segunda-feira, novembro 4, 2024

Folclores árabes: muito além do Raks Sharqi – Nati Alfaya

Ao contrário de outras formas de dança, que se pode traçar um histórico definido com datas razoavelmente bem marcadas e restritas, ao menos inicialmente, a um determinado povo ou região, a dança que originou o que conhecemos no ocidente como dança do ventre tem uma história difícil de precisar.

Existem duas teorias que parecem ter mais adeptos entre os estudiosos desses estilos de dança (e eu digo no plural porque, como vamos ver ao longo do texto, não é apenas um estilo, forma ou dança, mas sim um grande conjunto com muitos elementos.). A primeira teoria sustenta que essas danças teriam surgido a partir das danças ritualísticas desenvolvidas no Antigo Egito dentro dos templos dedicados às Deusas e executada por suas sacerdotisas longe dos olhares dos homens. A segunda teoria é de que essas danças teriam se iniciado na Índia e levada a outras regiões por grupos ciganos e que, em cada nova região que chegava, incorporava novos passos, ritmos, instrumentos e vestimentas característicos daquela região.

Em ambas as teorias a maioria dos estudiosos defende que a dança, feita por e para mulheres, tinha também o objetivo de preparar o corpo feminino para a gestação, o parto e a amamentação, além de celebrar a fertilidade, dos humanos e da terra, e a vida.

Fato é que o que se conhece hoje no Brasil como dança do ventre é apenas uma pequenina parcela de todo um universo de danças, estilos, tradições e culturas que englobam diversos países e regiões, cada um com suas peculiaridade.

A dança do ventre, como comumente se conhece aqui no Brasil, tem um histórico que parece mais definido, ainda não se possa precisar datas e locais específicos. A dançarina e professora Hayat el Helwa nos diz: “A dança foi vista na Europa pela primeira vez na Mostra Mundial de Paris em 1889, onde foram trazidos diversos artistas de rua, algerianos, para se apresentarem na mostra”.

Entretanto, essa dança apresentada pelos argelinos (que deveria ser algo bastante parecido com o que chamamos de ghawazee, mas isso é conversa pra outro texto), foi aos poucos modificada de forma a ficar mais “sofisticada”, mais ao gosto dos ocidentais, incorporando a leveza dos braços e deslocamentos do ballet clássico, sendo popularizada através dos filmes em preto e branco na época de 1930, 40 e 50, especialmente.

O nome dança do ventre é uma tradução do nome dado pelos franceses à essa nova dança, em árabe a expressão usada normalmente é raks sharqi, que pode ser traduzida livremente como “dança oriental”. Algumas das dançarinas mais importantes que podemos citar para este período são Nagwa Fuad, Fifi Abdo, Mona Said, Samia Gamal e, minha favorita, Souheir Zaki.

Como já dito, o que conhecemos como dança do ventre é apenas uma das muitas formas e estilos de danças orientais, cada grupo étnico-cultural, cada região, possui suas danças folclóricas e tradicionais, com vestimentas apropriadas, ritmos distintos, movimentos característicos e leituras musicais particulares. Assim, estudar danças orientais implica em se empenhar em estudar um grande e diverso universo tradicional e se atentar sempre a adequação do que se está dançando em relação a este contexto cultural.

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O mapa acima possuí uma pequena mostra de alguns desses folclores apenas dentro do Egito, existem muitos outros de outros países e regiões. Mas para citar os que constam da nossa imagem, temos o Meleah Leaf, o Raks Baladi, o Khaleege, a dança das Ghawazee, o Raks al Balaas (referida como Fallahi na ilustração, embora exista polêmica quanto a esse nome), Nubian, Tahtib (uma dança masculina) e Raks al Asaya (referida como Siwa na imagem).

A intenção desta coluna é que possamos explorar cada um destes estilos de forma colaborativa, em que são muito bem vindas complementações de informação, exemplos, vídeos e imagens por parte de todos para podermos entender e apreciar ainda mais essas culturas tão ricas e que vão muito além da imagem estereotipada da “odalisca que seduz seu sultão”.

Nos vemos na próxima coluna!

*Nati Alfaya, dançarina árabe com 10 anos de estudo e prática, parte do grupo Caravana Lua do Oriente – Companhia de Danças Árabes, sediado em Londrina, Paraná, escreve sobre as danças árabes em suas diversas formas tendo um amor especial pelos folclores.

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Referências:
Yasmina’s Joy of Belly Dancing
Central Dança do Ventre


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