Retrospectiva Sobre Pássaros, Sinapses e Ervas Energéticas, reúne duas décadas de produção artística de Walmor Corrêa, voltada ao estudo da natureza e suas intersecções com a arte, no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, de 23 de junho a 20 de agosto de 2023. Em seu repertório, fabulação e ciência evocam o imaginário nacional associado a plantas, animais e espécies híbridas que trafegam entre a realidade e o onírico, como figuras de aves com cabeças de roedores e plantas com funcionalidades e nomes curiosos.
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Pensada ao longo dos últimos cinco anos, a mostra passou pelo Museu de Arte de Santa Catarina (MASC), em Florianópolis, nos meses de julho a setembro de 2022. Agora, chega ao Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, de 23 de junho a 20 de agosto de 2023. A curadoria é do crítico e pesquisador Paulo Miyada, que pondera: “As ferramentas do Walmor emulam códigos científicos e convidam o espectador a acreditar no que está vendo. A obra dele é carregada de subjetividade, mas também de clareza”.
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Influenciado por pintores viajantes como Thomas Ender (1793-1875), e pelo folclore contado pelo historiador Luís da Câmara Cascudo (1898-1986), Walmor Corrêa busca ressignificar em algumas de suas obras mitos que foram espalhados pelo mundo a respeito do que havia no Brasil, como a história de que o bicho preguiça, na visão do Padre Anchieta, seria um pequeno urso com rosto de moça.
Uma das obras mais conhecidas de Corrêa, a representação do Ipupiara, o homem que tem a parte inferior de um peixe-boi, nasceu quando Walmor estava pesquisando na Amazônia, nos anos 2000. Para dar vida ao mito popular, o artista, com a colaboração de um médico, estudou biologia e criou todo um corpo adaptado para as águas. O mesmo esquema representativo foi usado para a figura da Sereia – uma versão fantástica que lembra os estudos de anatomia do inventor italiano Leonardo Da Vinci (1452-1519), outra referência sua.
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Leitor de grandes pesquisadores e viajantes que definiram a identidade brasileira, foi por meio de uma edição que trazia as cartas do Padre José de Anchieta (1534-1597) que o artista plástico aprendeu sobre “A poética do olhar estrangeiro viajante sobre a brasilidade”, como conta Corrêa, sobre o tema norteador da exposição.
“Desde o começo de sua formação, Walmor tem uma proximidade grande com o desenho. E, muito íntimo disso, ele emula código e convenções do desenho e o transforma de forma sutil. As pinturas são sempre uma técnica mista, ele reúne recursos do lápis até a aquarela, passando por tintas, lápis de cor e várias técnicas com muita minúcia. Só assim ele vai conseguir construir algo que sempre existiu. As obras estão tão prontas que têm algo de documental ali”, pontua o curador.
“É nessa ambivalência que Walmor Corrêa constrói o fundamento de sua poética. Entre saber e fabulação, ele emprega verossimilhantes e delicados sistemas visuais para suspender nossa descrença”, resume Miyada no texto curatorial.
“Para mim, a arte vai até a Porta do Laboratório”, explica Corrêa, que não segue os postulados da ciência, mas os usa em seus processos criativos. “Não sou cientista, eu prefiro conversar com estudiosos, pesquisadores para entrar em questões anatômicas. Quando criei a sereia, por exemplo, desenvolvi o coração dela com um amigo cardiologista: são três cavidades ali, o que funcionaria melhor para ela viver na água. Já os pés do curupira, que vai estar na exposição, eu desenvolvi com um acupunturista para ver como seria a formação dos pés para trás para haver uma energia circulante”, ressalta.
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Em sua produção, desenhos, pinturas e esculturas mostram o poder curativo de ervas, dotes extraordinários de pássaros e a capacidade de adaptação de insetos. Mesmo quando retrata seres fantásticos, Corrêa os associa a algum elemento etimológico da espécie, que se torna, logo, característica da obra. Como nas brincadeiras com os nomes das figurinhas da série ‘Ploc’, que propõe um trabalho educativo para os visitantes.
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Além da conversa com biólogos e cientistas para ajudar a delinear a possível anatomia de seres fantásticos, Walmor Corrêa, arquiteto de formação, já estudou taxidermia e tomou lições de botânica para recriar novos corpos que extrapolam o convencional. As representações naturalistas de esculturas, que estão em seus dioramas, por exemplo, são inspiradas na época do colégio, quando ajudou um professor de ciências no laboratório. Os desenhos podem lembrar ora antigas gravuras de enciclopédias, ora fragmentos de livros de viagem, além dos pequenos pássaros esculpidos em tamanho real, que não ameaçam levantar voo. Um convite à imaginação.
SOBRE O ARTISTA
Nascido em Florianópolis em 1963, Walmor Corrêa começou a desenhar aos dois anos de idade e, aos treze anos, já passa a pintar a óleo. Autodidata, ele lia o que encontrava na biblioteca da mãe, professora, e, anos mais tarde, passou a fazer esquemas parecidos com os que via nos livros de medicina que a irmã usava na faculdade. Na adolescência, o traço do menino chamou a atenção de um professor de ciências que o convidou para ajudá-lo no laboratório. Ali, conheceu o processo de dissecação de pequenos animais e passou a desenhá-los. Aos 17 anos se muda para Porto Alegre para estudar arquitetura, com interesse sempre nas ciências e nas artes. Vive e trabalha em São Paulo há 11 anos e participou de mostras nacionais e internacionais importantes, como a 26ª Bienal Internacional de Arte de São Paulo, em 2004, Panorama de Arte Brasileira, de 2005 e no Instituto de Estudos Llerdencs, na Espanha, em 2019, entre outros.
SERVIÇO
Sobre Pássaros, Sinapses e Ervas Energéticas
Período: De 23 de junho a 20 de agosto de 2023.
Horário: De terça a domingo, das 11h às 20h.
Entrada gratuita
Local: Instituto Tomie Ohtake
Endereço: Rua Coropé, 88 – Pinheiros, São Paulo
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>> Imagem (capa da matéria): Exposição de Walmor Corrêa no Tomie Ohtake une arte, natureza e fantasia – na imagem: ‘Diorama Diurno’ – foto: Alvaro Dominguez / ‘Ondina’ – foto: Christian Carvalho / Mapeamento Cognitivo – Carlos Drummond e Mapeamento Cognitivo – Clarice Lispector – fotos: Millard Schisler