quinta-feira, novembro 21, 2024

Friedrich Hölderlin – poemas

A árvore
Quando menino, tímido te plantei
Bela planta! quão diferentes nos vemos
Magnífica estás e
como um menino.
*
Der baum
Da ich ein Kind, zag pflanzt ich dich
Schöne Pflanze! wie sehn wir nun verändert uns
Herrlich stehest und
wie ein Kind vor.
– Friedrich Hölderlin. “A árvore”/”Der baum”. in: Hölderlin: Poemas. (organização e tradução Paulo Quintela). Coimbra: Atlântida, 1959.

§
.
Ás parcas
Dai-me, Potestades, mais um verão apenas,
Apenas um outono de maduro canto,
Que de bom grado, o coração já farto
Do suave jogo, morrerei então.
.
A alma que em vida nunca desfrutou os seus
Direitos divinos nem no Orco acha repouso;
Mas se eu lograr o que é sagrado, o que
Trago em meu coração, a Poesia,
.
Serás bem-vinda então, paz do mundo das sombras!
Contente ficarei, mesmo que a minha lira
Não leve comigo; uma vez, ao menos,
Vivi como os deuses, e é quanto basta.
*
An die parzen
Nur Einen Sommer gönnt, ihr Gewaltigen!
Und einen Herbst zu reifem Gesange mir,
Daß williger mein Herz, vom süßen
Spiele gesättiget, dann mir sterbe.
.
Die Seele, der im Leben ihr göttlich Recht
Nicht ward, sie ruht auch drunten im Orkus nicht;
Doch ist mir einst das Heilige, das am
Herzen mir liegt, das Gedicht, gelungen,
.
Willkommen dann, o Stille der Schattenwelt!
Zufrieden bin ich, wenn auch mein Saitenspiel
Mich nicht hinabgeleitet; Einmal
Lebt ich, wie Götter, und mehr bedarfs nicht.
– Friedrich Hölderlin. “An die Parzen”/”Ás parcas”, [tradução José Paulo Paes]. in: in: HÖLDERLIN, Friedrich. Poemas. [seleção, tradução, introdução e notas José Paulo Paes]. São Paulo: Companhia das Letras, 1991. p.87.
– HÖLDERLIN, Friedrich. Sämtliche Werke. (Von Friedrich Beissner, hrsg., Kleine Stuttgarter Ausgabe, 6 Vol.). Stuttgart: Kohlhammer, 1954, vol. 1, p. 247.

§

Curso da vida
Coisas maiores querias tu também, mas o amor
A todos vence, a dor curva ainda mais,
E não é em vão que o nosso círculo
Volta ao ponto donde veio!
.
Para cima ou para baixo! Não sopra em noite sagrada,
Onde a Natureza muda medita dias futuros,
Não domina no Orco mais torto
Um direito, uma justiça também?
.
Foi isso que aprendi. Pois nunca, como os mestres mortais,
Vós, ó celestiais, ó deuses que tudo mantendes,
Que eu saiba, nunca com cuidado
Me guiastes por caminho plano.
.
Tudo experimente o homem, dizem os deuses,
Que ele, alimentado com forte mantença, aprenda a ser grato por [tudo,
E compreenda a liberdade
De partir para onde queira.
*
Lebenslauf
Größers wolltest auch du, aber die Liebe zwingt
All uns nieder, das Leid beuget gewaltiger,
Doch es kehret umsonst nicht
Unser Bogen, woher er kommt.
Aufwärts oder hinab! herrschet in heilger Nacht,
Wo die stumme Natur werdende Tage sinnt,
Herrscht im schiefesten Orkus
Nicht ein Grades, ein Recht noch auch ?
.
Dies erfuhr ich. Denn nie, sterblichen Meistern gleich,
Habt ihr Himmlischen, ihr Alleserhaltenden,
Daß ich wüßte, mit Vorsicht
Mich des ebenen Pfades geführt.
.
Alles prüfe der Mensch, sagen die Himmlischen,
Daß er, kräftig genährt, danken für Alles lern,
Und verstehe die Freiheit,
Aufzubrechen, wohin er will.
– Friedrich Hölderlin. “Lebenslauf”/”Curso da vida”. in: Hölderlin: Poemas. (organização e tradução Paulo Quintela). Coimbra: Atlântida, 1959.

§

Diotima
Vem, dulçor da musa etérea — e para mim aplaca
O caos do tempo, ó tu, que outrora os elementos irmanaste,
Em tons de paz do céu me suaviza a fera luta,
Até que aos seios dos mortais se amaine a intriga,
Até que a suave, a ingente, a velha natureza dos humanos
Brote enfim do fermentar do tempo alegre e forte.
E que à viva forma voltes, da gente aos corações sedentos!
Voltes à mesa hospitaleira, e ao santuário voltes!
Pois que, do Espírito colmada, como em neve as flores finas,
Vive ainda e a remirar o sol está Diotima.
Mas foi-se deste mundo o sol do Espírito, o mais belo,
E em caliginosa treva raivam agora tão somente os furacões.
*
Diotima
Komm und besänftige mir, die du einst Elemente versöhntest,
Wonne der himmlischen Muse, das Chaos der Zeit,
Ordne den tobenden Kampf mit Friedenstönen des Himmels,
Bis in der sterblichen Brust sich das Entzweite vereint,
Bis der Menschen alte Natur, die ruhige, große,
Aus der gärenden Zeit mächtig und heiter sich hebt.
Kehr’ in die dürftigen Herzen des Volks, lebendige Schönheit!
Kehr’ an den gastlichen Tisch, kehr’ in den Tempel zurück!
Denn Diotima lebt, wie die zarten Blüten im Winter,
Reich an eigenem Geist, sucht sie die Sonne doch auch.
Aber die Sonne des Geists, die schönere Welt, ist hinunter
Und in frostiger Nacht zanken Orkane sich nur.
– Friedrich Hölderlin. “Diotima”. [tradução Antonio Medina Rodrigues]. In:_____. Canto do destino e outros cantos. (Organização, tradução e ensaio por Antonio Medina Rodrigues). São Paulo: Ilulminuras, 1994.

§

Empédocles
Buscas a vida, buscas, e eis te brota e brilha
Um fogo divino do fundo da terra,
E tu, em ânsia horrífica, lanças-te
Lá para baixo, pra as chamas do Etna.
.
Assim dissolveu pérolas no vinho a insolência
Da rainha; e que o fizesse! Não tivesses tu,
Ó Poeta, imolado a tua riqueza
No cálice refervente!
.
Mas pra mim és sagrado, como a força da terra
Que te arrebatou, ó vítima ousada!
E seguiria para as profundezas,
Se o amor me não detivesse, o herói.
*
Empedokles
Das Leben suchst du, suchst, und es quillt und glänzt
Ein göttlich Feuer tief aus der Erde dir,
Und du in schauderndem Verlangen
Wirfst dich hinab, in des Ätna Flammen.
.
So schmelzt’ im Weine Perlen der Übermut
Der Königin; und mochte sie doch! hättest du
Nur deinen Reichtum nicht, o Dichter,
Hin in den gärenden Kelch geopfert!
.
Doch heilig bist du mir, wie der Erde Macht,
Die dich hinwegnahm, kühner Getöteter!
Und folgen möcht ich in die Tiefe,
Hielte die Liebe mich nicht, dem Helden.
– Friedrich Hölderlin. “Empedokles”/”Empédocles”. in: Hölderlin: Poemas. (organização e tradução Paulo Quintela). Coimbra: Atlântida, 1959.

§

Metade da vida
Peras amarelas
E rosas silvestres
Da paisagem sobre a Lagoa.
Ó cisnes graciosos,
Bêbedos de beijos,
Enfiando a cabeça
Na água santa e sóbria!
.
Ai de mim, aonde, se
É inverno agora, achar as
Flores? E aonde
O calor do sol
E a sombra da terra?
Os muros avultam
Mudos e frios; à fria nortada
Rangem os cata-ventos.
*
Hälfte des lebens
Mit gelben Birnen hänget
Und voll mit wilden Rosen
Das Land in den See,
Ihr holden Schwäne,
Und trunken von Küssen
Tunkt ihr das Haupt
Ins heilignüchterne Wasser.
.
Weh mir, wo nehm ich, wenn
Es Winter ist, die Blumen, und wo
Den Sonnenschein,
Und Schatten der Erde?
Die Mauern stehn
Sprachlos und kalt, im Winde
Klirren die Fahnen.
– Friedrich Hölderlin. “Hälfte des Lebens”/”Metade da vida”, [tradução Manuel Bandeira]. in: BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: José Olympio, 1966.
– HÖLDERLIN, Friedrich. Sämtliche Werke und Briefe. München: Carl Hanser Verlag, 1970.

§

O aplauso dos homens
Não trago o coração mais puro e belo e vivo
Desde que amo? Por que me afeiçoáveis mais
Quando era altivo e rude,
Palavroso e vazio?
.
Ah! só agrada à turba o tumulto das feiras;
Dobra-se humilde o servo ao áspero e violento.
Só creem no divino
Os que o trazem em si.
*
Menschenbeifall
Ist nicht heilig mein Herz, schöneren Lebens voll,
Seit ich liebe? Warum achtet ihr mich mehr,
Da ich stolzer und wilder,
Wortereicher und leerer war?
.
Ach! der Menge gefällt, was auf den Marktplatz taugt,
Und es ehret der Knecht nur den Gewaltsamen;
An das Göttliche glauben
Die allein, die es selber sind.
– Friedrich Hölderlin: “Menschenbeifall”/”O aplauso dos homens”. [tradução Manuel Bandeira]. in: BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira. Poesias reunidas. Rio de Janeiro: José Olympio, 1966.
– HÖLDERLIN, Friedrich. “Gedichte”. in:_____. Sämtliche Werke und Briefe. München: Carl Hanser, 1970.

§

O imperdoável
Se vós, amigos, esqueceis, se escarneceis o artista,
E entendeis de modo mesquinho e vulgar o espírito mais fundo,
Deus perdoa-vo-lo; mas não perturbeis
Nunca a paz dos que se amam.
*
Das unverzeihliche
Wenn ihr Freunde vergeßt, wenn ihr den Künstler höhnt,
Und den tieferen Geist klein und gemein versteht,
Gott vergibt es, doch stört nur
Nie den Frieden der Liebenden.
– Friedrich Hölderlin. “Das Unverzeihliche”/”O imperdoável”. in: Hölderlin: Poemas. (organização e tradução Paulo Quintela). Coimbra: Atlântida, 1959.

§

Pôr de Sol
Onde estás? A alma anoitece-me bêbeda
De todas as tuas delícias; um momento
Escutei o sol, amorável adolescente,
Tirar da lira celeste as notas de ouro do seu [canto da noite.
.
Ecoavam ao redor os bosques e as colinas;
Ele no entanto já ia longe, levando a luz
A gentes mais devotas
Que o honram ainda.
*
Sonnenuntergang
Wo bist du? trunken dämmert die Seele mir
Von aller deiner Wonne; denn eben ist’s,
Dass ich gelauscht, wie, goldner Tone
Voll, der entzückende Sonnenjüngling
.
Sein Abendlied af himmlischer Leier spielt’;
Es tönten rings die Wälder und Hügel nach.
Doch fern ist er zu frommen Völkern,
Die ihn noch ehren, hinweggegangen.
– Friedrich Hölderlin. “Sonnenuntergang”/ “Pôr de sol”, [tradução Manuel Bandeira]. in: BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: José Olympio, 1966.
– HÖLDERLIN, Friedrich. “Gedichte 1796-1799”. Sämtliche Werke und Briefe. München: Carl Hanser, 1970.

§

ELEGIAS
Pão e vinho
(…)
Mas nós, amigo, chegamos demasiado tarde. Certo é que os deuses vivem,
Mas acima de nós, lá em cima, noutro mundo.
Aí o seu domínio é infinito e parecem não se importar
Se estamos vivos, tanto nos querem poupar.
Pois nem sempre pode um frágil vaso contê-los,
O homem apenas algum tempo suporta a plenitude divina.
Depois toda a nossa vida é sonhar com eles. Mas os erros,
Tal como o sono, ajudam, e a necessidade e a noite fortalecem,
Até que haja suficientes heróis, criados em berço de bronze,
De coração corajoso, como dantes, semelhantes aos Celestiais.
Depois eles chegam, trovejantes. Entretanto penso por vezes
Que é melhor dormir do que estar assim sem companheiros,
Nem sei perseverar assim, nem que fazer entretanto,
Nem que dizer, pois para que servem poetas em tempo de indigência?
Mas eles são, dizes, como sacerdotes santos do deus do vinho
Que em noite santa vagueavam de terra em terra.
(…)
*
Brod und wein
(…)
Aber Freund! wir kommen zu spät. Zwar leben die Götter
Aber über dem Haupt droben in anderer Welt.
Endlos wirken sie da und scheinens wenig zu achten,
Ob wir leben, so sehr schonen die Himmlischen uns.
Denn nicht immer vermag ein schwaches Gefäß sie zu fassen,
Nur zu Zeiten erträgt göttliche Fülle der Mensch,
Traum von ihnen ist drauf das Leben. Aber das Irrsal
Hilft, wie Schlummer und stark machet die Not und die Nacht,
Bis daß Helden genug in der ehernen Wiege gewachsen,
Herzen an Kraft, wie sonst, ähnlich den Himmlischen sind.
Donnernd kommen sie drauf. Indessen dünket mir öfters
Besser zu schlafen, wie so ohne Genossen zu sein,
So zu harren und was zu tun indes und zu sagen,
Weiß ich nicht und wozu Dichter in dürftiger Zeit?
Aber sie sind, sagst du, wie des Weingotts heilige Priester,
Welche von Lande zu Land zogen in heiliger Nacht.
.
(…)
– Friedrich Hölderlin. “Elegias”. [tradução Maria Teresa Dias Furtado]. Porto: Assírio e Alvim, 1992.

§

HINOS TARDIOS
.
Tal como num dia de festa…
Tal como num dia de festa, pela manhã sai,
Para ver o campo, o lavrador, quando
Do calor da noite caíram refrescantes raios
Continuamente e já longe ainda ressoa o trovão,
De novo ao seu leito regressa o grande rio
E fresco viceja o solo
E da videira goteja a chuva
Que do céu trouxe alegria e resplandecentes
Ao sol silencioso se erguem as árvores do bosque:
Assim se erguem em propício tempo,
Aqueles que nenhum mestre por inteiro educa, mas aquela
Que é maravilhosa e imensa e de uma leveza envolvente,
A poderosa, a divinamente bela natureza.
Por isso quando ela parece dormir em algumas épocas do ano
No céu ou entre as plantas ou os povos,
O rosto dos poetas também se entristece,
Parecem estar sós, porém sempre estão cheios de pressentimentos.
Pois, pressentindo, ela própria também repousa.
E eis que o dia nasce! Esperei e vi-o aproximar-se,
E para o que vi, sagrada seja a minha palavra.
Pois a própria Natureza, mais antiga do que as eras
E superior aos deuses do ocidente e do oriente,
Acordou agora com o fragor das armas,
E descendo das alturas do Éter até aos abismos
Segundo a firme lei antiga e gerado do sagrado caos,
O entusiamo que tudo cria volta
A fazer-se sentir de modo novo.
E tal como uma chama se acendeu nos olhos do homem
Que projectou coisas sublimes, assim agora
Lavra de novo um fogo nas almas dos poetas
Deflagrado pelos sinais, pelos feitos do mundo.
E o que outrora aconteceu, quase oculto aos sentidos
Apenas agora é revelado,
E aquelas que sorrindo cultivaram o nosso campo,
Assumindo forma de servo, são agoras conhecidas,
As que em si contêm a plenitude da vida, as virtudes dos deuses.
E tu, perguntas por eles? Na canção sopra o teu espírito,
Quando ele brota do sol diurno e da cálida terra
E de borrascas no ar e de outras
Preparadas mais nas profundezas dos tempos
E mais repletas de sentido, e mais perceptíveis,
Se movem entre o Céu e a Terra e entre os povos.
Os pensamentos do espírito a todos comum encontram-se,
Em acalmia final, na alma do poeta,
De tal modo que ela, subitamente atingida, do Infinito
Há muito conhecida, estremece ao recordar-se,
E é-lhe dada a ventura de, inflamada pelo raio sagrado,
Dar à luz o fruto do amor, obra dos deuses e dos homens,
O canto, para que de ambos dê testemunho.
Assim caiu, como dizem os poetas, o raio sobre a casa de Semele,
Quando ela ostensivamente desejou ver o deus
E aquela que o divino feriu, deu à luz
O fruto da trovoada, o Baco sagrado.
Por isso agora bebem os filhos da Terra
Fogo celestial sem qualquer perigo.
Porém a nós compete-nos, ó poetas, permanecer
De cabeça descoberta enquanto passam as trovoadas de Deus,
Segurar nas próprias mãos o próprio raio vindo do Pai
E entregar ao povo, oculta no canto,
A dádiva divina.
Pois se formos apenas de coração puro
Como as crianças, se as nossas mãos forem inocentes,
O raio puro, vindo do Pai, não o queimará
E profundamente abalado, compartilhando a paixão
Do mais forte, o coração permanece mesmo assim firme
Durante as tempestades que do alto se abatem quando o deus se aproxima.
Mas ai de mim! quando de
Ai de mim!
E se logo disser,
Que me aproximei para contemplar os Celestiais,
Eles próprios me lançarão nas profundezas dos vivos,
Como falso sacerdote no escuro, para que eu
Aos que estiverem receptivos cante uma canção de aviso.
Nesse lugar
.
*
.
Wie wenn am Feiertage…
Wie wenn am Feiertage, das Feld zu sehn,
Ein Landmann geht, des Morgens, wenn
Aus heißer Nacht die kühlenden Blitze fielen
Die ganze Zeit und fern noch tönet der Donner,
In sein Gestade wieder tritt der Strom,
Und frisch der Boden grünt
Und von des Himmels erfreuendem Regen
Der Weinstock trauft und glänzend
In stiller Sonne stehn die Bäume des Haines:
So stehn sie unter günstiger Witterung,
Sie, die kein Meister allein, die wunderbar
Allgegenwärtig erzieht in leichtem Umfangen
Die mächtige, die göttlichschöne Natur.
Drum wenn zu schlafen sie scheint zu Zeiten des Jahrs
Am Himmel oder unter den Pflanzen oder den Völkern,
So trauert der Dichter Angesicht auch,
Sie scheinen allein zu sein, doch ahnen sie immer.
Denn ahnend ruhet sie selbst auch.
Jetzt aber tagts! Ich harrt und sah es kommen,
Und was ich sah, das Heilige sei mein Wort.
Denn sie, sie selbst, die älter denn die Zeiten
Und über die Götter des Abends und Orients ist,
Die Natur ist jetzt mit Waffenklang erwacht,
Und hoch vom Aether bis zum Abgrund nieder
Nach festem Gesetze, wie einst, aus heiligem Chaos gezeugt,
Fühlt neu die Begeisterung sich,
Die Allerschaffende, wieder.
Und wie im Aug ein Feuer dem Manne glänzt,
Wenn hohes er entwarf, so ist
Von neuem an den Zeichen, den Taten der Welt jetzt
Ein Feuer angezündet in Seelen der Dichter.
Und was zuvor geschah, doch kaum gefühlt,
Ist offenbar erst jetzt,
Und die uns lächelnd den Acker gebauet,
In Knechtsgestalt, sie sind erkannt,
Die Allebendigen, die Kräfte der Götter.
Erfrägst du sie? im Liede wehet ihr Geist,
Wenn es der Sonne des Tags und warmer Erd
Entwächst, und Wettern, die in der Luft, und andern,
Die vorbereiteter in Tiefen der Zeit,
Und deutungsvoller, und vernehmlicher uns
Hinwandeln zwischen Himmel und Erd und unter den Völkern.
Des gemeinsamen Geistes Gedanken sind,
Still endend, in der Seele des Dichters.
Daß schnellbetroffen sie, Unendlichem
Bekannt seit langer Zeit, von Erinnerung
Erbebt, und ihr, von heilgem Strahl entzündet,
Die Frucht in Liebe geboren, der Götter und Menschen Werk,
Der Gesang, damit er beiden zeuge, glückt.
So fiel, wie Dichter sagen, da sie sichtbar
Den Gott zu sehen begehrte, sein Blitz auf Semeles Haus
Und die göttlichgetroffne gebar,
Die Frucht des Gewitters, den heiligen Bacchus.
Und daher trinken himmlisches Feuer jetzt
Die Erdensöhne ohne Gefahr.
Doch uns gebührt es, unter Gottes Gewittern,
Ihr Dichter! mit entblößtem Haupte zu stehen,
Des Vaters Strahl, ihn selbst, mit eigner Hand
Zu fassen und dem Volk ins Lied
Gehüllt die himmlische Gabe zu reichen.
Denn sind nur reinen Herzens,
Wie Kinder, wir, sind schuldlos unsere Hände,
Des Vaters Strahl, der reine, versengt es nicht
Und tieferschüttert, die Leiden des Stärkeren
Mitleidend, bleibt in den hochherstürzenden Stürmen
Des Gottes, wenn er nahet, das Herz doch fest.
Doch weh mir, wenn von
Weh mir!
Und sag ich gleich,
Ich sei genaht, die Himmlischen zu schauen,
Sie selbst, sie werfen mich tief unter die Lebenden,
Den falschen Priester, ins Dunkel, daß ich
Das warnende Lied den Gelehrigen singe,
Dort
– Friedrich Hölderlin. “Hinos tardios”. [tradução Maria Teresa Dias Furtado]. Porto: Editora Assírio & Alvim, 2000.

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Friedrich Hölderlin, Franz Karl Hiemer (1792)

BREVE BIOGRAFIA
“A vida e a obra de Hölderlin (1770-1843) confundem-se e fundem-se numa unidade totalizadora: a Poesia. Destinado à carreira eclesiástica por uma mãe dominadora, depressa se apercebe de que o seu caminho é o da criação pela palavra poética, a que prende todo o seu pensar, sentir e agir. (…) A partir de 1802, ano em que morre a sua Diotima – Susette Gontard, esposa do banqueiro de Frankfurt, em casa de quem desempenhou funções de preceptor desde 1796 até 1798 – passa a sofrer de perturbações psíquicas que se vão agravando com o tempo. Surge então a mitificação do “poeta louco”, mais alvo de curiosidade do que de respeito, e muitos dos seus manuscritos são destruídos por conhecidos e amigos que procuram reunir e editar a sua obra poética e acham que tudo o que foi escrito a partir daquela data é apenas fruto de um estado psíquico alterado. Na Torre de Tübingen, junto ao rio Nécar, onde através da sua janela o poeta vê as águas, os cisnes, os campos até às montanhas do Alb suábio, Hölderlin vive ainda de 1807 a 1843, ano em que morre, a 7 de junho. O marceneiro Zimmer, dono da casa, que aceitou tomá-lo aos seus cuidados – em boa parte porque admirava o autor de “Hipérion”, que lera com entusiasmo – depois da clínica Autenrieth o dar por incurável e com poucos meses de vida, veio a proporcionar-lhe, com a sua família, o ambiente de afeto e convívio de que o poeta carecera quase toda a sua vida. Neste último período, a produção poética cai numa maior rigidez formal, mas não perde o seu alcance lírico nem os seus ideais de humanismo helénico.

A grande revolução da poesia de Hölderlin ficou bem patente nos “Hinos Tardios” que apenas vêm a ser descobertos e editados em 1914 pelo escritor ligado ao Círculo George, Norbert von Hellingrath, que a breve trecho veio a morrer, durante a Primeira Grande Guerra. Em 1914, quando Rainer Maria Rilke lê, deslumbrado, tanto o volume dos “Hinos Tardios”, como o “Hipérion”, encontra em Hölderlin um novo modelo exemplar para a sua obra poética, sobretudo para as “Elegias de Duíno” e “Sonetos a Orfeu” que de algum modo ecoam a audácia sintática, rítmica e imagética dessas obras, lidas nesse ano. Depois de Rilke, toda uma plêiade de poetas tem assumido a herança de Hölderlin, nas mais variadas línguas e culturas. A unidade matricial da poesia hölderliniana, pela sua universalidade e pela sua essência fundamentalmente humana e intrinsecamente inovadora é captada nos mais diversos ângulos e temáticas, demonstrando a inesgotabilidade do autor e o carácter fundacional da sua obra.”
– Maria Teresa Dias Furtado, in “A Phala”, nº 57/Editora Assírio & Alvim. (acessado em 10.9.2017).

OBRA DE FRIEDRICH HÖLDERLIN
:: A morte de empédocles (fragmentos). 1797|1800.
:: Hyperion ou O eremita na Grécia. 1797|1799.
:: Tragédias de Sófocles. 1804.
:: Poemas de Friedrich Hölderlin. [edição Ludwig Uhland e Gustav Schwab]. 1826.

OBRAS DE FRIEDRICH HÖLDERLIN TRADUZIDAS PARA A LÍNGUA PORTUGUESA
Portugal
:: Poemas – Friedrich Hölderlin. [prefácio, selecção e tradução Paulo Quintela]. 2 vol’s., Coimbra: Atlântida, 1959; Lisboa: Relógio D’Água, 1991.
:: Elegias – Friedrich Hölderlin. [tradução Maria Teresa Dias Furtado]. Porto: Assírio e Alvim, 1992.
:: Hinos tardios – Friedrich Hölderlin. [tradução Maria Teresa Dias Furtado]. Porto: Editora Assírio & Alvim, 2000.
:: Hipérion ou o Eremita da Grécia. [tradução e prefácio Maria Teresa Dias Furtado]. Porto: Editora Assírio & Alvim, 1997.
:: Fragmentos de Píndaro – Friedrich Holderlin. [tradução, notas e prefácio de Bruno C. Duarte]. Porto: Editora Assírio & Alvim, 2010.

Brasil
:: Canto do destino e outros cantos – Friedrich Hölderlin. [organização, tradução e ensaio Antônio Medina Rodrigues]. São Paulo: Iluminuras, 1994.
:: Poemas – Friedrich Hölderlin. [seleção, tradução, introdução e notas José Paulo Paes]. São Paulo: Companhia das Letras, 1991.
:: Reflexões – Friedrich Hölderlin. [tradução Márcia de Sá Cavalcante e Antonio Abranches]. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1994.
:: Hipérion ou o Eremita na Grécia. [tradução Erlon José Pascoal]. São Paulo: Nova Alexandria, 2003.
:: A morte de empédocles – Friedrich Hölderlin. [tradução e introdução Marise Moassab Curiori]. São Paulo: Iluminuras, 2008.

Antologias e outros estudos
:: BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira. [poesia traduzida]. Rio de Janeiro: José Olympio, 1966.
:: KEMPF, Roswitha (versão). A poesia alemã – breve antologia. [Lavant, Kaschnitz, Enzensberger, Brecht, Benn, Trakl, Rilke, Heine, Hölderlin, Schiller, Goethe].. (edição bilíngue alemão/português). São Paulo: Massao Ohno Editor, 1981.
:: Hölderlin e outros estudos. in: QUINTELA, Paulo. Obras Completas de Paulo Quintela. Volumes II, III e IV. Lisboa: Calouste Guilbekian. 1999.
:: Observações sobre Édipo e Antígona. in: ROSENFIELD, K. Antígona – de Sófocles a Hölderlin. Porto Alegre: L&PM. 2000.

© A obra de Friedrich Hölderlin é de domínio público

© Pesquisa, seleção e organização: Elfi Kürten Fenske em colaboração com José Alexandre da Silva


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