Estreia do espetáculo ‘Eu Não Sou Só Isso’ da Cia. Arthur-Arnaldo

Cia. Arthur-Arnaldo propõe discutir polarização e discurso de ódio no espetáculo ‘Eu Não Sou Só Isso’. Montagem integra espectadores no palco e plateia – para problematizar a polarização existente na sociedade. Inspirado no teatro de Handke e Brecht, o espetáculo usa os mecanismos de ambos para falar dos tempos atuais

Em tempos de polarização política e ideológica, a Cia. Arthur-Arnaldo está interessada em fazer o movimento inverso. Por meio do espetáculo Eu Não Sou Só Isso, o grupo pretende aproximar as pessoas ao mostrar que elas têm mais em comum do que imaginam. A peça estreia e faz circulação gratuita em teatros públicos de todas as regiões de São Paulo entre os dias 8 de setembro e 7 de outubro de 2023 (veja a programação completa abaixo).
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A temporada tem início no Teatro Arthur Azevedo (8 a 9 de setembro) e segue no Teatro Paulo Eiró (15 a 17 de setembro), no Teatro Cacilda Becker (22 a 24 de setembro) e no Teatro Alfredo Mesquita (29 de setembro a 1º de outubro), com sessões sempre às sextas e sábados, às 21h, e, aos domingos, às 19h. Por fim, as últimas apresentações acontecem na Oficina Cultural Oswald de Andrade entre os dias 5 e 7 de outubro, na quinta e na sexta, às 19h30, e, no sábado, às 18h. Em todos os equipamentos haverá uma sessão com acessibilidade em LIBRAS.

É um espetáculo para o público assumir uma posição, seja de lugar (palco ou plateia) ou ideológica. Os espectadores são convidados a mudarem de assento ao longo da encenação, aproximando-se ou distanciando-se de acordo com suas opiniões. O que determina esta movimentação são os mais diversos critérios estabelecidos no jogo teatral proposto, como por exemplo, se os espectadores irão se sentar em cadeiras no palco ou na plateia.
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Enxergar o mundo com os olhos do outro. Como? Se do meu lugar eu vejo o mundo sempre do mesmo jeito. E se você mudar de lugar? Tem coisas que você só pode ver ou falar estando no lugar do outro. Percebem que além de levantar, essa noite, vamos pedir para você mudar de lugar com alguém desse palco?
– Trecho da peça Eu Não Sou Só Isso
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Os pontos de partida de Eu Não Sou Só Isso foram os escritos do austríaco Peter Handke. “Em 1960, ele publicou um conjunto de textos chamados Peças Faladas (Predição, Autoacusação, Insulto ao público e Gritos de Socorro). E nós resolvemos reunir jovens paulistanos para, a partir desse material, criar um espetáculo com dramaturgia inédita que dialogue com a juventude de hoje”, comenta Tuna Serzedello, codiretor ao lado de Carú Lima. Os dois também integram o elenco.

Juntam-se à dupla os jovens intérpretes Aruan Alvarenga, Carla Dionísia, Dom Capelari, Marcos Paulo e Leticia Ray, com suas diferentes experiências de vida. “Durante as leituras, percebemos que o que aproximava nossos atores do Handke era a idade e um certo espírito contestador da juventude. Quando lançou as Peças Faladas, o autor tinha 23 anos e estava se opondo ao teatro didático de Bertolt Brecht (1898-1956)”, explica Serzedello.
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Enquanto Brecht defendia que era possível haver mudanças na sociedade por meio do teatro, Handke dizia que “ao propor soluções, o teatro, reforça os jogos de contradições”. Por esse motivo, as peças do austríaco eram compostas por oradores, ao invés de personagens, que faziam várias afirmações repetitivas. O intuito da repetição era o de estimular a plateia a refletir sobre o que é viver em sociedade.
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“Em Predição, Handke prevê o futuro fatalista por meio de jogos de redundância como ‘As moscas morrerão como moscas’. Em Autoacusação, ele contesta a estrutura e os valores da sociedade. Em Insulto ao Público refuta o modelo tradicional de teatro por meio de uma anti-história e realmente insulta as pessoas e, em Gritos de Socorro, ele contraria as frases imperativas que via estampadas pela cidade, o equivalente hoje ao ‘Mantenha a esquerda livre’ no metrô, por exemplo, detalha o codiretor.

Em busca de uma reconciliação
Para Eu Não Sou Só Isso, esses mecanismos handkianos foram mantidos. No entanto, os atores e atrizes substituíram o texto original por suas próprias experiências e há espaço para que o público faça o mesmo. E, ao invés de insultar os espectadores, a Cia. Arthur Arnaldo vai elogiá-los, pregando uma reconciliação ao invés do ódio.
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Perceberam que esse início é uma carta de intenções. Mais que um prólogo. É uma carta de amor. Uma carta de amor ao teatro. Uma carta de amor a cada um de vocês. É fácil amar o que não conhecemos? Não sabemos quem são vocês. Fizemos uma peça para vocês sem saber quem são vocês.
– Trecho da peça Eu Não Sou Só Isso

Ao mesmo tempo, a montagem aproxima Brecht e Handke. Em certo momento, acontece o julgamento da peça didática, opondo a anti-história do austriaco à fábula Horácios e os Curiácios, publicada pelo dramaturgo alemão em 1933. Nesse contexto, cabe ao público decidir se Horácio pode ser aclamado como um herói ou se ele é apenas um assassino.
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Para a Cia Arthur-Arnaldo, evocar esse clássico brechtiano é uma chance de refletir sobre a complexidade do mundo. Se, por um lado, não somos apenas definidos por quem votamos, por outro, é possível constatar que governos seguem matando a população, sobretudo negra, com nosso apoio em prol da “segurança”. E, por isso, devemos pensar sobre nossas ações.

Teatro Jovem
Eu Não Sou Só Isso dá continuidade à pesquisa da companhia sobre o teatro jovem. Nos seus 27 anos de atuação, o grupo tem se debruçado sobre essa linguagem há 16 anos tentando entender suas particularidades.
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Por isso, muitos dos seus trabalhos envolvem atores e equipe criativa jovens. Para essa montagem, foi realizado um chamamento público para pessoas de 18 a 27 anos e a figurinista (Thalea Tiza), o cenógrafo (Frank Kitzinger) e o responsável pela trilha sonora (Gabriel Eleutério) foram convidados dessa forma. A iluminadora (Ana Matiê) faz sua estreia na criação de luz para a companhia, da mesma maneira que Carú Lima tem sua primeira experiência como diretora.

Sobre a Cia. Arthur-Arnaldo
Fundada em 1996, a Cia. Arthur-Arnaldo pesquisa desde 2007 teatro jovem, tendo realizado diversas montagens de importantes autores/autoras contemporâneos. Realizou colaborações internacionais e turnês nacionais, além de trabalhos de formação artística e pedagógica. Foi contemplada três vezes pelo programa municipal de fomento ao teatro para a cidade de SP e já teve indicações e recebeu os principais prêmios de teatro.

Espetáculo ‘Eu Não Sou Só Isso’ da Cia. Arthur-Arnaldo -foto © Ana Helena Lima

SINOPSE
Existe saída para a polarização da sociedade? Como reverter o processo que reduziu nossas identidades múltiplas a uma coisa só? Eu Não Sou Só Isso, propõe à plateia um jogo que inspira a pensar que as coisas que nos separam podem ser menos importantes do que aquilo que temos em comum.
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FICHA TÉCNICA
Dramaturgia: Tuna Serzedello – em colaboração com Carú Lima, Carla Dionisia, Dom Capelari, Aruan Alvarenga, Leticia Ray e Marcos Paulo | Elenco: Aruan Alvarenga, Carla Dionísia, Carú Lima, Dom Capelari, Marcos Paulo, Leticia Ray e Tuna Serzedello | Ator stand in: Jonathan Araújo | Direção: Carú Lima e Tuna Serzedello | Cenografia: Frank Kitzinger | Iluminação: Ana Matiê | Figurinos: Thalea Tiza | Trilha sonora original: Gabriel Eleutério | Direção de produção: Soledad Yunge | Assistente produção: Jonathan Araújo | Encontros pedagógicos: Samir Signeu e Soledad Yunge | Fotos: Ana Helena Lima | Realização: Cia. Arthur- Arnaldo de Teatro | Projeto Cia. em obras: jovens inspirando contemplado pela 39ª edição do Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a cidade de São Paulo – Secretaria Municipal de Cultura – SMC
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SERVIÇO
Eu Não Sou Só Isso
Duração: 60 minutos
Classificação: 12 anos
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TEATRO ARTHUR AZEVEDO
Data: 8 a 10 de setembro, na sexta e no sábado, às 21h, e, no domingo, às 19h
Endereço: Av. Paes de Barros, 955 – Alto da Mooca, São Paulo/SP
Ingresso: Gratuito | Retirar na bilheteria com 1 hora de antecedência
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TEATRO PAULO EIRÓ
Data: 15 a 17 de setembro, na sexta e no sábado, às 21h, e, no domingo, às 19h
Endereço: Av. Adolfo Pinheiro, 765 – Santo Amaro, São Paulo/SP
Ingresso: Gratuito | Retirar na bilheteria com 1 hora de antecedência
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TEATRO CACILDA BECKER
Data: 22 a 24 de setembro, na sexta e no sábado, às 21h, e, no domingo, às 19h
Endereço: R. Tito, 295 – Lapa, São Paulo/SP
Ingresso: Gratuito | Retirar na bilheteria com 1 hora de antecedência
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TEATRO ALFREDO MESQUITA
Data: 29 de setembro a 1º de outubro, na sexta e no sábado, às 21h, e, no domingo, às 19h
Endereço: Av. Santos Dumont, 1770 – Santana, São Paulo/SP
Ingresso: Gratuito | Retirar na bilheteria com 1 hora de antecedência
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OFICINA CULTURAL OSWALD DE ANDRADE
Data: 5 a 7 de outubro, na quinta e na sexta, às 19h30, e, no sábado, às 18h
Endereço: Rua Três Rios, 363 – Bom Retiro, São Paulo/SP
Ingresso: Gratuito | Retirar na bilheteria com 1 hora de antecedência

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