Síntese
Noite silenciosa. Casa silenciosa.
Mas sou a mais calma estrela,
Eu também produzo luz própria
Além dos limites de minha noite.
Cerebralmente, voltei para casa
De infernos, céus, lixo e gado
E também o que se concede à mulher
É obscura e doce masturbação.
Revolvo o mundo. Agonizo a presa.
E depois dispo-me na alegria:
Não há morte, nem pó malcheiroso
Que me leve, eu-conceito, de volta ao mundo.
.
Synthese
Schweigende Nacht. Schweigendes Haus.
Ich aber bin der stillsten Sterne;
Ich treibe auch mein eigenes Licht
Noch in die eigne Nacht hinaus.
Ich bin gehirnlich heimgekehrt
Aus Höhlen, Himmeln, Dreck und Vieh
Auch was sich noch der Frau gewährt,
Ist dunkle süße Onanie.
Ich wälze Welt. Ich röchle Raub.
Und nächtens nackte ich im Glück:
Es ringt kein Tod, es stinkt kein Staub
Mich, Ich-begriff, zur Welt zurück.
– Gottfried Benn, em “Poesia expressionista alemã: uma antologia”. [organização e tradução de Claudia Cavalcanti]. São Paulo: Estação Liberdade, 2000.
§
Trem rápido
Marrom de conhaque. Marrom de folhagem. Marrom avermelhado. Amarelo malaio.
Trem rápido Berlim-Trelleborg e estâncias no mar Báltico.
Carne que ia nua:
Até a boca queimada do mar.
Maduramente mergulhada. Para a felicidade grega.
Em saudade-crescente: quão longe está o verão!
Já é o penúltimo dia do nono mês!
Restolho e última amêndoa são nossos desejos.
Ostentações, o sangue, as fadigas.
A proximidade das dálias entorpece.
Marrom-de-homem atira-se em marrom-de-mulher:
Uma mulher é algo para a noite.
E se foi bom, ainda para a próxima!
Ah! e então de novo aquele estar-consigo-próprio!
Esses mutismos! Esse ser-levado!
Uma mulher é algo com cheiro.
Indizível! Agonize! Resedá.
Para lá é Sul, pastor e mar.
Em cada declive se encosta uma sorte.
Marrom-claro-de-mulher cambaleia em marrom-escuro-de-homem:
Pare-me! ei, estou caindo!
Sinto a nuca tão cansada.
Ah, este febril doce
último cheiro dos jardins.
.
D-Zug
Braun wie Kognak. Braun wie Laub. Rotbraun. Malaiengelb.
D-Zug Berlin – Trelleborg und die Ostseebäder.
Fleisch, das nackt ging.
Bis in den Mund gebräunt vom Meer.
Reif gesenkt. Zu griechischem Glück.
In Sichel-Sehnsucht: wie weit der Sommer ist!
Vorletzter Tag des neunten Monats schon!
Stoppel und letzte Mandel lechzt in uns.
Enthaltungen, das Blut, die Müdigkeiten,
Die Georginennähe macht uns wirr.
Männerbraun stürzt sich auf Frauenbraun:
Eine Frau ist etwas für eine Nacht.
Und wenn es schön war, noch für die nächste!
Und dann wieder dies Bei-sich-selbst-sein!
Diese Stummheiten. Dies Getriebenwerden!
Eine Frau ist etwas mit Geruch.
Unsäglisches. Stirb hin. Resede.
Darin ist Süden, Hirt und Meer.
An jedem Abhang lehnt ein Glück.
Frauenhellbraun taumelt an Männerdunkelbraun:
Halte mich! Du, ich falle!Ich bin im Nacken so müde.
O dieser fiebernde süße
Letzte Geruch aus den Gärten.
(1912)
– Gottfried Benn, em “Poesia expressionista alemã: uma antologia”. [organização e tradução de Claudia Cavalcanti]. São Paulo: Estação Liberdade, 2000.
§
A bela juventude
A boca da moça que longo tempo jazera em meio aos juncos estava toda roída.
Quando lhe abriram o peito, o esôfago era só buracos.
Acabaram achando numa arcada abaixo do diafragma
um ninho de ratos novos.
Uma das ratinhas morrera.
Seus irmãos viviam do fígado e dos rins;
bebiam sangue frio e tinham
passado ali uma bela juventude.
E bela e pronta foi também a morte deles:
jogaram-nos todos na água.
Ah, como os focinhozinhos guinchavam!
.
Schoene jugend
Der Mund eines Mädchens, das lange im Schilf gelegen hatte,
sah so angeknabbert aus.
Als man die Brust aufbrach, was die Speisröhre so löcherig.
Schliebflich in einer Laube unter dem Zwerchfell
fand man ein Nest von jungen Ratten.
Ein kleines Schwesterchen lag tot.
Die andern lebten von Leber und Niere,
tranken das kalte Blut und hatten
hier eine schöne Jugend verblebt.
Und schön und schnell kam auch ihr Tod:
Man warf sie allesant ins Wasser.
Ach, wue die kleinen Schnauzen quietschten!
– Gottfried Benn [tradução José Paulo Paes], em “Gaveta de tradutor”, de José Paulo Paes. Florianópolis: Letras Contemporâneas, 1996.
§
Homem e mulher passam pelo pavilhão de cancerosos
O homem:
A fila aqui são ventres podres
e aquela, peitos podres. Cama fede junto
a cama. As enfermeiras trocam de hora em hora.
Vem, ergue devagar esta coberta.
Olha: esta massa gorda com humores podres
já foi querida outrora por um homem,
era seu êxtase e seu lar.
Vêm, olha as chagas neste peito. Notas
o rosário de nós pequenos, moles?
Apalpa. A carne é mole e nada sente.
Esta outra sangra como que de trinta corpos.
Ninguém tem tanto sangue.
Tiveram que cortar,
daquele ventre canceroso uma criança.
Que durmam. Dia e noite. — Diz-se aos novos:
o sono aqui faz bem. — Mas aos domingos
deixam-nos acordar, para as visitas.
Comem um pouco. Suas costas cobrem-se
de chagas. Olha as moscas. A enfermeira,
às vezes, lava-os. Como se lavasse um banco.
A cova aqui já ronda cada cama.
A carne desce à lama. A chama some.
A seiva se derrama. A terra chama.
.
Mann und Frau gehn durch die Krebsbaracke
Der Mann:
Hier diese Reihe sind zerfallene Schöße
und diese Reihe ist zerfallene Brust.
Bett stinkt bei Bett. Die Schwestern wechseln stündlich.
Komm, hebe ruhig diese Decke auf.
Sieh, dieser Klumpen Fett und faule Säfte,
das war einst irgendeinem Mann groß
und hieß auch Rausch und Heimat.
Komm, sieh auf diese Narbe an der Brust.
Fühlst du den Rosenkranz von weichen Knoten?
Fühl ruhig hin. Das Fleisch ist weich und schmerzt nicht.
Hier diese blutet wie aus dreißig Leibern.
Kein Mensch hat soviel Blut.
Hier dieser schnitt man
erst noch ein Kind aus dem verkrebsten Schoß.
Man läßt sie schlafen. Tag und Nacht. – Den Neuen
sagt man: hier schläft man sich gesund. – Nur sonntags
für den Besuch läßt man sie etwas wacher.
Nahrung wird wenig noch verzehrt. Die Rücken
sind wund. Du siehst die Fliegen. Manchmal
wäscht sie die Schwester. Wie man Bänke wäscht.
Hier schwillt der Acker schon um jedes Bett.
Fleisch ebnet sich zu Land. Glut gibt sich fort,
Saft schickt sich an zu rinnen. Erde ruft.
– Gottfried Benn, em “Poesia alheia, 124 poemas traduzidos”. [tradução e organização Nelson Ascher]. Rio de Janeiro Imago, 1998.
§
Campo dos infelizes
Farto da minha busca de ilhas,
rebanhos mudos, verde morto,
quero ser margem, ser baía,
de belos barcos ser um porto.
A minha praia quer sentir-se
pisada a vivo com pés quentes;
queixa-se a fonte a oferecer-se,
quer refrescar sedes ardentes.
E tudo quer a sangue estranho
subir, ir afogar-se a esmo,
até um outro ardor de vida,
nada ficar quer em si mesmo.
.
Gefilde der Unseligen
Satt bin ich meiner Inselsucht,
des toten Grüns, der stummen Herden;
ich will ein Ufer, eine Bucht,
ein Hafen schöner Schiffen werden.
Mein Strand will sich von Lebendem
mit warmen Fuß begangen fühlen;
die Quelle murrt in gebendem
Gelüste und will Kehlen kühlen.
Und alles will in fremdes Blut
aufsteigen und ertrunken treiben
in eines andern Lebensglut,
und nichts will in sich selber bleiben.
– Gottfried Benn, em “50 Poemas, de Gottfried Benn. [selecção, tradução e prefácio de Vasco Graça Moura]. Lisboa: Relógio d’Água, 1998.
§
Palavra, frase
Palavra, frase – E as cifras falam
a vida vivida, súbito sentido,
o sol estaca, as esferas calam,
tudo se concentra a ela volvido.
Palavra – um brilho, um voo, um fogo,
um jacto de chamas, de estrelas um traço –
em redor do mundo e de mim há logo
o escuro medonho no vazio espaço.
.
Ein Wort
Ein Wort, ein Satz -: aus Chiffren steigen
erkanntes Leben, jäher Sinn,
die Sonne steht, die Sphären schweigen,
und alles ballt sich zu ihm hin.
Ein Wort – ein Glanz, ein Flug, ein Feuer,
ein Flammenwurf, ein Sternenstrich –
und wieder Dunkel, ungeheuer,
im leeren Raum um Welt und Ich.
– Gottfried Benn, em “50 Poemas, de Gottfried Benn. [selecção, tradução e prefácio de Vasco Graça Moura]. Lisboa: Relógio d’Água, 1998.
§
Pequena sécia
Estenderam sobre a mesa o corpo de um
distribuidor de cerveja que se afogou.
alguém lhe havia encaixado entre os dentes
uma sécia , de um lilás escuro- claro.
Quando, com um longo escalpelo,
num corte subcutâneo,
a partir do peito,
arranquei a língua e o palato,
devo ter-lhe tocado,
pois resvalou para cima do cérebro
que se encontrava ali mesmo ao lado.
Então, quando o cosia,
coloquei-a na cavidade torácica,
entre as maravalhas.
Bebe até te fartares no teu vaso!
Descansa em paz,
pequena sécia!
.
Kleine aster
Ein ersoffener Bierfahrer wurde auf den Tisch gestemmt.
Irgendeiner hatte ihm eine dunkelhellila Aster
zwischen die Zähne geklemmt.
Als ich von der Brust aus
unter der Haut
mit einem langen Messer
Zunge und Gaumen herausschnitt,
muß ich sie angestoßen haben, denn sie glitt
in das nebenliegende Gehirn.
Ich packte sie ihm in die Brusthöhle
zwischen die Holzwolle,
als man zunähte.
Trinke dich satt in deiner Vase!
Ruhe sanft,
kleine Aster!
– Gottfried Benn, em “50 Poemas, de Gottfried Benn. [selecção, tradução e prefácio de Vasco Graça Moura]. Lisboa: Relógio d’Água, 1998.
§
Réquiem
Em cada mesa dois. Mulheres e homens entre-
cruzados. Sem tormento. E próximos e nus.
O peito esquartejado. O crânio aberto. O ventre
pela última vez agora a dar à luz.
Do cérebro aos testículos, cada um três malgas rentes.
E o templo de Deus e o estábulo infernal
agora peito a peito no chão da cuba, os dentes
a arreganhar prò Gólgota e a queda original.
O resto nos caixões. Tantos recém-nascidos:
cabelos de mulher, um peito de miúdo,
pernas de homem. De dois amantes prostituídos,
qual vindo de um só ventre, vi que ali estava tudo.
.
Requiem
Auf jedem Tische zwei. Männer und Weiber
kreuzweis. Nah, nackt, und dennoch ohne Qual.
Den Schädel auf. Die Brust entzwei. Die Leiber
gebären nun ihr allerletztes Mal.
Jeder drei Näpfe voll: von Hirn bis Hoden.
Und Gottes Tempel und des Teufels Stall
nun Brust an Brust auf eines Kübels Boden
begrinsen Golgatha und Sündenfall.
Der Rest in Särge. Lauter Neugeburten:
Mannsbeine, Kinderbrust und Haar vom Weib.
Ich sah von zweien, die dereinst sich hurten,
lag es da, wie aus einem Mutterleib.
– Gottfried Benn, em “50 Poemas, de Gottfried Benn. [selecção, tradução e prefácio de Vasco Graça Moura]. Lisboa: Relógio d’Água, 1998.
§
Um homem fala
Um homem fala:
Aqui não há consolo. Vê, como a terra
acorda também de suas febres.
Mal brilham ainda algumas dálias. Está devastada
como depois de uma batalha a cavalo.
Oiço a abalada no meu sangue.
Tu – meus olhos bebem já
os azuis das colinas distantes.
Algo toca de leve as minhas fontes.
.
Einer sang
Einer sang:
Ich liebe eine Hure, Sie heisst To.
Sie ist das Bräunlichste. Ja, wie aus Kähnen
Den Sommer lang. Ihr Gang sticht durch mein Blut.
Sie ist ein Abgrund wilder, dunkler Blumen.
Kein Engel ist so rein. Mit Mutteraugen.
Ich liebe eine Hure. Sie heist To.
– Gottfried Benn, em “50 Poemas, de Gottfried Benn. [selecção, tradução e prefácio de Vasco Graça Moura]. Lisboa: Relógio d’Água, 1998.
§
Chopin
Não muito fecundo na conversa,
as idéias não eram o seu forte,
as idéias vão de roda,
quando Delacxroix desenvolvia teorias
ele ficava inquieto, por seu lado
não podia dar razões para os Noturnos.
Fraco amante:
sombra em Nohant
onde os filhos de George Sand
nenhum conselho proveitoso
lhe aceitavam.
Doente dos pulmões,
com hemorragias e formação de cicatrizes
naquele modo que se arrasta;
morte tranquila
ao contrário de uma
com paroxismos de dor
ou com salvas de tiros:
encostaram o piano (Erard) à porta
e Delphine Potocka
na hora extrema
cantou-lhe um Veilchenlied.
Viajou para Inglaterra com três pianos:
Pleyel, Erard, Broodwood,
tocava a vinte guinéus por noite
um quarto de hora
nps Rothschilds, Wellingtons, em Strafford House
e perante inúmeras jarreteiras;
sombrio de fadiga e do acercar da morte
voltava para casa
no Square d’Orléans.
Depois queimou os seus esboços
e manuscritos,
sobretudo nenhuns restos, fragmentos, notas,
esses indícios traiçoeiros –
e disse no fim:
”As minhas tentativas consumaram-se à medida
do que me era possível alcançar”.
Cada dedo devia tocar
com a força correspondente à sua estrutura,
o quarto é o mais fraco
(só irmão siamês do dedo médio).
Quando começava, pousava-os
em mi, fá sustenido, sol sustenido, lá sustenido, dó.
Quem dele já ouviu
certos Prelúdios,
seja em casas de campo ou
em colinas
ou por portas abertas de terraços,
por exemplo, de um sanatório,
dificilmente o esquecerá.
Nunca compôs uma ópera,
nenhuma sinfonia,
só estas progressões trágicas
de convicção artística
e com uma mão pequena.
.
Chopin
Nicht sehr ergiebig im Gespräch,
Ansichten waren nicht seine Stärke,
Ansichten reden drum herum,
wenn Delacroix Theorien entwickelte,
wurde er unruhig, er seinerseits konnte
die Notturnos nicht begründen.
Schwacher Liebhaber;
Schatten in Nohant,
wo George Sands Kinder
keine erzieherischen Ratschläge
von ihm annahmen.
Brustkrank in jener Form
mit Blutungen und Narbenbildung,
die sich lange hinzieht;
stiller Tod im Gegensatz zu einem
mit Schmerzparoxysmen
oder durch Gewehrsalven:
man rückte den Flügel (Erard) an die Tür
und Delphine Potocka
sang ihm in der letzten Stunde
ein Veilchenlied.
Nach England reiste er mit drei Flügeln:
Pleyel, Erard, Broadwood,
spielte für 20 Guineen abends
eine Viertelstunde
bei Rothschilds, Wellingtons, im Stafford House
und vor zahllosen Hosenbändern;
verdunkelt von Müdigkeit und Todesnähe
kehrte er heim
auf den Square d’Orléans.
Dann verbrennt er seine Skizzen
und Manuskripte,
nur keine Restbestände, Fragmente, Notizen,
diese verräterischen Einblicke –
sagte zum Schluß:
“meine Versuche sind nach Maßgabe dessen vollendet,
was mir zu erreichen möglich war.”
Spielen sollte jeder Finger
mit der seinem Bau entsprechenden Kraft,
der vierte ist der schwächste
(nur siamesisch zum Mittelfinger).
Wenn er begann, lagen sie
auf e, fis, gis, h, c.
Wer je bestimmte Präludien
von ihm hörte,
sei es in Landhäusern oder
in einem Höhengelände
oder aus offenen Terrassentüren
beispielsweise aus einem Sanatorium,
wird es schwer vergessen.
Nie eine Oper komponiert,
keine Symphonie,
nur diese tragischen Progressionen
aus artistischer Überzeugung
und mit einer kleinen Hand.
– Gottfried Benn, em “50 Poemas, de Gottfried Benn. [selecção, tradução e prefácio de Vasco Graça Moura]. Lisboa: Relógio d’Água, 1998.
§
Mãe
Trago-te em mim como uma ferida
que não se fecha em minha fronte.
Nem sempre dói, e não se apouca
ao coração por ela a vida.
Só fico às vezes cego de repente
e sinto sangue na boca.
.
Mutter
Ich trage dich wie eine Wunde
auf meiner Stirn, die sich nicht schließt.
Sie schmerzt nicht immer. Und es fließt
das Herz sich nicht draus tot.
Nur manchmal plötzlich bin ich blind und spüre
Blut im Munde.
– Gottfried Benn, em “50 Poemas, de Gottfried Benn. [selecção, tradução e prefácio de Vasco Graça Moura]. Lisboa: Relógio d’Água, 1998.
BREVE BIOGRAFIA DE GOTTFRIED BENN
Gottfried Benn nascido a 2 de Maio de 1886, em Mansfeld, no Bandenburgo, Gottfried Benn foi o mais velho dos filhos de uma larga família dada à luz por um pastor protestante (Gustav Benn) e uma suíça de língua francesa (Caroline Benn). Cresceu a contar histórias aos irmãos mais novos e a odiar a austeridade paterna, que o obrigou a estudos de teologia, primeiro, filologia, depois, e de medicina, finalmente, apesar do seu interesse pelas letras. A perda da mãe, aos 26 anos, forneceu-lhe o motivo para o primeiro livro de poemas:Morgue und andere Gedichte (1912). À publicação do livro, seguiram-se contatos com Else Lasker-Schüler e editores e escritores expressionistas. Enquanto prestava serviços médicos durante a Primeira Grande Guerra, apaixonou-se pela atriz Edith Brosin. O casamento pouco durou. Benn perdeu a mulher em 1921. Especializado em doenças sexuais, atraído pelo nazismo e pela cantora de ópera Ellen Overgaard (a ordem de interesses é aleatória), acabou por ser ostracizado pelos parceiros mais liberais. Mas o regime do Führer também não lhe foi menos hostil. «O poeta passou a uma forma aristocrática de emigração; remetido ao silêncio desde 1936, data em que ainda saem os seus Poemas Escolhidos, silêncio em que vai ficar até 1948 (Poemas Estáticos), em Maio de 1938 fora excluído da Câmara dos Escritores, com radical proibição de escrever e publicar» (Vasco Graça Moura). A razão da hostilidade nazi ter-se-á ficado a dever, antes de mais, ao simples facto dos seus livros terem sido publicados por firmas presididas por judeus. Mas também foi acusado de publicar uma poesia degenerada e homossexual. Ainda assim, voltou a servir durante a Segunda Grande Guerra. Para trás tinham ficado, além dos poemários, uma novela e algumas peças teatrais. Voltou a casar uma segunda e uma terceira vezes. A sua segunda mulher, que era igualmente sua secretária, suicidou-se em Julho de 1945 e, em Dezembro de 1946, o poeta juntou-se a uma jovem dentista chamada Ilse Kaul. Terminada a Guerra, foi relegado ao silêncio pelos aliados. Só a publicação dos Poemas Estáticos reabilitou o autor, publicando a partir de então trabalhos em prosa e em verso. Em 1951, foi-lhe atribuído o Prémio Georg Büchner. Morreu no dia 7 de Julho de 1956, vítima de cancro nos ossos.
Fonte biográfica: antologia do esquecimento
Obra de Gottfried Benn em português
:: 50 Poemas, de Gottfried Benn. [selecção, tradução e prefácio de Vasco Graça Moura]. Porto: O Oiro do Dia, 1982; Lisboa: Relógio d’Água, 1998.
Antologia (participação)
:: Poesia alheia, 124 poemas traduzidos. [tradução e organização Nelson Ascher]. Rio de Janeiro Imago, 1998.
:: Poesia expressionista alemã: uma antologia. [organização e tradução de Claudia Cavalcanti]. São Paulo: Estação Liberdade, 2000.
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© Pesquisa, seleção e organização: Elfi Kürten Fenske em colaboração com José Alexandre da Silva