Saudades
Saudades! Sim.. talvez.. e por que não?…
Se o sonho foi tão alto e forte
Que pensara vê-lo até à morte
Deslumbrar-me de luz o coração!
Esquecer! Para quê?… Ah, como é vão!
Que tudo isso, Amor, nos não importe.
Se ele deixou beleza que conforte
Deve-nos ser sagrado como o pão.
Quantas vezes, Amor, já te esqueci,
Para mais doidamente me lembrar
Mais decididamente me lembrar de ti!
E quem dera que fosse sempre assim:
Quanto menos quisesse recordar
Mais saudade andasse presa a mim!
– Florbela Espanca, do livro “Sóror saudades”.
Florbela d’Alma da Conceição Espanca tem hoje seus versos admirados em todos os cantos do mundo, diferentemente do que aconteceu quando ainda viva, época em que foi praticamente ignorada pelos apreciadores da poesia e pelos críticos de então. Os dois livros que publicou, por sua conta, em vida, foram “O Livro das mágoas” (1919) e “Livro de “Sóror saudade” (1923). Às vésperas da publicação de seu livro “Charneca em flor“, em dezembro de 1930, Florbela pôs fim à sua vida. Tal ato de desespero fez com que o público se interessasse pelo livro e passasse a conhecer melhor a sua obra. Dizem os críticos que a polêmica e o encantamento de seus versos é devida à carga romântica e juvenil de seus poemas, que têm como interlocutor principal o universo masculino.
Ouça aqui a atriz Eunice Muñoz recitando 10 belos sonetos de Florbela Espanca: 1. Amiga, 2. De joelhos, 3. Sem remédio, 4. Fanatismo, 5. O meu orgulho, 6. Saudades, 7. Ódio?, 8. Versos de orgulho, 9. Rústica, A um moribundo. (10 min.)
“Florbela Espanca por Eunice Muñoz”, LP, s/d[?], Orfeu Estéreo STAT 045
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