– por Cristiano Cipriano Pombo
Jimi Hendrix está para a guitarra, assim como John Coltrane está para o saxofone.
Essa comparação foi feita por Miles Davis, outra lenda da música que por muito pouco não realizou o desejo de se juntar no palco com Jimi Hendrix.
E não era só a Miles Davis que Jimi Hendrix impressionava na segunda metade dos anos 60.
Nascido em 27 de novembro de 1942, no subúrbio de Seattle (Washington), batizado pela mãe como John Allen Hendrix, ele revolucionou o rock ao mostrar tudo o que se podia extrair de uma guitarra elétrica.
Depois de ter passado a infância em meio a traumas como o divórcio dos pais, a morte da mãe aos 16 anos e os cuidados destinados ao irmão mais novo, Leon Hendrix, o guitarrista encontrou alento na música a partir de um ukelele. Com um detalhe: em vez das quatro cordas, o instrumento tinha uma. E foi a partir dela que Hendrix extraiu o máximo que podia sentir, experimentar e criar.
Do ukulele, passou, a muito custo, para uma guitarra elétrica.
O gosto pela música o fez até fingir para deixar o Exército em 1962, como mostrou o livro “Room Full of Mirrors”. De acordo com o autor Charles Cross, Hendrix não foi dispensado do grupo militar de paraquedistas por ter torcido o pé, e sim por ter dito (leia-se mentido) que estava apaixonado por um companheiro do grupamento. “Ele queria apenas escapar do Exército para se dedicar à música”, afirmou Cross.
Outra versão diz que, cansados de ouvir Hendrix tocar guitarra tempo todo, outros militares se juntaram para bater nele –durante a surra, o músico defendeu apenas sua guitarra. E isso o levou a querer sair do Exército.
De todo modo deu certo. O capitão John Halbert recomendou a dispensa de Hendrix da 101ª divisão aerotransportada citando suas “tendências homossexuais”.
Ao sair do serviço militar, Hendrix, já rebatizado pelo pai como James Marshall Hendrix, iniciou seu aprendizado profissional na música. A partir de 1963, tocou nas bandas de B.B. King e Little Richards e com os Isley Brothers, entre outros.
Formou sua primeira banda em 1966, a James Jimmy and Blues Flames.
Com essa formação chegou ao Cafe Wha?, casa nova-iorquina que abrigava nada menos do que Bob Dylan.
No Wha?, Hendrix também foi apresentado a Frank Zappa, que lhe mostrou uma novidade da época, o pedal de wah-wah, o qual dominou e ajudou a moldar novas guitarras.
Hendrix também conheceu Linda Keith, então namorada de Keith Richards. Linda se torna fundamental para a ascensão do músico, já que foi quem o apresentou a Chas Chandler, baixista dos Animals, que iniciava sua trajetória como produtor musical.
Em Londres
Chandler e Linda convenceram Hendrix a ir para a Inglaterra em 1966 e também a cantar.
Na Inglaterra, então, James Marshall Hendrix se tornou Jimi Hendrix. E, a partir de uma canja com a banda de Eric Clapton, seu nome foi catapultado ao sucesso. Tanto que, de acordo com o jornal britânico “The Telegraph”, Clapton chegou a questionar Chandler: “Você nunca me disse que ele era tão bom assim!”.
Tão rápido quanto juntava admiradores o norte-americano conseguiu uma banda: a Jimi Hendrix Experience, com Mitch Mitchell (percussão) e Noel Redding (baixo). Com essa formação, ele lançou três álbuns: “Are You Experienced?”, em 1967, “Axis: Bold As Love”, em 1967, e “Electric Ladyland”, em 1968.
Esse foi o período de grandes clássicos –o primeiro álbum chegou a rivalizar com Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, dos Beatles, pelo primeiro lugar nas paradas.
De 1966 a 1968, Hendrix criou músicas como “Hey Joe”, “Purple Haze”, “The Wind Cries Mary”, “Foxey Lady” e “All Along The Watchtower” entre outras.
E protagonizou cenas memoráveis, como o ato de queimar a guitarra ao final da apresentação no Monterey Pop Festival em 1967 –Hendrix foi convidado ao evento após indicação de Paul McCartney. Ou tocar a guitarra com os dentes e com o instrumento às costas –vale lembrar que Hendrix era canhoto.
Ao mesmo tempo em que ampliava seu sucesso, Hendrix aumentava o consumo de drogas.
Assim, 1968 marcou a ruptura da banda e também a saída do produtor Chas Candler (1938-1996). Também nessa época abriu mão do convite para participar de movimentos negros que lutavam por direitos civis.
Colecionou passagens pela polícia, no Canadá (em 1969, porte de drogas ao desembarcar no aeroporto) e na Suécia (em 1968, por destruir um quarto de hotel enquanto estava alcoolizado).
Ainda assim, Hendrix conseguiu ser o principal nome do Woodstock em 1969, quando tocou o hino dos EUA com a guitarra num dos momentos mais marcantes do festival.
Em 1970, lançou mais um álbum, com a Band of Gypsys, mas sem o mesmo impacto dos anteriores.
E, em 18 de setembro de 1970, ele passou a integrar o que ficou conhecido como Grupo dos 27, com virtuosos da música que perderam a vida aos 27 anos, como Janis Joplin, Jim Morrison, Kurt Cobain e Amy Winehouse.
Certa vez Jimi Hendrix disse que gostaria de fazer com a guitarra o Little Richards fazia com a voz. Mas, como bem descreveu a Enciclopédia Britannica, em menos de cinco anos, ao buscar a perfeição em cada acorde, ele ampliou a transcendência de improvisos de John Coltrane, o ritmo virtuoso de James Brown, a intimidade do blues de John Lee Hooker, a estética lírica de Bob Dylan, o estilo agressivo do Who e as criações de estúdios promovidas pelos Beatles.
Morte polêmica
Em 1991, a Folha informou que a Scotland Yard pretendia reabrir a investigação sobre a morte do artista, que à época morreu sufocado pelo próprio vômito, devido à ingestão de barbitúricos.
O jornal “News of the World Sunday” publicou à época entrevistas com Kathy Etchingam, amante de Hendrix, e com Dee Mitchell, mulher do baterista Mitch Mitchell.
As duas disseram que a alemã Monika Danneman –Hendrix foi dormir na casa dela, em Notting Hill, na noite anterior–, demorou para chamar a ambulância, no dia em que o músico passou mal pela última vez.
Monika alegou que acordou às 10h20 e saiu para comprar cigarros, “enquanto Jimi ainda dormia”. “Quando voltei, notei que ele havia vomitado e estava respirando com dificuldade.”
Quem ligou para o socorro foi Eric Burdon, vocalista e guitarrista dos Animals.
Hendrix chegou a ser levado, em coma, para o hospital, onde chegou sem vida.
O maior
Depois de virar tema de filme, de disputas pelos direitos de suas músicas, de leilão de suas guitarras, Jimi Hendrix foi eleito pela revista “Rolling Stone” o maior guitarrista de todos os tempos.
Fonte: Acervo Folha