Motivo
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.
– Cecília Meireles, em “Viagem”. Obra poética. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1967.
“…Liberdade, essa palavra
que o sonho humano alimenta
que não há ninguém que explique
e ninguém que não entenda…”
– Cecília Meireles, em “Romanceiro da Inconfidência”. 1953.
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“O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio…”
– Cecília Meireles, do poema “canção”, no livro ‘Obra poética’.
Rio de Janeiro: J. Aguilar, 1958.
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