e performance compõem o Tríptico A Morte da Estrela, que faz temporada gratuita na Oficina Cultural Oswald de Andrade. Experiência cênica criada por Lúcia Romano, Fernanda Haucke e Thais Dias é formada por três espetáculos de diferentes linguagens que refletem sobre a falência dos grandes sistemas de mundo
O mundo está em constante mudança. E o embate entre aceitar o novo ou se agarrar aos antigos paradigmas foi o ponto de partida para a atriz Lúcia Romano idealizar o Tríptico A Morte da Estrela. Trata-se de uma experiência cênica formada por três espetáculos de diferentes linguagens com duração de 45 a 55 minutos cada. A obra ganha uma temporada gratuita na Oficina Cultural Oswald de Andrade (Rua Três Rios, 363 – Bom Retiro) entre os dias 5 de outubro e 4 de novembro de 2023, com sessões às quintas e sextas, das 19h às 22h e, aos sábados e feriados, das 18h às 21h.
O público tem autonomia para assistir ao trabalho da forma que preferir. Estão programados intervalos entre os espetáculos, prevendo a entrada e a saída dos espectadores. Ou seja, é possível assistir tanto os três no mesmo dia quanto em dias diferentes. Basta retirar os ingressos que desejar na bilheteria com uma hora de antecedência.
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Esta vivência pode ser ainda mais profunda, pois, entre 9 e 25 de outubro, acontecem rodas de conversa e oficinas, sempre das 19h às 21h30. A ideia é dar visibilidade a temas como criação autoral e artivismo de mulheres, dramaturgia e engajamentos identitários e formação de espectadorxs. Além da equipe do espetáculo, estarão presentes nos encontros Janaína Leite, Luciana Lyra, Vana Medeiros, Maria Fernanda Vomero, Poliana Pitteri e Vanessa Biffon Lopes. (veja a programação completa abaixo).
Experiência inovadora
Primeira parte
Em cena estão as atrizes criadoras Lúcia Romano, Fernanda Haucke e Thais Dias, com acompanhamento musical de Bel Borges e Natalia Mallo, que dirige a primeira parte do tríptico, Lembre-se de Mim, uma dramaturgia inédita de Vana Medeiros. Na trama, três atrizes brasileiras dedicadas à pesquisa têm a missão de salvar uma estrela de teatro de sua morte por esquecimento. Enquanto se esforçam para cumprir o objetivo, percebem o quanto esta figura-espectro ainda exerce influência sobre elas.
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Com um cenário que remete a uma sala de ensaio, este espetáculo metalinguístico segue a estrutura dramática. “Nos inspiramos no esqueleto de Hamlet, uma narrativa deflagrada pela aparição de um fantasma. O personagem shakespeariano está diante de um impasse, porque essa fantasmagoria exige dele vingança: algo tão difícil de representar na cena teatral, de repente, quer fazer o mundo girar. Da mesma maneira, na nossa versão, uma estrela já morta pede para ser lembrada. Como agir? O que vale a pena preservar? Como nos comportamos quando estamos diante de uma mudança iminente, é sobre isso que queremos falar”, conta Lúcia.
Segunda parte
Mais voltada à participação sensível, a segunda parte, Devir o que?, foi concebida e dirigida por Lu Favoreto. É uma mistura entre teatro, performance e dança improvisacional, com o apoio de imagens em vídeo projetadas no ambiente. Lúcia Romano define este trabalho como “uma experimentação radical do corpo no espaço, em que são acionados fluxos, estados e movimentos, em tentativas individuais e coletivas de transmutação da figura humana e de suas estratégias de interação”.
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A estrela da primeira parte ganha outra dimensão neste espetáculo. “Queremos refletir sobre a nossa existência como humanidade. O corpo, aqui, extrapola os contornos individuais e se liga com o inumano e com o cosmos”, comenta Romano.
Terceira parte
A terceira parte, batizada de Emborar, é inspirada no mito das Yamuricumã, narrado por Mapulu Kamayurá. Com direção de Cibele Forjaz e dramaturgia inédita de Claudia Schapira, o trabalho aborda a história de três mulheres que escutam um chamado e decidem partir, abandonando tudo, para construir um mundo diferente daquele em que vivem.
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O público é convidado a percorrer diversos espaços da Oficina Cultural Oswald de Andrade, acompanhando a marcha infinda das personagens. Após ouvir um trecho de um mito, narrado em Kamaiurá, a plateia se divide em três, aprofundando-se nas histórias das intérpretes, que compartilham seus chamados pessoais. Novamente num só coletivo, a plateia se junta a uma marcha, onde as lutas das mulheres, do passado e do presente, se entrelaçam.
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“Experimentamos desconstruir a própria noção de espetáculo, alargando os limites da cena teatral. Desde o início, em volta de uma espécie de fogueira e bem junto ao público, nos convertemos em facilitadoras da experiência de escuta, apenas comentando aspectos que achamos significativos. Menos atuação e mais partilha.”, detalha Romano.
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Em 2022, o Tríptico A Morte da Estrela fez uma temporada no Sesc Ipiranga. A criação é assinada pela Barca de Dionisos, com produção da Corpo Rastreado.
SINOPSE
O Tríptico A Morte da Estrela é uma experiência cênica composta por três espetáculos, de formatos diversos, que compõem um quadro multifacetado do tema da morte da estrela, desde a explosão dos corpos celestes e a falência do star system, até a revolta das mulheres.
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As três peças, uma espécie de espetáculo-festival, provocam uma imersão em aspectos múltiplos da falência dos grandes sistemas de mundo, traduzindo no questionamento da persona social da “estrela” os desejos de transformação dos modos de convivência atuais.
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FICHA TÉCNICA
Atrizes-criadoras: Lúcia Romano, Fernanda Haucke e Thais | Composição de trilha original, direção musical e arranjos: Natalia Malo | Direção de arte, cenografia e figurinos: Carla Caffé | Fundamentação corporal: Lu Favoreto | Desenho de luz: Cibele Forjaz | Assistência de direção (Natalia Malo e Lu Favoreto): Luciana Azevedo | Assistência de direção (Cibele Forjaz): Zia Basbaum | Assistência de iluminação: Carolina Paes Coelho Gracindo | Assistência de figurinos: Thais Dias | Assistência de cenografia: Lívia Loureiro | Estagiárias de arte: Carol Godefroid e Gabriela Sanovicz | Estagiárias de iluminação: Larissa Siqueira e Letícia Nanni Froes | Costureiras: Paula Mares e Thais Dias | Dramaturgia: Lembre-se de mim – Vana Medeiros; Devir o que? – Lúcia Romano, Fernanda Haucke, Thaís Dias e Lu Favoreto; Emborar – Cláudia Schapira | Narrativa das Yamaricumã: Mapulú Kamayurá | Imagens projetadas: Manoela Rabinovitch (Manu) | Videografia (edição ao vivo e operação de imagens): Julia Ro e Lui | Música ao vivo e operação de áudio: Bel Borges | Operação de luz: Larissa Siqueira e Letícia Nanni Froes | Programação gráfica: Danusa | Design da plataforma digital: Clara Morgenroth | Divulgação: Canal Aberto | Fotos de divulgação: Ligia Jardim e Manu Rabinovitch | Produção executiva: Corpo Rastreado – Jack dos Santos e Keila Maschio | Encenação: Estação “Lembre-se de mim” – Natalia Mallo; Estação “Devir o Que?” – Lu Favoreto; Estação “Emborar” – Cibele Forjaz | Concepção: Lúcia Romano – Barca de Dionisos | Produção: Centro de Empreendimentos Artísticos Barca Ltda | Parceria criativa: Cia Livre | Realização: Secretaria Municipal da Cultura – Prêmio Zé Renato
SERVIÇO
Tríptico A Morte da Estrela
De 5 de outubro a 4 de novembro, com sessões às quintas e sextas, das 19h às 22h e, aos sábados e feriados, das 18h às 21h | Tem intervalos entre cada espetáculo para entrada e saída de público | Cada narrativa dura entre 45 e 55 minutos
Oficina Cultural Oswald de Andrade – Rua Três Rios, 363 – Bom Retiro/SP
Ingressos: gratuitos | Retirar na bilheteria com 1 hora de antecedência
Classificação indicativa: 12 anos
AÇÕES FORMATIVO-AFETIVAS
Dia 9/10, das 19h às 21h30
Roda de conversa 1 – Criação autoral e artivismo de mulheres: políticas de produção, gestão e difusão do processo criativo
Com Janaína Leite e Luciana Lyra | Mediação de Lúcia Romano
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Dia 11/10, das 19h às 21h30
Roda de conversa 2 – Escrita da cena, dramaturgia e engajamentos identitários e pós-identitários
Com Vana Medeiros e Maria Fernanda Vomero | Mediação de Lúcia Romano
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Dia 18/10, das 19h às 21h30
Conexão crítica: formação de espectadoras-participantes no Tríptico A Morte da Estrela – quem faz é quem assiste
Encontro com espectadorxs, voltado para a análise coletiva e para a problematização crítica de aspectos temáticos, poéticos e formais do espetáculo Tríptico A Morte da Estrela, à maneira de uma “escola de espectadoras”, destacando as questões da expectação participativa, em relação ao gênero feminino.
com Poliana Pitteri e Vanessa Biffon Lopes
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Dia 24/10, das 19h às 21h30
Costura prática: modos de atuação no Tríptico A Morte da Estrela.
Experimentação dos pressupostos criativos e das poéticas do espetáculo Tríptico A Morte da Estrela, a partir dos enfoques no corpo-voz e na produção da presença.
com Thais Dias, Bel Borges e equipe do espetáculo
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Dia 25/10, das 19h às 21h30
Costura prática: desmontagem em processo do Tríptico A Morte da Estrela.
Experimentação dos procedimentos de trabalho, com foco na constituição do coletivo e nas “tecnologias” do espetáculo Tríptico A Morte da Estrela (das textualidades, da luz, sonoplastia, dos figurinos, da cenografia etc).
com Thais Dias e equipe do espetáculo
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Mais sobre o processo e as atividades do TRÍPTICO A MORTE DA ESTRELA em: site e no Instagram @amortedaestrela