Como evitar ser enganado na hora de fazer a ceia de Natal e de Ano Novo?
No supermercado, por exemplo, durante a escolha de uma ave para assar, como saber se você não está comprando gelo pelo preço de peru?
Especialistas ouvidos pela BBC Brasil contaram algumas possíveis “fraudes” que vendedores ou produtores de alimentos podem utilizar para enganar os consumidores na hora da ceia. Peru, chester, peixes, azeite, carnes embutidas e até enfeites natalinos entram nessa lista.
As tradicionais aves de ceias de Natal, como peru e chester, são justamente os exemplos mais citados como passíveis de fraude.
Isso porque, depois de abater e limpar os animais, os produtores precisam resfriar as carnes rapidamente para impedir a entrada de bactérias. Elas são mergulhadas em água gelada para iniciar o resfriamento – saem de uma temperatura de 30º C para praticamente zero, em poucos segundos. Parte dessa água é absorvida pelo corpo da ave, aumentando seu peso.
“A água e o gelo fazem parte do processo de produção de proteína animal, mas há um limite determinado por normas técnicas”, explica Alexander Dornelles, especialista em inspeção animal e membro do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais Federais Agropecuários (Anffa).
Esse limite, segundo norma do Ministério da Agricultura, deve ser de apenas 6% quando produto chega à gôndola onde consumidor pode comprá-lo. Ou seja, caso o peru ou chester tenham mais de 6% de água, o consumidor pode se considerar enganado.
Mas como descobrir se há algo de errado antes da compra? “O consumidor não tem como saber até preparar o produto”, explica Ederli Pereira Cardoso, gestora do centro de produtos pré-medidos do Ipem-SP (Instituto de Pesos e Medidas de São Paulo). Na hora de assar, nesses casos, a ave pode diminuir de peso substancialmente.
Cardoso aconselha o consumidor a procurar o Procon (Programa de Proteção e Defesa do Consumidor) caso desconfie de alguma fraude por parte de um produtor ou vendedor.
O volume exato de água, no entanto, só pode ser calculado em laboratórios especializados.
Os peixes também entram na lista de possíveis fraudes de fim de ano. Uma norma do Ministério da Agricultura limita a 12% a aplicação de água sobre a superfície dos pescados.
Carnes embutidas, como salsichas, também podem ser fraudadas de maneira parecida, segundo Dornelles. Por norma, esse tipo de carne pode ter apenas 2% de amido – uma substância usada para dar a aparência e “liga” à massa de proteína. Em casos de fraude, o amido é adicionado em maior quantidade para substituir a carne.
“O vendedor reduz o custo e economiza dinheiro colocando amido, que é mais barato que a carne”, diz.
Nestes casos, Dornelles afirma que a melhor maneira de fugir de possíveis erros é escolher estabelecimentos que sejam registrados por órgãos de fiscalização, como agências sanitárias, ou comprar produtos de marcas que tenham o Selo de Inspeção Federal (SIF).
Dornelles também cita outro caso: quando o vendedor coloca um tipo de pescado mais barato dentro de uma embalagem de um produto mais caro. Assim, ele vende um peixe de valor menor por um preço elevado.
Segundo o especialista, isso pode ocorrer com o bacalhau – mais usado em ceias de Ano Novo. “O consumidor pode ser enganado porque normalmente não sabe diferenciar os tipos de peixe. Então, o vendedor coloca outro pescado mais barato e diz que é bacalhau, para vender mais caro”, diz.
Todos os finais de ano, o Ipem de São Paulo realiza operações para detectar esquemas de fraude em estabelecimentos do Estado de São Paulo. Segundo Cardoso, gestora do instituto de pesos e medidas, um dos esquemas mais encontrados pelo órgão é a cobrança pela embalagem – o que é ilegal.
Por lei, o vendedor não pode adicionar ao preço final do produto o peso da embalagem. Por exemplo, o recipiente plástico onde o peru é embalado deve ser descontado do valor da ave.
“O consumidor tem que pagar pelo peso líquido do produto, apenas o que ele vai consumir. Não pode pagar pela embalagem do chester, que em alguns casos chega a ter 70 gramas”, explica.
Ela diz que essa discrepância pode ocorrer também em casos de panetones, principalmente aqueles produzidos de forma artesanal – o produtor pode querer cobrar pela embalagem.
Cardoso aponta uma maneira simples de o consumidor descobrir se está sendo enganado nesse ponto. “Basta olhar no rótulo e ver se o peso da embalagem está sendo descontado”, diz. Em caso negativo, é possível denunciar o estabelecimento ao Procon.
Erros ou má-fé em medidas afetam até os enfeites de natal, segundo ela. “Às vezes, o consumidor compra um enfeite por metro e, quando abre a embalagem, descobre que o produto media menos do que o anunciado na venda”, diz.
O azeite de oliva virgem e extra-virgem, que tem como matéria-prima a azeitona, também pode ser alvo de adulterações, segundo Fátima Parizzi, coordenadora de qualidade vegetal do Ministério da Agricultura.
“Algumas marcas adicionam óleo vegetal, o que descaracteriza o azeite. O azeite virgem não pode ter edição de nada, deve ser um produto extraído apenas da azeitona”, diz Parizzi. “Algumas marcas colocam que vendem azeite virgem ou extra-virgem, mas estão vendendo óleo vegetal misturado”.
Além de checar se há óleo vegetal na composição, a fiscal dá outra dica para fugir do azeite “batizado”: unidades que custam menos de R$ 10 não são puros.
“A imensa maioria do azeite que compramos no Brasil é importado. Vem da França, Espanha, Portugal, Grécia. Um azeite com um preço muito baixo não é viável para o produtor. Ou seja, ele não conseguiria produzir algo puro e vender por menos de R$ 10, pois teria prejuízo”, explica.
Fonte e informações da BBC Brasil.
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