Dia 16 de outubro, entre 17h e 19h30, Francisco Caruso e Miriam de Carvalho lançam seu novo livro “Poemas Triste” (LF Editorial, 2024), na Cafeteria Grão de Ouro – Praia do Flamengo, 224.
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Uma capa de livro à procura de dois autores*
Pensando nas figurações do metateatro, me lembrei de Seis personagens à procura de um autor, curiosa peça de Pirandello, encenada em 1921, cujos diálogos giram em torno de seis personagens que entram no espaço de um ensaio, e pedem ao diretor para incluí-los num texto de sua autoria. O sim demorou. E o diretor se tornou dramaturgo. Mas no palco, entre os personagens e o autor, desenrolam-se tensas discussões quanto ao enfoque da vida no plano real e no plano da cena, uma vez que cada personagem valoriza seu papel em meio ao dia a dia do estar no mundo.
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Por que evocar uma peça na apresentação de um livro de poesias?
O teatro e a poesia têm mais elos na sua origem do que aqueles que se ressaltam na nossa vã filosofia. Pode até ser dito que todas as artes revelam algo em comum: a livre imaginação criativa para enfrentar qualquer tipo de despotismo. E alcançar a vida plena. Como se visualizasse um cenário, Francisco Caruso fotografou uma paisagem. Entre rubricas, a iluminação tênue idealizou a capa de um livro. Mas, ao perceber que precisava de dois autores que não a descrevessem visualmente, a imagem humanizou-se e definiu marcações. Ao ver-se impressa, ela mesma. escolheu o título do livro: Poemas tristes. E posicionou Caruso e eu no papel de autores.
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Sabendo que numa foto podemos descobrir o que não foi fotografado, ambos aceitamos atuar e percorremos todas as nuances visíveis e invisíveis nos sombreados da imagem clicada. Penumbrismo não faz parte nem do meu repertório nem do de Caruso. Bem longe de nós está o tempo desse estilo, que, na passagem do Simbolismo ao Modernismo, congregou grandes poetas. Da penumbra à imaginária entreluz, ao perceber nossas dúvidas, cordata e gentilem seu enevoado jeito de ser, a capa nos sugeriu trilha diversa, porque “na poesia emerge sempre um lado dramático”, assim nos disse.
Dando vez e voz à imaginação, não optamos pela écfrase, recurso, que, pela palavra, alude, evoca e descreve algo visualizado a ser transmitido ao leitor. Ao surgirem como figurações do não visto naquela imagem, meus versos e os de Caruso tangenciam a temática do amor, sob ângulos diversos. Entanto, a imaginação enxerga o que não viu e, escritos os primeiros poemas, seu olhar de esfinge saiu teclado afora, com asas de falcão-peregrino, que é o pássaro mais veloz do mundo. Sombras e luzes não reveladas na foto acolheram nossos versos. E surpreenderam Eros e Narciso trocando de roupa no camarim.
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*Mirian de Carvalho (Rio de Janeiro, 5 de agosto de 2024).
SERVIÇO
Lançamento do Livro
POEMAS TRISTES
de Francisco Caruso e Mirian de Carvalho
Bate-papo e autógrafos
Data: 16 de outubro 2024
Horário: entre 17h e 19h30
Local: Cafeteria Grão de Ouro – Praia do Flamengo, 224 – Rio de Janeiro/RJ
Leia alguns poemas do novo livro
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Escape
De longe te vejo chegar
e, beijando-me, sinto-te perto
me refugio nas lembranças,
para escapar da tua partida.
– Francisco Caruso, de ‘Poemas Tristes’. LF Editorial, 2024.
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Por onde
Por onde andei
por onde sonhei
por ti procurei.
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Não te encontrei
e sempre te amei
sempre te desejei.
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Onde estás?
Não sei mais
por onde te buscarei
por onde me acharei
– Francisco Caruso, de ‘Poemas Tristes’. LF Editorial, 2024.
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Fuga
Ante o corpo que flutuava,
ilusório oceano ungia as mãos
que lhe estimulavam o sexo.
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À ingenuidade do ansioso olhar
o uno e o duplo desconheceram-se.
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Na quietude da infensa lonjura,
malabarismos e sortilégios
contemplações fortuitas.
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Ousado recato.
Sigiloso afeto.
– Mirian de Carvalho, de ‘Poemas Tristes’. LF Editorial, 2024.
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Memória
A Imejando lonjuras no curso do rio
longas horas apegavam-se às margens.
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Sobre o leito do desencanto
a ausência escreveu uma elegia.
E vozes roucas escandiam nos versos
o suplício das águas feridas.
– Mirian de Carvalho, de ‘Poemas Tristes’. LF Editorial, 2024.