Aos 91 anos, Manoel Bernardino concluiu o Ensino Médio e encerrou um ciclo que se iniciou há seis anos, quando ele cruzou a porta da escola sem sequer saber ler e escrever.
“Ele é um aluno muito esforçado, muito assíduo. Pode chover granizo que ele está aqui na escola. A sala de aula ocupa um lugar muito importante na vida dele”, comenta Sérgio Oscar, vice-diretor do Cesu Custódio Furtado de Souza, no Bairro Teixeiras, onde o idoso se formou. “Ele se tornou um exemplo para todo mundo”, elogia o professor, que acompanhado da diretora Rosangela da Silva Campos de Paula e da outra vice-diretora Marta Britto encontrou num livro a forma de homenagear e agradecer a Manoel.
Com o lápis na mão, Manoel começou a escrever e não parou mais. Reunindo 103 poemas seus, o livro “Em busca dos sonhos perdidos” teve lançamento na escola onde estudou, e que, por meio de rifas e doações, viabilizou o projeto.
Um detalhe especial do livro lançado por ele é que as poesias foram escritas ainda durante o período em que estava sendo alfabetizado.
“Logo que foi alfabetizado, ele começou a fazer poemas. Muitos poemas tinha só na memória e ao aprender a escrever passou para o papel”, conta Sérgio Oscar. “São pequenos versos que ele construiu falando de passagens da vida dele, da infância, e, depois, da vida adulta. Ele trabalhou muitos anos como pedreiro até conseguir se aposentar”, acrescenta o vice-diretor.
“Seu Manoel”, como é chamado carinhosamente, revelou que este é mais um sonho realizado, o primeiro tinha sido a conclusão do ensino médio. O aposentado destacou que para conquistar seus objetivos foi necessária muita força de vontade.
Com as dificuldades financeiras enfrentadas pela família, ele não teve a oportunidade de frequentar a escola quando era criança ou adolescente. Foi quando completou 85 anos que teve a oportunidade e decidiu ir para a sala de aula da Educação de Jovens e Adultos (EJA), onde se tornou exemplo de vida para toda a turma.
Frequente e dedicado, Manoel participa da oficina de teatro da escola e não pretende cortar os laços com a instituição. Ele também compõe melodias e se interessa por outros projetos culturais do Cesu. A presença dele, segundo Sérgio Oscar, impactou positivamente o funcionamento da escola, que trabalha com a educação de jovens e adultos. “Todos os estudantes aqui têm histórias de vida singulares, passaram por muitas dificuldades para chegar à escola. Ter o seu Manoel entre os alunos encorajou todos os outros”, pontua.
Manoel garantiu que os sonhos não param por aqui. O próximo passo é fazer o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Com informações de ‘Tribuna de Minas‘