“O melhor presente para dar a si mesmo é perdoar. Conceda o perdão para a surpresa de quem o magoou. Desfaça discussões, ressentimentos e divergências com o poder curativo da palavra, a partir de um telefonema, de uma carta, de um bilhete, de um inbox. Peça desculpas no lugar do outro, ensine o outro a pedir desculpas, ofereça o exemplo. Quem perdoa renasce. Quem perdoa readquire a leveza da vida. Quem perdoa não fica preso a inimizades e reabre as portas de sua sensibilidade. […] Peça perdão, mas sem atropelar, com calma e convicção. Não falando da boca para fora, e sim mudando de dentro para fora. Pois há todo o trabalho de exercitar o entendimento e não desistir das próprias resoluções. O perdão demora muito tempo para ser cumprido depois de ser selado. Quando escrevi Cuide dos pais antes que seja tarde, inaugurava a minha jornada para ser um filho melhor. Não aconteceu a transformação num passe de mágica. Assumir não é provar, promessas não remediam as mágoas. […] O perdão não é propor um futuro diferente, é alterar também o passado de vítima, apagar as mentiras que criamos para proteger os nossos defeitos. O perdão é confiar de igual para igual e cuidar como gostaria de ser cuidado. Significa perder o monopólio da dor, abdicar da exclusividade das reclamações, dividir as fraquezas, bancar a responsabilidade pelos erros de comunicação.”
Do livro ‘Família é tudo’. (na ‘apresentação’). Carpinejar. Bertrand Brasil, 2019.
Capitulo 31 – Guardamos a sensação de que não nos despedimos direito daqueles que amamos
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Guardamos a sensação de que não nos despedimos direito daqueles que amamos e que se foram. É como se não tivéssemos dito tudo ou como se precisássemos nos preparar melhor para o desenlace.
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O abraço deveria ter sido mais apertado; as frases de efeito, mais contundentes; o olhar, mais banhado de lágrimas.
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A impressão é que faltou um maior tempo, uma maior disposição; mas é natural se atrapalhar mesmo. Não estamos diante de um espelho, e sim de um rosto de verdade. Existe carência e incompetência em ambos os lados, no lado que fica morrendo de saudade e no lado que vai morrendo de medo do desconhecido.
Amar é enfrentar a insuficiência no leito do hospital. Significa a pior provação de nossa frágil condição: estabelecer um diálogo com nexo quando nada tem sentido.
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A esperança nos faz engasgar. Como achar normal não mais enxergar aquela pessoa? Nenhum exercício mental é capaz de conter o tumulto do coração. O coração sai da boca, sai correndo do quarto para não sofrer, e o corpo permanece ali, na aparência, embasbacado, sentado na cadeira, não entendendo nada, não respeitando os limites e a mortalidade injusta de cada um.
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Estamos tão assustados com a morte iminente que todo murmúrio parece ser insignificante. É uma impotência emocional difícil de superar.
Como resumir uma amizade em brevíssimos instantes? Como elaborar um epíteto?
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E mais dói o fim quando, em vez de ampararmos quem está sofrendo, o doente é que nos consola dizendo para não nos entristecermos. Nesse instante é que desabamos: com a surpreendente generosidade do nosso ente, mais preocupado conosco do que com ele.
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Eu perdi a minha avó Elisa quando eu tinha dez anos. Muito cedo para uma criança formular o desaparecimento físico. Nenhuma história dos pais me satisfazia. Eu só consegui entregar um desenho para ela. E ela me perguntou quem era ela na ilustração: eu apontei para a árvore, para a casa, para os pássaros, para o chão, para as nuvens, para o sol, menos para ela, desenhada ao lado da minha mãe. Porque ela era tudo para mim. Estaria sempre dentro de tudo para mim.
Do livro ‘Família é tudo’. (apresentação). Carpinejar. Bertrand Brasil, 2019.
O LIVRO
Família é tudo: nossos filhos, nossos pais, nossos avós, nossa vida
Em Família é tudo, Carpinejar compartilha com o coração muitas histórias de vida. Ao ler com os olhos da sensibilidade, contemplamos paisagens diversas, visitando momentos de outros tempos: os apagões frequentes, quando a família conversava de mãos dadas e à luz de velas, a cumplicidade do pai que ensina o filho a fazer a barba e a dar nó em gravata.
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Os filhos crescem, os pais envelhecem. Carpinejar nos conduz por essa linha do tempo, mostrando a angústia com a ideia de perder os pais, que sairão do mundo; superando a vergonha e o orgulho de dizer “eu te amo” ao oferecer carinho e cuidados; reconhecendo a humanidade da mãe e do pai que habitam dentro dele, com seus ensinamentos e seu amor dedicado. E, a partir daí, nos leva a outro passeio pela vivência da própria paternidade, com as dores e as delícias de acompanhar o crescimento dos filhos, que pouco a pouco conquistam a liberdade de andar com os próprios pés.
Carpinejar nos convida a valorizar a grandeza dos pequenos momentos diários do convívio em família: menos tempo no celular, mais conversa olhos nos olhos. Sutis gestos de ternura e gentileza vão tecendo, de uma geração a outra, o que mais importa: o amor nos relacionamentos.
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Nunca teremos tempo para nos despedir direito, capriche nos encontros imperfeitos, afinal, Família é tudo.
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Uma leitura leve que proporciona ao leitor uma viagem do riso às lágrimas, da saudade às lembranças. Família é tudo uma reflexão sobre a importância da família e sobre a importância de valorizarmos tal instituição enquanto ainda estamos vivos.
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FICHA TÉCNICA
Título: Família é tudo: nossos filhos, nossos pais, nossos avós, nossa vida
Editora: Bertrand Brasil
Ano 1ª edição: 2019
Páginas: 176
ISBN: 978-85-286-2441-0
Valor: R$ 44,90
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SOBRE O AUTOR
Fabrício Carpinejar é poeta, jornalista e mestre em Literatura Brasileira pela UFRGS, além de coordenador e professor do curso de Formação de Escritores e Agentes Literários da Unisinos. Filho do casal de poetas Maria Carpi e Carlos Nejar, nasceu na cidade gaúcha de Caxias do Sul em 1972. Recebeu diversos prêmios, entre eles o Maestrale/San Marco (2001), Açorianos (2001 e 2002), Cecília Meireles (2002), Olavo Bilac (2003) e Prêmio Erico Verissimo (2006). Carpinejar foi traduzido ao alemão e assinou contratos na Itália e na França. Participou de antologias no México, Colômbia, Índia e Espanha, e vem sendo aclamado por escritores do porte de Carlos Heitor Cony, Millôr Fernandes, Ignácio de Loyola Brandão e Antonio Skármeta como um dos principais nomes da poesia brasileira contemporânea.
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