SOCIEDADE

Instituto Danilo Santos de Miranda é lançado em São Paulo

O salão nobre do Theatro Municipal de São Paulo sediou, na noite da terça-feira (3/12), o lançamento do Instituto Danilo Santos de Miranda (Instituto DM), criado para fomentar a arte e a cultura e preservar o legado de um dos maiores gestores culturais do país. O sociólogo esteve à frente do Serviço Social do Comércio (Sesc) São Paulo por mais de 40 anos.

“A principal ação do ser humano tem a ver com o receber e passar o legado. Pra quem? Para todo mundo à sua volta. Essa é a questão. É uma batalha permanente para fazer o melhor possível, onde o legado e a inspiração estão presentes a todo momento.” – Danilo Miranda
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Danilo Santos de Miranda é uma das figuras mais emblemáticas na direção de programas de inclusão cultural, preservação da memória e apoio a manifestações artísticas.

“[O instituto] é uma forma de perpetuar as premissas dele de democracia, ética, igualdade, e cidadania, e conseguir atrelar, que era o grande pensamento base dele, a cultura e a educação como uma ação permanente. Na visão do sociólogo, a educação é uma ação humana permanentemente atrelada à cultura e isso é premissa pilar da sociedade, vem antes de qualquer outra prerrogativa, como a economia ou a política”, destacou a filha mais velha de Miranda e diretora-geral do instituto, Talita Miranda.

Danilo Miranda – foto: Eduardo Knapp/Folhapress

De acordo com ela, a ideia de criação do instituto surgiu naturalmente após a morte de Miranda, em outubro de 2023, tendo em vista o acervo do pai, objetos de valor artístico, livros e obras de arte do gestor. Inicialmente, será criado um espaço virtual para acesso a esse material.

“A gente vai trabalhar com acervo digital, essa memória, que já diz respeito a ele. Vamos organizar tudo isso numa plataforma, e fazer também uns talks, umas palestras, seminários que possam disseminar também o seu pensamento, assim a gestão cultural sob o olhar dele, que é único”, diz Talita.
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Segundo a diretora-geral do instituto, a entidade pretende, no futuro, com a chegada de mais recursos, apoiar e promover projetos condizentes com as diretrizes utilizadas por Miranda como gestor de cultura. “A gente selecionaria alguns projetos anuais sob um crivo, sob uma chancela do instituto. Esse é o nosso grande objetivo, de estar propagando, com firmeza e vigor, a visão e os pensamentos dele, que acabaram virando os nossos também.” 

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Danilo Miranda – foto: Bob Wolfenson

UMA VIDA EXTRAORDINÁRIA*
por Adriana Reis Paulics
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Danilo Santos de Miranda – Ele viveu 80 anos e construiu um sólido legado como gestor cultural. Diretor do Sesc São Paulo desde 1984, Danilo Santos de Miranda (1943-2023) promoveu a arte e a cultura como elementos fundamentais para a cidadania e o bem-estar social e, portanto, com o dever de serem sempre acessíveis ao público. Em quatro décadas à frente da instituição, trouxe ao Sesc nomes importantes das artes e do pensamento crítico, possibilitando que os frequentadores das unidades se aproximassem e se apropriassem da produção cultural contemporânea do país e também do exterior. “A arte é indispensável para que possamos avançar e nos faz ainda mais humanos e capazes de sentir e perceber a realidade a nossa volta”, dizia.
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As contribuições de Danilo receberam reconhecimento amplo, inclusive em âmbito internacional. Ao considerar a essencialidade da arte para a formação humana, o pensamento do “professor”, como era chamado, trouxe novos significados para a cultura e tornou-se referência na valorização da pluralidade de saberes e expressões, tendo a diversidade como valor a ser celebrado.
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A seguir, estão reunidas algumas das reflexões que dão a dimensão humanista e plural que são marco do trabalho de Danilo:

Pensar
O que noto, muito gravemente, é que falta pensamento no mundo hoje. Com frequência, as coisas são feitas de maneira superficial ou instintiva, não refletem a verdadeira vocação do ser humano, que é refletir, pensar nas coisas, pensar na vida. Acredito que a pandemia até ajudou nesse freio de arrumação para podermos pensar com um pouco mais de seriedade nas coisas e na indispensável necessidade de aprofundar, estudar, analisar para tomar decisões, para ver o que é melhor para todos. A solidariedade está um pouco embutida nisso também.

Danilo Miranda – foto: Bob Wolfenson

Sentido
A arte é indispensável para que possamos avançar e nos faz ainda mais humanos e capazes de sentir e perceber a realidade à nossa volta. Os artistas têm essa característica de ser alguém que vislumbra, que imagina, que está além do tempo, que inventa, que força, que cria a beleza, mas cria também a dúvida, a indagação e coloca um ponto de interrogação na cabeça das pessoas ao mesmo tempo em que cria a beleza na música, no teatro, na dança, nas artes visuais, na literatura, no cinema. Sem isso, o humano perde o sentido. Somos iguais aos outros seres e participamos da vida sobre a terra da mesma forma que todos, mas somente a arte nos torna mais humanos e mais capazes.

Educação
Somos [Sesc] uma instituição educacional que atua na educação não formal. A cultura – por meio de temas, modos de fazer, levantamento de pontos de vista positivos e negativos a respeito de qualquer situação – faz parte de um processo educacional. A educação formal é parte do processo cultural, e a educação informal é permanente. Estamos sendo educados desde o momento do primeiro choro, no colo da mãe, do reconhecimento da voz… Por quê? Porque se transmite, assim, um modo de fazer ou de ser – e isso difere de uma cultura para outra. Temos, na vida, um tempo da educação formal, organizada por intermédio da escola, mas, depois dela, permanece – ou deveria permanecer – a perspectiva da informação e do conhecimento.

Provocações
A cultura tem um papel central para as pessoas perceberem onde estão e o que têm que fazer. Diria o seguinte: pensem sempre neste país, pensem no Brasil, pensem que a cultura tem um papel central para mudar isso que está aí. A cultura não é um complemento, não é simplesmente algo que vai trazer alegria, diversão e entretenimento. Vai além. Se não provocar o pensamento, a cultura não realiza sua missão. Edgar Morin é quem diz: “A cultura que não provoca não é cultura”. É indispensável melhorar esse país, então provoquem. Pensem no Brasil e provoquem, em todas as linguagens. Temos gente admirável em todos os campos.
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*Leia o artigo completo aqui.
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O site do instituto pode ser acessado aqui

** Com informações da Agencia Brasil / Sesc SP.

Revista Prosa Verso e Arte

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