Aos 14 anos, Leonardo Lima estuda em escola pública integral e acumula três medalhas da OBMEP.
– por Dani Fechine, G1 PB
Catorze anos, três ouros e um discurso que não cabe na sua idade. Leonardo Lima Silva mora na comunidade do Timbó, no bairro dos Bancários, em João Pessoa. É estudante de escola pública integral, se dedica dia e noite aos sonhos. De 2015 a 2017, foi três vezes campeão da Olimpíada Brasileira de Matemática (OBMEP), logo depois de, em 2014, ganhar a medalha de bronze. Mexe bem com os número e com as palavras. “A realidade se mostrava totalmente inversa”, declara.
Hoje Léo é criado pela irmã Letícia Valério, de 27 anos. A mãe, Maria da Conceição, partiu cedo. Há menos de um ano são só os irmãos, mas todos dedicados às conquistas de cada um.
As de Leonardo começaram a chegar em 2014, por meio de um professor de matemática. “Sempre fui muito apegado e curioso em relação à matemática”, confessa. A olimpíada, portanto, apareceu como um caminho aberto, uma oportunidade para conhecer de perto a realidade dos números.
“Aquele estilo de prova fez com que eu tivesse um crescimento de aptidão para ir atrás de como a matemática pode nos transformar”, declara Léo.
Na primeira experiência, passou para segunda fase e conseguiu a primeira medalha na OMBEP, cor bronze, mas tinha a alegria de um ouro. A partir desse momento, encontrou na matemática uma novo paixão. “Cá estou, realizado pelos meus esforços”, ressaltou Léo.
Quando soube que havia uma cerimônia no Rio de Janeiro somente para os medalhistas de ouro, prometeu a si mesmo que focaria em busca de um. E assim foi. A matemática ajudou Léo a ganhar o mundo. E ele foi. A última medalha, referente a prova de 2017, deve receber ainda este ano.
“As conquistas significam um sentimento de dever cumprido. Apesar dele ter só 14 anos, ele está bem ciente qual caminho seguir, é muito esperto e inteligente, tem opinião própria e tem humildade”, declara a irmã Letícia.
Hoje estuda em colégio integral e, por isso, a demanda é de estudos é maior. Sempre tenta arrumar um tempo durante o dia para se dedicar à preparação da próxima prova da OBMEP, mas sabe que já fez história: na sua família, na sua escola, na sua comunidade. Cresceu. E cresceu com os próprios passos. Com o estudo. Pulando também os obstáculos que a vida cismou em colocar.
“Léo sempre foi muito estudioso, mas ele é muito inteligente desde pequenininho, quando começou a ler e escrever com quatro anos sem nem ter ido a escola”, conta Letícia.
Dona Conceição foi e ainda é a principal responsável pelas conquistas do filho, seja com o incentivo seja com o exemplo guerreiro de ter concluído o ensino fundamental em 2011, pelo Ensino de Jovens e Adultos, já perto dos seus 40 anos.
“O papel de uma mãe na vida de um filho é extremamente importante. Minha mãe foi uma das pessoas que sempre me incentivou a buscar o que eu queria e batalhar para conseguir. Eu encontrava nela um alívio quando me via mais desafiado que o normal pelos diversos conflitos que temos em nossas vidas”, frisou.
Maria da Conceição faleceu em 2016. Tinha apenas 43 anos quando foi arrebatada pelo câncer. Além dos ensinamentos e do exemplo, deixou saudades. Antes de partir, viveu de perto as conquistas de Léo. Viajaram de avião pela primeira vez, para o Rio de Janeiro, em busca de um prêmio por mérito total do filho. “Eu diria que até hoje a ficha não caiu, porque a realidade se mostrava totalmente inversa”, declarou o estudante.
Infância, realidade inversa
Com apenas 14 anos, Leonardo soma quatro medalhas apenas na OBMEP. Na última semana, esteve com a família em Campina Grande e recebeu a medalha da Olimpíada Brasileira de Física, a primeira da história da cidade do Agreste.
Sempre estudante de escola pública, o máximo que Leonardo passou de mudança foi a ida para uma escola em tempo integral. “Nunca passou pela minha cabeça, ainda mais tendo conhecimento da minha realidade e de meus familiares”, disse. Ele destaca ainda que, embora tenha recebido apoio de muitos professores, a sua dedicação pessoa foi muito importante.
“A gente luta todo dia para que o ensino público seja reconhecido, por ter pessoas capazes e que querem uma melhora interna e, eventualmente, externa. Não desmerecendo nenhuma equipe, mas o esforço individual foi o divisor de águas. Se não fosse o interesse, talvez não tivesse chegado tão longe”, desabafa.
A infância, conforme conta Letícia, foi diferente das outras crianças. “Cresci cuidando dos meus irmãos. A gente vivia de roupas que minha mãe ganhava. Isso me fez crescer muito”, conta.
“Passamos por muita coisa na nossa família, poderia dizer que hoje estamos no céu, mas a falta dela é inevitável”, lamenta.
Fonte: G1