quinta-feira, dezembro 19, 2024

Hermann Hesse – ‘Demian’: citações – aforismos – excertos

DEMIAN – A história da juventude de Emil Sinclair
Nota do tradutor – IVO BARROSO
DEMIAN
, escrito em 1919, é o primeiro grande livro de Hermann Hesse no caminho que o conduz a DER STEPPENWOLF (O Lobo da Estepe) – sua indiscutível obra-prima de 1927 – e do qual SIDARTA, que aparece em 1922, constitui a etapa intermediária. Pode-se dizer que o Harry Haller, de O LOBO DA ESTEPE, é o Emil Sinclair, de DEMIAN, na matu­ridade.
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O arranque representado por DEMIAN é, entretanto, mais significativo se se tem em conta seu valor de quebra-diques na própria contenção formal e emotiva da obra de Hesse. Até então, a despeito dos gritos convencionais de revolta contra a educação coercitiva do novecentismo germânico, representados por PETER KAMENZIND (1904) e UNTERM RAD (Debaixo das Rodas – 1906), seus escritos estratificam o burilar correto e neoromânti­co de um mestre-escola provinciano, pontilhado de descrições de um gosto artífice, mas onde o olhar se coloca numa posição alpina, de contemplação para baixo, paisagística. É exatamente com DEMIAN que o enfoque se modifica: a contemplação se volta para si mesma e vai buscar no interior do próprio personagem a visão multilatitudinal do mundo; a perspectiva se intromete na própria vivência autobiográfica e o autor ousa ser ele e proclamar sua mensagem. Esse novo elemento, até então ausente da obra literária de Hesse, transforma por completo sua essência: de estilista requintado, mas restrito, se torna um dos valores mais originais e profundamente humanos da literatura alemã da primeira metade do século.

“Quem quiser nascer tem que destruir um mundo” – eis a mensagem – destruir no sentido de romper com o passado e as tradições já mortas, de desvincular-se do meio excessivamente cômodo e seguro da infância para a consequente dolorosa busca da própria razão de existir: ser é ousar ser – o que Gide levaria às últimas consequências em sua obra, marcadamente em “Os Subterrâneos do Vaticano”. O conflito entre a dualidade “mundo luminoso” (ideal) e “mundo sombrio” (real) por que tem de passar Sinclair para o encontro ou a edificação de sua personalidade é o tema central do livro; tema que se teria prestado, como inúmeras obras românticas da época, a um estado sentimental de rebeldia, infrutífero e estanque, no qual essa dualidade de impulsos não conduz a qualquer síntese ou solução, mas que em Hesse, entretanto, se equaciona “na aceitação e na afirmação da própria personalidade em toda a sua humana plenitude de tendências antitéticas e inconciliáveis, inevitavel­mente coexistentes num trágico dinamismo psíquico”. E ainda mais que uma história ou romance de educação é o relato de um processo de deseducação, ou, preferindo-se, de reeducação, de laborioso apagar das pegadas que o puritanismo educacional deixa impressas na alma adolescente: a timidez, a humildade, o alheamento — armas obsoletas contra a hostilidade do mundo real — e que conduzem, mais tarde, inapelavelmente, à solidão e à inadaptabilidade, à surda revolta e ao amargo constrangimento.
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O livro reflete, obviamente, a tendência de introduzir na literatura a doutrina de Freud, que estava na ordem do dia, e da qual Hesse era um apaixonado estudioso, tendo-se posto inclusive aos cuidados do Dr. J. B. Lang, psicanalista de Luzerna, quando vítima de crise de neurastenia que lhe sobreveio após a Primeira Guerra Mundial. Daí a presença constante do oni­rismo na obra, de um certo entrevelado complexo de Édipo (aqui exposto através de um sutil mecanismo de transferência), de permeio com reminiscência de estudos de ciências antigas e herméticas, hauridos na intimidade da biblioteca do avô materno.

No caso de Hesse, mais do que na maioria dos autores, um conhecimento biográfico se faz necessário à boa compreensão dos elementos surpreendentes de sua natureza. Descendente de família suábia, criado no mais rígido rigorismo religioso — o pai, erudito famoso de história religiosa; a mãe, filha de missio­nário, nascida e educada na Índia; o avô, Hermann Gundert, indianista de renome — Hermann Hesse nasce em 2 de julho de 1877, em Calw, pequena cidade do Wurtemberg, na Floresta Negra. Desde logo destinado à carreira eclesiástica, passa pela levedura espiritual e a constrição educativa de quatro seminários, donde egressa para tornar-se aprendiz de relojoeiro e, mais tarde, auxiliar de livraria, em Basiléia e Tübingen.
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Essa reação à vida religiosa e a firme obstinação de se tornar poeta (aos treze anos tinha por divisa: “serei poeta ou nada”) é explicada por seu biógrafo, Hugo Ball, como uma fixação pela poderosa personalidade de sua mãe, contista de sensibilidade, cuja figura (“bela voz clara e sonora”) imprime-se na alma do jovem de maneira tão marcante quanto a imagem da “mulher ideal”. O contato com o mundo livreiro proporciona­l-lhe a oportunidade de publicar, em 1899, seus ROMANTISCHE LIEDER, (Cantos Românticos) e, cinco anos mais tarde, sua primeira novela, PETER KAMENZIND, que logo alcançou nume­rosas edições, permitindo ao poeta libertar-se da ocupação burguesa para entregar-se exclusivamente à literatura. Nesse mesmo ano (1904), transfere-se com a primeira esposa para Gaenhofen, ás margens do lago Constança, na fronteira ger­mano-suíça. Data dessa época sua colaboração na revista März, de Munique, cujo diretor Theodor Heuss, combate o poder pessoal de Guilherme II; os artigos de Hesse, entretanto, corres­pondem mais a uma atitude democrática e liberal, do que a um compromisso partidário, que nunca teve.

Em 1911, “por necessidade interior”, empreende uma viagem à India, berço de sua mãe, e que exerce sobre ele a atração de uma pátria espiritual e misteriosa; a viagem, entre­tanto, não lhe proporciona o esperado deleite. Em 1914, transfere-se para Berna, onde vai surpreendê-lo a declaração de guerra, em relação à qual Hesse assume, desde o início, uma atitude intelectual de absoluta neutralidade. O entusiasmo guer­reiro de seus compatriotas poetas leva-o a escrever o artigo “ó amigos, abstende-vos desse tom”, que lhe acarreta uma onda de incompreensão e repulsa semelhante à que avassalou Romain Rolland.
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Data dessa época sua crise nervosa, decorrente não só da conturbada situação mundial, mas ainda do agravamento da enfermidade psíquica da esposa. A separação do casal é ine­vitável. Hesse fixa-se ao sul dos Alpes e descobre em 1919 a Collina d’Oro, a sudoeste de Lugano. Nessa fase, excursiona pela pintura, fazendo aquarelas, e o trato com as cores vai impressio­nar vivamente sua obra, transparecendo inclusive nas páginas deste livro. Data dessa época também o encontro de sua segunda esposa, Ruth, vínculo que teve, aliás, breve duração. Em 1923, adota a cidadania suíça e encontra finalmente tranquilidade, junto à terceira esposa, para empreender a obra principal de sua vida, coroada com o aparecimento, em 1943, de DAS GLASPER­LENSPIEL (O Jogo das Contas de Vidro), onde expressa um apurado conhecimento musical.
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Durante os anos da Segunda Grande Guerra, acolhe refu­giados do regime nazista e encontra as portas literárias da Alemanha novamente fechadas para a sua obra. Em 1946, obtém o prêmio Nobel de Literatura, principalmente em razão de sua obra poética, mas a saúde débil não lhe permite ir a Estocolmo recebê-lo pessoalmente. Falece em 1962, aos 85 anos de idade.

De posse desses elementos, fácil nos é perceber quanto as figuras de Sinclair, Demian e Pistórius encerram do próprio Hesse, não passando de sínteses ou projeções de suas vivências: Sinclair, mais do que todos, é o êmulo real do autor: a mesma infância, o mesmo ambiente parental, a mesma inadaptabilidade ao mundo cotidiano. Demian será talvez o Hesse ideal, o que gostaria de ter sido, decisivo, homem do destino, marcado pelo sinal de Caim. Também Pistórius é um heterônimo de Hesse, organista na vida real, filho de teólogo, guia de outrem mas incapaz de encontrar o próprio caminho. Tudo indica, ainda, ter servido para o vigoroso retrato de Eva a significativa figura da própria mãe do poeta.
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Cabe uma palavra final sobre a atitude de Hesse em relação à guerra e à comunidade. Pode parecer hoje um tanto superado o desprezo pela coletividade demonstrado por Sinclair, passível de confundir-se com um sucedâneo da torre de marfim. Mas o que Hesse realmente ataca é a aceitação do rebanho, permeável a influências externas, capaz de ser levado à guerra na ilusão de estar praticando um ato heróico. A atitude não está certamente isenta de alguma aristocracia intelectual, mas formulada antes no sentido do culto do individualismo enquanto útil, capaz de encontrar o destino, do que no isolamento gratuito e inaplicável. Hesse rebela-se contra a uniformização; não é a massa que o impressiona, mas os processos de submissão, de estandardização a que ela se submete. Ergue um canto de glorificação ao indi­víduo consciente de si mesmo e de seu próprio caminho e execra o morticínio capaz de destruir com uma simples bala esse expe­rimento único e insubstituível da natureza: o homem. Ivo Barroso

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Hermann Hesse – escritor e pintor alemão

AFORISMOS – CITAÇÕES – EXCERTOS – DEMIAN – HERMAN HESSE 

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“Queria apenas tentar viver aquilo que brotava espontaneamente de mim. Porque isso me era tão difícil?”
– Hermann Hesse, ‘epígrafe’ do livro “Demian” [tradução Ivo Barroso]. Record, 2015.
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“Mas cada homem não é apenas ele mesmo; é também um ponto único, singularíssimo, sempre importante e peculiar, no qual os fenômenos do mundo se cruzam daquela forma uma só vez e nunca mais. Assim, a história de cada homem é essencial, eterna e divina, e cada homem, ao viver em alguma parte e cumprir os ditames da Natureza, é algo maravilhoso e digno de toda a atenção.”
– Hermann Hesse, ‘epígrafe’ do livro “Demian” [tradução Ivo Barroso]. Record, 2015.
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“Não creio ser um homem que saiba. Tenho sido sempre um homem que busca, mas já agora não busco mais nas estrelas e nos livros. Começo a ouvir os ensinamentos que meu sangue murmura em mim.”
– Hermann Hesse, ‘epígrafe’ do livro “Demian” [tradução Ivo Barroso]. Record, 2015.
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“A vida de todo ser humano é um caminho em direção a si mesmo, a tentativa de um caminho, o seguir de um simples rastro. Homem algum chegou a ser completamente ele mesmo; mas todos aspiram a sê-lo, obscuramente alguns, outros mais claramente, cada qual como pode.” 
– Hermann Hesse, ‘epígrafe’ do livro “Demian” [tradução Ivo Barroso]. Record, 2015.
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“Pela primeira vez saboreei a morte. Tinha um gosto amargo. Pois a morte é nascimento, é angústia e medo ante uma renovação aterradora.”
– Hermann Hesse, ‘epígrafe’ do livro “Demian” [tradução Ivo Barroso]. Record, 2015.
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“De um modo geral, não se deve temer a ninguém. Quando temos medo a alguém é porque demos a esse alguém algum poder sobre nós”
– Hermann Hesse, ‘epígrafe’ do livro “Demian” [tradução Ivo Barroso]. Record, 2015.
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“Hoje sei muito bem que nada na vida repugna tanto ao homem do que seguir pelo caminho que o conduz a si mesmo”
– Hermann Hesse, ‘epígrafe’ do livro “Demian” [tradução Ivo Barroso]. Record, 2015.
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“Todos os homens vivem esses momentos difíceis. Para os de nível médio, este é o ponto da existência em que surge a maior oposição entre o avançar da própria vida e o mundo em derredor, o ponto em que se torna mais duro conquistar o caminho que conduz à frente. São muitos os que unicamente esta vez passam na vida por aquele morrer e renascer que é o nosso destino, somente esta vez, quando tudo o que chegarmos a amar quer abandonar-nos e sentimos de repente em nós a solidão e o frio mortal dos espaços infinitos. E há muitos também que se embaraçam para sempre nesses escolhos e permanecem a vida toda agarrados a um passado sem retorno, ao sonho do paraíso perdido, o pior e o mais assassino de todos os sonhos.”
– Hermann Hesse, ‘epígrafe’ do livro “Demian” [tradução Ivo Barroso]. Record, 2015.
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“Quando um animal ou um homem orienta toda a sua atenção e toda a sua força de vontade para determinado fim, acaba por consegui-lo. O mesmo acontece com o que antes dizíamos. Se observarmos uma pessoa com suficiente atenção, Acabaremos por saber mais da pessoa do que a própria pessoa”
– Hermann Hesse, ‘epígrafe’ do livro “Demian” [tradução Ivo Barroso]. Record, 2015.
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“Vejo que pensas mais do que podes exprimir. Mas vejo também que nunca viveste completamente aquilo que pensas, e isso não é bom. Somente as idéias que vivemos é que têm valor. Percebeste que o “mundo permitido” era apenas a metade do mundo, e trataste de ocultar a outra metade, como fazem os religiosos e os professores. Jamais o conseguirás! Ninguém o consegue, a partir do momento em que haja começado a pensar.”
– Hermann Hesse, ‘epígrafe’ do livro “Demian” [tradução Ivo Barroso]. Record, 2015.
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“— As palavras engenhosas não têm qualquer valor, absolutamente nenhum. Só conseguem afastar-nos de nós mesmos. E afastar-se de si mesmo é um pecado. É preciso que se saiba encerrar-se em si mesmo, como a tartaruga.”
– Hermann Hesse, ‘epígrafe’ do livro “Demian” [tradução Ivo Barroso]. Record, 2015.
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“Uma vaga desilusão foi debilitando e esfumando meus sentimentos e minhas alegrias habituais; o jardim já não tinha perfume, o bosque não mais me atraía, o mundo se estendia ao meu redor como um saldo de trastes velhos, insípido e desencantado; os livros eram papel; a musica, ruído. Exatamente como a árvore do outono ao perder suas folhas que lhe caem ao redor, sem senti-lo e quando a chuva, a geada e o sol lhe resvalam pelo tronco, enquanto a vida se retira para o mais íntimo e recôndito de si mesma. Não morre. Espera.”
– Hermann Hesse, ‘epígrafe’ do livro “Demian” [tradução Ivo Barroso]. Record, 2015.
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“A parte de minha vida que tive de arrancar às potências sombrias ofereci-a em sacrifício aos poderes luminosos. Meu fim não era o prazer, mas a pureza; não a felicidade, mas a espiritualidade e a beleza.”
– Hermann Hesse, ‘epígrafe’ do livro “Demian” [tradução Ivo Barroso]. Record, 2015.
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“… o acaso não existe. Quando alguém encontra algo de que verdadeiramente necessita, não é o acaso que tal proporciona, mas a própria pessoa; seu próprio desejo e sua própria necessidade a conduzem a isso.”
– Hermann Hesse, ‘epígrafe’ do livro “Demian” [tradução Ivo Barroso]. Record, 2015.
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“Creio que a música me agrada por sua completa ausência de moralidade. Todo o resto é moral, e procuro algo que não o seja.” 
– Hermann Hesse, ‘epígrafe’ do livro “Demian” [tradução Ivo Barroso]. Record, 2015.
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“Desde criança sempre me agradava contemplar as formas estranhas da natureza, não como observador que investiga, mas abandonando-me apenas ao seu encanto peculiar, à sua profunda e complexa linguagem. As longas raízes das árvores, os veios coloridos das pedras, as manchas de óleo sobrenadando na água, as fendas dos cristais, todas as coisas desse gênero tiveram desde muito para mim um singular encanto, como também a água e o fogo, a fumaça, as nuvens, o pó, e sobretudo as luminosas máculas que via movendo-se ao fechar os olhos.”
– Hermann Hesse, ‘epígrafe’ do livro “Demian” [tradução Ivo Barroso]. Record, 2015.
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“Uma mesma divindade indivisível atua sobre nós e a Natureza, e se o mundo exterior desaparecesse, qualquer um de nós seria capaz de reconstruí-lo, pois a montanha e o rio, a árvore e a folha, a raiz e a flor, todas as criaturas da Natureza estão previamente criadas em nós mesmos, provêm de nossa alma, cuja essência é a eternidade, essência que escapa ao nosso conhecimento, mas que se faz sentir em nós como força amorosa e criadora.” 
– Hermann Hesse, ‘epígrafe’ do livro “Demian” [tradução Ivo Barroso]. Record, 2015.
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“— Sempre achamos que são demasiadamente estreitos os limites de nossa personalidade! Atribuímos à nossa pessoa somente aquilo que distinguimos como individual e divergente. Mas cada um de nós é um ser total do mundo, e da mesma forma como o corpo integra toda a trajetória da evolução, remontando ao peixe e mesmo a antes, levamos em nossa alma tudo o quanto desde o princípio está vivendo na alma dos homens. Todos os deuses e todos os demônios que já existiram, quer entre os gregos, os chineses ou os cafres, todos estão conosco, todos estão presentes, como possibilidades, desejos ou caminhos. Se toda a humanidade perecesse, com exceção de uma só criança medianamente dotada, esse menino sobrevivente tornaria a encontrar o curso das coisas e poderia criar tudo de novo: deuses, demônios e paraísos, mandamentos e proibições, antigos e novos Testamentos.”
– Hermann Hesse, ‘epígrafe’ do livro “Demian” [tradução Ivo Barroso]. Record, 2015.
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“— Há muita diferença entre levarmos simplesmente o mundo em nós mesmos e conhecê-lo. Um louco pode expor ideias que lembrem as de Platão e um colegial devoto pode criar em sua imaginação profundas conexões mitológicas que aparecem nas doutrinas dos gnósticos ou de Zoroastro. Mas sem sabê-lo! E enquanto não sabe, é uma árvore ou uma pedra, ou quando muito um animalzinho. Não creio que se possam considerar homens todos esses bípedes que caminham pelas ruas, simplesmente porque andam eretos ou levem nove meses para vir à luz. Sabes muito bem que muitos deles não passam de peixes ou de ovelhas, vermes ou sanguessugas, formigas ou vespas. Todos eles revelam possibilidades de chegar a ser homens, mas só quando vislumbram e aprendem a levá-las em parte à sua consciência é que se pode dizer que possuem uma…”
– Hermann Hesse, ‘epígrafe’ do livro “Demian” [tradução Ivo Barroso]. Record, 2015.
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“… perdia-me naquela música estranha e íntima, ensimesmada e como absorta em seus próprios sons, que sempre me faziam bem e me predispunham a dar razão ás vozes de minha alma.”
– Hermann Hesse, ‘epígrafe’ do livro “Demian” [tradução Ivo Barroso]. Record, 2015.
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“Quando te ocorrer de novo algo verdadeiramente insensato e pecaminoso, quando sentires a tentação de matar alguém ou cometer alguma obscenidade monstruosa, pensa que é Abraxas quem devaneia assim em teu interior! O homem a quem quiseres matar nunca será este ou aquele; esses não passam de disfarces. Quando odiamos um homem, odiamos em sua imagem algo que trazemos em nós mesmos. Também o que não está em nós mesmos nos deixa indiferentes.”
– Hermann Hesse, ‘epígrafe’ do livro “Demian” [tradução Ivo Barroso]. Record, 2015.
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“A única realidade é aquela que se contém dentro de nós, e se os homens vivem tão irrealmente é porque aceitam como realidade as imagens exteriores e sufocam em si a voz do mundo inteiro. Também se pode ser feliz assim; mas quando se chega a conhecer o outro, torna-se impossível seguir o caminho da maioria. O caminho da maioria é fácil, o nosso é penoso. Caminhemos.”
– Hermann Hesse, ‘epígrafe’ do livro “Demian” [tradução Ivo Barroso]. Record, 2015.
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“A maioria das pessoas vive também em sonhos, mas não nos próprios, e aí é que está a diferença.”
– Hermann Hesse, ‘epígrafe’ do livro “Demian” [tradução Ivo Barroso]. Record, 2015.
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“… todo homem tinha uma “missão”, mas ninguém podia escolher a sua, delimitá-la ou administrá-la a seu prazer. Era errôneo querer novos deuses, era completamente errôneo querer dar algo ao mundo. Para o homem consciente só havia um dever: procurar-se a si mesmo, afirmar-se em si mesmo e seguir sempre adiante o seu próprio caminho, sem se preocupar com o fim a que possa conduzi-lo.”
– Hermann Hesse, ‘epígrafe’ do livro “Demian” [tradução Ivo Barroso]. Record, 2015.
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“O verdadeiro ofício de cada um era apenas chegar até si mesmo. Depois, podia acabar poeta ou louco, profeta ou criminoso. Isso já não era coisa sua, e além de tudo, em última instância, carecia de todo alcance. Sua missão era encontrar seu próprio destino, e não qualquer um, e vivê-lo inteiramente até o fim. Tudo o mais era ficar a meio caminho, era retroceder para refugiar-se no ideal da coletividade, era adaptação e medo da própria individualidade interior.”
– Hermann Hesse, ‘epígrafe’ do livro “Demian” [tradução Ivo Barroso]. Record, 2015.
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“Mas sempre haverei de ter em meu redor algo que considere santo e belo, música de órgão e mistério, símbolo e mito.”
– Hermann Hesse, ‘epígrafe’ do livro “Demian” [tradução Ivo Barroso]. Record, 2015.
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“— A comunidade — continuou dizendo — é uma coisa muito bela. Mas o que vemos florescer agora não é a verdadeira comunidade. Essa surgirá, nova, do conhecimento mútuo dos indivíduos e transformará por algum tempo o mundo. O que hoje existe não é comunidade: é simplesmente o rebanho. Os homens se unem porque têm medo uns dos outros e cada um se refugia entre seus iguais: rebanho de patrões, rebanho de operários, rebanho de intelectuais… E por que têm medo? Só se tem medo quando não se está de acordo consigo mesmo. Têm medo porque jamais se atreveram a perseguir seus próprios impulsos interiores. Uma comunidade formada por indivíduos atemorizados com o desconhecido que levam dentro de si. Sentem que já periclitaram todas as leis em que baseiam suas vidas, que vivem conforme mandamentos antiquados e que nem sua religião nem sua moral são aquelas de que ora necessitamos.”
– Hermann Hesse, ‘epígrafe’ do livro “Demian” [tradução Ivo Barroso]. Record, 2015.
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“Todos os homens estão prontos a fazer o impossível quando seus ideais estão ameaçados; mas quando se anuncia um novo ideal, um novo impulso de crescimento, inquietante e talvez perigoso, todos se acovardam.”
– Hermann Hesse, ‘epígrafe’ do livro “Demian” [tradução Ivo Barroso]. Record, 2015.
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“Pois havia muitos homens, e alguns deles morreram a meu lado, para os quais era evidente que o ódio e a fúria, a matança e a destruição não se achavam ligados aos objetos. Não; os objetos, bem como os fins, eram puramente casuais. Os sentimentos primordiais, inclusive os mais violentos, não iam contra o inimigo; sua obra sangrenta era apenas uma irradiação do interior, da alma dissociada e dividida, que queria enfurecer-se e matar, aniquilar e morrer, para nascer de novo. Uma ave gigantesca rompia a casca. A casca era o mundo, e o mundo havia de cair feito em pedaços.”
– Hermann Hesse, ‘epígrafe’ do livro “Demian” [tradução Ivo Barroso]. Record, 2015.
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:: Hermann Hesse – escritor e pintor alemão (biografia, fortuna crítica, poemas, aquarelas)
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